Linha Tênue - Capítulo 19 (28/11/2024)

 LINHA TÊNUE - CAPÍTULO 19



Webnovela de Tony Castello


PARTE 1: PRÉDIO DE SAÚDE / EXT. PRAÇA / MANHÃ

Júlio e Gabriela caminham lado a lado pela praça do prédio. Gabriela mantém um semblante inseguro, desconfiando das intenções de Júlio, enquanto ele parece relutante em iniciar a conversa.

Gabriela: Senhor, então o que queria comigo?

Júlio: Bom, pra começar, eu queria dizer que você é uma moça excepcional. Meu filho teve muita sorte de conhecer você.

Gabriela: Tem certeza? Eu suspeito que as suas palavras não combinam com os seus sentimentos, senhor. E nem mesmo com as suas atitudes. Tem certeza de que eu sou isso que o senhor diz?

Júlio: É claro que é, Gabriela.

Gabriela: Então por que parece que eu não sirvo pra ser namorada do seu filho?

Júlio: É isso que você pensa de mim?

Gabriela: Bom, é isso que o senhor pareceu demonstrar quando me conheceu e é o que eu vejo nos seus olhos em todas as vezes que nos encontramos. Se tem uma coisa que eu aprendi a reconhecer durante a minha vida, foram os olhares das pessoas que me consideram um ser humano inferior.

Júlio: Você está errada sobre mim, não considero você um ser inferior. Acredito que você está acima de uma pessoa como eu em muitos aspectos. Infelizmente, Gabriela, isso não é suficiente pra que eu acredite que você é a pessoa certa pra estar com meu filho.

O rosto de Gabriela estremece, naquele momento seu olhar se perde como se todos os seus medos pudessem ser reais. Ela solta um risinho quase imperceptível de canto de boca.

Gabriela: É mesmo?

Júlio: Veja bem, minha querida, não é algo sobre você. É mais sobre William, sobre o que ele representa para mim, para nossa família. Eu tenho certeza de que você, sendo uma menina tão inteligente, pode enxergar o abismo de diferenças que existem entre você e meu filho.

Gabriela: Então é isso, o senhor resolveu colocar as cartas na mesa...

Júlio: Falando assim fica parecendo que estou jogando com você, com os seus sentimentos, quando na verdade estou sendo sincero, expondo a você o que penso. Veja bem, Gabi...

Gabriela: Por favor, me chame de Gabriela.

Júlio: Sim, Gabriela, eu sei que para você isso só representa uma parcela insignificante da sua vida. William é só um rapaz que você conheceu há uns meses. Mas pra mim é muito mais do que isso, William é meu filho, é uma das três pessoas que eu mais amo nessa vida, alguém por quem eu sinto que seria capaz de matar. Infelizmente, Gabriela, você trouxe ideias muito ruins pra cabeça do meu filho, desde que vocês começaram a namorar eu não o reconheço mais.

Gabriela: Mas será que um dia o senhor realmente chegou a conhecer o William, ou só tem uma ideia na sua cabeça que acha que é o seu filho?

Júlio: Ah menina, não ouse insinuar que eu não conheço meu próprio filho.

Gabriela: Pois é isso que eu penso. Eu posso ter conhecido William só há uns meses, como o senhor mesmo diz, mas ainda assim pude testemunhar o ser humano gentil, generoso e incrível que ele é. Eu não sei que ideia o senhor tem do seu filho, mas pra mim o senhor conhece um William diferente.

Júlio: É aí que você se engana, Gabriela. Você supõe que William é alguém como você porque ele foi um menino encantador durante esses meses em que ficaram juntos, mas eu conheço meu filho o suficiente pra saber quando ele está apenas se distraindo com algo. Ele fica empolgado, fica focado naquilo, até mesmo obcecado, mas logo se cansa e parte pra outra, sempre foi assim com todas, e com você não será diferente. Você é a distração atual do meu menino, mas em momento algum ouse pensar que William amaria alguém como você, Gabriela. Olhe para você, olhe para sua mãe. Quando vocês duas foram até minha casa foi tão constrangedor que eu não sabia onde enfiar minha cara. Sua mãe parecia mais uma de nossas funcionárias e aqueles presentes? É no mínimo tolice achar que aquilo era algo digno de se levar numa ocasião como aquela e num ambiente como a minha casa. Só essas coisas são provas o suficiente de que você não serve para o William .

Gabriela começa a respirar com dificuldade, sentindo sua vista escurecer.

Gabriela: Eu acho que você está baixando o nível mais do que o necessário, é melhor você ir embora antes que eu chame a segurança.

Júlio: Segurança? Pra um homem como eu? Ora não me ofenda. Você acha mesmo que eu seria enxotado daqui por seguranças? Mande chamar a segurança, Gabizinha, isso não vai mudar o fato de que tudo o que eu disse a você não passa da mais pura verdade.

Gabriela: Por favor...

Júlio: Ah, querida, está passando mal? O que você tem? Será que eu exagerei na sinceridade com você?

Gabriela: O senhor é um verme, não sei como alguém tão precioso como o William poderia vir de um canalha feito você.

Júlio: Eu vim aqui humildemente pedir que se afaste do meu filho, e é assim que sou tratado?

Gabriela começa a respirar ofegante, sentindo seu corpo pesar e uma grande dificuldade de se manter de pé.

Júlio: Pense bem, Gabriela, pense no que é melhor para você. Não seja um obstáculo. Eu não quero ter que olhar pra sua cara todas as vezes em que for obrigado e sentir que meu filho arruinou a vida dele ficando com você. Você tem noção do estrago que está causando na vida do William? Estou apelando para o seu bom senso, para que você veja que não é a pessoa certa para ele.

Gabriela (falando com dificuldade): Cala a boca!

Júlio: Vamos, menina, tenha um pouco de juízo Deixe de ser egoísta. Deixe meu filho livre, deixe ele livre pra voltar a ser quem ele era. Não seja responsável pela destruição da minha família.

Gabriela: Eu só queria que o senhor parasse de falar. É impressionante o seu cinismo, chegou se fazendo de simpático, mas viu que eu não iria cair no seu papel de cordeirinho e resolveu mostrar as garrinhas.

Júlio: Oh minha querida, eu queria tanto não ter que dizer tais coisas a você. Eu tentei tanto não ter que vir até aqui para ter essa conversa. Mas infelizmente, devido às circunstâncias, não me restou outra alternativa. E eu desejo do fundo do meu coração que seja uma conversa definitiva, que você caia em si e corte relações com William. Que eu não tenha mais que olhar pra sua cara e nem pra cara da sua mãe. Só de pensar nela levando mais panos bordados pra que Celina possa jogar todos fora depois, me dá arrepios.

Gabriela: Maldito! Não fala assim da minha mãe. Quem você pensa que é? Quem te deu o direito de falar assim comigo?

Gabriela acaba desabando sobre os joelhos, sua testa coberta de suor e a respiração cada vez mais ofegante.

Gabriela: Eu... Preciso...

Júlio: Você quer ajuda, querida? Parece que você está prestes a morrer, está pálida e toda suada. Uma visão assustadora logo de manhã. Eu acho que agora eu preciso ir, já falei o que tinha pra falar e agora conto com a sua colaboração. Vou ficar esperando boas notícias vindas de você. Aliás, de você eu não quero saber de nada, odiaria ter que olhar pra sua cara mais uma vez. Só preciso que William me confirme que deu tudo certo e aí eu fico satisfeito.

Júlio sorri cinicamente enquanto Gabriela agoniza de joelhos. Ele a olha de cima com uma feição triunfante no rosto. Então ele se vira e caminha para longe. Gabriela sente uma vontade imensa de chorar, mas estava se sentindo mal demais para isso. Ela resolve caminhar até um banco próximo e acaba desmaiando ali mesmo.

PARTE 2: CASA DE GABRIELA / INT. SALA / TARDE

Gabriela entra na residência, movendo-se devagar até o sofá e desabando nele. Ela tira a blusa e tenta respirar fundo, abanando-se um pouco. Nesse momento, o choro que estava entalado vem à tona e as lágrimas tomam conta de seus olhos. Ela põe a cabeça entre as mãos, apertando forte numa tentativa de se punir por algo que ela não sabia ao certo o que era.

Gabriela: Que droga! Eu tô me sentindo um nada, esse homem conseguiu acabar com meu dia.

De repente, ela sente uma ânsia. Ela tenta recostar a cabeça no sofá, esperando que passe, mas acaba correndo até o banheiro e vomitando. Fátima chega da rua e, ao entrar em casa, estranha a porta estar aberta. Ela anda devagar pela sala, olhando em volta, até que avista a bolsa de Gabriela no sofá.

Fátima: Gabriela? Tá em casa, filha?

Ninguém responde. Fátima percorre a casa até que vai ao quarto da filha e a encontra deitada na cama.

Fátima: Ué, já chegou?

Gabriela: Sim, senti um mal-estar e resolvi voltar.

Fátima: O que você tá sentindo?

Gabriela: Só um enjoo e dor de cabeça.

Fátima: Você não quer ir no postinho comigo?

Gabriela: Não, já tá passando. Foi só um mal-estar repentino.

Fátima encara a filha deitada com uma expressão desconfiada.

Fátima: Isso não é bom, mal-estar repentino? Sei não... Fica aí deitada que eu já trago um remédio pra você.

Fátima se aproxima da cama e liga o ventilador para a filha, passando a mão na testa dela. Gabriela se vira e retribui o gesto com um sorriso esforçado.

PARTE 3: APARTAMENTO FAMÍLIA FORTUNATO / INT. QUARTO DE FRED / NOITE

Fred está sentado em frente à mesa, digitando em seu notebook que está sobre ela. A porta do quarto está entreaberta. Celso entra devagar, dando algumas batidinhas na porta que alertam Fred sobre sua presença.

Celso: E aí, garanhão?

Fred: Que foi?

Celso: Só vim te parabenizar pela conquista.

Fred (levantando uma sobrancelha): Ah, lá vem você.

Celso se aproxima da mesa de Fred.

Celso: Gostei de ver você cheio de papinho com a Lilizinha. Eu não te disse que essa garota arrastava um caminhão pra você?

Fred suspira, girando a cadeira para encarar Celso.

Fred: Não é bem assim, Celso. A gente só tava conversando. Eu tentei dar uma força pra ela num momento em que ela precisava, só isso.

Celso: Ah, sei... Ainda apanhou daquele corno do namorado dela.

Fred balança a cabeça, voltando seu olhar para a tela do notebook.

Fred: Pra você ver o quanto aquilo ali é complicado. Então, a partir de hoje, vou me manter longe dos dois. Sei que a Liliana é uma menina legal, mas a situação dela com aquele cara é meio complexa demais pro meu gosto. Prefiro não me envolver.

Celso cruza os braços, observando o irmão.

Celso: Pois acho que você já tá envolvido até o pescoço. E além disso, eu já te disse que o Oliver já tem viagem marcada. Ele vai embora logo e você e a Lilizinha vão poder aproveitar sem culpa.

Fred: Ah não, Celso, não consigo. Eles dois têm uma história. Talvez tentem manter o relacionamento à distância.

Celso dá um passo à frente, inclinando-se ligeiramente.

Celso: Meu irmão, escuta, eu sei que você gosta da Liliana e sei que mais do que nunca você precisa estar com alguém no momento pra ver se esfria a mente. Eu estou até te achando mais relaxado depois das últimas interações com a fofinha. Sua mente tá te dizendo pra não se envolver, mas não é isso que o seu coraçãozinho quer.

Fred se inclina para trás na cadeira, refletindo sobre as palavras de Celso.

Fred: E nesse caso, eu prefiro ser racional. Assim, evito problemas.

Celso estende as mãos, como se tentando persuadir Fred.

Celso: Mas que problemas? Olha só, a gente tem problema em tudo na vida, Fred. Se você não quiser ficar com a Lily, você vai se torturar por não ter tentado. E se você ficar, o máximo que pode acontecer é ter que lidar com um ex-namorado que mora do outro lado do mundo. Eu só quero te ver feliz, você é meu irmão, poxa, e eu sei que você quer o mesmo. Vai por mim.

Celso se agacha próximo de Fred, afagando o braço do irmão.

PARTE 4: CASA DE GABRIELA / INT. SALA / NOITE

Fátima estava passando algumas roupas na sala, até que Gabriela surge, se sentando devagar no sofá.

Fátima: E então, melhorou?

Gabriela: Sim, só precisava descansar um pouco.

Fátima nota a expressão abatida de Gabriela e se aproxima.

Fátima: E essa cara de choro? O que aconteceu pra você estar assim, Gabriela? Foi alguma coisa com William?

Gabriela: Não, mãe, não foi nada com ele, foi só o mal-estar mesmo.

Fátima: E só por isso você tava chorando? Anda, menina, me fala o que aconteceu.

Gabriela: Ah, mãe, me deixa, já disse que não foi nada.

Fátima, desconfiada, continua a encarar a filha.

Fátima: Se não fosse nada, você não estaria com essa cara destruída. Acho melhor a gente ir ao hospital. Pelo visto, você não tá passando nada bem.

Gabriela: Mãe, eu já disse que não tem nada. A senhora podia, por favor, respeitar o meu espaço?

Fátima permanece encarando a filha, desconfiando da situação. Gabriela evita contato visual com a mãe para não descarregar nela todas as suas frustrações do dia.

NO DIA SEGUINTE

Gabriela sai mais cedo de casa e manda uma mensagem para William não vir buscá-la. Ela tenta entrar no prédio da faculdade, mas acaba desistindo. Em vez disso, ela vai até a praia para caminhar pela orla.

Música: "Como Vai Você" – Daniela Mercury



Gabriela anda até a areia, sentindo a brisa entre seus cabelos, fechando os olhos e cruzando os antebraços sobre o abdômen. Não resistindo à emoção, ela cai de joelhos, chorando. Suas mãos afundam na areia, abrindo e fechando o punho. Naquele momento, ela sabe o que tem que fazer, mas também sabe que será a decisão mais dolorosa de sua vida.

Ela está a caminho de casa após mais um dia sem se sentir bem. No trajeto, Gabriela checa seu celular e vê dezenas de ligações perdidas de William. Lágrimas começam a escorrer por seu rosto ao ver as tentativas de contato.

Gabriela desce do ônibus e começa a caminhar até em casa. Quando se aproxima, avista o carro de William parado em frente à sua casa. Nesse momento, sente seu estômago revirar e um enjoo repentino surge.

Gabriela tenta se manter parada, esperando que o mal-estar passe para que possa continuar. Não queria ter que entrar em casa e dar de cara com William, mas sabia que devia uma explicação a ele pelo seu sumiço. Também devia outras explicações que definiriam o curso de sua vida dali pra frente.

Ela respira fundo e decide encarar o que a espera. Caminha até a porta de casa, tentando reunir coragem.

PARTE 5: O FIM

CASA DE GABRIELA / INT. SALA / NOITE

Gabriela entra em casa e vê William sentado no sofá. A visão dele ali é como uma facada em seu coração. Não queria dar mais nenhum passo em direção a ele, mas ao mesmo tempo sentia o mesmo desejo incontrolável de nunca mais sair de perto dele desde o dia em que o viu pela primeira vez. Ela tenta se controlar para não desabar na frente de William, precisa naquele momento reunir todas as forças que pudesse para fingir a ele que ela ainda estava de pé, que ainda estava viva e que ainda poderia dar a ele um último suspiro.

William arregala os olhos ao vê-la e no mesmo instante vai até ela, dando-lhe um abraço forte.

William: Meu amor? Onde você tava? Liguei o dia todo. Eu e sua mãe estávamos preocupados. Fui até a sua faculdade, mas me disseram que você não foi hoje. Eu quase morri de preocupação.

Gabriela: Eu fui dar uma volta, só isso.

William: Mas sem me avisar? Eu fiquei com o coração na mão pensando que tinha acontecido algo com você. Pelo amor de Deus, não faz isso de novo, Gabi.

Gabriela: William...

Ela lança um olhar sem vida para William, ele percebe e fica confuso.

William: O que foi? O que você tem?

Gabriela: Senta aí, a gente precisa conversar.

William permanece confuso, seus olhos ficam envoltos em suspeitas, sem entender o tom de Gabriela.

William: Porque você tá falando assim? Sério, Gabi, me diz o que aconteceu. Eu tô ficando preocupado.

Gabriela: Primeiro eu preciso que você se sente e aí eu posso te dizer.

William: Ai meu Deus...

William se senta colocando a mão esquerda na barriga pra tentar aplacar sua ansiedade. Gabriela se senta ao lado dele, mas um pouco distante.

William: Pronto, agora me conta.

Nesse momento, Fátima entra na sala, notando a tensão no ar.

Fátima: Gabriela? Onde você se meteu, menina? Tá tudo bem?

Gabriela: Mãe, agora não, a gente precisa conversar. Pode nos dar um momento?

Fátima: mas eu passei o dia todo atrás de você, menina.

Gabriela: Eu sei, mãe, mas por favor...

Fátima, preocupada, encara a filha e depois olha para William. Ela entende a suplica de Gabriela e decide se retirar.

Fátima: Claro, eu vou ficar no quarto se precisar de mim.

Fátima sai da sala, deixando Gabriela e William a sós.

William: Gabi, essa sua cara, você tá me assustando.

Gabriela: William... Eu... Nem sei por onde começar.

William inclina ligeiramente a cabeça, analisando as expressões de Gabriela. De repente, ele sente dentro de si o que aquele comportamento dela significava.

William: Você não tá querendo... Sabe...

Gabriela não responde, apenas desvia o olhar para o chão, ainda se segurando para não cair no choro.

William: Cê tá brincando comigo, não é?

Gabriela: William, eu acho que nunca gostei de alguém como eu gosto de você. Você foi o primeiro homem que eu amei de verdade, com toda a minha alma... mas...

William: Mas...

Gabriela: Infelizmente, eu acho que a nossa relação não tem mais condições de continuar.

Ao ouvir as palavras de Gabriela, William fica estático, sua boca se abre lentamente como se estivesse processando o que acabou de ouvir.

William: Eu não tô entendendo, você tá falando sério?

Gabriela desvia o rosto para o outro lado, começando a chorar.

William: Olha pra mim.

Ela permanece com o rosto virado. Ele puxa o rosto dela com as mãos e vê os olhos dela encharcados.

William: Não pode ser... Você só pode estar brincando.

Ele se levanta rapidamente, ficando em frente a ela com as mãos na cintura.

William: Que espécie de pegadinha é essa, Gabriela?

Gabriela: Não é pegadinha, William. Eu sei que é difícil de entender agora, mas você vai ver como vai ser melhor pra nós dois se a nossa relação acabar aqui.

William mantém os olhos vidrados nela. Ele aperta os lábios um contra o outro, sua mandíbula ficando tensa enquanto lágrimas começam a surgir. Ele se vira rapidamente, colocando as duas mãos na cabeça, depois se volta novamente para Gabriela.

William: Tira essa ideia da sua cabeça. A gente não vai terminar coisa nenhuma. A gente nasceu pra ficar juntos. Eu e você, meu amor. Anda, me diz que isso é uma brincadeira sua.

Gabriela: Eu tô... Eu tô falando sério, William.

William: Meu Deus... Meu Deus... Não...

Gabriela: Me desculpa, eu juro que eu tentei de tudo, mas infelizmente eu cheguei à conclusão de que não dá pra gente ficar juntos.

William: Pelo quê? O que eu te fiz? É pelo meu pai? É a minha família, é por causa da Laura? Anda, fala o que eu te fiz pra você querer terminar comigo.

Gabriela: Você não fez nada, William. Eu só percebi que não importa o quanto a gente tente, sempre vai haver algo pra nos dizer que eu e você somos diferentes demais.

William: Gabi, isso é uma tremenda bobagem. Você me conhece, meu amor. Você sabe que eu e você temos muito mais a ver do que quaisquer outras pessoas desse mundo. Você é a única pessoa que eu conheci que fez meu coração quase parar. Eu me apaixonei perdidamente por você a ponto de não saber mais como seria minha vida sem você. Gabriela, não tem condições de você querer terminar comigo com esse argumento sem fundamento.

Gabriela: William, entenda. Eu já tomei a minha decisão e o que tô fazendo é pelo seu bem. Eu sei que você vai ser muito mais feliz sem mim.

William: É o quê? Você não escutou o que eu acabei de dizer? Não tem condição alguma de eu ser feliz sem você. Você é a minha felicidade, você é a minha vida.

Música: "Eu Não Existo Sem Você" – Oswaldo Montenegro


William se vira para o outro lado, o rosto completamente úmido devido às lágrimas. Ele inclina o corpo para o chão e então se ajoelha, chorando de forma mais intensa. Gabriela vai até ele, abraçando e afagando sua cabeça. Ele então se levanta lentamente e puxa a caixinha de veludo que sempre guardava no bolso.

William: Olha, você não pode terminar comigo, meu amor.

Ele se ajoelha em frente a ela, soluçando de chorar com a caixinha aberta, mas não consegue pronunciar as palavras. Gabriela fica incrédula, levando as mãos à boca enquanto chora mais intensamente.

William: Por favor, Gabi, não me deixa. Eu preciso de você. Por favor, casa comigo, meu amor.

Gabriela se vira, dando as costas para William, sentindo seu corpo amolecer, quase desmaiando. Todo o mal-estar que sentiu pouco antes de entrar em casa estava retornando. Ela havia percebido que esse tempo todo estava sendo absolutamente forte para enfrentar William, mas ao vê-lo ajoelhado, em prantos pedindo ela em casamento, foi como se tivesse deixado de existir, sentindo-se o ser humano mais egoísta do mundo. Queria voltar atrás em todas as suas palavras, mas sabia que não podia. Seu amor por William era forte demais para que ela pudesse retroceder agora. Gabriela acreditava que William só seria feliz, só seria completo, só teria a harmonia com sua família de volta se os dois ficassem separados. Ela sabia que precisava devolver o homem que ama de volta ao lugar dele e precisava voltar ao seu.

Gabriela: Desculpa, mas... eu não posso aceitar isso. Me perdoa, William, do fundo do meu coração. Me perdoa, mas... Eu não posso aceitar o seu pedido. Vai ser melhor assim. Você vai ver como vai ser. Você não é homem pra mim. Esse tempo todo eu tava me enganando pelo amor que sinto por você. Tava sendo egoísta querendo ter você na minha vida, mas agora eu enxergo. Enxergo que você não me pertence, nem nunca pertenceu. Eu sinto muito...

William desaba no chão, sentindo-se humilhado. Seus olhos percorrem a sala sem rumo. Ele fica um tempo ali sem dizer nada, alternando entre encarar Gabriela e encarar o chão. Ele então se levanta.

William: Então vai ser assim?

Gabriela: Espero que você entenda os meus motivos.

William: Eu não tô entendendo nada. Não tô entendendo porque você decidiu me humilhar assim.

Gabriela: Não é isso, William, eu jamais iria querer te humilhar. Na verdade, eu estou te salvando de mim.

William: Salvando? Meu Deus... Olha, eu nunca pensei que de todas as pessoas você seria a que mais me magoaria. Eu podia esperar tudo de todo mundo, mas pra mim você era a pessoa que eu jamais iria esperar que me desse uma facada nas costas.

Gabriela: Eu não estou te dando facada alguma. Eu só acho que a sua vida vai ser muito melhor sem a minha presença nela.

William: Acha é? Quer saber? Eu nem consigo olhar pra sua cara agora.

William se arrasta pela sala, indo até a porta. Ele se vira, lançando um último olhar para Gabriela antes de sair. Ele sai e Gabriela cai no sofá, chorando o mais alto que pode. Enterrando sua cabeça no estofado, querendo fundir seu corpo com o móvel e ser nada mais que um objeto inanimado.

William entra rapidamente no carro, fechando a porta com força. Ele coloca a cabeça sobre o volante, caindo no choro. Ele levanta a cabeça e, sentindo-se consumido pela raiva, dá várias pancadas no volante, grunhindo de raiva. William dá a partida no carro e vai embora.

No caminho, várias memórias surgem em sua mente. A primeira vez que viu Gabriela, o primeiro encontro, o primeiro beijo, a primeira noite de amor, o dia em que soube que ela era a mulher da sua vida e decidiu pedi-la em casamento. Todos esses pensamentos se embaralhando num redemoinho de emoções.

Ele acelera o carro, seguindo em direção a uma grande avenida. Sentia que não estava mais controlando o próprio corpo, sendo guiado pela fúria e frustração. Queria desaparecer dali, queria não ter que fazer mais nada. Desejava dar meia volta e insistir com Gabriela até que ela desistisse da ideia de terminar. Ao mesmo tempo, se sentia traído, sentia que ela havia pisado na sua confiança e em todo amor que ele entregou a ela nos meses em que ficaram juntos.

Ele seguia em alta velocidade, passando entre os carros, suas mãos tremendo no volante enquanto lágrimas escorriam pelo rosto. A cada lembrança, a dor e a raiva cresciam dentro dele, como uma tempestade que não podia ser contida. De repente, a visão de William se torna turva. Ele não sabia mais para onde estava indo, não conseguia mais guiar seus pensamentos que já haviam implodido em sua mente, e não sabia como guiar o carro. Nesse momento, ele perde o controle do veículo. O carro avança sobre uma mureta, quebrando-a e atravessando, capotando num barranco várias vezes até parar. Depois de alguns instantes, o carro explode. Um clarão toma conta do lugar e o veículo é completamente consumido pelas chamas.

FIM DO CAPÍTULO.


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