Paixões & Legados
Escrita por Fafá
Faixa das 18h
Jarbas aponta um revólver para Leonel que levanta as mãos.
JARBAS: Acha que sou idiota? Qualquer um perceberia esse seu plano fraco. Agora vamos voltar que amanhã você tem trabalho a fazer.
Jarbas faz um sinal com a arma para Leonel passar na sua frente. Quando Leonel chega mais perto de Jarbas, parte pra cima dele e os dois caem no chão numa briga antes que o capataz pudesse fazer alguma coisa. A arma cai a uma certa distância e os dois tentam se aproximar para pegá-la. Um deles consegue alcançá-la e um tiro é ouvido. A briga continua, Leonel consegue tomar a arma para si e nocauteia Jarbas com uma pancada na cabeça. O capataz fica desacordado no chão enquanto Leonel levanta se dobrando de dor com a mão, coberta de sangue, na barriga. Com bastante dificuldade ele passa por baixo da cerca e se embrenha na mata.
Ainda na cidade de Vila das Camélias, vemos a fachada de uma grande mansão de estilo romano. Dentro do maior quarto da mansão está uma jovem moça, de aparência frágil e pálida, sentada em frente a um espelho penteando seus cabelos, seu nome é Celine. Ela é interrompida por sua irmã, Débora, que entra no local sem ao menos bater na porta.
DÉBORA: Desculpe-me por lhe incomodar à essa hora, minha irmã, mas hoje mais cedo recolhi esta carta que entregaram. Parece que há algum problema com o nosso vizinho na fazenda.
CELINE: Débora, eu já lhe disse que não gosto quando abre as correspondências destinadas a mim. Amanhã vou pessoalmente lá averiguar a situação. Já aproveito para dar uma volta.
DÉBORA: Perdoe-me, mas já disse que acho que você se preocupa demais com os negócios da família. Está certo que nossos pais deixaram a ti esse dever, mas você está doente, Celine, deveria cuidar mais de sua saúde.
CELINE: Os médicos já me disseram que não há solução para minha doença. Eu me cuido o máximo que posso, fico o dia trancada dentro dessa casa, a única coisa que faço é assinar papéis e caminhar pelo jardim.
DÉBORA: Eu só não entendo o porquê de não ter confiança em mim, sua irmã. Eu posso cuidar das coisas enquanto você aproveita o que lhe resta de sua vida, mas está sempre alarmada contra mim, desconfiando de mim.
CELINE: Você sempre se preocupou apenas com roupas e jóias, Débora! E agora, repentinamente, decidiu que quer cuidar dos negócios da família. Está assim desde que recebi o diagnóstico, como se estivesse esperando o momento de minha morte para tomar tudo o que é meu…
Celine começa a tossir fortemente. Ela se senta na cama e põe um lenço na frente da boca enquanto tosse. Após a crise parar, ela olha para o pano e vê pingos de sangue.
DÉBORA: Vejo que essa conversa não vai dar em nada. Boa noite!
Débora se retira.
Jarbas, com um corte na testa, chega no casarão, onde chama pelo Coronel.
GUILHERMINO: O que há, Jarbas? Me interrompendo em pleno horário de jantar.
JARBAS: O rapaz novato… conseguiu fugir. Se embrenhou no meio da mata atrás do canavial.
GUILHERMINO (Furioso): Como você deixou isso acontecer, Jarbas?
JARBAS: Ele partiu para cima de mim. Mas não se preocupe, consegui acertar uma bala nele, não pode ir tão longe.
Um novo dia amanhece. Leonel anda perdido pelo meio da mata. Ensanguentado da barriga aos pés, ele anda mancando e se apoia nas árvores, se esforçando para não cair desmaiado no chão. Ele consegue chegar a uma estreita estrada de terra, onde segue para o lado direito por uns minutos antes de suas pernas enfraquecerem. Estirado no chão, ele fecha os olhos e fica desacordado.
Na fazenda, Jarbas se aproxima de Tião e Vitório e os leva para um local mais isolado, onde ninguém possa os ver.
JARBAS: Se eu não estou enganado, vocês dois ficaram bem amigos daquele tal de Leonel, não?
Tião e Vitório fazem que sim com a cabeça.
JARBAS: Pois então, ele deve ter contado para onde pretendia ir ao sair daqui…
TIÃO: Ele não disse nada…
Jarbas tira o facão de sua cintura.
JARBAS: Tem certeza? Não me custa nada pressionar um pouco para vocês me dizerem algo.
TIÃO: Ele não disse nada.
Jarbas aponta o facão para o pescoço de Tião.
JARBAS: Certeza?
VITÓRIO: Não sabemos para onde ele foi, mas sabemos de onde ele veio. Saiu da cidade de Roseiras com a reputação manchada, e parece que conhecia alguém em Jardim das Tulipas. Só isso que sabemos.
JARBAS (Abaixando o facão): Viu, nem foi tão difícil. Voltem ao trabalho!
O Coronel Guilhermino recebe Celine em sua casa.
GUILHERMINO: É um prazer vê-la, senhorita. O que traz minha vizinha de terras até aqui, em minha casa?
CELINE: Bom, Coronel, recebi uma carta de meus caseiros notificando que um de seus plantios anda cruzando a divisa entre nossas fazendas.
GUILHERMINO: Você não usa aquela área, então aconteceu que meus funcionários devem ter se confundido. Afinal de contas, já ofereci dinheiro por ela, a senhorita que não quis aceitar.
CELINE: E isso lhe dá o direito de se apossar da área?
GUILHERMINO: Como eu disse, você não as usa. São terras boas, é um desperdício não cultivar nelas.
CELINE: Elas não pertencem ao senhor! Peço-lhe que desfaça isso, ou tomarei medidas drásticas contra sua pessoa e seus negócios. Até mais ver!
A moça se retira e o Coronel revira os olhos. Jarbas, que estava na porta esperando, entra.
JARBAS: Tenho novidades!
Celine e seu motorista seguem de carro pela estrada de chão em direção à cidade. Num ponto mais distante da fazenda, eles encontram um homem desmaiado na beira na estrada.
CELINE: Pare o carro!
Celine desce do carro e se aproxima do rapaz desmaiado, Leonel. Ela põe a mão sobre a testa dele.
CELINE: Está ardendo em febre. Silva, me ajude a carregar esse moço para dentro do carro.
Os dois carregam Leonel, um pega pelas pernas e o outro pelos ombros, e colocam-no dentro do carro.
Na pensão Maria das Graças, o Doutor Gustavo fala ao telefone enquanto Lúcia e Seu Tomé conversam no balcão. Gustavo termina a ligação.
GUSTAVO: Licença, Seu Tomé. Recebi a ligação de uma paciente. Terei que viajar para outra cidade, não sei quando volto.
TOMÉ: Vá tranquilo, doutor!
Gustavo sobe as escadas para arrumar suas malas.
LÚCIA: Então, é apenas isso que o senhor quer da mercearia?
TOMÉ: Sim, Lúcia. Mas tente não demorar muito pois têm ingredientes do almoço aí no meio.
LÚCIA: Pode deixar! Vou num pé e vou no outro.
Lúcia anda pela cidade até a mercearia. Quando ela está fazendo suas compras, começa a sentir tonturas. Bernardino, dono da mercearia, estava averiguando as coisas quando percebe a moça passar mal e se aproxima.
BERNARDINO: Está tudo bem?
LÚCIA: Eu me sinto…
Lúcia cai nos braços dele.
BERNARDINO: ALGUÉM ME AJUDA! TRAGAM UMA ÁGUA PARA ELA.
Guilhermino fica pensativo sobre as palavras que Bernardino lhe disse.
GUILHERMINO: Não posso perder essa sociedade. Acho que devo ajudar essa cambada de pobretões.
Guilhermino se dirige para a varanda do casarão. Do lado de fora, todos os empregados da fazenda estão reunidos: homens, mulheres e inclusive crianças, que são frutos das relações entre os empregados.
GUILHERMINO: Reuni todos aqui pois tenho propostas a fazer, propostas que podem melhorar a qualidade de vida de todos vocês.
Todos se surpreendem com as palavras do Coronel.
GUILHERMINO: A começar pelo abrigo onde dormem, vou mandar construir uma nova casa, onde todos poderão dormir com mais conforto. Em segundo lugar, darei uma certa liberdade a vocês, não vou mais prendê-los aqui, poderão sair de vez em quando com minha autorização. E também construirei uma pequena escola para que as mulheres possam deixar as crianças menores enquanto trabalham. E é isso que eu posso propor.
Começam murmurinhos no meio da multidão. Uns continuam a reclamar e outros sentem um certo alívio com as propostas.
GUILHERMINO: Agora voltem a trabalhar!
Lúcia se recompõe sentada em uma cadeira. Bernardino, ao seu lado, estuda a moça.
BERNARDINO: Melhor agora?
LÚCIA: Ah, sim! Muito obrigada pela ajuda.
BERNARDINO: Está doente? Isso não é uma coisa normal de acontecer.
LÚCIA (Mentindo): Deve ter sido apenas uma queda de pressão, nada demais.
BERNARDINO: Meu nome é Bernardino, prazer! Sou o dono dessa mercearia.
LÚCIA: Prazer, Lúcia.
BERNARDINO: Nunca te vi por aqui, moro nessa cidade desde criança.
LÚCIA: Cheguei há pouco tempo. Ainda estou me ajustando à nova vida.
BERNARDINO: Está comprometida?
LÚCIA: Não, solteira. O senhor é dono dessa mercearia? Já vi várias com esse nome em outros lugares.
BERNARDINO: Tenho uma rede de mercearias. Abri essa em que estamos quando tinha apenas 20 anos, e desde então expandi os meus negócios, abrindo várias em diversas cidades.
LÚCIA: Deve ser um homem de muitas posses então.
BERNARDINO: É o que dizem. Não me entenda mal, mas acho a senhorita muito bonita. Não entendo como vive solteira, creio que deve ter vários candidatos.
LÚCIA: Na verdade, aconteceram algumas coisas na minha vida… são assuntos que prefiro não comentar. Oh céus! Há quanto tempo estamos conversando aqui?
BERNARDINO: Há bastante tempo, você ficou desacordada por minutos.
LÚCIA: Me desculpe, Seu…
BERNARDINO: Bernardino!
LÚCIA: Me desculpe, Seu Bernardino, mas preciso ir, voltar ao meu trabalho. O papo estava muito bom.
BERNARDINO: Espere! Convido-lhe para jantar comigo nesta noite, em minha casa. Estou sempre sozinho, adoraria ter uma companhia como a sua. Aqui está meu endereço.
Ele entrega um papel e ela o pega.
LÚCIA: Eu… vou pensar.
Ela sai.
Na mansão de Celine, alguém bate na porta e ela atende.
GUSTAVO: Vim o mais rápido que pude, Celine. Está tudo bem com você?
CELINE: Comigo está, me siga.
Eles vão até um quarto de hóspedes, onde, sobre a cama, está Leonel ainda desacordado.
CELINE: Achei este homem desacordado na beira da estrada. Está cheio de sangue pelo corpo e ardendo em febre.
GUSTAVO: Você não deveria ter feito isso, Celine! Deveria ter levado ele para o hospital. Parece-me que ele está baleado.
CELINE: Pois então, está baleado e fugiu. Tive medo de levá-lo ao hospital e a pessoa que fez isso com ele fosse atrás dele. Ajude-o, por favor!
GUSTAVO: Farei o possível com o que tenho aqui. Só preciso desalojar a bala e fazer a costura, mas fora do hospital será muito arriscado.
Celine deixa Gustavo sozinho. O médico passa algumas horas dentro do quarto enquanto Celine guarda ansiosamente em sua biblioteca. O Doutor Gustavo finalmente sai do quarto.
GUSTAVO: Fiz o máximo que pude. Agora é esperar para ver se ele sobreviverá ou não.
ENCERRAMENTO
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