Linha Tênue - Capítulo 13 ( 20/11/2024)

 LINHA TÊNUE - CAPÍTULO 13




Webnovela de Tony Castello


PARTE 1: ESCRITÓRIO FERREIRA ALBUQUERQUE / SALA DE REUNIÕES / MANHÃ

Júlio avança em direção a William, segurando sua nuca com força, tentando forçá-lo a sair.

Júlio: Você vai sair, seu moleque malcriado.

William: Me solta, seu animal!

William consegue livrar-se do aperto de Júlio e empurra o pai para longe. Júlio fica vermelho de raiva, percebendo que não consegue competir fisicamente com o filho. As pessoas na sala se movem para separar a briga, e Celso se posiciona entre os dois.

Júlio: Você vai ou não vai sair desta sala?

William: Pode gritar o quanto quiser, isso só mostra o quanto o senhor é descontrolado.

Júlio: Moleque imundo, como se atreve a me desrespeitar assim? Você só vive porque eu pago pra você viver, seu ingrato.

William: E quer que eu faça o quê? Lamba os seus pés como esse aqui faz? Pois pode esperar sentado, você não manda em mim. Já que você faz questão de jogar na minha cara que me sustenta, eu tô indo agora mesmo juntar minhas coisas para sair da sua casa, papai.

Júlio: Faz o que quiser, seu marginal. Nem parece que é meu filho. Parece mais um desses bandidinhos de rua. É isso que você quer ser? Sair de casa para se juntar com um trombadinha da rua? É por isso que está me enfrentando? Hein, seu bostinha?

William: Quer saber? Soca o seu dinheiro e a sua prepotência naquele lugar. Você é um velho nojento e pretensioso, que acha que pode humilhar qualquer um só porque limpa a bunda com lã de vicunha. Isso não muda o fato de que você é um velho ignorante e nada mais que uma casca vazia de ser humano, sem nada aí dentro a não ser um resto de homem triste e amargo.

Júlio tenta novamente agarrar William, mas é contido por Celso. Outros homens na sala seguram Júlio. Algumas pessoas saem em busca de ajuda, enquanto outras chegam atraídas pelo barulho da confusão.

Júlio: Me solta que eu vou dar uma surra nesse infeliz! Vou te dar a surra que deveria ter levado há muito tempo para aprender a respeitar a cara de um homem!

William: Homem? (Gargalhando) Não me faça rir! Você acha que é um homem? Pois eu só vejo um velho decrépito que nem ao menos se aguenta em pé. É por isso que você tava tentando atrapalhar meu namoro com a Gabi? Porque você tem inveja que eu sou feliz ao dela e você não sabe o que é isso?

Celso se aproxima de William enquanto Júlio permanece contido pelos outros homens.

Celso: Willy, por favor, chega disso. Vamos sair daqui e conversar em outro lugar. Seu pai já tá muito alterado, pensa com a cabeça, meu amigo.

William: Tudo bem, eu vou sair, mas só porque não tenho mais nada a tratar com esse aí. Ele que se dane. Não quero mais olhar pra cara dele.

Celso puxa William pelo ombro e o conduz para fora da sala.

Júlio: Isso, vai mesmo, seu vagabundo.

PARTE 2: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / MANHÃ

Celina desce apressada as escadas da mansão. Ao chegar na sala, vê Laura sentada no sofá, com um semblante abatido como se segurasse o choro.

Celina: Laura, a Jana me disse que você estava me esperando.

Laura: Sim, tia.

Laura se levanta do sofá, ficando de frente para Celina. Usa um vestido branco sem mangas, que deixa os braços à mostra. Celina logo fixa o olhar no braço esquerdo de Laura, notando um hematoma.

Celina: Nossa, isso foi da briga de ontem? Meu Deus, minha filha!

Laura abaixa a cabeça, comprimindo os lábios. Seus olhos se enchem de lágrimas.

Celina: Laura, o que houve?

Laura: Ah, tia...

Celina: Sente-se aqui e me conte.

Celina segura Laura pelo antebraço, e ambas se sentam no sofá. Laura seca algumas lágrimas do rosto.

Celina: Ai, minha querida, pode ficar tranquila. Eu vou ter uma boa conversa com a Liliana sobre o que aconteceu. Isso não pode se repetir, não criei meus filhos para serem violentos desse jeito. Além de tudo, acho que Liliana anda passando dos limites com você, não sei por que motivo.

Laura: Tia, por favor, não se preocupe com isso. O que aconteceu ontem eu já esqueci. Por mais que seja doloroso ouvir aquelas coisas da Lily, que eu considerava como uma irmã, eu decidi passar uma borracha em tudo. Tenho problemas muito maiores pra me preocupar.

Celina: Que problemas? Pode me contar.

Laura: Ah, tia, a senhora sabe como é difícil manter uma vida digna nessa cidade. Eu juro que tento e luto todos os dias para me manter aqui, mas tá cada vez mais difícil. Agora... agora nem o apartamento eu consigo manter, vou ter que devolver ao proprietário.

Celina: Ah não, aquele seu apartamento lindo?

Laura: Sim, tia, infelizmente não tenho mais condições de pagar.

Celina: Por que você não me disse antes que estava passando por isso?

Laura: Não quis incomodar. A senhora sabe como eu sou, não gosto que os outros saibam dos meus problemas. Sempre fui teimosa em tentar resolver tudo por conta própria. Só que desta vez, ficou tudo muito complicado. Acho que terei que ir embora e voltar a morar com meus pais.

Laura chora mais intensamente e Celina coloca a mão sobre a dela em sinal de consolo.

Celina: Mas isso não pode acontecer. Você mora aqui há tanto tempo, está sempre conosco. Como eu disse, você faz parte da nossa família. Você e seus pais são muito queridos por nós. Não posso deixar que você saia de perto da gente assim. Olha... Acho que nunca expressei isso em voz alta desde que você e William terminaram, nunca tive a oportunidade, mas... sempre achei que você era a mulher certa para se casar com ele. Quando vocês ficaram juntos, me senti tão feliz e realizada.

Laura: Sério, tia?

Celina: Sim... Mas agora vocês seguiram caminhos distintos. E William... ah, William está encantado por essa moça, a Gabi.

Laura: Ela é uma fofa mesmo, né, tia?

Celina: Ah sim, um doce de menina.

Laura: E o que a senhora acha dela, sabe... com William?

Celina: Vou ser sincera com você, ela não é o tipo que eu imaginaria se casando com meu filho um dia.

Laura: Casar? A senhora acha que eles vão se casar?

Celina: Bom... eu penso que é o caminho natural, não é mesmo? Os dois estão muito apaixonados e William já me confessou a enorme admiração dele por essa menina.

Laura: Entendo... Ele parece mesmo muito feliz.

Celina: Sim, parece, e eu estou bem com isso. Gabi pode não ser a mulher que eu ou Júlio esperávamos como esposa de William, mas... ela com certeza deve ser a mulher que William sempre sonhou encontrar. Estou muito feliz que meu filho encontrou alguém para amar. Significa que ele vai se casar com alguém que ama e se tornar uma pessoa realizada na vida. Afinal de contas, não é isso que nós pais queremos para nossos filhos?

Laura: Bom, eu ainda não tive meus filhos, mas entendo o que a senhora quer dizer.

PARTE 3: INT. SALA DE CELSO / MANHÃ

Celso entra na sala segurando William pelo braço. William se senta em uma poltrona, colocando a mão direita nos olhos.

Celso: Você tem que ficar calmo, Willy. Nunca te vi assim.

William: Não tenho que ficar calmo, coisa nenhuma! Você não ouviu o que ele me disse? E o pior é que agora tenho certeza de que ele tentou intimidar a Gabi para sabotar nosso namoro. Fui burro em ter levado ela lá em casa ontem.

Celso: Não, William, não é bem assim. Acho que seu pai está tendo dificuldade em lidar com isso. E há outras coisas a serem levadas em consideração.

William: Do que você tá falando?

Celso: Bom, você tem que entender que o tio Júlio tem muitas expectativas sobre o seu futuro. E então você diz na cara dele que não vai mais viajar?

William: Qual foi, Celso? Você está do lado dele agora?

Celso: Eu? Eu não estou do lado de ninguém. Não posso tomar partido nessa situação, mas saiba que sou seu amigo e estou aqui para te ajudar.

William: Será mesmo, Celso? O que você foi fazer ontem lá em casa? Quem te chamou?

Celso: Ué, eu acompanhei a Laurinha. Estava com ela e decidimos dar uma passada. Eu não tive a intenção de atrapalhar nada. Além disso, você não me avisou que haveria uma ocasião especial em que eu não poderia aparecer.

William encara Celso com desconfiança no olhar.

Celso: Ah, William, vai me dizer agora que acha que fui até sua casa para forçar uma situação desconfortável entre você e sua namorada? Que tipo de pessoa você acha que eu sou?

William: Não sei, Celso, não sei... No momento, tô muito confuso. Nem sei mais o que vou fazer da minha vida. Minha vontade é de ir agora mesmo pra casa, juntar minhas coisas e sair.

Celso: Que isso, nem pense numa coisa dessas. Isso só magoaria a tia Celina. Tenho certeza de que ela ficaria arrasada vendo você sair de casa assim, sem mais nem menos e ainda brigado com seu pai.

William: É, mas eu não aguento nem olhar para a cara do meu pai no momento. Sinto que não reconheço mais aquele homem. É como se o homem que eu conheci como meu pai não existisse. E como se hoje eu tivesse certeza de que, no lugar dele, sempre esteve outra pessoa, se fazendo passar pelo meu pai, mas que na verdade é um monstro egoísta que trata todos como se fossem seus fantoches, querendo humilhar quem quer que seja para se manter por cima.

Celso: William, tenho certeza que sua cabeça está girando agora, e você tá pensando um milhão de coisas sobre seu pai. Mas a verdade é que nada disso é real. Às vezes brigamos com nossos familiares e daí a gente pensa besteira. Isso não muda o fato de que eles são nossa família. Querendo ou não, só temos eles nessa vida.

William: Desculpa, Celso, mas eu não penso assim.

Nesse momento, a porta da sala é aberta com truculência e Júlio entra. William se levanta rapidamente, e os dois se encaram de maneira incisiva.

Júlio: O que você ainda está fazendo aqui? Eu já não mandei você sair?

William: Pode deixar, eu já estou saindo, papaizinho. Não vou ficar mais um minuto sequer no mesmo chão que você pisa, pode ficar tranquilo.

Celso: Que isso, gente. Não vamos prolongar essa situação chata. Vocês dois estão de cabeça quente.

Júlio: Cala a boca, Celso!

Celso: Calma, tio, eu só quero ajudar.

Júlio: Eu não preciso da sua ajuda para educar o meu filho.

William: Ah, agora sou seu filho? Pensei que eu fosse um bandidinho de rua.

Júlio: É isso mesmo que você está parecendo. Não é minha culpa se resolveu se comportar como um marginal.

William: Pois saiba de uma coisa: eu dispenso a sua educação. Dispenso qualquer coisa que venha de você. Agora, me dê licença, porque se eu passar mais um minuto olhando pra essa sua cara, sou capaz de vomitar aqui mesmo.

Júlio: Moleque desgraçado, você tá me desafiando com base em quê? O que você tem pra chamar de seu? Hein? Vai sair de casa e viver de quê?

William: Não interessa. Se o senhor acha que eu vou implorar por alguma migalha sua, pode esperar sentado. Vou deixar algo bem claro: não se meta entre mim e a Gabi, entendeu? Se a sua intenção era prejudicar a minha relação com ela, perdeu a viagem. Agora engula o seu dinheiro e esqueça que eu existo.

William sai em direção à porta, e Júlio tenta segurá-lo pelo braço. William se livra, fazendo o pai girar e quase cair. Ele sai da sala, seguido por Celso.

Júlio (gritando): William, volte aqui!

PARTE 4: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / INT. SALA / MANHÃ

Laura: Pois é, tia. No momento, estou achando melhor voltar a morar com meus pais. Não tenho mais condições de me manter aqui.

Celina: Minha filha, pense bem... Eu sinto que aqui você terá mais oportunidades. Como vai o seu trabalho? Não está mais com a agência da Abigail?

Laura: Não, tia. Infelizmente, tive que sair. Eles não estavam encontrando muitos trabalhos para mim, principalmente à minha altura.

Celina: Sinto muito. Não sabia que a situação estava tão complicada.

Laura: O pior de tudo é que me sinto sozinha, muito sozinha.

Celina: Mas você tem a gente. Eu sempre estarei aqui por você.

Laura: Eu sei, tia, e agradeço por isso, mas... Desde que eu e William terminamos, eu me sinto... sabe... sem rumo. Parece que tudo passou a dar errado. Eu sei que ele agora está em outra, mas eu não consegui seguir em frente.

Celina: Sinceramente, não sei o que te dizer. Queria eu que a situação fosse diferente e que você e William tivessem dado certo, mas a gente não tem como controlar o destino. Mas saiba, minha filha, que eu tenho certeza que você ainda vai encontrar a pessoa certa para te fazer feliz.

Laura: Não sei, tia. Não tenho perspectiva de nada no momento. Sinto que, para mim, a vida estagnou. E, com tudo dando errado, eu me sinto puxada para trás.

Celina fica pensativa enquanto Laura mantém seu olhar para baixo.

Celina: Olha, Laura, façamos assim: Eu vou falar com o Júlio e prometo a você que vamos resolver a situação do seu apartamento, tudo bem?

Laura: Tia, não precisa disso. Não precisa se preocupar comigo. Eu já tomei minha decisão.

Celina: Não, Laura. Não posso deixar que faça isso consigo mesma. Por mais que eu ache algo bom você poder ver seus pais novamente, eu sinto que a sua vida é aqui, é aqui que você tem mais chances de progredir.

Laura: Eu sei, tia, mas...

Celina: Laura, por favor, minha filha, me deixa te ajudar. Olha, eu tenho uma ideia ainda melhor: Enquanto tudo isso é resolvido, eu quero convidar você para passar um tempinho aqui em casa, comigo. Que tal?

Laura: Tia? Eu não sei o que dizer...

Celina: Pois só diga que aceita o meu convite. Já que você está se sentindo tão sozinha, venha passar um tempo aqui. Às vezes, eu também me sinto só aqui. Júlio trabalha o dia todo, Liliana está quase sempre na faculdade ou com o namorado, William a mesma coisa. Acaba que só me restam os empregados para interagir. Você vem e me faz companhia durante um mês, e eu prometo que vou tentar resolver seus problemas. Então, o que me diz?

Laura: Não sei, tia. Estar aqui na sua casa não me parece uma boa ideia. O clima entre a Liliana está horrível, e o William também parece que não me vê mais nem como amiga.

Celina: Ora, mas onde já se viu uma coisa dessas? Liliana terá que aprender a te respeitar. Ela não tem mais idade para esse tipo de picuinha infantil. William não tem nada contra você e tenho certeza de que ele ainda te adora e te admira muito. E eu ainda sou a dona dessa casa, sou eu quem decide quem entra e quem sai, e eu decido que você tem o direito de ficar o tempo que quiser.

Laura: Acha mesmo que pode dar certo, tia?

Celina: Eu não acho, eu tenho certeza!

Laura: Então... nesse caso... Eu aceito, tia.

Celina: Ah, minha filha, você não sabe o quanto me faz feliz. Você vai ver como um tempinho aqui em casa vai te fazer bem, e a mim também.

Laura: Obrigada, tia. Espero que sim.

Celina: Então vá agora mesmo até seu apartamento e faça suas malinhas. Eu vou mandar um motorista nosso te acompanhar para você trazer tudo que precisa e vou solicitar à Jana que arrume um dos quartos de hóspedes para você.

PARTE 5: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / INT. QUARTO DE LILIANA / MANHÃ

Liliana (surpresa): É o quê?

Celina: Isso mesmo que você ouviu.

Liliana: Não, não, não, não. A senhora só pode estar brincando comigo. Eu acho que não ouvi direito.

Celina: Ouviu sim, Liliana. Eu convidei a Laura pra passar uns tempos com a gente aqui em casa.

Liliana: Mãe? Você perdeu o juízo? Convidar aquela imprestável pra vir morar aqui depois de tudo o que aconteceu entre a gente?

Celina: Eu sei, e muito me entristece que vocês duas tenham chegado a esse ponto. Eu nunca tinha visto você e Laura se estranharem dessa forma tão feia. Mas entenda que Laura está passando por um momento difícil. Existem coisas sobre ela que você não sabe, filha. Eu, como amiga íntima da família dela, tenho a obrigação de oferecer suporte. Eu devo muito aos pais dela e me sinto responsável pela Laura.

Liliana: Mãe, será que a senhora não vê que essa garota só tá manipulando a senhora? É o que ela sempre faz, ela tentou comigo, se aproximando de mim, viu que não deu certo e agora apelou pra senhora. Tudo o que ela quer é estar perto do William. Será que a senhora não percebeu? E como fica o William nessa história e a namorada dele? A senhora acha que a Gabi vai gostar de saber que a ex do namorado dela tá vivendo debaixo do mesmo teto que ele? Pelo amor de Deus, isso é um desrespeito.

Celina (hesitante): Bom, quanto a isso... Eu não pensei direito.

Liliana: Pois deveria ter pensado.

Celina: De todo jeito, eu ainda devo oferecer ajuda a Laura. Sinto muito que isso atinja o William e a Gabriela, mas eu conheço seu irmão, sei que ele é um rapaz respeitador e jamais desrespeitaria a namorada dele mesmo que Laura esteja aqui.

Liliana: E a senhora acha que é com William que a gente tem que se preocupar? Lógico que não, mãe. Eu também conheço meu irmão, sei do caráter dele. Independente de quantas mulheres ele tenha se envolvido, eu sei que ele jamais daria chance pra aquela vagabunda de novo. E digo mais, ele preferia estar morto do que voltar a viver com ela. Espero que a senhora esteja ciente de que William vai odiar essa ideia absurda de ter a Laura aqui.

Celina: Quanto a isso, pode deixar que eu converso com seu irmão. Eu sei me entender com ele. Garanto que consigo fazê-lo entender que Laura precisa de ajuda. Precisa estar por perto de pessoas que gostem dela, precisa sentir que tem uma família para acolhê-la.

Liliana (rindo): Família... Ah mãe, a senhora é mesmo muito ingênua.

Liliana: Sinceramente, eu lavo minhas mãos. Se a senhora tá disposta a tornar o clima nessa casa mais desconfortável do que ele já é, siga em frente. Mas depois não diga que eu não avisei.

Nesse momento, o celular de Liliana toca e ela o recolhe da cômoda próxima de sua cama e atende a ligação.

Liliana: Alô?

William: Liliana?

Liliana: O que foi, William?

William: Liliana, eu preciso da sua ajuda.

Celina: O que foi? O que seu irmão quer?

Liliana: Calma, mãe! Ajuda com o quê, William?

Celina: Ajuda? Como assim ajuda? Me fala, garota, o que seu irmão quer?

Liliana: Mãe, pelo amor do santo cristo, deixa eu escutar o que ele tem pra falar!

William: Eu estou saindo de casa, Liliana, não volto mais aí. Briguei com o papai e dessa vez a coisa foi feia. Não quero estar mais nem um minuto nessa casa.

Liliana: Meu Deus, William, como assim? O que aconteceu?

Liliana começa a caminhar pelo quarto tentando se afastar de Celina e com uma expressão de preocupação.

William: Eu fui até a empresa e enfrentei ele. Questionei sobre tudo o que aconteceu ontem, chutei o balde mesmo e a gente acabou brigando.

Liliana: Ai, meu Deus, mais essa. E você tá bem? Onde você tá?

Celina: Ai, Jesus, o que foi que aconteceu? Eu vou ter um treco se você não me falar.

William: Estou na casa do Fernando. Eu preciso que você peça pra arrumarem algumas coisas minhas e mande pra cá. Roupas, calçados, o que der. E mande um motorista vir trazer. Tenta não fazer alarde pra mamãe não descobrir por enquanto. Eu vou dar um jeito de conversar com ela, mas não quero que a situação saia do controle.

Liliana: Tudo bem.

William: Agora eu preciso desligar, vou encontrar com a Gabi. Tenta contornar a situação aí por mim, pra que a mamãe não se desespere.

Liliana: Tudo bem, pode deixar comigo.

William: Um beijo maninha.

A ligação é encerrada e Liliana joga o telefone em cima da cama ainda mantendo uma feição de preocupação. Celina permanece encarando a filha.

Celina: E então menina? O que aconteceu com seu irmão?

Liliana desvia o olhar de Celina sem saber o que dizer.

PARTE 6: APARTAMENTO FAMÍLIA FORTUNATO / INT. SALA / TARDE

Celso: Você tinha que ver a patifaria, mãe. Eu não disse pra senhora que aquele velho era um poço de hipocrisia? Pois é, só faltou espancar o filhinho favorito dele na frente de todo mundo. Era gente de tudo o que era lado tentando apartar.

Celso se esparrama no sofá e cai na gargalhada relatando o ocorrido para Mônica, que está em pé ouvindo tudo com feição de surpresa.

Mônica: Meu Deus, Celso, e por que tudo isso?

Mônica sentada no sofá com os dedos segurando o botão de sua blusa e os olhos vidrados.

Celso: Ah, mãe, o velho desgraçado não aceita que o William esteja namorando a pobrinha que ele conheceu por aí. Tá fazendo de tudo pra que William veja a garota pelas costas, só que dessa vez ele foi longe demais. Ele não conhece o filho que tem, certeza que agora o William não põe mais os pés naquela casa.

Mônica: Minha nossa senhora! E você?

Celso: Eu o quê?

Mônica: Vai me dizer que não tem dedo seu nisso tudo?

Celso: Eu não fiz nada, só fiz o que o velho pediu, mas a lambança toda foi obra dele. Eu fiz meu papel de bom menino do jeitinho que a senhora me aconselhou. Não é assim que ele queria? Pois olha só. Agora vou assistir de camarote ele destruir a relação com o próprio filho e fazer ele engolir as próprias palavras.

Mônica: Celso, eu acho que você precisa ter um pouco menos de ressentimento do Júlio. Eu sinto que essa raiva que você tá cultivando não está te fazendo bem. Não é isso que eu queria pra você. Eu queria ver você se acertando com seu tio.

Celso: Ah, mãe, qual é? Me acertando com ele? A senhora parece que não conhece aquela múmia. A senhora acha mesmo que existe alguma possibilidade de eu me acertar com ele? Já disse pra senhora que ele só quer um tapete pra pisar, quer me controlar como se fosse um fantoche. Ele quer que todos em volta dele estejam alinhados e programados pra seguir as diretrizes dele.

Mônica: Pois eu discordo de você, sinto que seu tio tem algum sentimento de admiração por você. Ele quer ver você progredir, quer ver você subir na vida. Olha, eu conheço o Júlio há muitos anos e já vi tanta coisa desse homem que daria pra escrever um livro. E se tem uma coisa que eu sei é que ele não insistiria assim em alguém como insistiu em você.

Celso: Pois eu acho que a senhora tá bebendo muito vinho.

Mônica: Ah é? Presta atenção, Celso. William cada vez mais se torna uma carta fora do baralho pro jogo do Júlio.

Celso: Disso eu sei.

Mônica: Então, meu filho, essa é a sua grande chance de brilhar. Seu tio quer alguém que siga os passos dele. Quer um homem em que ele possa enxergar a si mesmo e que ele tenha plena certeza de que esse homem poderá ocupar o lugar dele. William claramente não vai seguir por esse caminho. Só resta a você ocupar esse espaço. Agarra essa chance que a vida está te dando. Mostra pro seu tio que você pode ser o filho que ele tanto quer que seja como ele.

Celso: Olha, mãe, se tem uma coisa que me dá nojo é pensar na possibilidade de me tornar uma pessoa igual àquele cuzão estúpido. E sinceramente me ofende que a senhora, sendo minha mãe, sequer pense na possibilidade de eu um dia me tornar alguém como ele. É claro que eu quero o que ele pode oferecer. Quero ocupar um cargo importante naquela porcaria de empresa. Mas eu não preciso ser como ele pra garantir isso.

Celso se levanta e começa a caminhar em direção ao corredor. Ele para, se vira e aponta para Mônica.

Celso: eu vou mostrar pra senhora como eu vou dobrar o doutor Júlio. Vou ter tudo o que é dele aqui, na palma da minha mão.

FIM DO CAPÍTULO.


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