Limite da Vida - Capítulo 08

 


Limite da Vida - Capítulo 08

Uma novela de Larice da Costa



Felícia: Finalmente acordou! Como está se sentindo?

Mitra coloca a mão na cabeça sentindo fortes dores.

Felícia: Acho melhor a senhorita permanecer deitada, está ardendo em febre.

Mitra automaticamente coloca a mão no pescoço para sentira a temperatura e se assusta, ela tenta se levantar mas não consegue, então permanece sentada.

Felícia: Não se esforce tanto, fique calma.

Mitra: Eu não quero dar trabalho, eu só vim até aqui conversar com a dona da casa, a senhora que fez o almoço beneficente da outra vez.

Felícia: Veio falar com minha mãe? Ela não está, mamãe foi até o convento Santa Isabel, não sei se demora. Yoná, faça um chá para a moça por obséquio.

Mitra: Ao convento? 

Felícia: Espere! Primeiramente, qual o seu nome?

Mitra: Giovanna, muito prazer. Escute, eu acabei de vir do convento, aconteceu uma tragédia, ele está em ruínas, tudo dentro pegou fogo, eu fui a única sobrevivente do local. Eu escutei a pessoa que eu mais amei na vida suplicar por socorro, gritar pela vida e eu não pude fazer nada, você entende o que é isso? Logo ela que amava viver, que queria ser feliz e livre, morreu encurralada pelo fogo. 

Mitra, chorando, encara Felícia.

Mitra: Perdão, foi um desabafo. Eu não tenho pra onde ir, e como a sua mãe, enfim, foi tão caridosa com o convento da outra vez, pensei que ela podia me ajudar, quem sabe me dando um emprego. Olha, eu faço de tudo, sei lavar, sei secar, sei cozinhar, e o que não sei eu posso aprender, mas por favor, me deixe ficar.

Felícia: Se acalme, você está muito agitada, apesar da febre. Tenho que esperar mamãe chegar e assim ela resolve.

Felícia se senta na poltrona ao lado e, como se fosse falar algo, se inclina perante Mitra.

Felícia: Mas você pode ficar até que ela chegue, não acho que vá demorar já que... enfim, o convento pegou fogo. Mas me conte melhor sobre isso, se você se sentir à vontade, é claro!

Mitra: Eu vou explicar como ocorreu.

(Fazenda próxima ao convento):

Tânia: Humberto?

Humberto: Tânia?

Catarina olha depressa percebendo que eles já se conhecem.

Catarina: Quem é a senhora, Humberto?

Humberto: Isso não importa agora, Catarina. 

Tânia: O que houve? Alguém poderia me explicar o que aconteceu com o convento?

O delegado se aproxima de Tânia e a leva para um canto, os dois conversam mais discretamente.

Delegado: O convento pegou fogo nessa madrugada e, infelizmente, a filha deles estava lá dentro e não conseguiu escapar.

Tânia fica espantada e se aproxima de Catarina e Humberto.

Tânia: Eu lamento muito. Podem contar comigo para o que precisarem.

Catarina: Não precisaremos.

Humberto interrompe Catarina.

Humberto: Eu agradeço o seu apoio, Tânia. Muito obrigado.

Catarina observa os olhares entre os dois e fica desconfortável. Ela começa a chorar pensando na filha e Tânia percebe.

Tânia: Vá confortar sua mulher, ela merece. Rosinha, vamos embora. É lamentável, eu sinto muitíssimo pelo que aconteceu, fica aqui meus pêsames.

Ela olha para Humberto que faz um gesto com a cabeça.

O delegado tira um relógio do bolso e observa as horas.

Delegado: Bom, tem certeza de que o casal que abrigou a menina volta logo?

Jussara e o marido chegam no momento em casa.

Yoná: Óia lá, seu delegado. Eles acabaram de chegar.

Delegado: Ah, muito obrigado a todos, agora, vamos ao trabalho.

Delegado na casa de Jussara.

Delegado: E vocês têm certeza de que não viram para onde a menina foi? Não deixaram ela em casa?

Jussara: Não senhor, ela pulou da charrete dizendo que não precisava levá-la na porta de casa, ela saiu correndo pelas ruas e se dissipou no meio das pessoas.

Delegado: Era importante que vocês soubessem o endereço da senhorita Giovanna ou que pelo menos ela ficasse para contar como aconteceu o acidente no convento. Mas infelizmente, não há mais o que perguntar, muito obrigado pela atenção do senhor e da senhora também.

O delegado cumprimenta o casal e se retira.

(Mansão de Tânia):

Tânia chega em casa bastante cansada, larga a bolsa em cima de Rosinha e sobe as escadas sem olhar para Felícia e Mitra que estavam na sala.

Felícia: Mãe, mãe.

Mitra e Felícia se levantam.

Felícia: Não precisa se levantar, fique sentada.

Tânia se aproxima das duas sem dar muita atenção.

Tânia: O que foi, minha filha? 

Felícia: Essa senhorita quer conversar com a senhora, ela disse que te conhece.

Tânia repara em Mitra e se choca.

Tânia: VÔ-CÊ?

A noite chega e Catarina e Humberto chegam em casa, Humberto se deita na rede e lágrimas escorrem dos seus olhos.
Catarina entra pela casa vagarosamente se lembrando de cada momento de Mitra ali dentro. Ela entra pelo quarto da filha, abre o armário e cheira as roupas da filha. Catarina cai no chão chorando como se fosse morrer de tristeza ali mesmo.
Com ódio ela vai até a caixinha escondida, a abre e começa a rasgar as cartas.

Catarina: Eu sei que não fui correta, que o meu passado me condena, mas eu tentei me redimir. Senhor, por favor, já tive que deixar uma filha, agora eu perco a outra. ISSO NÃO É JUSTO, NÃO É.

Catarina quebra e derruba todas as coisas que estavam na mesinha, ela joga um vaso no espelho que se parte em mil pedaços.

Catarina: MITRAAAAAAA.

Humberto se aproxima e entra no quarto.

Humberto: Isso tudo é remorso? Se sente culpada por ter provocado a morte de nossa filha? Não é por menos pois você tem culpa sim, se não fosse essa sua obsessão, esse seu fanatismo, Mitra não teria ido para aquele convento. VOCÊ MATOU A NOSSA FILHA!

Catarina: EU NÃO MATEI NINGUÉM, PARA COM ISSO, PARA, PARA.

Catarina pega o travesseiro e coloca nos ouvidos.

Humberto: Assassina! Eu quero distância de você.

Catarina: Você não fez nada para impedir.

Humberto: Não tente jogar a culpa para cima de mim, você é a responsável por isso. Hoje eu não durmo em casa.

Catarina se levanta desesperadamente.

Catarina: Você não pode fazer isso comigo, Humberto. Eu também estou sofrendo, ela também era a minha filha. Não aja como se tivesse total razão e de um jeito que eu tivesse como impedir tudo o que aconteceu. EU NÃO TIVE CULPA!

Humberto: Conviva com o seu remorso, não vou ficar aqui escutando essa ladainha.

Catarina: Pare de anular meu sofrimento.

Humberto: Me solte, Catarina. Fique longe de mim de agora em diante, você acabou com a minha vida.

Humberto larga Catarina no chão e sai andando pelos destroços do vidro, Ceiça se aproxima.

Ceiça: Eu sinto muito, dona Catarina.

Catarina: SAIA DAQUI. SAI!

Ceiça corre e Catarina fica jogada no chão frio chorando.
Humberto pega a charrete e parte para a cidade.

(Casa das dançarinas):

Giovanna está andando nas ruas da cidade, toda suja e com as roupas rasgadas quando se depara com a Casa das Dançarinas. Um local onde moças expressam a arte dançando e que outras cobram por uma noite de prazer. Giovanna entra observando todos aqueles homens dançando com um par no meio do salão, até que a maioria das luzes se apagam e todas as atenções voltam para o palco, algumas moças saem de trás da cortina e começam a dançar, se apresentando.
A dona do local se aproxima.

Dandara: Querida, o que aconteceu com você? Não era pra estar aqui, você está usando o hábito em um local como esse.

Giovanna: Eu não sou noviça, não tenho para onde ir, queria um emprego aqui.

Giovanna tira o hábito que fica na cabeça e joga no chão.

Giovanna: A senhora teria uma vaga para mim?

Dandara sorri.

Um close no rosto de Giovanna.

Dandara: Bom, já que você veio aqui por live e espontânea vontade pedir, claro que aceitamos. Vamos até o meu escritório conversar mais detalhadamente sobre o assunto.

Giovanna: Ótimo.

(Mansão de Tânia):

Tânia: Que tragédia tudo isso. Então você foi a única sobrevivente daquele incêndio?

Mitra: Sim, fui a única que conseguiu escapar daquele horror. 

Tânia: Bom, não deveríamos ir até a delegacia, é importante o seu depoimento para o delegado.

Mitra: Não. Pelo amor de Deus. Eu quero paz na minha vida, só quero seguir em frente. Não quero mais retornar a algo que me fez tão mal, que só me prejudicou. Por favor, dona Tânia, não quero ir a delegacia.

Tânia: Bom, já que é horrível para você, eu entendo que não queira ir. Já que é assim, então não vamos.

Mitra: Eu queria pedir mais uma coisa.

Tânia: O que foi? Pode pedir, se eu puder fazer.

Mitra: Gostaria de trabalhar aqui como empregada, posso fazer o que a senhora quiser. Eu não tenho para onde ir e esse emprego me ajudaria muito em um momento tão... difícil.

Tânia: Sabe o que é? Não estamos com falta de empregados aqui em casa...

Mitra: Por favor, dona Tânia. Me ajude.

Tânia: Está bem, vamos conversar melhor sobre isso. Mas eu também quero a sua ajuda.

Felícia: Bom, já que está tudo acertado, agora tenho que ir.

Tânia: Felícia dá aulas a noite, tenho uma filha maravilhosa.

Felícia: E já estou atrasada, boa noite e seja bem vinda, Mitra.

Felícia chega correndo na Casa das Dançarinas.

Silvia: Onde estava? A primeira apresentação já aconteceu, a dona Dandara não vai gostar de saber disso.

Felícia: Deixa que depois eu me entendo com dona Dandara. Agora eu vou me arrumar para a segunda apresentação, beijinhos.

Giovanna passa um rouge e se olha no espelho.

Dandara: Olha como dá uma cor a pele, você não parece mais uma mosca morta. Está linda, Giovanna.

Giovanna sorri se encarando no espelho e um close nela.

ENCERRAMENTO 

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