A TERCEIRA VÉRTICE
CAPÍTULO 11
Rodrigo e Marinalda estão numa lanchonete, sentados frente a frente.
Rodrigo: Há quanto tempo você trabalha na casa do Daniel?
Marinalda: Tem mais ou menos dois anos.
Rodrigo: Você já sabia que tinha um irmão perdido por aí?
Marinalda: Por alto. De vez em quando a minha mãe comentava, mas não dava muitos detalhes. Aí recentemente a minha vó confessou pra mim que ela abandonou o bebê num orfanato e eu esclareci tudo com a minha mãe quando vim pra cá antes do enterro. (coloca as mãos na cabeça, ainda chocada) Meu Deus… eu tô sem acreditar até agora.
Rodrigo: Olha… eu vou precisar muito da sua ajuda. Agora mais do que nunca.
Marinalda: Pode falar.
Rodrigo: A Angélica fez de tudo para impedir que eu encontrasse a sua mãe. Eu não sei o motivo, mas preciso descobrir.
Marinalda: O que aquela demônia fez?
Ele olha para os lados e em seguida fala quase sussurrando.
Rodrigo: Eu não queria dizer isso agora, mas eu tô desconfiado que a sua avó possa ter sido assassinada por ela.
Marinalda: O quê?
Rodrigo: Angélica descobriu, não sei como, que eu ia visitar a sua vó para colher informações. Mas ela chegou lá antes de mim. Ela estava disfarçada, usando um nome falso.
Marinalda: Mas minha vó morreu de embolia pulmonar.
Rodrigo: Eu sei… Mas você não acha estranho?
Marinalda fica pensativa.
Rodrigo: Você trabalha naquela casa, você deve saber muito bem o tipinho de mulher que ela é.
Marinalda: E como sei. Aquela ali é pior que o próprio diabo.
Rodrigo: Marinalda, eu preciso saber porque a Angélica queria tanto atrapalhar minhas investigações. Eu preciso provar pro Daniel que aquela mulher não vale nada.
Marinalda: Você tinha dito que ela foi disfarçada pro asilo. Você tem como provar isso?
Rodrigo: Tenho que voltar lá pra pegar as imagens das câmeras. A recepcionista disse que daria um jeito de conseguir pra mim.
Marinalda: Eu vou tentar ajudar de alguma forma quando eu voltar pra mansão. Mas e a minha mãe? Como que fica? Eu conto a verdade pra ela?
Enquanto isso, na mansão Ferraz, Angélica reúne Gardênia e Sebastian no escritório. Eles adentram o cômodo.
Angélica: Sentem-se, por favor.
Os dois se sentam nas cadeiras de frente para a mesa. Ela senta do outro lado.
Angélica: Chamei vocês aqui porque eu quero fazer uma proposta. Inclusive, eu ia até Cancún te visitar com esse objetivo, meu sobrinho.
Gardênia: E onde que eu entro nisso?
Angélica: É o seguinte… Eu quero separar o Rodrigo do Daniel.
Sebastian: A senhora ia até Cancún só por isso?
Angélica: Claro, meu amor, esse tipo de assunto a gente não se discute por telefone, muito menos por mensagem.
Gardênia: Mas porquê a senhora quer separar os dois, tia Gegê? Tem algum motivo muito forte ou é só falta do que fazer mesmo?
Angélica: Tem coisas na vida que a gente precisa eliminar para conseguir outras. E disso eu acho que você entende muito bem, já que trocou seu namoro com o Rodrigo pra ganhar dinheiro nesse negócio de Only sei lá o quê. Eu quero o mesmo.
Sebastian: Não entendi, a senhora quer separar os dois por dinheiro?
Sebastian e Gardênia se entreolham.
Angélica: Gardênia, minha filha, você veio para o Brasil com meu sobrinho porquê mesmo?
Os dois se olham novamente. Gardênia volta seu olhar para Angélica.
Gardênia: Por apego mesmo. Não ia conseguir viver muito tempo longe do Sebastian, a gente tem uma ligação muito forte.
Angélica: (ri) Se eu não soubesse que você era ex do Rodrigo eu poderia até acreditar nisso. (incisiva) Você voltou porque você quer reconquistar o seu ex! Você quer voltar pra ele!
Gardênia: E o que é que tem hein? Caso seja isso mesmo?
Angélica: Vai ser uma via de mão dupla. Eu te ajudo a voltar pro Rodrigo… E você me ajuda a separar os dois. E pro Daniel não ficar sozinho… meu querido sobrinho… Você vai oferecer consolo pra ele. Creio que você deve saber consolar muito bem um homem no seu momento de solidão.
Os dois ficam calados.
Angélica: Para não dizer que eu estou pedindo isso de graça… Vou dar uma bela recompensa aos dois.
Gardênia: Peraí. Vou voltar com o Rodrigo e ainda vou ganhar uma grana com isso?
Sebastian: Por que tudo isso, tia?
Angélica: Depois vou dar para você as instruções de como tudo deve acontecer, Gardênia.
Daniel vai até o apartamento de Lucas conversar. Eles dois estão sentados no sofá.
Daniel: Minha relação com o Rodrigo não tá nada boa. A gente tem discutido muito ultimamente.
Lucas: Vocês se deram bem logo de cara, não consigo nem imaginar vocês dois discutindo.
Daniel: Eu queria poder consertar as coisas, mas tá difícil. Ele entrou numa guerra com a Angélica que está beirando o insuportável, e agora pra completar, a ex dele voltou pro Brasil.
Lucas: Mentira… Jura? Mas essa briga com a Angélica é por causa de quê?
Daniel: Não sei se eu deveria falar, é uma coisa pesada.
Lucas: Não confia em mim?
Daniel: Claro que confio.
Lucas: Então conta. Juro que não vai sair daqui.
Daniel: Rodrigo foi no asilo falar com a mulher que me abandonou no orfanato. Aí disse que a Angélica teve lá antes dele, disfarçada, com nome falso, acusou até ela de ter matado a criatura lá. E quer que eu acredite nele. Como que eu vou acreditar, Lucas? Como que vou acreditar numa história absurda dessa, me diz.
Lucas: E se ele tiver certo? E se caso ela tenha mesmo matado essa mulher?
Daniel: Por que ela faria isso?
Lucas: Eu sei lá, ele não tava investigando o paradeiro da sua mãe? Vai ver a Angélica não quer que você descubra.
Daniel: Você também acha isso? Rodrigo disse a mesma coisa. Só que não faz sentido nenhum.
Lucas ri, como se estivesse se divertindo.
Lucas: É porque não faz mesmo, Dan. Meu Deus. Que loucura. Rodrigo devia largar o trabalho de investigador e escrever livros. Como que se acusa alguém de assassinato assim, na cara dura? E sem provas?
Daniel: Ele até disse que tem como provar que ela esteve lá.
O sorriso de Lucas se desfaz.
Lucas: Tem?
Daniel: Falou que tem um contato lá dentro que pode oferecer as imagens das câmeras de segurança.
Lucas fica sério e pensativo.
Marinalda chega na casa de sua mãe. Ela entra, Rodrigo vem atrás dela.
Marinalda: Fica à vontade, Rodrigo. Vou chamar minha mãe.
Ela sai. Rodrigo fica sozinho na sala. Ele vê uma foto de Afrodite no porta retrato perto da televisão.
Rodrigo: Jesus…
Logo, ele ouve vozes vindo da cozinha. Marinalda vem com Afrodite.
Afrodite: Gente, quem é ele?
Rodrigo: (se aproxima) Rodrigo Brandão, sou investigador, prazer.
Afrodite: Aí nego, prazer é comigo mesmo.
Marinalda: Mãe.
Afrodite: Veio fazer uma leitura de tarô? Ah, eu faço magia também, adoçamento, trago sua ex pra sua vida em três dias.
Rodrigo: Na verdade eu vim falar sobre seu filho.
Rodrigo pega seu celular.
Rodrigo: Seu filho, Daniel de Almeida, agora se chama Daniel Ferraz.
Ele mostra a foto de Daniel para Afrodite, que fica em choque.
Rodrigo: Ele pediu pra que eu te procurasse. E agora eu finalmente te encontrei!
Afrodite pega o celular e olha pra foto, emocionada.
Afrodite: Meu filho…
CAPÍTULO 12
Afrodite: Meu Deus… Meu filho… O filho que foi tirado dos meus braços. Não acredito… Meu filho tá vivo. Eu achei que nunca mais fosse ver meu filho, e olha só.
Rodrigo: Seu filho virou um homem lindo, incrível. A sua filha pode muito bem confirmar.
Afrodite: Como assim? Marinalda, você já conhecia o seu irmão?
Marinalda: Já, mãe. Ele é meu patrão.
Afrodite: (chocada) O quê?
Marinalda: Pois é… Ele é uma pessoa maravilhosa, mãe.
Afrodite: Ah, puxou a mim, né? Não, mas eu quero conhecer ele… Eu quero ver meu filho, quero abraçar ele, eu preciso ver meu filho, eu quero ver ele agora. (para Rodrigo) Por favor, me leva até meu filho. Eu te imploro. Eu passei minha vida inteira achando que isso seria impossível de acontecer e agora que meu filho me achou, eu quero ver ele. Me leva até ele, investigato.
Marinalda e Rodrigo se entreolham.
Marinalda: Mãe… (pausa) Você não vai poder ver ele… Não ainda.
Afrodite: O que cê tá dizendo, menina? Como assim não vou ver meu filho? Claro que vou ver meu filho, que tá lá, esperando por mim, até um investigador gostoso ele contratou pra me achar, (p/Rodrigo) com todo respeito, (p/Marinalda) e agora você tá me dizendo que eu não posso ver meu filho? Que história é essa?
Rodrigo: Dona Afrodite, o que eu mais quero é que a senhora e o Daniel se encontrem, mas no momento isso não vai ser possível de acontecer, pela sua própria segurança.
Afrodite: Porquê? Não tô entendendo.
Marinalda: A governanta da mansão onde eu trabalho ajudou a criar o Daniel desde que ele foi adotado. E desde que o Rodrigo começou a investigar seu paradeiro, ela veio fazendo de tudo pra impedir ele de te achar. A gente não sabe o motivo, mas essa mulher é uma demônia, mãe.
Afrodite: Pois eu vou lá, dou uma coça nela e no demônio que tá no corpo dela. Imagina só, impedir meu filho de me achar. Que palhaçada é essa?
Marinalda: Ela é perigosa, mãe, e é sério!
Rodrigo: Por isso que a gente não vai contar pro Daniel que eu já encontrei a senhora. Pelo menos por enquanto. Até eu e a Marinalda conseguirmos desmascarar essa mulher.
Afrodite: Minha filha… Aquela mulher fez algum mal pra você? (para Rodrigo) Eu vou dar na cara dessa mulher quando eu encontrar com ela hein, olha o que eu tô te dizendo.
Marinalda: Não se preocupe, mãe.
Afrodite: (coloca a mão no rosto e chora) Ai meu Deus… eu queria tanto ver meu filho. (olha para Rodrigo) Me envia essa foto dele? Ele cresceu, ficou tão lindo.
Rodrigo: Claro que envio.
Rodrigo levanta.
Rodrigo: Vou precisar voltar.
Marinalda: Já sabe o que vai falar pro Daniel?
Rodrigo: Já.
Afrodite se aproxima dele e o abraça.
Afrodite: Obrigada por me achar. E por favor, cuide do meu filho.
Rodrigo: Pode deixar.
Ele sorri. Marinalda o abraça também.
Marinalda: Obrigada por tudo.
Os dois se apartam.
Rodrigo: Até mais.
Rodrigo vai embora. Afrodite chora, emocionada. Marinalda a abraça.
Rodrigo entra no carro e fica pensativo. Ele pega seu celular e olha a foto de Daniel. Ele sorri.
O tempo passa. A noite cai.
No seu apartamento, Lucas recebe um pen drive de um amigo dele.
Amigo: Tá aqui.
Lucas: Tá tudo aí mesmo?
Amigo: Se quiser conferir… Agora, minha grana.
Lucas vai até a mesa, pega um envelope cheio de notas de cem e entrega para o amigo, que abre e confere o dinheiro.
Lucas: Você apagou os arquivos do dia no sistema deles?
Amigo: Apaguei. Fica tranquilo.
Lucas: Ótimo. E já sabe, né? Bico fechado!
Os dois se cumprimentam e o rapaz vai embora. Lucas pega seu notebook e coloca o pen-drive. Logo, ele abre uma pasta com várias filmagens. Ele abre um vídeo, que mostra o registro das câmeras de segurança do asilo Maria de Fátima. Ele vê a imagem de Angélica disfarçada na recepção no dia que matou Séfora. Lucas sorri, maquiavélico.
Rodrigo está em seu apê, sentado no sofá, vendo televisão. A campainha toca. Ele vai até a porta e abre. Gardênia sorri pra ele.
Gardênia: Oi. Achei que a gente teve um reencontro bem conturbado. Não conversamos direito.
Rodrigo: Nem temos nada pra conversar, Gardênia. Vai fazer seu vídeo pornô com o Sebastian e me esquece. (ele vai fechar a porta, mas ela impede e entra)
Gardênia: Para de ser infantil, porra.
Rodrigo respira fundo, sem paciência. Ele fecha a porta.
Gardênia: Senta pra gente conversar.
Rodrigo: Eu não vou sentar, eu quero que você saia da minha casa!
Gardênia ergue uma sacola que trouxe consigo.
Gardênia: Trouxe vinho. Pra gente relembrar os velhos tempos, que tal?
Ela levanta e vai até a cozinha. Pega duas taças. Rodrigo respira fundo na sala. Gardênia enche as taças de vinho na cozinha. Ela pega um frasco com líquido e despeja o conteúdo em uma das taças. Tudo isso de forma muito rápida.
Rodrigo: (na sala) Gardênia, se você acha que eu vou voltar pra você, esquece. Eu não amo mais você. Eu amo o Daniel!
Gardênia volta para sala com as taças de vinho e entrega uma delas para Rodrigo.
Gardênia: Ninguém aqui falou em voltar. A gente sempre se deu tão bem… Eu só não quero que a gente fique nesse clima chato.
Rodrigo: Clima chato? Você terminou o namoro comigo dizendo que seria impossível a gente continuar porque você ia estudar fora. E agora eu descubro que não tinha bolsa de estudos nenhuma, que você foi pra Cancún morar com o Sebastian, fazer Onlyfans com ele. Eu, idiota, me ofereci pra largar tudo e ir com você. E você ainda fala de não ficar clima chato entre a gente? Eu quero mais é que você se foda!
Gardênia: Sabia que me dá tesão ver você nervoso desse jeito?
Gardênia toma o vinho.
Rodrigo: Gardênia, vai embora da minha casa.
Gardênia: Toma pelo menos o vinho comigo. E eu prometo pra você que eu vou embora. Nunca mais na sua vida você vai olhar pra mim. Toma…
Rodrigo suspira, sem saco. Mas toma o vinho. Ele bebe a taça inteira de uma vez.
Rodrigo: Pronto. (coloca a taça em cima da mesa) agora sai!
Ele vai até a porta e abre. Gardênia sorri. Coloca a taça dela na mesa e vai andando calmamente até a saída. Rodrigo vê ela se aproximar. Sua vista já está turva. Ele fica tonto.
Gardênia: Tchau.
Rodrigo cambaleia. Gardênia o pega.
Gardênia: O que foi?
Rodrigo: Uma tontura.
Gardênia: Você tomou o vinho de vez. (o leva até o sofá) Senta aqui.
Rodrigo se senta. Gardênia vai até a porta para fechá-la. Quando retorna, já encontra Rodrigo dormindo pesado no sofá. Ela sorri.
Na mansão, Daniel está no quarto lendo Crime e Castigo, quando recebe uma notificação em seu celular. Ele deixa o livro de lado e pega o aparelho.
Daniel: (lendo) Quero conversar sobre a investigação. Vem aqui em casa.
Daniel vai até o prédio onde Rodrigo mora. Ele toca a campainha e aguarda. A porta se abre e Daniel dá de cara com Gardênia que está enrolada num lençol. Daniel arregala os olhos, em choque.
Gardênia: Daniel?
Daniel: O quê que isso?
Gardênia: Eu posso explicar.
Daniel entra em disparada no apartamento.
Gardênia: Espera, Daniel.
Daniel corre até o quarto e encontra várias roupas espalhadas no chão, e Rodrigo completamente pelado e desacordado na cama. Daniel olha para a cena, chocado e com os olhos cheios de lágrimas.
ENCERRAMENTO.
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