Paixões & Legados
Escrita por Fafá
Faixa das 18h
Lúcia se espanta com a proposta de seu amigo.
LÚCIA: Casar? Isso é loucura! Nós nos conhecemos há pouco tempo. Não podemos apenas casar assim, repentinamente.
BERNARDINO: Sei que é loucura, mas pense bem. Pense no futuro de seu filho, não poderá trabalhar pesado durante a gravidez e precisará de ajuda para criá-lo. Está vivendo em meio a riscos. Se casar comigo, viverá em segurança, seu filho terá tudo do bom e do melhor e até você terá uma vida boa. Sei que mal me conhece, que não temos paixão um pelo outro, mas você terá uma vida melhor.
LÚCIA: Eu não sei… preciso pensar.
BERNARDINO: Pense com carinho.
Um silêncio mortal se instaura no recinto. Nem mesmo os sons dos talheres arranhando os pratos é ouvido.
LÚCIA: Melhor eu ir, está ficando tarde.
BERNARDINO: Espero que não esteja indo somente pelo peso do assunto que tivemos.
LÚCIA: Preciso de um tempo sozinha, para botar meus pensamentos no lugar. Agradecida pelo jantar.
BERNARDINO: Espero que tenhamos mais milhares de momentos como esse.
Lúcia sai apreensiva do local.
Lúcia toma um copo de água na cozinha da pensão. Tomé chega no local apenas de pijamas.
TOMÉ: Perdoe-me pelas minhas vestes. E então, como foi o jantar?
LÚCIA: No início foi incrível, mágico, mas à medida que íamos conversando, a situação ficava mais estranha.
TOMÉ: O que aconteceu?
LÚCIA: Ele… pediu-me em casamento.
TOMÉ: O quê? Assim? Sem mais e nem menos?
LÚCIA: Foi uma longa conversa, contamos muito um sobre o outro. Mas a gota d'água foi quando contei minha história e disse um detalhe…
TOMÉ: Acho que já nos conhecemos o suficiente para você me contar as coisas com clareza.
LÚCIA: Perdoe-me, Seu Tomé, eu andei escondendo algo de você por todo esse tempo. Acontece que a causa dos desmaios e enjôos… Enfim, estou grávida.
TOMÉ (Espantado): Grávida?
LÚCIA: Fale mais baixo! Ele disse que estaria disposto a dar um nome ao meu filho, uma vida melhor a ele.
TOMÉ: Realmente, é uma escolha que exige muito cuidado.
LÚCIA: Eu não sei o que fazer.
TOMÉ: Quer o meu conselho? Aceite esse pedido. É o único jeito de consertar sua vida com base nas alternativas que tem no momento.
LÚCIA: Eu preciso pensar mais calmamente. Além de que não posso abandonar o senhor aqui, sem mais e nem menos.
TOMÉ: Não pense em mim, pense em você! É a sua vida que está em jogo. Esqueça os outros e pense no que é melhor para a sua pessoa.
LÚCIA: Vou me deitar, amanhã tomo uma decisão.
Um novo dia amanhece no grande vale florido. Na casa de Celine, vamos ao quarto de hóspedes onde a jovem moça vai ao encontro de Leonel.
CELINE: Como está?
LEONEL: Melhor, dormi muito bem.
CELINE: Assim que Débora sair, o Doutor Gustavo vem te avaliar.
LEONEL: Não está com medo que ela venha aqui dessa vez?
CELINE: Débora acorda mais tarde. Ontem ela notou que tinha algo estranho, sou péssima em esconder as coisas.
LEONEL: Devo me preocupar?
CELINE: Apenas não se assuste se ela aparecer aqui repentinamente. Vou mandar lhe servir café, deve estar com fome.
LEONEL: O pior é que estou sem apetite nenhum, não consegui comer o jantar de ontem.
CELINE: Mas se alimente mesmo assim, te fará bem. Mais tarde eu volto.
Celine se retira e Leonel fica pensativo.
Bernardino mexe em alguns papéis no escritório de sua mercearia, até que sua secretária interrompe.
SECRETÁRIA: Tem uma moça querendo falar com o senhor.
BERNARDINO: Mande entrar.
A secretária sai e logo depois Lúcia entra. Bernardino se levanta bruscamente ao ver a moça.
BERNARDINO: Lúcia…
LÚCIA: Eu vim encerrar a conversa que tivemos ontem.
BERNARDINO: E?
LÚCIA: Eu aceito. Eu aceito me casar com o senhor.
Bernardino sorri.
Celine lê um livro no sofá de sua sala e Débora, no mesmo cômodo, folheia um jornal.
CELINE: Não fará sua saída diária hoje?
DÉBORA: Vou ficar em casa descansando. Por que me quer fora?
CELINE: Eu não disse isso.
DÉBORA: Foi o que pareceu.
CELINE: Apenas achei estranho você não sair hoje, está um dia lindo de sol.
Débora olha desconfiada para Celine.
CELINE: Inclusive, farei até um passeio no meu lindo jardim.
Celine larga seu livro na pequena mesinha de centro e se retira na direção do jardim.
DÉBORA: Eu vou descobrir o que está acontecendo.
Débora se levanta e começa a andar pela casa, como se estivesse procurando algo.
BERNARDINO: Estou feliz que tenha aceitado minha proposta. Sei que foi uma decisão difícil, mas já deixo claro que espero que suas escolhas sejam a favor de seus desejos. Não forçarei intimidade alguma após o casamento, entenda que farei o melhor possível para te deixar confortável.
LÚCIA: Obrigada, Bernardino! Sei que é um casamento sem paixão, mas nada impede de construirmos uma relação ao longo do tempo. Mas estou fazendo isso apenas por causa do filho que espero.
BERNARDINO: E está mais que certa. Vamos marcar o casamento o mais rápido possível, antes que sua barriga cresça perceptivelmente.
LÚCIA: Estou de acordo.
Lúcia abraça Bernardino.
LÚCIA: Agradeço por tudo o que está fazendo por mim. Serei eternamente grata.
BERNARDINO: Você também me faz um favor, estará acabando com minha solidão que perdura por décadas. É um bem para nós dois.
Leonel pensa profundamente nas escolhas que tomou: desde a traição, até a fuga. De repente, a porta de seu quarto abre bruscamente e de trás dela aparece uma mulher de roupas chiques, enfeitada por jóias e maquiagem, Débora.
DÉBORA: Quem é você?
LEONEL: Leonel, prazer! Creio que seja a senhorita Débora.
DÉBORA: O que faz aqui? Minha irmã que te trouxe?
LEONEL: Celine salvou minha vida, me encontrou à beira da morte numa estreita estrada de chão.
DÉBORA: Que história emocionante. Agora que está vivo e até conversando, já pode ir embora. Ou prefere desfrutar um pouco mais da bondade e do que minha irmã tem a oferecer.
Leonel se ofende com as palavras arrogantes da moça. Celine, que estava ouvindo sons de conversa pela casa, chega no quarto.
CELINE: Débora, o que está fazendo aqui?
DÉBORA: Enlouqueceu de vez, foi? Trazendo um desconhecido para dentro de nossa casa. Celine, tenha classe, pelo amor de Cristo!
CELINE: Encontrei-o à beira da morte, queria que o deixasse morrer?
DÉBORA: Nem o conhecemos, eu deixaria.
CELINE: É porque você não tem noção nenhuma né, Débora.
DÉBORA: E por que não me contou sobre o hóspede estranho antes?
CELINE: Olhe só a forma como está agindo. O pobre rapaz não está em condições de ouvir suas palavras amargas e fúteis. Deixe que eu cuide disso, Débora, por favor!
DÉBORA: Tá bom! Mas não pense que essa conversa acaba por aqui.
Débora sai do quarto e Celine fecha a porta revirando os olhos.
CELINE: O que eu mais temia aconteceu. Sinto muito, ela encheu muito seus ouvidos?
LEONEL: Não, você chegou antes que ela despejasse tudo em mim. Sua irmã é um tanto difícil…
CELINE: Não dê bola a ela. Olha, não se sinta pressionado a ir embora, fique o tempo que for necessário. Agora que Débora já sabe de tudo, vou chamar o doutor Gustavo.
Lúcia chega na pensão com um sorrisinho no rosto. Tomé corre para conversar com a moça.
TOMÉ: E então? O que disse a ele?
LÚCIA: Disse que aceitava… nos casaremos nas próximas semanas.
TOMÉ: Estou muito feliz por você.
Eles se abraçam. Dona Cássia, que ouvia tudo de canto de ouvido, aborda eles.
CÁSSIA: Estou ouvindo mal ou a senhorita vai se casar?
TOMÉ: A senhora é muito fofoqueira mesmo, isso não é da sua conta.
LÚCIA: Vou sim, Dona Cássia, vou me casar em breve.
CÁSSIA: Mal chegou na cidade e já fisgou um. Tu não perde tempo mesmo, menina. Eu já estou há anos nessa cidade e nunca arrumei um pretendente, mas foi por opção.
TOMÉ: Opção dos homens daqui, né? Se fosse pela senhora, essa pensão já estaria cheia de maridos seus.
CÁSSIA: Você me respeite! Pelo amor de Cristo! É a gota d’água chegar nesta idade e ouvir esses disparates.
LÚCIA: Eu vou me arrumar para começar o trabalho.
TOMÉ: Vai continuar trabalhando com um casamento a planejar?
LÚCIA: Eu não vou deixar o senhor sem ajuda, pelo menos até arrumar alguém para me substituir.
O Doutor Gustavo avalia Leonel.
GUSTAVO: Está ótimo! Já pode começar a andar novamente. Só resta esperar para que a entrada da bala cicatrize. Logo logo estará totalmente disposto novamente.
CELINE: Obrigada, Doutor Gustavo! Vou te acompanhar até a porta.
Os dois chegam até a sala onde Débora começa a descer as escadas.
DÉBORA: Que decadência, Doutor Gustavo! Passou de médico de famílias ricas para atender um pé rapado qualquer.
GUSTAVO: Se você me conhecesse, Débora, saberia que não me importo com a classe social de meus pacientes.
DÉBORA: Por isso está preso a um pequeno consultório em uma cidade irrelevante até hoje. Nem ao menos para aparecer nos jornais.
CELINE: Débora, pelo amor! Para que esse teatro todo? Perdão, Doutor Gustavo.
GUSTAVO: Não se preocupe, Celine, já conheço a peça. Hoje estarei voltando para minha cidade, a não ser que deseje algo a mais?
CELINE: Não, vá tranquilo! Tenha uma ótima viagem!
GUSTAVO: Agradeço.
Após diversos capítulos, voltamos à Roseiras, onde tudo começou. Elza escreve em alguns papéis na sua casa até que ouve uma batida na porta e vai atender.
ELZA: Pois não?
JARBAS: Olá! Se importaria de responder algumas perguntas para mim?
ENCERRAMENTO
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