Limite da Vida - Capítulo 09

 


Limite da Vida - Capítulo 09

Uma novela de Larice da Costa





Giovanna passa um rouge nas maçãs do rosto.

Dandara: Olha como dá uma cor a pele, você não parece mais uma mosca morta. Está linda, Giovanna.

Giovanna sorri se encarando no espelho.

Dandara: Então você entendeu tudo o que deve fazer, não é? Dê preferência aos homens mais ricos. Tente a todo custo ter uma noite com eles.

Felícia bate na porta e a abre um pouco, mostrando seu rosto.

Dandara: Pode se retirar, Giovanna. 

Giovanna se retira da sala e Felícia entra fechando a porta.

Felícia: É novata?

Dandara se senta em sua penteadeira e começa a passar um batom, enquanto isso vemos o reflexo de Felícia no espelho.

Dandara: É... me parece que não tem para onde ir e me pediu emprego aqui, não iria negar, não é mesmo? Inclusive, Felícia, acho que você com esse corpão, com esse busto lindo, deveria aproveitar mais das qualidades que Deus lhe deu.

Felícia: Sabe que o meu negócio é a dança, única e exclusivamente a dança. E sabe também da minha opinião sobre o que faz com essas garotas, mas enfim, não vem ao caso.

Dandara se levanta nervosa.

Dandara: Não vem ao caso mesmo, amorzinho. E por falar em dança, a senhorita chegou atrasada para a primeira apresentação, vou descontar do seu salário.

Felícia: Pode descontar, não me importo.

Dandara: Ah claro, esqueci que é rica, que é uma mulher de boas condições e que dança aqui por pura arte. Não vou negar, acho lindo o jeito que se diverte.

Felícia: Até porque, trago clientes a senhora. Enfim, só vim lhe avisar o motivo do meu atraso, mas pelo visto a senhora não se importou muito, devo me apressar para não perder a segunda apresentação.

Felícia se retira do quarto e Dandara fica se encarando no espelho com ódio.

No camarim, Felícia chega estressada, derrubando algumas coisas no chão.

Silvia: O que foi, amiga?

Felícia: Dona Dandara com aquele ar prepotente dela, me tira do sério, viu. Uma pena esse ser o único lugar em que posso dançar nesse fim de mundo, senão já teria me mandado daqui.

Silvia: Nossa, se acalma. Não fica pensando na dona Dandara, tome uma água e concentre que temos uma apresentação agora.

Felícia: Está certa. Vamos nessa!

Felícia e as outras meninas se apresentam ao som de Night and Day - 
Frank Sinatra.

Todos se levantam, quando a apresentação se encerra, e aplaudem as meninas.

Felícia observa Giovanna no canto do salão isolada e decide ir até ela.

Felícia: É nova aqui, não é?

Giovanna: Sou.

Felícia: De onde veio? Você me parece familiar.

Giovanna: Por que quer saber de onde venho? 

Felícia: Sabe que esse lugar aqui não é uma boa influência para moças como você, não sabe? Quer mesmo ficar presa em um inferno como esse?

Giovanna: Eu saí de um muito pior, mas não vem ao caso. Se é um lugar tão ruim assim, o que você faz aqui? 

Felícia: Por acaso não viu minha apresentação? Estou aqui pela dança, somente por ela.

Giovanna: Ah, sei. Que bom, querida!

Giovanna avista um homem bem vestido entrando pela casa e caminha até ele.

Felícia observa aquilo com muito desgosto.

(Mansão de Tânia):

Tânia está conversando com Mitra na sala de estar.

Tânia: Giovanna, me perdoe se eu for indiscreta, é uma curiosidade que eu tenho desde que chegou aqui. Você não tem pais ou alguém do tipo que poderia lhe dar um apoio, um suporte nessa situação?

Mitra: Meus pais, eles... eles morreram, morreram quando me colocaram no convento. Não tenho mais ninguém nessa vida.

Tânia: Oh... eu sinto muito, a perda dos pais é a pior que se pode ter nessa vida. Era mais ou menos isso que eu gostaria de conversar com você, pode se sentar.

Mitra: Pode falar, dona Tânia.

Tânia: Então... se lembra do almoço beneficente na qual você me disse algumas coisas? Se lembra do que me disse? Você fez algum tipo de aviso sobre o futuro, não sei como fez aquilo, mas eu gostaria que me ajudasse. 

Mitra: Não faço avisos sobre o futuro, dona Tânia, eu me comunico com o outro lado, vamos dizer assim.

Tânia: Como eu imaginei... É exatamente aí onde eu quero chegar. Você... enfim, você conseguiria se comunicar com minha mãe? 

Mitra: Bom, isso vai depender se ela ainda está nesse plano ou se ela vem até aqui. Eu não tenho certeza de como isso acontece, eu me baseio em alguns livros que já li. 

Tânia: Entendo. Mas você consegue sentir essa vibração se ela estiver no lugar?

Mitra: Meio que consigo. Todos nós emitimos energia, eu consigo sentir a da senhora, por exemplo. Eu senti também naquele almoço, era uma energia densa, fechada. Hoje está mais leve.

Tânia: E está sentindo a de mamãe?

Mitra fecha os olhos e se concentra.

Mitra: Não. Eu sinto muito... Mas talvez ela esteja em outro lugar, quem sabe na casa onde viveu seus últimos dias de vida.

Tânia: Siiimm, a mansão de mamãe, que agora é de Graça. 

Mitra: Se pudermos ir lá, acho que é um lugar que ela possa estar presa. 

Tânia: Mas presa! Ela não teria que ir embora? Não que eu esteja reclamando, já que isso vai nos ajudar e muito.

Mitra: Sim. Eu já li uma vez que os espíritos que ficam presos na terra se tornam obscuros e até obsessores. Mas eu não entendo muito disso, só sei que ela deve seguir a luz.

Tânia: Ai que assunto pesado, até me arrepiei. Faz um cházinho pra mim, Giovanna.

Mitra sorri.

Mitra: Claro, dona Tânia. De camomila com erva cidreira?

Tânia: Está aprendendo.

Mitra se dirige para a cozinha quando a campainha toca, ela retorna mas Tânia impede.

Tânia: Pode deixar, querida. Eu abro a porta, vá fazer o chá.

Tânia abre a porta.

Tânia: Humberto?

Humberto: Tânia! Será que poderíamos conversar?

Mitra escuta do corredor e se apavora.

ABERTURA 



Tânia: Claro! Entre. Eu sinto muito, Humberto.

Tânia abraça Humberto.

Tânia: Não tivemos a oportunidade de conversar melhor devido às circunstâncias. Gostaria de dizer que tem todo o meu apoio.

Humberto: Ah, Tânia. Minha filha não merecia isso. Mas tudo o que aconteceu com ela foi culpa de Catarina, eu nunca vou perdoar ela.

Tânia: Não diga isso. Sua mulher não tem  culpa de absolutamente nada. Inclusive, era pra você estar ao lado dela, dando forças um ao outro, e não aqui.

Humberto: Poxa, Tânia. Eu vim aqui pedir o seu apoio, será que pode pelo menos me dar ele?

Tânia: Não é certo isso, e quem vai consolar Catarina? É o seu papel de marido. Vá, Humberto. Eu gostaria muito de poder te consolar, de te dizer as melhores palavras em um momento tão difícil, mas seria errado. Eu realmente sinto muito por tudo, perder alguém que a gente ama é difícil.

Mitra escuta tudo do corredor.

Tânia: Mas não é certo. Vá embora, fique ao lado de sua mulher.

Tânia praticamente empurra Humberto para a porta.

Humberto: Vá ao enterro de minha filha, ou pelo menos do que restou dela. Você é uma grande... amiga e a sua presença lá vai ser muito importante.

Mitra chora ouvindo o pai dizer aquilo.

Tânia: Claro! Você também é um... amigo muito importante pra mim.

Rosinha esbarra com Mitra chorando e ouvindo a conversa.

Rosinha: O que faz aqui ouvindo a conversa da madame?

Mitra: Nada, com licença.

Rosinha estranha a reação de Mitra.

(Casa das Dançarinas):

Lívia observa Giovanna dançando com o ricaço agarradinhos e fica com ciúmes.

Lívia: Olhe, Silvia. Essa garota mal chegou e já quer se sentar na janela, alguém tem que avisar que aquele cliente é meu, só meu.

Silvia: Sossega, Lívia. Aqui não tem disso, você sabe. Bom, deu a minha hora, vê se não arruma problema, sabe como a dona Dandara é.

Dandara: Eu o que?

Silvia: Nada. Já estava de saída, com licença.

Lívia: A senhora não faz nada? Vai deixar a novata se esfregar com o meu cliente?

Dandara: Ah menos que ele pague bem caro por você, o que não é o caso, ele pode dançar e se esfregar com qualquer outra moça, inclusive a novata. Não fique aí parada, olhe, está chegando cliente.

Lívia: Aquele caipira?

Dandara: Mas que paga bem, vá!

Lívia se levanta e vai até o cliente, eles começam a dançar, dividindo o salão com Giovanna e o outro cliente.
Os casais começam a se aproximar e Lívia provoca Giovanna com o olhar; Lívia pisa no pé de Giovanna que agarra seu cabelo, as duas caem no chão se batendo e se engalfinhando. Lívia puxa um tufo de cabelo de Giovanna. Elas se levantam.

Lívia: Atirada, desavergonhada. Ele é meu cliente.

Todos do salão param para assistir a briga.

Giovanna: Não sabia que tinha cliente particular, deixe me verificar se tem um cadeado com senha.

Lívia: Cínica, rameira!

Lívia dá um tapão em Giovanna que retribui.

Lívia: Se eu sou rameira você é uma cadela, meretriz.

As duas voltam a rolar no chão se batendo.

(Mansão de Maia):

Graça e Clementino estão sentados no sofá abraçados.

Graça: Meu amor, sabe o que eu estava pensando. Dessa vez temos condições de organizar um ótimo casamento, o que acha?

Clementino: O que?

Graça: Onde está com a cabeça?

Clementino: Ah, em lugar nenhum, é que...

Clementino olha para o relógio no canto da sala e se espanta.

Clementino: Por Deus, olhe as horas! Tenho que ir, meu amor.

Graça: Durma aqui, meu bem. Só hoje.

Clementino: Não posso, não quero deixar minha avó sozinha, você sabe.

Graça: Deixe essa velha pra lá.

Clementino: Não fala assim da minha avó, você sabe que eu não gosto.

Graça: Ah, me desculpa, não quis ofender.

Clementino: Mas ofendeu. Enfim, vou indo, boa noite.

Clementino sai da casa.

Graça se encaminha para subir as escadas quando ouve um barulho e se vira assustada, ela desce as escadas e vê a janela aberta, Graça fecha as janelas e volta a subir quando vê um vulto passando, ela se volta contra o andar de cima assustada e permanece não vendo ninguém, a sala continua em silêncio, somente com o barulho do relógio, ela, mais calma, termina os degraus, quando vê Maia em sua frente, ela se assusta e rola escada abaixo.

Um close em Graça no pé da escada desmaiada.

ENCERRAMENTO.







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