A TERCEIRA VÉRTICE - CAPÍTULO 14
Após deixar a mansão, Rodrigo entra no seu carro e se dirige até o asilo Maria de Fátima, indo diretamente falar com a recepcionista, que estava fazendo anotações na agenda.
Rodrigo: Bom dia.
Recepcionista: Como vai, seu Rodrigo, tudo bem?
Rodrigo: Não muito. Bem, eu combinei de vir aqui pegar as imagens das câmeras do dia que a minha vó faleceu.
Recepcionista: Ah, sim, só um momento.
Ela olha no computador, checando no sistema.
Recepcionista: Nossa, que estranho.
Rodrigo: O que?
Recepcionista: Todos os registros daquele dia foram deletados aqui no nosso sistema.
Rodrigo: (surpreso) O quê? Tá falando sério?
Recepcionista: (virando a tela do computador para ele) Tô, olha aqui. Não tem nada do dia 23 de março.
Rodrigo: Nenhum registro? De nenhum horário?
Recepcionista: Não.
Rodrigo: Houve alguma invasão aqui?
Recepcionista: Não, não houve nada.
Rodrigo fica incrédulo.
Dentro do carro, ele reflete.
Rodrigo: Aquela vagabunda só pode ter mandado hackear o sistema. (grita) Vaca malditaaaaaaaa!
Ele soca o volante, disparando a buzina várias vezes, chamando a atenção de quem passava por ali.
Em seu apê, Lucas conversa com Angélica por chamada de voz.
Angélica: Você está com o apartamento livre hoje?
Lucas: Porquê?
Angélica: Está ou não está?
Lucas suspira.
Lucas: Estou!
Angélica: Quero marcar um encontro com uma pessoa, vou precisar usar seu apartamento.
Lucas: Porquê logo aqui?
Angélica: É um lugar discreto. Não quero chamar atenção de ninguém.
Lucas: Pra quando esse encontro?
Angélica: Hoje à noite!
Lucas: Que horas?
Angélica: Umas sete e meia.
Lucas: Tá… Vou deixar a chave na recepção.
Angélica: Não precisa. Quero que esteja presente!
Angélica desliga.
Daniel está jogado na cama, chorando. Sebastian ao seu lado.
Daniel: Não acredito até agora que isso está acontecendo.
Sebastian: Pois acredite, é real. E dói.
Daniel levanta e o encara.
Daniel: Já sofreu algo assim na vida?
Sebastian: Na verdade eu quem fiz os outros sofrerem.
Daniel: Nossa. Tá ajudando muito.
Sebastian: Precisa se recompor, Daniel! Ficar chorando não vai diminuir o tamanho do seu chifre.
Daniel o olha com reprovação.
Daniel: Você tá mesmo me falando isso?
Sebastian: Levanta dessa cama. Toma um banho. Lava esse cu. Passa um perfume. Vai sair. Esquece esse Rodrigo. Acha que ele tá que nem você? Chorando em cima da cama?
Daniel suspira.
Daniel: Você não sabe o que é ser iludido. Eu fui iludido duas vezes.
Sebastian: Ah, e você acha que ficar chorando vai adiantar? Meu amor, aprenda uma coisa… chorar por causa de homem, só se for em cima de uma pica. Entendeu? Levanta. A gente vai fazer uma coisa.
Daniel: (levanta, limpando as lágrimas) O quê?
Sebastian: Vamos na casa de um dos homens que te iludiu. Tem o Rodrigo, e o outro como que se chama? Você disse que eram dois.
Daniel: Otávio.
Sebastian: Vamos fazer uma visitinha pra ele.
No hotel, Gardênia fala ao celular com Angélica.
Angélica: Oi, Gardênia, como vai, minha querida?
Gardênia: Como que você acha, tia Gegê? Na merda né?
Angélica: Meu bem, depois que eu te fizer o pagamento pelo seu servicinho, nunca mais você vai se lamentar na vida.
Gardênia: Tô precisando mesmo desse dinheiro. E aí, vai passar o pix quando?
Angélica: Que pix, minha filha? Esses servicinhos a gente paga com dinheiro vivo. Anota o endereço e o horário pra gente se encontrar.
Gardênia: Tá… (pega o papel e a caneta) Pode falar.
Daniel dirige o carro, Sebastian no banco da frente ao lado dele.
Sebastian: Esse Otávio mora onde?
Daniel: Já tá quase chegando.
Sebastian: Mora na casa do caralho hein? Lugar longe da porra. Em que buraco tu catou esse homem?
Daniel: Relaxa.
Daniel vai parando o carro e estaciona.
Daniel: Chegamos.
Sebastian olha em volta e percebe que estão num bairro mais simples.
Sebastian: Você devia erguer as mãos pro céu e agradecer a Deus. Esse homem ter te chifrado foi uma benção. Olha do que que você se livrou.
Daniel: (ri) Para.
Os dois saem do carro e vão andando até a uma das casas.
Daniel: O carro do Otávio é aquele.
Eles vêem um Chevrolet S10 Midnight preto.
Sebastian: Pobre desse jeito e tem um carro assim?
Daniel: Ele deve tá pagando ainda.
Sebastian: Ótimo…
Sebastian se aproxima do carro. Ele vira e olha para Daniel.
Sebastian: Vem.
Daniel se aproxima e olha para ele. Pega a chave que está na sua mão e arranha o veículo inteiro com vontade.
Sebastian: Isso.
Daniel: Tá pouco.
Ele pega um pedaço de pau e começa a bater no carro, descarregando todo seu ódio e pra completar, quebra todos os vidros do veículo, que começa a alarmar.
Sebastian: (gargalhando) Vamos.
Daniel, arfando de exaustão, larga o pedaço de pau. Logo, um homem alto, forte e moreno sai da casa.
Otávio: (desesperado) Meu carro.
Ele vê Daniel, ficando em choque. Daniel olha para ele com frieza.
Daniel: Fui eu que destruí seu carro.
Otávio o encarou em silêncio. Daniel se aproxima do carro, olhando o veículo e encarando Otávio.
Daniel: Destruí com meu chifre.
Sebastian segura o riso.
Daniel: Dei um monte de chifrada nesse lixo aí e ficou desse jeito. Fica triste não, tá? Tchau.
Ele dá meia volta e sai, seguido de Sebastian, que cai na risada.
Anoitece.
Lucas recebe Angélica em seu apartamento.
Lucas: Achei que fosse vir mais tarde.
Angélica: Me antecipei.
Lucas: Que desculpa você deu pro Daniel antes de vir pra cá?
Angélica: Aquele idiota nem tá em casa. Saiu com o Sebastian e tá na rua até agora.
Lucas: Sua convidada vai demorar muito?
A campainha toca.
Angélica: Deve ser ela.
Angélica vai abrir.
Gardênia: Me atrasei?
Angélica: Imagina, meu bem. Entra.
Gardênia: (entrando e vendo Lucas) Boa noite, Lucas.
Lucas: Como vai, querida? (se aproxima e lhe cumprimenta)
Gardênia: (sorri) Ótima. Vem cá, tia Gegê, ele vai mesmo ficar aqui pra ver nossa conversinha íntima?
Angélica: Não se preocupe, meu anjo. Ele tá por dentro de tudo o que tá acontecendo, pode ficar tranquila. (p/Lucas) Filho, pega a mala com o dinheiro… Creio que a Gardênia não quer esperar muito, né?
Gardênia: É…
Lucas vai até o quarto.
Angélica: Senta, Gardênia.
Gardênia se senta no sofá, Angélica ao lado dela.
Angélica: Olha só, antes de te entregar esse dinheiro, eu quero fazer um trato com você.
Gardênia: Claro…
Angélica: Quero que volte pra Cancún. Que esqueça meu sobrinho. Que esqueça o Rodrigo.
Gardênia: (solta um riso) Espera. Eu quero reconquistar o Rodrigo. Foi pra isso que eu voltei pro Brasil.
Angélica: Mas vai ser melhor para você, meu bem. (fala alto) Lucas, anda logo com esse dinheiro.
Lucas: Claro.
Ele vem arrastando a mala, vindo por trás das duas, que estão no sofá.
Num súbito, Lucas coloca um saco de pano na cabeça de Gardênia e segura com força, sufocando-a. Angélica levanta do sofá correndo. Gardênia se debate no sofá, seus gritos são abafados pelo saco de pano. Ela se debate mais e Lucas puxa o saco com força, prendendo a garganta dela, sufocando ainda mais. Gardênia vai perdendo as forças, até que pára de se mexer. Lucas tira o saco da cabeça dela, que já está morta, com os olhos entreabertos.
Lucas: Pronto…
Angélica: Me dá a mala.
Lucas entrega a mala vazia para Angélica. Ela pega o celular de Gardênia da bolsa dela e entrega para Lucas.
Angélica: Descobre a senha e manda uma mensagem de despedida pro Sebastian. Coloca que pegou o dinheiro e resolveu sair do Brasil.
Lucas mexe no aparelho.
Angélica: Olga!
Olga sai de dentro do quarto, onde estava escondida.
Angélica: Coloca aquela peruca e as roupas dessa infeliz. É o único jeito da Gardênia “ser vista” saindo desse apartamento.
Minutos depois, Olga está vestida com as roupas de Gardênia e usando uma peruca que se assemelha ao cabelo dela. Lucas termina de fechar a mala. Angélica observa, impassível.
Os três estão num carro. Lucas dirige. Param no meio de uma mata. Lucas desce do veículo. Angélica e Olga vão logo atrás. Lucas abre o porta-malas, tirando a mala de lá de dentro. Ele sai arrastando a mala em direção a um precipício. Angélica e Olga o seguem. Lucas arrasta a mala até a beira do precipício, e joga a bagagem, que sai rolando barranco abaixo até cair num lago. Os três vêem a mala afundar na água.
Angélica: Descanse em paz, querida Gardênia!
ENCERRAMENTO.
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