LINHA TÊNUE - CAPÍTULO 04
PARTE 1: EXT. MARINA / NOITE
William vai até Gabi e pega na mão dela, os dois começam a caminhar. Ele conduz ela até um iate enorme. Gabriela fica perplexa à medida que se aproximava do iate. As dimensões do barco eram quase inacreditáveis.
Gabriela: É aqui?
William: Sim, o que acha?
Gabriela: Não sei o que pensar.
William: Vamos entrar?
Gabriela: Não tá meio tarde para um passeio de barco?
William(sorrindo): Calma, Gabi, o iate não vai sair do lugar; só vamos entrar e ficar aqui mesmo. Tudo bem pra você?
Gabriela continua apreensiva, mas parece ceder. William puxa-a pela mão e os dois entram no iate. O iate era muito maior do que aparentava. No convés superior, havia uma área de lazer com lounge ao ar livre, espreguiçadeiras e jacuzzi. William pergunta se Gabriela quer conhecer o resto do barco, e ela aceita, muito envergonhada. William caminha com Gabriela por dentro da embarcação.
William: Estou te deixando desconfortável?
Gabriela: Não, é que... É tudo muito... Ai, não sei explicar.
William: Tudo bem, se você quiser ir embora, é só me falar.
Gabriela: ir embora? Não, eu não quero ir. A gente está tendo um encontro, não está?
William sorriu para ela, notando o esforço da moça em ser simpática.
William: Então vamos subir. Acredito que você vai ficar mais confortável no convés.
E então os dois subiram, e William conduziu Gabi até uma mesa onde se sentaram e ele serviu champanhe em taças. Gabriela não quis parecer chata e se obrigou a beber, mesmo não tendo o hábito de ingerir álcool.
William: E agora? Tá melhor?
Gabriela: Sim, está tudo muito perfeito.
William: É que você antes não me parecia muito animada.
Gabriela: Eu sei, mas eu só estava um pouco impressionada... com tudo isso.
William: É que eu acho esse clima, esse barco, tudo muito romântico e pensei em te trazer aqui. Talvez eu devesse ter pensado que seria um exagero.
Gabriela: Mas não foi, eu estou adorando. Pra ser sincera, a sua companhia aqui ou em qualquer lugar é tudo o que eu preciso.
William: Sério?
Gabriela: Sim.
William: Você parece meio... assustada
Gabriela: Eu tô bem.
William suspira, aparentando ansiedade.
William: Estranho...
Gabriela: O que?
William: Acho que estou um pouco nervoso; não me sentia assim há muito tempo.
Gabriela: Você está nervoso com o quê?
William: Não sei exatamente, só quero que tudo ocorra bem entre a gente. Sinto que não quero te decepcionar.
Gabriela sorri, compadecida com William.
Gabriela: Pode acreditar que você não está.
William: Sério? Mesmo comigo te trazendo aqui? Não foi um exagero?
Gabriela: Não, está tudo muito lindo, William. Não precisa se preocupar; não fique tão nervoso pensando nisso. Você está sendo perfeito comigo até então.
William: Então tudo bem, obrigado por me tranquilizar.
Gabriela: Então... Esse barco é da sua família?
William: Sim, do meu pai.
Gabriela: Ele é muito bonito, acho que eu nunca entrei num iate na vida. Aliás, nunca entrei em barco nenhum... Quer dizer, acho que andei de ferryboat umas vezes quando criança. Por um momento bloqueei isso da mente. Mas isso aqui...
William: É, eu sei... É uma das coisas que eu mais gosto na vida. Quando eu tiver condições, quero ter o meu próprio barco e daí talvez eu saia pelo mundo velejando.
Gabriela: Então você sabe velejar?
William: Sim, quer que eu te ensine algum dia?
Gabriela: Não sei... Não me vejo velejando.
William: Mas comigo você vai, bem... se você quiser.
Gabriela dá um risinho tímido de canto de boca.
William: E surfar? Você gosta?
Gabriela: Acho que gosto de olhar, mas eu surfar? Não tem condições, acho... sei lá, acho perigoso.
William: Mas não é, boba, na verdade é demais. Estar em cima de uma prancha dá uma sensação de liberdade incomparável. Você deveria tentar.
Gabriela: E não é perigoso?
William: Bom, talvez seja, mas eu posso te ensinar a surfar e daí você vai ver como é algo extraordinário.
Gabriela (rindo): Você querendo me ensinar muitas coisas.
William coloca sua mão sobre a de Gabriela e suspira com ar de seriedade.
William: É que... Eu fico criando momentos na minha cabeça que na verdade são apenas desculpas pra estar perto de você de novo.
Gabriela: É... eu... eu também quero ter oportunidade de passar mais tempo com você.
William: E a gente vai, pelo menos se depender de mim.
Os dois permanecem conversando por mais um tempo, entre risadas e olhares. William serve o jantar. Gabriela fica meio acanhada com os pratos que são servidos, mas tenta manter um sorriso no rosto para que William não perceba.
Gabriela: Posso te pedir um favor?
William: Tudo o que você quiser!
Gabriela: A gente pode ir à praia? É perto daqui, eu adoraria caminhar na praia.
William: Nossa, acho que você leu meus pensamentos, seu pedido é uma ordem.
E então, os dois vão até a praia, caminham de mãos dadas, brincam na areia, molham os pés e jogam água um no outro. William corre atrás de Gabriela, que tenta fugir; os dois acabam caindo juntos na areia, com William por cima de Gabriela, ambos rindo da situação. Logo, o riso cessa e ambos ficam fitando um ao outro, aparentando nervosismo. Ainda estavam ofegantes pela corrida, e o silêncio é tomado pelo barulho do vento, das ondas e da respiração dos dois, quase entrando em sintonia. William alterna entre observar os olhos e a boca de Gabriela. Ele alisa os cabelos dela, arrumando alguns fios que caem sobre a testa. Então, William aproxima seu rosto ao de Gabriela. Antes de seus lábios se tocarem, ele dá uma última encarada, encontrando seus olhos com os dela, e então eles se beijam apaixonadamente. Eles ficam ali na areia aos beijos por um longo período, pela primeira vez pertencendo um ao outro.
PARTE 2: APARTAMENTO DA FAMÍLIA FORTUNATO / INT. SALA DE ESTAR/ NOITE
Mônica está sentada, folheando uma revista, até que Celso entra na sala ajeitando a gravata.
Celso: E então, como é que eu tô?
Mônica: Lindo como sempre... diferente desse apartamento horroroso (se lamentando enquanto percorre o ambiente com os olhos).
Celso: O que foi, hein?
Mônica: Ah, meu filho, isso aqui tá precisando de uma reforma. Me sinto envergonhada só de olhar pra essas paredes; não dá pra trazer gente aqui. Semana passada, fiquei muito constrangida quando aquela enjoada da Tânia Campelo veio aqui. Eu podia sentir os olhares incisivos daquela cobra apontando pra cada canto dessa sala.
Celso: Sinceramente, mãe, acho que a senhora tá exagerando. E vamos ser realistas: não temos como bancar uma reforma por enquanto.
Mônica: Isso não é justo. Se pelo menos aquele porco do seu pai não fosse um idiota e não tivesse afundado o nome da nossa família...
Celso: Olha lá como fala do meu pai.
Mônica: Mas é a pura verdade, meu filho.
Celso: O papai fez o melhor que pôde pela gente. Infelizmente, acabou sendo vítima de facínoras que não têm nenhum tipo de sangue nas veias.
Mônica: Ai, meu filho, eu sei que você tem um senso enorme de proteção pelo nome do seu pai, mas...
Celso (aumentando a voz): Mas nada, mãe! Chega desse assunto, pelo respeito que a senhora tem por mim.
Mônica: Tudo bem, querido, me perdoa! Mamãe não vai mais tocar nesse assunto. Agora me diz como é que tem sido lá com seu tio, tá se dando bem?
Celso: Ah, nem me fale, sabe como ele é, né? Gosta de ficar regulando todo mundo. Agora quer me colocar de babá do filhinho dele, vê se pode.
Mônica: Nossa, mas isso é algo bom, não é?
Celso: Algo bom? Olha pra minha cara, mãe? Vê se eu tenho pinta de babá de marmanjo.
Mônica: Mas você não tá encarando as coisas da maneira certa, meu filho. Pensa que seu tio, ao te fazer um pedido desses, significa que ele confia em você. Você acha que ele pediria pra qualquer um vigiar o príncipe herdeiro dele?
Celso: Ah, mãe, me erra com essa. Aquele velho tá me fazendo de capacho, só isso. A verdade é que não nasci pra virar capanga de velho gaga. Mas pode ficar tranquila que eu sei dançar conforme a música. O que ele pedir, eu faço; se ele acha que tá me controlando e manipulando como um dos peões dele, vou deixar que pense assim.
Mônica levanta do sofá e abraça o filho por trás, encostando o rosto próximo ao ombro dele.
Mônica: É isso mesmo, é assim que você tem que pensar. Olha aqui, meu filho (segurando o rosto dele). Eu sei que você não quer encarar dessa forma, mas o seu pai deixou a gente numa situação muito complicada. E agora eu só posso contar com você pra salvar o nome da nossa família. Faça isso por mim e pelo seu irmão. Eu sei que você tem tudo o que é preciso pra se dar bem e pra colocar o seu tio no bolso.
Celso segura as mãos da mãe entre as suas e as beija.
Celso: Não se preocupa, mãe, eu estou ciente disso, mas pode deixar que vou fazer de tudo para proteger a senhora e o Fred.
Nesse momento, Fred entra no apartamento, jogando sua pasta no sofá e afundando nele, aparentando cansaço.
Celso: Olha o homem aí
Mônica: E então, meu filho, como foi o dia?
Fred: Nem me pergunte.
Celso: Tudo bem, irmãozinho?
Fred: Nem me enche, Celso, tô sem paciência.
Celso: Ué? (Levantando as mãos, confuso)
Fred: Eu tive um dia cheio naquela universidade, não tô afim de papo.
Mônica: Oh, meu querido, fica calmo. Por que você não vai pro seu quarto, que a mamãe vai mandar preparar uma sopinha de pepino para você?
Fred faz uma cara de nojo.
Celso: Sopinha de pepino? Melhor passar fome logo.
Mônica: Ai, não fala assim! Minha receita de sopa de pepino é divina e ainda por cima não engorda.
Celso: Você acha que o Fred tá com cara de que se sustenta com sopa de pepino, mulher? Ele tá precisando é de comida de verdade. Se arruma, Fredinho, e vamos sair pra jantar. Tô indo num restaurante ótimo de um amigo meu que abriu; cê vai amar.
Fred se levanta e começa a caminhar, mas antes para ao lado de Celso com cara de desânimo.
Fred: Valeu, mano, mas eu não arredo o pé de casa até amanhã. Falou aí pra vocês dois, tô indo tomar um banho e cair na cama.
Mônica: Mas, meu filho, não vai comer nada?
Fred sai da sala ignorando Mônica, que observa com cara de preocupação. Celso volta a checar seu terno pra se certificar de que está bem arrumado.
Mônica: E que história é essa de restaurante? Você convida seu irmão, mas não convida sua mãe?
Celso: Ah, mãe, me perdoa, mas ser visto por aí com a mamãe não pega bem pra mim, tá bem? Tô indo nessa. Se cuida, coroa. Tchau!
Celso dá um beijo na bochecha de Mônica e sai em seguida.
PARTE 3: RESTAURANTE / INT. / NOITE
Celso chega ao restaurante do amigo acompanhado de uma mulher. Ele é recepcionado e conduzido até sua mesa. Logo, o amigo de Celso aparece para cumprimentá-lo.
Fausto: Celso, meu amigo!
Celso (se levantando): Fausto! Como é que vai, irmão?
Celso e Fausto se abraçam com entusiasmo.
Celso: E aí, como é que estão as coisas por aqui?
Fausto: Estão ótimas, estamos lotados.
Celso: Olha, eu tenho que te dizer: isso aqui tudo tá uma maravilha. Que decoração caprichada, de muito bom gosto!
Fausto: Que bom que gostou! Espero que você e sua amiga estejam sendo bem servidos esta noite. Deixem ordens explícitas para que vocês sejam muito bem atendidos. Aliás, por que não me apresenta à sua amiga?
Celso revira os olhos sem que Fausto perceba.
Celso: Ah, sim, essa aqui é a... Paloma?
Paula: É Paula.
Celso: Ah, sim, não tinha ouvido direito.
Fausto (constrangido): Ah, tá, muito prazer, Paula.
Nesse momento, Celso olha de longe para uma mulher loira em outra mesa conversando com um homem e reconhece que se trata de Laura.
PARTE 4: RUA DE GABRIELA / INT. CARRO DE WILLIAM / NOITE.
Gabriela: Pode me deixar aqui.
William: Mas ainda faltam alguns quarteirões até sua casa.
Gabriela: Não tem problema, eu vou andando.
William para o carro e encara Gabriela preocupado.
William: Algum problema?
Gabriela (receosa): Não, nenhum.
William: Gabi, por favor... confia em mim.
Gabriela: É que... eu ainda não contei para minha mãe que estou saindo com você.
William: Ué, e por que não?
Gabriela: A minha mãe é meio dramática com certas coisas, não sei como ela reagiria ao saber que... Bom, eu quero dar um tempo para achar o melhor momento de te apresentar pra ela.
William: Bom, eu fico feliz que você queira me apresentar pra ela, mas ainda acho uma bobagem esse mistério. Tenho certeza de que ela vai me amar.
Gabriela: Eu sei, mas, por favor, me dá esse tempo.
William: Tá, tudo bem. Mas eu não posso simplesmente te deixar andar sozinha a essa hora da noite.
Gabriela: Não tem problema, eu sei me cuidar.
William: Nada disso, Gabi. Pelo menos me deixa chegar um pouco mais perto da sua casa e, se a sua mãe nos ver, você diz que eu te dei uma carona, só isso. Não precisa entrar em detalhes.
Gabriela: Tudo bem, me deixa no canto da rua e fica me olhando até eu entrar em casa, já que isso é importante pra você.
William: É claro que é importante pra mim, mocinha. Você acha que eu vou permitir que alguma coisa te aconteça daqui pra frente?
William sorri e se aproxima do rosto de Gabriela, os dois se beijam.
Gabriela desce do carro, com William a seguindo com os olhos. Ambos riem um para o outro, e William decide descer do carro para vigiar a caminhada de Gabi até em casa. Ele a vê descer a rua com um passo calmo, dando algumas viradas de cabeça para ele, acompanhadas de um sorriso. E então ele a vê entrar em casa. Seu sorriso dá lugar a uma expressão de encanto; ele entra no carro e vai embora.
PARTE 5: RESTAURANTE / INT. / NOITE
Laura se levanta de sua mesa e começa a caminhar. Ela vai em direção ao banheiro, mas é surpreendida por Celso, que bloqueia o caminho.
Celso: Ora, ora, mas vejam só se não é a barbiezinha.
Laura: Celso? O que faz aqui?
Celso: Eu é que te pergunto.
Laura: Eu fiz reserva.
Celso dá uma olhada para longe, avistando o homem com quem Laura está acompanhada.
Celso: Eu posso ver bem a sua reserva.
Laura: E você, tá fazendo o que aqui?
Celso: Eu conheço o dono, é muito meu amigo. Pelo visto, vou ter que dizer a ele para ficar atento ao tipinho de gente que anda vindo frequentar o estabelecimento dele.
Laura: Olha aqui, você me respeita, tá? E outra, não pense que eu não sei com que tipo de mulher você anda circulando por aí. As notícias voam, meu caro.
Celso: E o que dizer de você? Tá se enrolando com outro velho rico? Me poupe, Laurinha, esperava mais de você, mas pelo visto resolveu enterrar o pouco que resta do nome da sua família.
Laura: Mas olha só quem fala (cruzando os braços), como se o nome da sua família ainda tivesse algum valor.
Celso: Sabe, eu achava que você ainda tava de rolo com o William, você tava sempre de chameguinho com ele, correndo atrás, mas pelo visto me enganei. Ou é isso, ou você é uma cadela que está tentando enrolar o meu amigo.
Laura: Ai garoto, pra que meter o William nisso? A gente não tem mais nada um com o outro.
Celso: Ah, é? Mas pelo visto você não entendeu isso, já que fica se arrastando pelos corredores daquela mansão, seguindo o rastro dele por qualquer canto. Se duvidar, deve estar até invadindo o quarto dele pra cheirar as cuecas.
Laura: Nossa, mas você é muito baixo nível mesmo. Quer saber? Me deixa em paz e volta pra sua vidinha nojenta, volta lá pras vagabundas que você anda pagando pra terem a coragem de se deitar com você.
Celso agarra o braço de Laura com truculência, se aproximando dela e apertando os lábios quase como um grunhido.
Celso: Mas você bem que queria ser uma dessas vagabundas, não é? Você pensa que eu não sei?
Laura: Pois pode ficar sonhando, meu filho, eu jamais vou descer tão baixo a ponto de me envolver com um bostinha feito você. Faz o que eu disse e volta lá pras suas piranhas.
Celso: É, pode ser, Laurinha, mas acontece que essas tais vagabundas a gente manda embora com o nascer do sol. Já você é um tipo diferente; você é uma biscateira parasita. É, você fica rodando, cercando, esperando a hora certa de dar o bote, porque você sabe muito bem o que quer. Sabe, eu até admiro isso em você. Você se destaca entre as outras vadiazinhas sem cérebro que a gente vê por aí. Mas saiba de uma coisa, minha querida: você não me engana.
Laura: Me solta.
Laura Livra o braço das mãos de Celso.
Laura: Olha aqui, você trate de ficar longe de mim, hein?
Laura sai andando nervosa, enquanto Celso a segue com o olhar, mantendo uma expressão cínica e sorridente.
FIM DO CAPÍTULO.
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