Linha Tênue - Capítulo 15 (22/11/2024)

 LINHA TÊNUE - CAPÍTULO 15



Webnovela de Tony Castello


PARTE 1: APARTAMENTO DE FERNANDO / INT. SALA / MANHÃ

William se prepara para sair. Ele pega suas chaves no chaveiro e verifica algumas mensagens no celular, sorrindo ao ver uma foto de Gabriela. Ele guarda o celular no bolso e abre a porta para sair, mas leva um susto ao ver Júlio parado na entrada.

William: Pai?

Júlio: Oi, meu filho. Posso entrar para falar com você?

William: Ah... acho que não vai dar. Estou atrasado.

Júlio: Por favor, William. Garanto que não vou tomar muito do seu tempo. Só preciso conversar um pouco com você.

William: Pai, é complicado. Não dá pra ignorar o que rolou entre a gente...

Júlio: Eu não estou pedindo que ignore nada, só estou pedindo que me ouça. Eu sou seu pai, será que não mereço um minutinho da sua atenção?

William fica sem jeito, em silêncio, sem saber o que dizer. Ele entra no apartamento e joga a bolsa no sofá.

William: Tudo bem... mas que o senhor seja breve. Estou com pressa, tenho compromissos na faculdade.

Júlio: Prometo que serei breve.

Júlio solta um risinho sem graça e olha ao redor da sala, avaliando o cômodo.

Júlio: Casinha simpática essa sua.

William: Bom, o Fernando me deixou ficar aqui, sabe... nessas horas é muito bom ter amigos que possam nos acolher. Considero o Fernando quase como um irmão.

Júlio: Tenho certeza de que ele é um bom garoto. Agradeço muito que ele tenha estendido a mão a você. E gostei de ver que continua frequentando seu curso. Sinal de que não desistiu da sua profissão.

William: Pai...

Júlio: Não, William, não quis ser indiscreto. Só estou contente por você.

William: É, preciso terminar o que comecei. Imagine passar anos na faculdade para morrer na praia? Pode ficar tranquilo, o senhor vai me ver formado.

Júlio: Isso! É assim que eu gosto. Sabia que você iria cair em si, meu filho. Iria colocar a cabeça no lugar e ver que esse é o melhor caminho para a sua vida.

William: Pai, vou me formar, mas já decidi o que quero fazer depois disso.

Júlio: Decidiu?

William: Sim...

William abaixa a cabeça, a expressão cuidadosa, e se senta no sofá, juntando as mãos.

William: Olha, pai, sei que você esperava que eu viajasse e fizesse uma especialização, mas não é isso que pretendo fazer. Já é uma decisão definitiva.

Júlio: William...

William: Espero que entenda o que estou fazendo e, se isso for um obstáculo entre o nosso relacionamento de pai e filho, sinto muito, mas...

Júlio: Do que está falando, William? Acha que vou renegar você porque não quis seguir minhas vontades? Sei que posso ser um idiota às vezes e que não meço o peso das minhas palavras, mas não admito que pense isso de mim. Falei tantas besteiras na nossa última briga e me arrependo de cada uma delas. Cada palavra que disse a você é como um chicote açoitando minhas costas todos os dias. Você sabe o respeito e a admiração que tenho por você, não por querer que repita meus passos, mas por ser meu filho. Esqueça tudo de ruim que eu disse. Aquele não sou eu, era só um acesso de raiva que me envergonho de ter tido. William, meu filho... você disse que não reconhece mais o homem que eu fui, então agora estou aqui, sendo seu pai, pedindo perdão e pedindo para confiar em mim em qualquer decisão que venha a tomar.

William fica em silêncio, encarando Júlio. Seus olhos melancólicos parecem querer desviar dos olhos incisivos e emocionados de Júlio.

William: Pai... Eu... sei que você não é nenhum monstro. Também falei coisas que não devia, me exaltei e exagerei. Também peço que me perdoe pelo que eu disse. Estava de cabeça quente e acabei metendo os pés pelas mãos naquele dia. Só peço que, de agora em diante, trate a Gabi com o respeito que ela merece.

Júlio: Nossa, mas é claro, sem sombra de dúvidas. Faço questão de pedir perdão a Gabi, mais uma vez e quantas vezes forem necessárias. Quero que ela se sinta bem-vinda lá em casa e que faça parte da nossa família. Acredite, meu filho, sua felicidade é a coisa mais importante para mim.

William: Fico muito feliz em ouvir isso, pai, de verdade...

Júlio: Pode me dar um abraço? Para selarmos a paz?

William esboça um risinho simpático e abraça o pai, que retribui. Os dois dão tapinhas nas costas um do outro. Júlio suspira, com lágrimas surgindo nos olhos.

Júlio: Bom, agora que está tudo certo entre nós, posso voltar para casa e contar para sua mãe que o filho dela está voltando?

William: Ah... quanto a isso...

Júlio: O que?

William: Acho que não pretendo voltar, pai.

Júlio (assustado): Mas como assim?

William: Pensei bem e cheguei à conclusão de que talvez essa briga tenha sido um mal que veio pra um bem. Me fez enxergar que eu tava muito acomodado. Aqui, com o Fernando, percebi como preciso prezar pela minha independência.

Júlio: E sua mãe? O que vou dizer a ela? William, pelo amor de Deus, ela vai ficar arrasada e vai me culpar pelo resto da vida.

William: Pai, por favor, não precisa fazer drama. Uma hora ou outra eu teria que sair de casa mesmo. E pode deixar que vou conversar com a dona Celina e fazer ela entender o meu lado.

Júlio: E o que vai fazer da vida? Vai viver do quê? Pelo menos deixe que eu pague suas despesas.

William: Não, não precisa. Já tenho como me sustentar. Vou trabalhar com o Fernando.

Júlio: Trabalhar de que?

William: Vendendo prancha, ué. Também posso dar aulas de surf. Isso é temporário até que eu possa me resolver. Estou pensando seriamente em participar de competições internacionais. Aí eu teria mesmo que sair do país.

Júlio: Mas William...

William: Pai, você prometeu me apoiar, lembra?

Júlio: Sim, mas me parece uma atitude muito radical, William.

William: Pode parecer, mas é o certo a ser feito. E tem mais...

Júlio: O quê?

William: Estou mais do que certo de que vou pedir a mão da Gabi em casamento. Sei que é muito cedo e vou esperar até o fim do ano, mas pretendo pedir o anel da vovó pra minha mãe. Ela prometeu que um dia eu poderia dar esse anel pra minha futura esposa, e acho que chegou a hora.

Júlio fica sem reação, de boca aberta. William o encara com uma expressão tranquila e decidida.

Júlio: Bom, isso para mim não é surpresa. Depois de tudo o que aconteceu, está mais do que claro que você ama essa menina com toda a sua alma.

William assente com a cabeça enquanto Júlio sorri para ele.

Júlio: Mas tem uma coisa que você não pode me negar.

William: O quê?

Júlio: Sua formatura. Sua mãe sonha com esse dia desde que você era pequeno, e tenho certeza de que seus amigos adorariam uma comemoração de alto nível.

William: Ah, pai, não sei...

Júlio: William, por favor, não me negue isso. Pelo menos isso você não pode me negar, não é mesmo? Ainda sou seu pai e exijo que me deixe fazer com que a formatura do meu primogênito seja perfeita.

William (hesitante): Tudo bem, pai, se isso é tão importante para você e para a mamãe, eu deixo que façam uma festa. Mas por favor, sem exageros, ouviu bem? Quero uma coisa mais discreta, só para os amigos, para o pessoal da minha turma.

Júlio sorri empolgado, dando tapinhas nas costas de William, que mantém um olhar cauteloso.


PARTE 2: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / INT. ESCRITÓRIO DE JÚLIO / NOITE

Júlio entra no escritório, arrastando os pés pesadamente. Ele pousa os dedos trêmulos sobre a mesa, a cabeça baixa, os dentes rangendo e a mandíbula visivelmente tensa. O silêncio é quebrado abruptamente quando a porta do escritório se abre, mas Júlio não se vira para ver de quem se trata.

Júlio: (irritado) Se você veio me azucrinar a paciência, saiba que eu não estou com saco pra você, Celina.

Ele se vira bruscamente, apenas para se assustar ao notar que não era Celina quem estava ali.

Laura: Oi tio, vi que o senhor chegou.

Júlio: Ah, Laura, é você. Me, desculpe por gritar, meu anjo.

Laura: Sim, tio, algum problema?

Júlio: Não, minha querida, problema nenhum.

Laura: Ah, tio, não minta pra mim. Eu sei que o senhor anda muito abatido.

Júlio: Sim, mas você não deve se preocupar, meu anjo. É um problema meu.

Laura: Eu sei, mas... Eu me sinto meio parte disso. Sei que para o senhor é insuportável ver essa casa sem o William. Pra mim é como se parte da alegria da casa tivesse morrido.

Júlio não responde, mas balança levemente a cabeça como se concordasse com o que Laura diz.

Laura: Posso ser sincera com o senhor?

Júlio: Claro, querida.

Laura: Me entristece demais saber que William pode estar desperdiçando uma grande chance de ser alguém na vida. Uma chance de honrar o sobrenome da família. E o mais importante: o seu legado, tio. Ver que ele pode estar jogando tudo isso fora por tão pouco...

Júlio: Está falando de Gabriela?

Laura: A Gabi? Ah... ela é uma fofa. Mas, tio, vamos combinar, William e ela? (Faz uma careta de nojo).

Júlio: Bom, eu acredito que ela seja uma moça decente, honesta, parece ser inteligente e ter um bom coração.

Laura: E eu concordo, mas será que isso é suficiente pra que uma mulher como ela carregue o seu sobrenome?

Laura se aproxima lentamente de Júlio, seu olhar firme.

Laura: E eu consigo ver no fundo dos seus olhos, tio, o senhor também sabe que o seu mundo, o mundo do William, não foi feito para qualquer pessoa fazer parte.

Júlio: Eu sei... É triste pensar assim, não é?

Laura: É sim, tio, mas... O que podemos fazer? Não fomos nós que ditamos as regras do jogo. Estamos apenas jogando. Não é nossa culpa que nem todo mundo possa existir ao nosso nível cultural e social. O senhor sabe disso e é por isso que quer tanto salvar William de um destino catastrófico.

Júlio: Sim, mas infelizmente William fez a escolha dele e não posso me opor ao que ele decidiu.

Laura: O senhor não precisa se opor ao William. Não precisa soar como uma pedra no sapato dele. Existem formas muito mais eficazes de fazer com que ele enxergue a realidade por si mesmo.

Júlio: E que formas seriam essas?

Laura: Bom, eu sei que a Gabizinha é uma mulher de fibra, uma mulher guerreira. E acima de tudo, como o senhor mesmo disse, uma mulher honesta e de bom coração. O senhor tem que apelar para a consciência dela, tio. Faça a Gabi enxergar que talvez ela não pertença ao mundo do William. Mostre que William tem um propósito na vida desde que nasceu, que ele está destinado a algo grandioso e que ela não pode ser um obstáculo no caminho dele. Eu tenho certeza de que ela é uma menina sensata o suficiente para enxergar o que é certo.

Júlio: Hummm... Acho que estou entendendo onde quer chegar. Não que eu concorde com o que você disse, mas...

Laura: Sim, claro, eu sei que o senhor não pensa como eu. Mas que bom que eu posso confidenciar meu ponto de vista.

Júlio: Sim, sinta-se à vontade para desabafar comigo.

Laura: Pois é, tio. Reflita bem sobre o que eu falei. Se tem alguém que pode salvar o William, esse alguém é o senhor. Agora deixa eu ir, a gente se vê no jantar.

Laura se aproxima de Júlio e o abraça, dando um beijo na bochecha dele seguido de um sorriso discreto. Ela então se vira e caminha até a porta, parando para mandar um beijo no ar para Júlio antes de sair.


PARTE 3: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / INT. SALA / NOITE

William chega na mansão Ele caminha pela sala após se despedir de Nalva que havia atendido a porta. Laura, que havia acabado de sair do escritório de Júlio, dá de cara com ele e arregala os olhos.

Laura: William? Você por aqui?

William: Oi, Laura!

Laura corre em direção a William, lançando-se em seus braços e o abraçando com força, plantando um beijo na bochecha dele.

William (tentando afastá-la gentilmente): Calma, Laura!

Laura: Ai, fofinho, eu estava com tantas saudades. Essa casa não é a mesma sem a sua presença.

William: Sei...

Laura: William, por que você resolveu sair de casa justamente quando eu vim morar aqui? Fiquei tão desapontada (fazendo biquinho), achei que a gente ia morar sob o mesmo teto. Imagina só que incrível.

William: Não sei, Laura, não me parece uma ideia tão incrível assim.(com expressão séria)

Laura: Ué, por quê? Minha presença te incomoda?

William: Não, para mim tanto faz a sua presença, mas é que agora eu sou um homem comprometido, lembra?

Laura: E daí? Você acha que eu sou alguma vagabunda pra ficar me atirando pra cima de você sabendo que tem namorada? Ai, William, assim você me ofende. Já não basta sua irmã me tratando como se eu fosse um demônio? Agora você também me trata como se eu fosse uma qualquer?

William: Não foi isso que eu quis dizer, Laura. Eu sei que você não é dessas, mas é que não fica bem para nós essa ideia de... sabe...

Laura: Bom, eu pensei que eu e você fôssemos amigos, independente da nossa relação no passado. Mas... Pelo visto eu me enganei.

William: Olha, Laura, eu não tô no clima pra discutir isso agora. Eu vim ver a minha mãe, ela tá aí? Preciso falar com ela.

Laura: Deve estar no quarto.

William: Tudo bem então, depois a gente se fala. Beijão, Laura

William se afasta em direção às escadas. Enquanto ele sobe, Laura o segue com os olhos. Um sorriso tímido domina os lábios dela, mas seus olhos se mantém frios e incisivos.


PARTE 4: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / INT. QUARTO DE CELINA E JÚLIO / NOITE

William bate à porta do quarto. 

Celina: Pode entrar!

William entra no quarto, e o olhar de Celina brilha ao vê-lo.

William: Oi, mãe!

Celina: Ai, meu filho, que surpresa agradável! Estava pensando em você agora mesmo.

William: É sério?

Celina: Sim, desde que você saiu de casa eu passo o dia pensando em você, meu menino.

William: Pois eu também não paro de pensar na senhora, morro de saudade todos os dias.

Celina: Ai, meu bebê...

Celina dá um abraço apertado em William. Eles se soltam e William sorri, radiante.

William: Então, mãe, eu vim aqui pedir uma coisa muito importante pra a senhora.

Celina: Sério? E o que é?

William: Bom... Primeiro eu quero que a senhora lembre de uma promessa que me fez.

Celina: Qual promessa?

William: A de que assim que eu tivesse a intenção de ficar noivo, a senhora me entregaria o anel da vovó para que eu possa pedir a mão da minha futura esposa.

Celina: William... Não me diga que...

William: Sim, mãe!

Celina: Minha nossa, William, eu nem sei o que dizer. Venha cá e me dê outro abraço.

Os dois se abraçam novamente, e William levanta a mãe no ar, rodopiando com ela.

Celina: Eu sabia, eu te disse, lembra? Sabia que você e Gabi iam acabar se casando.

William: Sim, mãe, decidi que vou pedir a mão dela, não tem mais volta.

Celina: E quando você pretende pedir?

William: Não sei ainda, estava pensando em esperar até a minha formatura. Mas eu queria o anel porque quero planejar tudo. Imaginar o que vou dizer para ela, como vou dizer. Quero que tudo seja perfeito.

Celina: Pois pode ter certeza de que esse anel será seu. Ou melhor, da Gabriela. Vai ser uma honra para mim entregar o anel que foi da minha mãe para você. É um sonho que eu tinha desde que você era um menininho. Sempre foi um dos meus maiores desejos, ver você encontrar a mulher dos seus sonhos.

William: Pois é, e eu finalmente encontrei.

Celina: Você espera aqui? Eu tenho que buscar o anel no cofre, já volto.

William: Sim, pode ir.

Celina vai até o closet e abre um compartimento secreto que esconde o cofre do quarto. Ela o destrava e procura entre várias caixas até encontrar uma caixinha específica.

Celina: Ah, aqui está, o anel de mamãe.

Ela caminha até William, um sorriso emocionado iluminando seu rosto.

Celina(entregando a caixinha): Aqui, filho! Espero que sua namorada possa ser a noiva mais linda desse mundo e que ela te faça muito feliz.

William pega a caixinha com cuidado, abrindo-a delicadamente. Ele puxa de dentro um anel de noivado deslumbrante. O anel tem uma fina banda de platina, adornada com pequenos diamantes que formam um halo ao redor de uma pedra central maior. Ele segura o anel entre os dedos, seus olhos brilhando com admiração.

Com uma expressão de preocupação, William põe o anel no bolso, temendo ser visto por Gabriela. Mas sua curiosidade não permite que ele deixe de dar uma última olhada no anel, imaginando o futuro que está por vir.

Era a noite de sua festa de formatura. Júlio havia organizado a celebração com muita pompa, chamando quase todos os seus amigos para prestigiarem a formatura de seu primogênito. E naquela noite, William havia escolhido o momento perfeito para pedir a mão de Gabriela em casamento.

FIM DO CAPÍTULO.

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