Paixões & Legados - Capítulo 2 (24/09/2024)

 

  

Paixões & Legados

Escrita por Fafá

Faixa das 18h

Leonel anda a pé por uma estreita estrada de chão cercada por grandes campos de plantio. Com suas malas em mãos e o sol forte sobre si, o seu rosto encharca mais de suor a cada passo. Ele chega a uma grande fazenda, os portões de madeira que guardam a entrada estão abertos e dão num grande casarão com vista para as plantações. De dentro da casa sai o coronel Guilhermino.

GUILHERMINO: Pois não?

LEONEL: Eu gostaria de falar com o Coronel Guilhermino!

GUILHERMINO: Está falando com ele.

LEONEL: Prazer, me chamo Leonel!

Ele aperta a mão do Coronel

LEONEL: Eu vi o seu anúncio de terras no jornal e me interessei por elas.

GUILHERMINO: Ora, se é pra falar de negócios, então entre.

Os dois entram no grande casarão e se dirigem até a sala.

GUILHERMINO: Quer que eu peça para alguém guardas suas malas?

LEONEL: Não, obrigado! Pretendo ser breve.

GUILHERMINO: Então, quer as terras que anunciei… Quanto tem a oferecer?

Leonel pega a menor de suas malas e abre na frente do Coronel. A mala está cheia de cédulas de dinheiro.

LEONEL: Isso é tudo que tenho. É próximo ao que o senhor pôs no jornal.

O Coronel soltou uma risada.

GUILHERMINO: Sabe, rapaz, eu sou um dos maiores fazendeiros dessa região. Minhas enormes terras são da melhor qualidade para que seja o maior produtor dessa cidade. E nenhuma vale tão pouco quanto o senhor está me oferecendo. Está certo que a qual eu ofereço é uma terra bem pequena, mas continua sendo de qualidade boa para plantio. Me perdoe, mas essa quantia não é suficiente, perdeu sua viagem.

LEONEL: Por favor! A minha vida depende dessas terras! Eu faço o que for preciso para tê-las. Eu posso pagar o resto da quantia trabalhando para o senhor em suas plantações.

Guilhermino mostra interesse pela proposta e sorri.

GUILHERMINO: Está disposto a trabalhar de graça para mim?

LEONEL: Sim! Pelo tempo que for necessário.

GUILHERMINO: Então pedirei para que meu capataz, Jarbas, mostre-lhe o caminho. Espere-o lá fora.

Leonel sai do local e Guilhermino solta uma risada.

GUILHERMINO: Dessa vez foi mais fácil.



Lúcia está sentada na beira da cama ainda desacreditada. Ela folheia o jornal que Leonel lhe deixou enquanto pensa sobre o ocorrido. Ela para em uma página e vê a quantia de dinheiro que sobrou, pensativa.

LÚCIA: Trabalhar de camareira numa pensão com direito a moradia e comida… Bom, Leonel, você fez sua escolha, e eu farei a minha.

Ela se levanta e começa a arrumar suas coisas.



Jarbas e Leonel chegam até uma grande estrutura de pilares de madeira, sem paredes e com um telhado feito de palha onde há várias redes suspensas.

JARBAS: E é aqui onde você vai dormir, ao lado dos outros empregados. Você vai para o campo logo após o almoço junto com os outros.

LEONEL: Acha que ficarei muito tempo por aqui? Não sei quanto o Coronel paga para os outros funcionários.

JARBAS (Sorrindo): Pergunte a eles mais tarde, mas acho que ficará um bom tempo sim.

Jarbas vai embora e Leonel avalia o seu futuro dormitório.



Enquanto isso, Guilhermino recebe uma visita em seu casarão.

GUILHERMINO: Seu Bernardino! Meu grande amigo e sócio! Ao que lhe devo o prazer de sua visita?

BERNARDINO: Ora, Guilhermino, não há o porquê de todo esse agrado, já nos conhecemos de longa data. Estranhei não encontrar com o seu capataz assim que cheguei.

GUILHERMINO: Sinto muito pela falta de recepção, Jarbas ficou encarregado de mostrar a fazenda a um novo funcionário.

BERNARDINO: É de seus funcionários que eu vim falar sobre. Olha, meu amigo, nós sempre nos ajudamos. Eu compro bastante de seu plantio e você me retribui fornecendo para a minha rede de mercearias, e assim ajudamos um ao outro nos negócios. Mas andei ouvindo algumas coisas a respeito da sua fazenda, como: você usar trabalho escravo em suas terras.

Guilhermino solta uma risada nervosa.

GUILHERMINO (Rindo): Trabalho escravo?

BERNARDINO: Me disseram que todos que procuram por sua fazenda acabam sumindo, a maioria foi encontrada trabalhando aqui, mas dizem que seus empregados não têm permissão de sair daqui, além de trabalharem 14 horas por dia e dormirem em condições precárias.

GUILHERMINO: Quem foi a figura que lhe disse tudo isso?

BERNARDINO: Um de seus próprios funcionários, que alegou ter fugido daqui há 2 meses.

Guilhermino estremece.

GUILHERMINO: Você sabe, meu amigo, eu sou um homem de muitas posses, tenho terras muito vastas, que chegam até onde o limite de nossa visão não pode alcançar. É muito difícil controlar algo tão grande como isso, e achar mão de obra para tudo isso é mais difícil ainda. Eu prendo sim meus empregados aqui, mas estou dando moradia e comida para eles que poderiam estar, nesse momento, passando fome e pedindo esmola na rua. Eu dou uma vida a eles e eles me retribuem com trabalho.

BERNARDINO: Isso é errado, Guilhermino. Eu não compactuo com esse tipo de coisa.

GUILHERMINO: E o que quer que eu faça? Já está numa situação irreversível, eles já me odeiam, eu só perderei se mudar algo.

BERNARDINO: Dê melhores condições a eles, uma moradia melhor, uma comida melhor, e até arrume algo que ajude eles de outras maneiras, e mais liberdade, claro. Ouça o que eles querem ter e dê. Eu voltarei daqui alguns meses, e quero ver mudanças. Caso contrário, eu desmancho nossa sociedade. Passar bem.

Bernardino se retira e Guilhermino põe a mão na testa.



Leonel trabalha nos campos arando a terra. Ele se aproxima de Tião e Vitório, uns dos empregados da fazenda.

TIÃO: É o sujeito que chegou hoje mais cedo, não é?

LEONEL: Eu mesmo, prazer, Leonel.

Ele cumprimenta os dois homens.

TIÃO: O que te trouxe até aqui?

LEONEL: Eu vi um anúncio de terras no jornal, mas o dinheiro que eu tinha não bastava, então entrei num acordo de trabalhar para o Coronel para pagar o que resta.

VITÓRIO: O dinheiro nunca basta… mais um que caiu no conto das terras.

LEONEL: O quê?

TIÃO: O anúncio no jornal, era falso. É um plano do Coronel para prender pessoas em suas fazendas.

LEONEL: Como ele sabia que eu pediria para trabalhar aqui?

TIÃO: Você só facilitou para ele no caso. Normalmente, ele te atrai até aqui, tu vê que o dinheiro não é o suficiente, vai embora e no meio do caminho é pego pelo capataz do Coronel, que te espanca, te traz desacordado e rouba o seu dinheiro. E agora você vai ficar aqui trabalhando igual um condenado, já que estamos presos aqui.

LEONEL: Então… eu caí numa armadilha…

TIÃO: Bem-vindo a sua nova vida.



O trem chega em Riacho das Rosas, a maior cidade da região, e dele desce Lúcia. Ela anda pela pequena cidade à procura pela pensão Maria das Graças, uma pensão de tamanho médio que fica em frente a uma praça grande e florida. Ela entra no local e vai até a recepção.

LÚCIA: Boa tarde! Meu nome é Lúcia, vim em busca da vaga de camareira que vi no jornal.

TOMÉ: Olá! Sou Tomé, o dono dessa pensão. A senhorita tem alguma experiência?

LÚCIA: Bom, eu já trabalhei como faxineira num pequeno hotel e, quando pequena, ajudava minha mãe, que era empregada em uma casa. Me perdoe, mas não tenho referência alguma.

TOMÉ: Sem problemas, você caiu do céu para mim! Faz semanas que eu procuro alguém para me ajudar. Eu vou te mostrar como funcionam as coisas aqui e entregar o quarto onde você ficará. Só deixa eu achar minhas chaves…

Ele começa a procurar em seus bolsos e por cima do balcão. Lúcia olha para o lado e vê um menino, de mais ou menos 2 anos, brincando com as chaves no canto da sala.

TOMÉ: Lino! Nem vi você pegar as chaves! 

Ele vai até a criança e a pega no colo.

LÚCIA: É seu filho?

TOMÉ: Sim! Maria das Graças era o nome da mãe dele, infelizmente nos deixou. Estava doente há anos, e ano passado partiu… Venha comigo, vou lhe mostrar a pensão.

Eles passam por todas as partes da pensão enquanto Tomé explica a ela os trabalhos. Eles entram em um quarto do primeiro andar.

TOMÉ: E este é seu dormitório. Não é diferente de quartos comuns, mas espero que seja suficiente.

LÚCIA: É sim, achei aconchegante.

Lúcia larga sua mala no chão e começa a sentir uma tontura.

TOMÉ: Lúcia? Tudo bem?

A moça fecha os olhos e desmaia caindo sobre a cama do pequeno quarto.



Começa a anoitecer e os empregados da fazenda voltam para o abrigo.

TIÃO: E agora, após todas essas horas de trabalho, o que ganhamos? Uma sopa bem rala pra enganar a barriga.

VITÓRIO: E é isso, há vários anos estamos nessa.

LEONEL: E vocês nunca reclamaram para o Coronel? 

TIÃO: Os que fizeram isso voltaram com a cara cheia de sangue…

VITÓRIO: Ou nem voltaram…

LEONEL: Se vocês não têm coragem, eu tenho. Aproveitarei que o Jarbas está distraído e vou até lá. 

Leonel se levanta e sai sorrateiramente.

TIÃO: Não vá…

VITÓRIO: Ele já foi.

Leonel chega na frente do casarão e começa a gritar.

LEONEL (Gritando): CORONEL! CORONEL! CORONEL GUILHERMINO!

Após um tempo, o Coronel chega na varanda da casa.

GUILHERMINO: Quem está tendo o disparate de gritar pelo meu nome?

LEONEL: Eu mesmo, e já sei do golpe que o senhor arma contra as pessoas.

O Coronel ri.

GUILHERMINO: E vai fazer o que quanto a isso?

Leonel sobe as escadas da entrada do casarão e fica frente a frente com o homem.

LEONEL: Eu não tenho medo do senhor! Você pode até não deixar eu ir, mas eu posso fugir. E se isso acontecer, pode ter certeza que eu vou destruir seu nome lá fora.

Guilhermino dispara um soco no rosto de Leonel, que cai no chão, e ri. 

GUILHERMINO: É muita coragem sua vir me enfrentar, rapaz. Mas saiba: eu posso acabar com sua vida antes que você possa cumprir a sua ameaça.

Jarbas chega na frente do casarão.

JARBAS: Desculpe-me, Coronel, mas ouvi gritos vindo daqui.

GUILHERMINO: Foi só este rapaz atrevido aqui. Preste mais atenção para que não aconteça de novo. Cuide dele, daquele jeito…

O Coronel entra na casa e Jarbas levanta Leonel pela camiseta e o leva para longe dali.

ENCERRAMENTO

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