Elza e Guilhermino estão sentados à mesa. A mulher está presa em seus pensamentos, enquanto o Coronel a encara esperando por alguma resposta.
GUILHERMINO: Então, Elza? Qual a sua decisão? Antes de negar o que eu estou propondo, pense bem. Pense no tanto que você sofreu no passado por causa desse homem. Pense nas promessas falsas de amor que ele te fez. Pense na reputação de noiva traída que você passou anos aguentando por causa disso.
ELZA (Farta): Cale-se! Você fica enchendo meus ouvidos e eu não consigo pensar direito.
GUILHERMINO: Se está com tantas dúvidas, é porque ainda há alguma mágoa por isso. Não vejo motivo para descartar a minha proposta.
ELZA: Eu queria saber o que fará contra Leonel. Fala tanto em vingança, no ódio que sente por ele, mas ainda não disse o que está planejando e nem o motivo de todo esse rancor.
GUILHERMINO: Meses após ele chegar aqui, publicou uma matéria em todos os jornais da região me desmoralizando. Isso me custou enormes prejuízos, perdi a minha melhor sociedade, e, ainda por cima, um amigo.
ELZA: Mas por qual motivo ele fez isso?
GUILHERMINO (Se vitimizando): Eu realmente não sei… Creio que seja por eu ter negado trabalho para ele semanas antes.
ELZA: Mas tudo isso por isso? Parece que está me escondendo algo…
GUILHERMINO: É a mais pura verdade, jamais tinha feito algo contra ele antes.
ELZA: O que você pretende fazer contra ele? Matá-lo?
GUILHERMINO: Querida, você tem uma imagem tão errada sobre a minha pessoa. Matar é demais! Mas quero que ele sofra, e acabar com todo o legado que ele seguiu da falecida Celina Sanchez, assim como ele tentou fazer com o meu.
ELZA: Se é como está dizendo, eu aceito fazer parte dessa palhaçada. Eu vou ter um gostinho ao ver ele sofrendo.
GUILHERMINO (Sorrindo): Sabia que cederia! Que tal um jantar nesta noite? Vamos convidar ele, para mostrá-lo que estamos unidos.
ELZA: Acho que seria uma ótima ideia! Eu quero olhar bem no fundo dos olhos dele, e mostrar o quão bem eu fiquei, apesar de tudo que me fez.
GUILHERMINO: Isso mesmo, dê a entender que você já superou essa história.
ELZA: Mas eu já superei!
GUILHERMINO (Segurando o riso): Percebo.
Vitório e Tião estão passando de carroça pela cidade.
TIÃO: Então ele voltou, mesmo?
VITÓRIO: Sim! E me deixe logo ali na fábrica, quero conversar com ele.
TIÃO: Você não acha perigoso? Imagine se o Coronel fica sabendo disso.
VITÓRIO: Ninguém me verá, serei rápido.
Eles se aproximam da entrada da fábrica, onde Vitório desce da carroça. Tião dá partida, seguindo seu rumo, enquanto o outro entra no local.
Débora ainda está deitada em sua cama, sem ânimo algum. Ela se lembra da noite anterior, quando brigou com Leonel.
DÉBORA: Ele acha que eu ficarei quieta, mas está muito enganado.
Ela se levanta e vai até sua penteadeira, e começa a procurar por algo.
DÉBORA: Onde está? Tenho certeza de que guardei aqui! Será que eu esqueci lá dentro?
A mulher sai do seu quarto. Ela anda pelo grande corredor da mansão, até parar na frente de uma porta, a do quarto de Celine. Ela tenta abrir, mas não tem sucesso.
DÉBORA: Desgraçado! Aposto que foi ele quem trancou. Eu ainda vou pôr as mãos nessas joias, Leonel, e vou tê-las para sempre!
O telefone da casa começa a tocar. Débora desce as escadas, indo até a sala para atender.
DÉBORA (Atendendo): Pois?
GUILHERMINO (Do outro lado da linha): Olá! Gostaria de falar com o Leonel.
DÉBORA: Da parte de quem?
GUILHERMINO: Coronel Guilhermino. Quem está me atendendo?
DÉBORA: Aqui é a Débora. Ele não está no momento, mas pode deixar o recado que eu falo para ele quando chegar.
GUILHERMINO: Ah sim, Débora! É um convite para vocês dois, quero que acompanhem a mim e minha esposa num jantar hoje à noite, na minha casa mesmo.
DÉBORA: Oh! Que maravilha! Pode deixar que estaremos aí.
GUILHERMINO: Ótimo! Estarei esperando.
Os dois desligam seus respectivos telefones.
DÉBORA: Até que esse jantar veio em boa hora. Ótima oportunidade para fazer as pazes com Leonel.
Leonel está trabalhando no escritório de Elias e Jonas. A secretária entra no local.
SECRETÁRIA: Senhor, tem um homem querendo falar com o senhor.
LEONEL: Disse o nome?
SECRETÁRIA: Ele disse que é um antigo conhecido seu, chama-se Vitório.
Leonel fica surpreso ao ouvir o nome.
LEONEL: Mande-o entrar!
A mulher sai e, tempo depois, Vitório entra na sala.
LEONEL: Vitório! Quanto tempo!
VITÓRIO: Olá Leonel! Como vai? Soube que retornou e decidi fazer uma visita.
LEONEL: Fez muito bem! Nossa… como o tempo passou. E o Tião?
VITÓRIO: Ele foi entregar alguns sacos da colheita numa venda aqui perto.
LEONEL: E como vocês estão? Ainda trabalhando naquela fazenda?
VITÓRIO: Sim, igual há quase duas décadas atrás.
LEONEL: E como está aqui, na minha frente?
VITÓRIO: As coisas mudaram muito desde que você foi embora. O Coronel se tornou um homem mais “compreensível”, melhorou demais a vida de nós trabalhadores.
LEONEL: Veja só… Nunca imaginaria uma coisa dessas.
VITÓRIO: Leonel, eu não vim até aqui ficar de papo furado. Sei que estamos há muito tempo sem nos falar, mas tem um assunto mais sério.
LEONEL: O que há?
VITÓRIO: Eu consegui ter mais liberdade dentro da fazenda, me tornei um dos capatazes, mas não estou do lado do Coronel. Pelo contrário, quero acabar com o reinado desse homem terrível. Por isso eu vim te alertar, comecei a ouvir conversas entre ele e Jarbas, e estão planejando uma vingança contra você.
LEONEL: Não me admira o Coronel ainda estar atrás de mim. Obrigado, Vitório, sei que posso contar com você. Eu voltei para essa cidade com a intenção de apagar um incêndio na empresa, mas também quero enfrentar o Guilhermino. Me arrependo de ter fugido no passado. Fiquei com medo, confesso, mas agora quero destruí-lo de uma vez por todas.
VITÓRIO: Você tem meu apoio. Serei seus olhos e ouvidos naquela fazenda e te ajudarei a derrubar o Coronel.
LEONEL: Faça isso, desde que tenha muito cuidado. Não quero que ponha sua vida em risco por minha causa.
VITÓRIO: Pode deixar! Eu sei me cuidar muito bem.
Anabel, Lino, Valentim e Jonas estão reunidos na grande mesa de jantar da mansão. Eles põem os fatos em ordem, a fim de descobrir algo. Mercedes está posta de pé no canto da sala, atenta caso eles precisem de algo.
ANABEL: Está bem! Tudo o que sabemos até agora é que Cristino, pai de Jonas, e mais outro homem…
JONAS: O tal de V. S. …
ANABEL: Foram os “assaltantes” responsáveis pela morte dos meus pais. Esse V. S. é uma identidade misteriosa, da qual não sabemos.
VALENTIM: E ainda há um mandante, alguém interessado na morte do nosso pai.
ANABEL: Ou da minha mãe…
LINO: Essa assinatura, V. S. … parece me lembrar algo.
JONAS: Acha que já a viu antes?
LINO: Talvez.
ANABEL: Quem iria querer a morte do meu pai ou da minha mãe?
VALENTIM: Talvez algum inimigo.
Anabel gosta da sugestão do rapaz. Ela se vira para trás, olhando para Mercedes.
ANABEL: Mercedes, vou te fazer uma pergunta e espero sinceridade pura como resposta.
MERCEDES: Claro, senhorita!
ANABEL: Meu pai, ou minha mãe, algum dos dois tinha algum inimigo.
MERCEDES: Bem, eu não…
ANABEL: Você sempre foi os olhos e ouvidos dessa casa. Sabe de tudo o que acontece e o que aconteceu desde que trabalha aqui. É impossível que não saiba de algo.
MERCEDES: Bem, o Seu Bernardino havia tido um desentendimento alguns meses antes de morrer.
ANABEL: Com quem?
MERCEDES: Foi com um velho amigo e sócio dele, o Coronel Guilhermino. Haviam surgido algumas denúncias envolvendo a fazenda do homem, e o Senhor Bernardino decidiu desmanchar a sociedade.
ANABEL: Mas esse Coronel ficou tão bravo a ponto de querer matar meu pai?
MERCEDES: Pelo o que eu ouvi numa conversa entre ele e sua mãe, o homem havia jurado-o de morte.
ANABEL: Isso é uma pista e tanto…
JONAS: Esse Coronel Guilhermino é de onde eu venho. Um homem poderosíssimo e cheio de posses, um dos mais ricos da região. Sei até onde fica sua fazenda.
ANABEL: Isso ajuda muito, mas vamos procurar por mais informações antes de seguir este caminho.
LINO: LEMBREI!
ANABEL: Do quê?
LINO: Lembrei de onde conheço essa assinatura. Creio que estamos lidando com um dos maiores bandidos da região…
ANABEL: Como assim?
LINO: Anos atrás, vi diversas matérias no jornal falando sobre um ladrão e assassino. Ele assaltou diversos locais e ainda matou vários inimigos. Quando a polícia foi investigar o caso nas casas das vítimas, em todas, eles encontraram uma carta, assinada com V. S., acreditando que essa era a assinatura do assassino. Tempo depois foi descoberto que esse homem era Victors Secret.
ANABEL: Ele está preso?
LINO: Não, está solto por falta de prova. A única coisa que eles tinham era a assinatura com as iniciais dele, mas não encontraram nenhum documento que ele assinasse do mesmo jeito. Porém todos têm certeza de que ele era culpado.
ANABEL: Bem, uma pessoa capaz de fazer essas coisas é bem capaz de aceitar uma encomenda de morte.
LINO: Exatamente! E eu sei como encontrar o endereço desse homem.
VALENTIM: Está pensando em fazer o quê?
LINO: Invadir a casa dele, o que mais seria?
VALENTIM: Isso é perigoso! Vocês acham que o homem é um bandido louco, assassino em série, e querem invadir a casa dele?
LINO: Sim! Está com medo?
VALENTIM: Só acho que seria suícidio.
JONAS: Eu vou com você, Lino! Também quero saber de quem se trata esse sujeito.
LINO: Ótimo! Nesta noite mesmo iremos lá.
ANABEL: Eu também acho loucura…
LINO: Não se preocupe, Anabel! A gente sabe se cuidar.
Tomé está do lado de fora da pensão, pendurado numa escada, arrumando as telhas da fachada do local. Cássia fica apenas admirando o homem lá de baixo.
CÁSSIA: Faça esse trabalho direito, Seu Tomé. Se houver qualquer goteira nessa espelunca, eu juro que vou-me embora.
TOMÉ: Faria um favor imenso, Dona Cássia. Assim eu não teria que aguentar mais os seus choramingos e roubos nos jogos de cartas.
CÁSSIA: Eu já disse que não roubo! O senhor que não aceita ser ruim em jogo de sorte e fica falando essas bobagens.
Logo após a velha parar de falar, Tomé se desequilibra e a escada vai para trás. A senhora observa desesperada o homem caindo com a escada e indo parar no meio da rua todo estrebuchado no chão.
CÁSSIA (Desesperada): MEU DEUS! SEU TOMÉ? MEU DEUS! ALGUÉM CHAMA O DOUTOR GUSTAVO, PELO AMOR!
Leonel entra em casa, exausto. Débora desce as escadas toda arrumada, com suas roupas dessa vez.
DÉBORA: Leonel, querido, eu queria me desculpar pela inconveniência de ontem à noite.
LEONEL: Agora não, Débora, estou…
Ele repara na mulher.
LEONEL: Para onde vai tão arrumada?
DÉBORA (Tímida): Nossa, você reparou! Não é para onde eu vou, e sim para onde nós vamos.
LEONEL: Como?
DÉBORA: Fomos convidados para um jantar na casa do Coronel Guilhermino, é claro que não faremos desfeita.
Leonel estremece ao ouvir o nome.
LEONEL: Desde quando isso?
DÉBORA: Recebi o telefonema hoje à tarde, quando você não estava. Vai se arrumar ou vai desse jeito mesmo.
O homem fica pensativo, ele lembra do que disse para Vitório mais cedo.
“...Eu voltei para essa cidade com a intenção de apagar um incêndio na empresa, mas também quero enfrentar o Guilhermino. Me arrependo de ter fugido no passado. Fiquei com medo, confesso, mas agora quero destruí-lo de uma vez por todas…”
Aquelas palavras martelam na cabeça dele.
LEONEL (Decidido): Espere um momento, vou botar outra roupa.
Anabel e Valentim conversam na biblioteca.
VALENTIM: Não gostei do jeito que seu amigo falou comigo mais cedo. Parece que está sempre me enfrentando.
ANABEL: É o jeito dele, não o leve a mal.
É ouvida a campainha.
VALENTIM: Mesmo assim, eu não sou de ficar aguentando esse tipo de coisa.
ANABEL: Acho que você está exagerando.
A campainha toca novamente.
ANABEL: Vou atender, Mercedes deve estar ocupada.
A moça sai do cômodo, deixando o rapaz sozinho. Ela chega na sala e abre a porta. Gustavo entra no local.
GUSTAVO: Olá, Anabel! Onde está o Lino?
ANABEL: Ele saiu, foi passar em outro lugar antes de ir para casa. Aconteceu alguma coisa?
GUSTAVO: O Seu Tomé levou um tombo feio! Está de cama.
ANABEL: O quê? Eu vou com você, quero ver meu padrinho.
Ela pega seu chapéu que estava pendurado na parede e os dois saem apressados. Valentim chega na sala e não encontra mais ninguém.
Leonel e Débora chegam na fazenda, onde são recebidos na entrada pelo Coronel.
GUILHERMINO (Sorrindo): Que bom que vieram! Leonel, há quanto tempo! Espero que esteja muito bem!
LEONEL (Desconfiado): Igualmente. Não vai me deixar preso aqui novamente, não é?
GUILHERMINO (Rindo): Sempre contando piadas! Uma figura! Vamos, entrem!
Leonel e Débora entram no casarão. Enquanto estão de costas para o Coronel, o homem dá um sorriso malicioso. Eles chegam até a sala de jantar, onde Elza está sentada de costas para eles.
CORONEL: Deixe-me apresentar minha esposa mais formalmente. Esta é Elza, minha mulher!
A mulher se levanta e se vira para os convidados, sorrindo.
LEONEL (Chocado): Elza?
FIM DO CAPÍTULO
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