Paixões & Legados - Capítulo 3 (25/09/2024)

 


Paixões & Legados

Escrita por Fafá

Faixa das 18h


Jarbas conduz Leonel, que está cheio de cortes, hematomas e manchas de sangue por todo corpo, até o abrigo novamente. O capataz joga o rapaz no chão e se retira.


TIÃO: A coisa foi feia, ein. Nós tentamos te alertar…


LEONEL: Eu vou fugir daqui, podem anotar o que estou dizendo. Eu vou fugir e não irá demorar para que isso aconteça. E, quando estiver lá fora, farei o possível para ajudar vocês também.




Lúcia acorda sentindo-se tonta. Ao abrir os olhos, vê Seu Tomé e mais duas pessoas olhando fixamente para ela.


CÁSSIA: Acho que ela acordou.


TOMÉ: Lúcia? Está se sentindo bem?


LÚCIA: Eu acho que sim… ainda sinto-me um tanto tonta. Não sei o que aconteceu.


TOMÉ: Estes são dois hóspedes da pensão: Dona Cássia e o Doutor Gustavo. Doutor Gustavo é médico, pedi que viesse aqui para avaliá-la, e Dona Cássia é apenas fofoqueira mesmo.


CÁSSIA: Mais respeito, por favor. Sou uma senhorita de idade já, não sou obrigada a ouvir essas baboseiras sobre minha pessoa.


GUSTAVO: O que está sentindo, Lúcia? 


LÚCIA: Eu não sei, de repente me senti mal e apaguei.


GUSTAVO: Já tinha passado por algum episódio desse tipo antes?


LÚCIA: Não, mas ultimamente sinto muitas tonturas e enjôos. Quando peguei o trem para chegar aqui, por exemplo, senti inúmeras vertigens ao longo do caminho.


GUSTAVO: Peço-lhe que passe em meu consultório amanhã, para que possa examinar melhor.


LÚCIA: Mas o doutor já tem alguma suspeita?


CÁSSIA: Eu só senti isso uma vez em minha vida, e foi quando eu estava grávida de meu filho. 


TOMÉ: Ora, não assuste a pobre moça. Afinal de contas, Lúcia é solteira.


Lúcia fica pensativa, temendo que a tese de Cássia seja verdadeira.


GUSTAVO: Acho que a melhor coisa a se fazer agora é descansar. Pelo o que nos contou, a senhorita fez uma longa viagem no dia de hoje, isso pode ter contribuído para o desmaio. Aconselho que durma bem e descanse.


TOMÉ: Isso mesmo, vamos nos retirar e deixar a moça.




Um carro para na frente da maior mansão da cidade de Riacho das Rosas. Bernardino desce do carro e entra no luxuoso local, onde é recebido por Mercedes, sua governanta.


MERCEDES: Boa noite Seu Bernardino! Fez uma boa viagem?


BERNARDINO: Cansativa, eu diria. Passar horas dentro de um automóvel e o resto do dia resolvendo negócios não é nada agradável, mas tudo ocorreu bem.


MERCEDES: Ótimo! Mando pôr a mesa?


BERNARDINO: Claro! E logo depois peça para que preparem o meu banho.


MERCEDES: Sim, senhor!


Mercedes se retira e Bernardino senta em sua velha poltrona, observando tudo ao seu redor.


BERNARDINO: Para que uma casa tão grande para só uma pessoa? Um enorme espaço que se preenche apenas com vazio, silêncio e solidão. Esse sou eu: apenas um velho homem solitário, esperando a hora de sua morte e cuidando de seus pertences para no final tudo ser em vão…




O Sol surge no horizonte e um novo dia nasce. Leonel e os outros trabalhadores voltam aos campos para arar a terra.


VITÓRIO: E quando você pretende fugir?


LEONEL: Tenho que esperar alguns dias. Após o acontecimento de ontem, Jarbas anda me observando. Quando começa a colheita mesmo? 


TIÃO: Na próxima semana. Vamos para os campos de cana.


LEONEL: Semana que vem eu fugirei daqui. Nos campos de colheita será mais fácil despistar o capataz.




Lúcia chega ao consultório do Doutor Gustavo.


GUSTAVO: Fico feliz que tenha vindo.


LÚCIA: É melhor que eu tome cuidado com minha saúde. Mesmo sendo meu primeiro dia de trabalho, o Seu Tomé me liberou para vir.


GUSTAVO: Acho ótimo! Bom, Lúcia, eu queria te fazer uma pergunta, não a fiz ontem pois é algo mais íntimo e não quis constrangê-la na frente dos outros. Há quanto tempo o seu sangue não desce?


LÚCIA: Ultimamente eu tive tantos problemas que nem analisei esse detalhe, mas, agora que o senhor falou, já devem fazer 2 meses desde a última vez.


GUSTAVO: Você disse que é solteira, mas já teve algum namorado ou noivo?


LÚCIA: Eu terminei um relacionamento há alguns dias… um namoro que durou meses.


GUSTAVO: Então, se minhas suspeitas estiverem certas, você, Lúcia, está esperando um filho.


Lúcia fica atônita com o diagnóstico.


LÚCIA: Grávida? Não…


GUSTAVO: Você precisa ser forte, Lúcia. Se eu puder ajudar de alguma forma…


LÚCIA: Não conte a ninguém sobre isso, por favor.


GUSTAVO: Você não poderá segurar esse segredo por muito tempo.


LÚCIA: Eu sei. Eu só preciso de um tempo para organizar minhas ideias.




Uma semana se passa. Lúcia não conta a ninguém sobre sua descoberta e leva sua vida como camareira normalmente. Leonel trabalha nos campos de Guilhermino enquanto Jarbas fica no seu encalço. 

Os empregados da fazenda chegam para colher as plantações de cana. Leonel trabalha normalmente para disfarçar.


LEONEL: A qualquer instante será o momento certo para que eu entre no meio dessa plantação e suma. Estou só esperando a hora em que Jarbas fará uma parada pra descansar.


VITÓRIO: Eu ainda acho muito arriscado. Se eles te pegarem, podem até te matar.


TIÃO: Também não concordo com esse plano, mas torço por você.


Leonel olha de canto de olho Jarbas se distanciar na direção da mata.


LEONEL: É agora, assim que eu entrar ali no meio, façam o que combinamos.

Leonel espera os outros homens darem as costas e rapidamente entra no meio dos altos pés de cana. Tião e Vitório começam a simular uma briga chamando a atenção dos homens para a bagunça. Leonel se embrenha cada vez mais dentro dos plantios de cana enquanto os capatazes conseguem separar a falsa briga.

Após algumas horas, Leonel finalmente chega ao outro lado da plantação onde só há uma cerca de arame que separa uma floresta e a plantação.


LEONEL: Eu posso ficar perdido nessa mata, posso nunca mais conseguir achar a cidade de novo, mas aqui eu não fico.


Ele se prepara para passar por baixo da cerca quando, de repente, é ouvido um som de arma engatilhando atrás dele.


JARBAS: Acha que vai aonde, valentão?


ENCERRAMENTO

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