LINHA TÊNUE - CAPÍTULO 07
Webnovela de Tony Castello
PARTE 1: PRAIA / MANHÃ
A praia estava lotada de surfistas de todos os lugares, com pranchas coloridas espalhadas pela areia e o som das ondas quebrando ao fundo. William tira a camisa e, ao observá-lo, Gabriela sente o rosto esquentar. Ela percebe, naquele momento, que nunca tinha reparado tanto no físico de William desde que começaram a sair, apesar de já o ter visto na mansão, quando só o enxergava como um estranho.
William (rindo): O que foi?
Gabriela: Nada, eu só...
William (abraçando e beijando a cabeça de Gabi): Você fica muito linda quando tá envergonhada assim.
William avista alguém e faz sinal com a mão, abrindo um enorme sorriso. Um homem se aproxima dos dois, e William o cumprimenta com um aperto de mão firme e um abraço apertado, seguido de tapas nas costas.
Fernando: Cara, nem acredito, você ainda vive?
William: Qual é, não sumi por tanto tempo assim.
Fernando: Cara, cheguei a pensar que você tinha viajado sem me avisar. Eu estava triste. Pensei que teria que arrumar um novo parceiro.
Fernando avista Gabriela e sorri simpaticamente para ela.
Fernando: E quem é essa moça linda?
William: Essa é minha namorada, Gabriela.
Fernando abre a boca numa expressão de espanto.
Fernando: É mesmo? Meu Deus! Gabi, muito prazer, me chamo Fernando.
Fernando e Gabi trocam um aperto de mão com um sorriso de ambos.
William: Esse aqui é um dos meus grandes amigos. Ele que me ensinou a surfar.
Gabriela: Muito prazer, Fernando.
Fernando olha rapidamente para William e Gabriela, como se os estudasse.
Fernando: Então vocês dois...
William: Ah, sim...
Fernando: Então quer dizer que o senhor finalmente sossegou? Vivi pra ver...
William: Que isso...
William faz um sinal com o dedo como se estivesse cortando o pescoço para alertar Fernando, que percebe e altera o tom da conversa.
Fernando: Quer dizer... É... Então, Gabi, como vocês se conheceram?
Gabriela: Ah, bem, foi um pouco estranho. Eu fui à casa dele vender umas coisas e, quando dei por mim, ele estava na minha porta me oferecendo uma carona até a faculdade.
William: Resumidamente falando.
Fernando: Nossa, sempre apressadinho. Não liga não, Gabi, ele sempre foi assim, mas é a melhor pessoa que você pode conhecer. Você foi uma garota de sorte.
Fernando pisca para William com um sorriso de canto de boca. Gabi sorri timidamente, mas com desconfiança.
Fernando: E então, vamos cair na água ou não? Vai pular da pedra hoje?
William: É claro. Olha, Gabi (apontando para longe), você tem que olhar ali porque eu vou pular da pedra. Se eu não aparecer mais, liga para minha família e diz que eu amo todo mundo.
Gabriela: O quê? Não fala isso.
William: Tô brincando, boba, eu sei o que tô fazendo.
Fernando: É, pode saber o que faz, mas não muda o fato de que é bem perigoso.
Gabriela: Tão perigoso assim?
Fernando: É a terceira laje, a onda mais perigosa dessa praia.
William (dando um leve tapa na cabeça de Fernando): Para de assustar ela.
Nesse momento, vários outros surfistas se aproximaram de William e Fernando e os cumprimentaram em meio a conversas animadas. Gabriela manteve uma feição preocupada após o comentário de Fernando. William aproveitou para apresentar Gabriela ao resto do pessoal, e ela os cumprimentou ainda meio acanhada.
PARTE 2: APARTAMENTO FAMÍLIA FORTUNATO / INT. SALA / MANHÃ.
Mônica percorre a sala de um lado para o outro, nervosa e com um celular nas mãos. Ela digita um número e liga para alguém.
Mônica: Alô? Onde você está? Pois eu preciso falar com você ainda hoje... Não pode ser por telefone... Pois eu preciso muito falar com você e precisa ser hoje, não vai me negar isso, não é? Tudo bem, então... Às Treze horas? Pois esteja lá, é só isso que eu digo.
Mônica encerra a ligação e atira o telefone no sofá, suspirando profundamente com as duas mãos apoiadas na cintura.
PARTE 3: PRAIA / MANHÃ
Gabriela tenta observar William de longe, com uma expressão preocupada no rosto; seu coração bate acelerado e suas mãos tremem levemente. Um dos surfistas ao lado dela passa a mão suavemente em suas costas, tentando acalmá-la. Nesse momento, William surge descendo o imponente paredão de água em sua prancha, após se lançar corajosamente da pedra. Ele atravessa o véu de água, sentindo a força da onda quebrando atrás de si. A crista da onda se dobra sobre William, engolindo-o por um instante. O coração de Gabriela quase para, mas logo ele ressurge à frente, deslizando graciosamente sobre a água. Alguns surfistas próximos a Gabriela aplaudem entusiasmados, enquanto ela força um sorriso, tentando disfarçar o nervosismo que ainda a consome. William sai da água segurando sua prancha debaixo do braço. Ele finca a prancha na areia e vai até Gabriela, abraçando-a.
Gabriela: William, meu Deus, eu quase morri do coração!
William: Calma, boba, não precisa ficar assim. Olha, você tem que tentar também.
Gabriela: Eu? Mas jamais que eu vou tentar uma coisa dessas. Eu tenho amor pela minha vida.
William: Vai sim, eu vou te ensinar a pegar onda. Daqui a uns meses, você vai estar melhor do que eu.
Gabriela: Vai sonhando, meu filho.
William ri da indignação de Gabriela e a puxa para perto de si, num abraço, beijando os lábios da namorada.
PARTE 4: RESTAURANTE / INT. / TARDE
Mônica entra na recepção do restaurante. Ela é encaminhada para a mesa, onde Júlio já a espera com uma expressão severa. Mônica se senta sem dizer uma palavra.
Júlio: E então? O que era tão urgente?
Mônica: Você ainda pergunta? E o jeito que você tratou meu filho hoje?
Júlio (cruzando os braços): Ah, então a mamaezinha estava ouvindo tudo, é?
Mônica: Sim, ouvi. Ouvi as suas lindas palavras motivacionais para o meu filho. Tenho certeza de que agora ele está se sentindo mais inspirado.
Júlio: Faça-me o favor, Mônica. Você acha que eu tenho tempo a perder com reclamações suas? Seu filho é um irresponsável, não tem compromisso nem com a própria vida. Ele me fez de palhaço e abusou da minha boa-fé, e isso, minha querida, é algo que eu não admito.
Mônica: Júlio, pense bem. Você está sendo muito severo com o Celso. Eu sei que ele pode ser um pouco irresponsável, mas...
Júlio (interrompendo): Um pouco? Você está sendo muito gentil, Mônica.
Mônica: Sim, um pouco. O Celso ainda é jovem, está começando a vida. Não é justo colocar um peso tão grande nas costas dele e fazê-lo se sentir tão inferior.
Júlio: Veja bem, Mônica, você sabe como sou com meus negócios. O Celso não deve ser tratado de forma diferente de qualquer outro funcionário. Não posso passar a mão na cabeça dele por nenhum motivo.
Mônica: Mas me diga, Júlio, se fosse o William, você agiria da mesma forma ou passaria a mão na cabeça dele?
Júlio: Não traga o William para essa conversa.
Mônica: Ah, eu trago sim. Tenho certeza de que, se fosse seu filho preferido, você não reagiria assim.
Júlio: Mas aí é que está, William jamais agiria assim. Ele pode ser um menino de espírito leve e aventureiro, mas não é irresponsável. Tenho certeza de que ele tem compromisso com o futuro dele e, em breve, estará ao meu lado, comandando as minhas empresas e me ajudando a cuidar de tudo que vai ser dele um dia.
Mônica: E o Celso? O que ele terá para si? Você acha que ele vai ser alguém com você pisando nele, fazendo ele se sentir um imprestável? A verdade, Júlio, é que você queria o Celso como seu capacho, mas você se esquece de quem ele é de verdade. Talvez eu devesse te lembrar, refrescar sua memória.
Júlio: Entenda, Mônica, não importa o que aconteça, Celso jamais será como William, jamais ocupará o lugar que ele ocupa, e isso não tem a ver com laços afetivos; tem a ver com índole. William foi criado por mim, teve acesso aos meu valores e se tornou um menino de ouro, enquanto Celso... Bem, ele foi criado por você e seu marido, e olha o que ele se tornou.
Mônica: Você está exagerando. Celso não é esse crápula que você insiste em pintar. Por mais que ele tenha seus erros, ele ainda é um homem muito meigo; ele tem amor pela família e jamais deixaria um de nós desamparado. Ele ama o Fred, ele me ama... E quanto a você, Júlio, consegue amar a sua família? Consegue amar seus filhos? Todos os seus filhos?
Júlio fica sem resposta, se recostando na cadeira e desviando o olhar.
Mônica: Eu não quero te insultar, nem faltar com o respeito à pessoa que você é. Não vim aqui pra isso... Mas por favor, pare com essa intransigência. Deixa eu conversar com o Celso; eu sempre consigo conter o gênio dele. Garanto a você que ele voltará a ter compromisso com o trabalho. Mas você precisa me dar a sua palavra de que vai chamá-lo para conversar. O que me diz?
Júlio: Eu não sei, Mônica... não sei se estou preparado para arriscar uma nova decepção com seu filho.
Mônica: Júlio, eu prometo que você não vai se decepcionar. Você pode achar o Celso um garoto irresponsável e sem palavra, mas e eu? Alguma vez faltei com a palavra com você em todos esses anos? Além disso, eu não estou pedindo por ele, estou pedindo por mim, pelo que nós tivemos.
Júlio (suspirando): Tudo bem... diga a seu filho que esteja na segunda-feira no escritório. Mas... (apontando o dedo) eu vou logo avisando: um só deslize dele e eu ponho seu filho na rua sem nem ao menos hesitar. E não vai ser você nem ninguém que irá me convencer do contrário.
Mônica (abrindo um sorriso): Sim, sim, pode deixar, ele não vai mais faltar com você, isso eu prometo! Viu, Júlio? Eu sabia que você podia ser um homem compreensível.
Júlio: Na verdade, eu me sinto um idiota sendo enganado novamente, mas o que posso fazer?
Mônica: Eu garanto que não está. Isso é pelo futuro do Celso e você sabe disso, sabe como é importante. Você jamais deixaria ele se perder assim sem ao menos estender a mão; eu sinto isso.
PARTE 5: PRAIA / TARDE
William e Gabriela estão sentados de frente para o mar, próximos de algumas pedras que refletem a luz do sol poente. O som das ondas quebrando suavemente nas rochas cria uma melodia tranquila. William está com seu braço envolto no ombro de Gabi, e ela apoia sua cabeça no pescoço dele.
Gabriela: Queria te contar uma coisa.
William: O que foi, amor?
Gabriela: Finalmente falei com minha mãe sobre nós.
William: Sério? Finalmente vou poder te deixar na porta da sua casa?
Gabriela: Sim, e tem mais. Pedi pra ela preparar um almoço pra você, assim você pode se apresentar formalmente.
William: Sério? Que bacana, Gabi!
Gabriela: Sim, não tem problema para você, né?
William: Claro que não. Vou ficar muito feliz em me apresentar pra sua mãe. Já tava na hora, né? Além do mais, isso me lembra que você precisa conhecer meus pais. Você e minha irmã Liliana serão grandes amigas, eu prometo. Você pode se juntar a ela pra implicar comigo.
Gabriela faz uma expressão apreensiva, mordendo levemente o lábio inferior, e William nota imediatamente.
William: Que foi? Por que ficou assim?
Gabriela: Não sei... Só tenho receio que sua família não me ache... Sabe... Do seu nível.
William suspira profundamente, tentando acalmar os pensamentos que passam por sua mente
William: Olha, Gabi, tudo o que importa é que você me faz feliz, e eles, sendo minha família, com certeza também vão ficar contentes com isso. O sonho da minha mãe era que eu conhecesse alguém legal assim como você.
Gabriela: Eu sei, William, mas... Você não acha que eles vão...
William: A gente não precisa pensar nisso. Eu não penso nisso quando estou com você.
Gabriela: Eu sei, William. Acho você a pessoa mais meiga e gentil que já conheci, mas sinto que pra você é mais fácil ignorar certas coisas. Para mim, não é. O seu mundo, o seu tipo de vida é muito diferente do meu.
William escuta as palavras de Gabi e fecha a cara, parecendo refletir sobre o assunto. Ele direciona seu rosto para o mar enquanto usa o dedo para riscar a areia aleatoriamente.
Gabriela: Eu juro para você que não queria pensar sobre essas coisas. Queria aproveitar sua companhia ao máximo e poder me divertir, mas infelizmente são inseguranças que eu não consigo evitar. Eu tô sendo sincera com você agora porque sinto que devo deixar claros os meus sentimentos.
William: Eu te entendo... Você tá certa em pensar assim, bebê... Eu só não sei o que te dizer para que você se sinta melhor.
Gabriela: Você não precisa dizer nada. Você tem sido tão incrível comigo todos esses dias. Eu que me sinto uma idiota por pensar nessas coisas, por colocar barreiras entre a gente.
Gabi puxa a mão de William entre as suas e beija suavemente os dedos do namorado. William sorri para ela.
Gabriela: E eu estou gostando tanto de você que me dá medo. Um sentimento tão bom e ao mesmo tempo tão amedrontador. Sabe, hoje, quando você estava na água, eu senti um nervosismo. Pareceu, por um momento, que você ia sumir de vista naquela onda e eu ia te perder pra sempre.
William(rindo): Então quer dizer que a senhorita tem medo de me perder?
Gabriela: Sim...
William: Eu sinto o mesmo sobre você... Sabe, quando não estou com você, fico contando cada minutinho pra a gente se encontrar de novo. Sinto como se o mundo parasse de fazer sentido sem você por perto. Isso é muito louco de se pensar, fico imaginando como era minha vida antes e depois de você e simplesmente não consigo. Parece que eu só pertenço ao agora, a esse momento aqui com você. E... E eu não consigo mais imaginar você longe de mim e fora da minha vida.
William segura o rosto de Gabi e alisa os cabelos dela suavemente, seus olhos fixos nos dela, transmitindo todo o carinho e segurança que sente.
William: Acho que isso só pode significar uma coisa. Acho que... acho que eu te amo.
Gabriela sente seu coração acelerar ao ouvir essas palavras. Sem hesitar, ela se aproxima mais de William, e os dois se beijam de forma intensa, um beijo cheio de paixão, como se o mundo ao redor deles deixasse de existir.
William passa sua mão pela coxa de Gabi, alisando-a com ternura. Sentindo a intensidade do momento, Gabi segura a mão dele e a puxa para mais perto de si, desejando estar o mais próximo possível. William projeta seu corpo para frente, fazendo Gabi se deitar lentamente na toalha estendida na areia. Os dois ainda se beijam de forma apaixonada, enquanto William sobe seus dedos pelo corpo de Gabi, acariciando suas nádegas e sua barriga, até que, num impulso, Gabi o afasta de si, interrompendo o beijo bruscamente.
William: Desculpa, acho que me empolguei.
Gabriela: Não, tudo bem. (sorrindo)
Os dois se sentam novamente na areia, abraçados uma ao lado do outro, sentindo a brisa do mar e ouvindo o som das ondas. Nesse momento, Fernando chega com algumas mulheres.
Fernando: Então, meninas, esse aqui é o meu amigo que eu falei, grande promessa do surf brasileiro.
William se levanta rapidamente.
Fernando: Elas queriam te conhecer, irmão.
William: Tudo bem com vocês?
Antonella: Tudo, sim. Na verdade... (apontando o dedo) acho que te conheço.
William: Ué, de onde?
Antonella: Acho que você já ficou com uma amiga minha... Aliás, duas na verdade.
William faz uma expressão de sem graça e olha para Gabriela, que continua sentada na areia, seus olhos fixos no horizonte, evitando o olhar de William.
Antonella: Sim, minha amiga Graziela, estudou Economia com você
William: Ah, sim... Acho que...
Antonella (gargalhando): Você não lembra, né? Tudo bem, amigo.
Fernando (balançando a cabeça): Típico...
Antonella: Eu e as meninas vimos você surfando e ficamos loucas. Daí eu pedi pro Fê apresentar a gente.
Antonella se aproxima de William e dá um abraço, apertando o corpo contra o dele e aproximando os lábios do pescoço de William. Gabriela observa e tenta desviar o olhar, ficando sem graça.
FIM DO CAPÍTULO.
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