Limite da Vida - Capítulo 11
Dr. César: A boa notícia é que sua noiva não perdeu o bebê, ele está bem.
Clementino: Espera! Graça está grávida?
Dr. César: Sim, meus parabéns. Bom, a má notícia é que… enfim.
Clementino: Diga logo, doutor.
Dr. César: Ela nunca mais vai andar.
Clementino coloca a mão na boca espantado enquanto o doutor se retira, deixando ele a sós com Graça.
Graça: Meu amor, que bom que veio. Só a sua força pode me ajudar.
Os dois se beijam e Clementino não consegue disfarçar a expressão de descontentamento.
Graça: O que houve? Por acaso o doutor lhe disse algo que eu não saiba? É mais grave do que parece ser?
Clementino: Não, não é nada disso, se acalme. Só fiquei preocupado com você, mas está tudo bem, eu garanto.
Graça tenta mexer as pernas, mas não consegue.
Graça: O que está acontecendo? Eu quero me sentar, não estou conseguindo.
Graça se desespera.
Graça: Clementino, meu amor. Eu não estou conseguindo me mover, me ajude. CHAME O MÉDICO, MINHAS PERNAS NÃO ME OBEDECEM.
A enfermeira entra no ambiente com um sedativo.
Enfermeira: Isso vai ser importante, descanse dona Graça, não se desespere.
Graça: EU NÃO VOU CONSEGUIR MAIS ANDAR, É ISSO?
Clementino abaixa a cabeça.
Graça: NAAAÃOOOO. ISSO NÃO É JUSTO.
Clementino começa a chorar tentando abraçar Graça que se debate.
Graça: EU NÃO MERECIA ISSO, TÃO JOVEM.
Clementino: Se acalme, Graça, pense no bebê.
Graça: Bebê? Eu estou grávida?
Clementino: Está. Apesar da queda, o bebê continua bem aí dentro e você precisa se controlar.
Graça: Não é possível, um filho? Justo agora eu estou esperando um filho de você? Em um momento tão ruim como esse?
Clementino: Nós vamos dar todo amor e carinho a ele, apesar de tudo, sejamos fortes para enfrentar esse momento difícil, ele é a luz no fim do túnel.
Graça abraça Clementino e os dois choram se consolando.
(Fazenda Poaia):
Humberto chega afoito, pulando da charrete e entrando correndo pela casa.
Humberto: MULHER, MULHER!
Catarina: Que desespero é esse, Humberto? Pra quem perdeu uma filha, está muito feliz.
Humberto: Eu não perdi a minha filha. Anda, deixa isso, vamos à cidade.
Catarina: E para quê eu iria até a cidade?
Humberto: Não discuta comigo, Catarina. Vamos comigo até a cidade, preciso te mostrar algo, mas é surpresa.
Catarina: Gostaria tanto que fosse algo bom, mas esperar o melhor de você hoje em dia está difícil, se você me decepcionar, Humberto…
Humberto: Confie em mim, é a melhor coisa que você poderia ganhar hoje, te garanto que você não faz a mínima ideia do que seja, mas é bom. Vem, meu amor.
Catarina e Humberto sobem na charrete e vão correndo para a cidade.
(Mansão de Tânia):
Mitra: Eu vou embora, não quero me reencontrar com ela, não me sinto bem fazendo isso.
Tânia: O que sua mãe lhe fez de tão grave a ponto de você querer evitar falar com ela?
Mitra: Minha mãe sempre foi muito opressora comigo, sempre reprimindo meus gostos e vontades, me tratando como uma empregada sem direitos, não me importava se não tivéssemos condições tão boas para viver, se fôssemos pobres, mas se ela me desse amor e carinho estava de bom tamanho, mas ela sempre negligenciou isso de uma forma tão grande, não consigo me lembrar de um momento feliz e leve entre eu minha mãe, sempre com posicionamentos duros e uma pose se altiva, mas o que eu queria mesmo ela nunca me deu.
Tânia: Eu sinto muito, mas apesar de tudo ela é sua mãe e eu tenho certeza que te ama, ela não merece ser enganada..
Tânia abraça Mitra e as duas choram.
Humberto e Catarina se aproximam da mansão de Tânia e Catarina começa a se preocupar, se lembrando do lugar. Humberto para a charrete em frente a mansão e desce, esperando que Catarina também desça.
Humberto: Pronto, chegamos.
Catarina: É essa a casa em que Mitra está? Essa é a mansão que a acolheu?
Humberto: Sim, é aqui, porquê?
Catarina desce da charrete e observa a mansão com uma lágrima escorrendo do seu olho.
Catarina: Não pode ser!
Catarina desmaia nos braços de Humberto.
Humberto: Catarina, meu amor. Acorda, Catarina.
ABERTURA.
Humberto carrega Catarina no colo para dentro da casa, preocupando a todos que estão dentro.
Mitra: O que aconteceu com ela?
Humberto: Eu não sei, ela estava ótima quando desmaiou aqui, na sua porta, Tânia.
Tânia: Rosinha, busque um frasco de perfume, aquele bem forte, isso vai ajudar a acordar.
Tânia coloca o frasco no nariz de Catarina que acorda assustada e se afastando de Tânia.
Catarina: Não, não, saia daqui. Eu preciso ir embora, eu não posso ficar aqui.
Catarina se levanta e dá de cara com Mitra.
Catarina: Eu estou morta? Então é isso? Mas não é possível. Mitra?
Mitra: Minha mãe, eu estou aqui, viva! Eu não morri naquele convento, eu estou viva.
Catarina abraça Mitra aos prantos.
Catarina: MINHA FILHA ESTÁ VIVA, VIVA!
As duas emocionadas, sentam no sofá se abraçando.
Catarina: O quanto eu sofri por sua causa, eu te amo, minha filha. Vamos pra casa, venha!
Mitra: Eu só volto para a casa se a senhora disser o que esconde, não adianta tentar mudar de assunto, é algo bem sério, eu sei.
Catarina: O que eu escondo? Mas eu não escondo nada.
Humberto: Diga de uma vez, Catarina! Só voltamos para casa se você contar tudo.
Mitra: E pode contar aqui mesmo pois sei que envolve a dona Tânia.
Tânia: O que?
Mitra: Conte logo, diga de uma vez por todas. Sabe que é errado esconder isso então, diga logo.
Humberto: Fale de uma vez, Catarina.
Catarina: PAREM! Eu digo. A filha da Tânia é minha filha!
Tânia: O que?
Felícia: Eu sou o que?
Catarina: Pediram para eu dizer, então eu disse. Você, menina, é minha filha.
Humberto: Conte essa história direito, como assim?
Felícia: Fale alguma coisa, mamãe. Diga que ela está mentindo, diga que tudo não passa de uma invenção.
Tânia: Não, minha filha. A senhora está certa, você não é minha filha biológica.
Felícia: Me explica isso, como tudo aconteceu?
Catarina: Eu me apaixonei por um rapaz, antes mesmo de te conhecer, Humberto. Ele era maravilhoso, uma pessoa estupenda. Mas antes do casamento, eu fiquei grávida dele, desesperado e não querendo arcar com tudo, ele fugiu para longe, até hoje não sei o paradeiro dele. Grávida e sem marido, meus pais descobriram e me botaram para fora de casa, foi aí que o bordel da dona Dandara me adotou e cuidou de mim, ela também estava grávida na época. Tive a Joana, quer dizer, Felícia, mas não tinha condições de cuidar então deixei ela enrolada em um pano que eu tinha costurado e bordado, como lembrança, na porta da dona Tânia. Ela sim teria todas as condições essenciais para cuidar de uma criança. Eu também queria ter uma vida estável e com uma criança no colo, ninguém iria querer se casar comigo, tive que cometer esse sacrifício para poder dar uma vida digna a ambas, você também merecia ser bem tratada e ter um ótimo futuro, Felícia.
Catarina se aproxima de Felícia, tentando fazer um carinho, mas ela rejeita.
Felícia: E a senhora? Não achou estranho? Me pegou assim, de repente?
Tânia: Seu pai e eu estávamos passando uma temporada na casa da serra, havia muita cobrança, principalmente de minha mãe, para que eu engravidasse, já que o tempo estava passando e não acontecia. Inclusive achamos até que poderia ser um problema de saúde, mas não, não era. Até que eu finalmente consegui engravidar, foi o dia mais feliz da minha vida quando eu descobri, mas essa felicidade não ia durar muito já que num fatídico dia que eu decidi andar a cavalo, eu caí de cima dele e perdi o bebê, aquilo marcou a gente de uma maneira tão horrível e sombria, era um sonho nosso sendo despedaçado. Voltamos para a cidade estraçalhados, com o coração em pedaços, mas quando chegamos, passou uns dois dias, um bebê em um cesto estava em nossa porta, foi como se fosse um presente de Deus nos devolvendo aquele sonho, não pensamos duas vezes e te adotamos, sua avó pensou por um bom tempo que você era a criança que eu estava esperando, mas depois que ela descobriu a verdade, dona Maia te deu mais amor e carinho ainda. Achamos triste e estranho sim uma criança ali abandonada, mas decidimos cuidar porque pensamos ser um propósito, e você também era a coisa mais fofa nesse mundo.
Felícia: E mesmo assim decidiram me largar.
Catarina: Eu já imaginava que você não aceitaria o meu perdão, e eu não lhe julgo, é uma situação bem difícil mesmo, mas eu espero um dia que você me perdoe, eu fiz tudo aquilo pensando no melhor de nós duas. As pessoas pensam que quando se é mãe tudo muda, mas não é tão mágico assim, continuamos com problemas. Desde que minha irmã partiu, um pouco depois desse fatídico dia, nós estávamos brigadas pois ela também gostava desse homem, minha vida mudou de uma maneira tão maluca, só queria ela aqui do meu lado.
Catarina começa a chorar.
Mitra: Mãe, eu estou aqui, eu te amo.
Catarina e Mitra se abraçam.
Catarina: Espero que você me perdoe por tudo que eu fiz durante todo esse tempo, eu pensei estar te ajudando, mas como sempre, errei bastante com você.
Mitra: Mãe, está tudo bem, eu te perdoo. Não precisa se cobrar tanto dessa maneira. E saiba que estou aqui para o que precisar, eu te amo.
Catarina: Vamos embora? Vamos recomeçar como uma família feliz, novamente?
Humberto: Não sei… isso que você fez, Catarina.
Catarina: Não me espanta, você só estava esperando uma oportunidade, uma desculpa para se separar de mim e correr para os braços dela.
Tânia: Olha dona Catarina, eu não tenho nada a ver com isso. Inclusive eu sempre disse ao Humberto que não era certo. Se eu fosse a senhora, não pensava dessa maneira, até porque ele te ama, eu sei disso.
Catarina: Eu sei que o que eu fiz foi horrível, mas pensei no meu lado, eu também tive motivos. Vamos, Mitra.
Felícia: Esperem! Mitra, então nós somos irmãs? Eu sempre quis ter uma irmã, ainda mais assim, tão inteligente e sábia como você, me dê um abraço.
As duas se abraçam emocionadas com todo o acontecimento.
Felícia: Eu quero muito você ao meu lado, vamos aproveitar o tempo que perdemos, vamos ser felizes.
Catarina: Você me perdoa, Humberto?
Humberto: Eu… te amo, Catarina. É claro que te perdoo.
Humberto e Catarina se beijam na boca.
Alguns meses se passam.
(Igreja):
Clementino: Ainda podemos fugir se você quiser, eu deixo a Graça aqui mesmo e podemos ser felizes, meu amor.
Felícia: Não. Se case com Graça, ela precisa de você nesse momento tão difícil, sejam felizes e faça ela feliz, não podemos ter tudo nessa vida.
Clementino: Só me deixe dar um último beijo.
Clementino e Felícia se beijam escondidos e Felícia se afasta.
Felícia: Vá para seu casamento, vá ser feliz!
Felícia chora e observa Clementino e Graça se casando.
(Convento):
Mitra vai até o convento para relembrar daquele tempo quando reencontra Giovanna ali.
Mitra: O que você está fazendo aqui?
Giovanna: Mitra? Por acaso é algum tipo de assombração?
Mitra: Eu estou viva, pensou que tivesse me matado, não é?
Giovanna: Vá embora daqui, saia da minha frente.
Giovanna corre em direção aos montes e sobe até o alto deles.
Mitra corre atrás de Giovanna.
Mitra: Temos que resolver isso aqui, nessa vida!
Giovanna: Não temos que resolver nada.
Mitra: Por que me odiava? Por que tentou me matar e prejudicar as outras noviças?
Giovanna: EU AMAVA A LÍCIA, E VOCÊ ME TIROU A POSSIBILIDADE DE ME APROXIMAR DELA, VOCÊ SÓ TROUXE DESGRAÇA AO CONVENTO.
Mitra: Mas eu também amava a Lícia, eu continuo amando ela.
Giovanna: Você como sempre me tirando do sério, eu te odeio, Mitra, ODEIO!
Giovanna corre em direção a Mitra e as duas caem do penhasco no meio das pedras ao som de Something For You.
São Paulo, 2012…
Mitra está em coma no hospital quando acorda, como se tudo tivesse sido um grande sonho.
FIM
ENCERRAMENTO AO SOM DE MISTY - LESLEY GORE
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