Alto Agito | Primeiro Capítulo | Estreia
"Esta é uma obra de ficção coletiva baseada na livre criação artística e sem compromisso com a realidade".
CENA 00. PALCO. INT. NOITE.
Escuro. Várias vozes falando ao mesmo tempo. Algumas sobressaem-se entre a bagunça formada, semelhante à um pátio de um colégio em recreio.
一 Eu quero liberdade!
一 Eu quero igualdade!
一 Eu quero ser eu!
TODOS 一 Todos nós queremos alguma coisa.
Uma luz é acesa com o FOCO apenas em LORENZO (17 anos), que dá um passo à frente.
LORENZO 一 E você? O que você quer? Liberdade é pouco, ou o que você quer ainda não tem nome?
Ele sorri. A luz branca destaca seus olhos castanhos. Tudo volta a ficar escuro novamente.
CENA 01. RUA. EXT. DIA.
Gritos. Vários adolescentes. Todos estudantes, fazem um protesto contra a demolição do colégio ARMARIM. Cartazes levantados. Policiais ameaçando avançar.
TODOS 一 (Grito) Não vai passar! Não vai passar!
POLICIAL 一 Saiam da frente ou vamos avançar!
LORENZO 一 Avançar… Taí uma palavra não atribuída ao nosso país. Retardar seria a palavra certa que se encaixaria nessa situação.
POLICIAL 一 Isso que vocês estão fazendo é baderna!
LORENZO 一 Não, isso se chama ação e reação. Newton. Vamos fazer barulho! Se eu pudesse não seria um problema social! Se eu pudesse, eu não seria um problema social!
O refrão é repetido diversas vezes. LORENZO (17), guia todo o pessoal presente no protesto.
CENA 02. CASA DE ARIADNE. INT. DIA.
NOLA (43 anos) e BELMIRO (50), assistem na TV o protesto dos estudantes, enquanto ARIADNE (17) está à mesa, tomando um suco. Ela olha de soslaio para os país.
NOLA 一 Mas olha só, que absurdo filha.
BELMIRO 一 Coisa de gente que não tem o que fazer!
Belmiro desliga a TV.
ARIADNE 一 Talvez eles só estejam lutando pelo o que acreditam.
NOLA 一 Isso é falta de Deus no coração. Estou indo ao culto filha, se cuida!
ARIADNE 一 Mãe, suponhamos que… Eu não queira seguir a religião de vocês...
BELMIRO 一 O que você quer dizer com isso?
ARIADNE 一 Uma amiga… Ela tem essas dúvidas...
NOLA 一 Então se afasta dessa menina, filha. Uma fruta podre pode contaminar o resto, mas eu confio em você. Sempre soube escolher bem suas amizades. Tchau!
Ariadne sente-se mal por um instante. Espera seus pais saírem. Bater de porta. O celular toca.
ARIADNE 一 (Off) Alô? Thalita?
THALITA 一 (Off) E aí, rola? Você vem?
ARIADNE 一 É claro que rola!
Ariadne ri, contente, pega a mochila e sai.
CENA 03. ALGUM LUGAR.BANHEIRO. INT. DIA.
Risos de garotas. Espelho riscado com batom. ARIADNE, THALITA (17 anos, loura) e outras garotas estão maquiadas fortemente, com batons de todas as cores.
THALITA 一 Toma, passa esse batom vermelho chamativo. A gente tem que causar nesse protesto.
Thalita ri. Ariadne solta o cabelo e passa o batom. Respira, aliviada.
ARIADNE 一 Minha mãe me queima viva se me pega aqui. Então, para todos os motivos…
THALITA 一 Você é Juh! Me ajuda aqui.
Thalita tira a camiseta e em seguida o sutiã.
CENA 04. RUA. EXT. DIA.
O Protesto continua a acontecer. Alunos e policiais se enfrentando. As vozes dos policiais são abafadas pela agressividade dos estudantes.
POLICIAL 一 Saiam da frente! Liberem as ruas!
TODOS 一 Nunca!
POLICIAL 一 Vamos avançar!
Todos se juntam e aguardam apreensivos. Lorenzo olha por cima dos policiais e franze as sobrancelhas.
TOCANDO: Desconstruindo Amélia 一 Pitty.
Muitas garotas seguem marchando com cartazes em mãos, combatendo não só a demolição, mas o movimento femininismo. Cartazes como:
“Nem santas, nem putas, apenas mulheres e estudantes”. Todas com os seios cobertos de tinta. Encurralam os policiais, que ficam sem saída. Thalita sorri para Lorenzo.
THALITA 一 Vocês vão ter que cortar um dobrado se quiserem calar a nossa boca.
Os policiais se encontram encurralados.
CORTA PARA.
CENA 05. RUA. EXT. DIA
LUCAS (17 anos) corre com toda a rapidez, fugindo de um carro que o persegue. Sai empurrando pessoas e coisas à sua frente. Adentra num galpão e passa a respirar, ofegante e aliviado. Atrás dele, CACO (27 anos) sorri.
CACO 一 Ora, ora.
LUCAS 一 Caco?
E vira-se assustado. Procura um lugar para correr, mas tudo está cercado por capangas.
LUCAS 一 Me deixa ir embora!
CACO 一 Mas já? Não vai ficar para a festinha?
LUCAS 一 Seu porco! Me deixa sair agora, ou eu conto tudo para polícia. Todo mundo vai saber que você é um estuprador, que violenta crianças. Todo mundo vai saber o que você fez comigo.
CACO 一 Ah, para vai, você não é mais uma criança faz tempo!
LUCAS 一 (Chora) Mas eu era! Até você me tirar isso. Quantas vezes você jogou esse papo de babá, de bom moço que “cuida” das crianças enquanto os pais vão para o trabalho, han? Quantas? Você não é gente!
CACO 一 Você deveria ser mais gentil comigo, ser mais generoso com a pessoa que sempre te deu carinho.
LUCAS 一 Vai pro inferno! O que você quer mais de mim? Me deixa ir embora!
CACO 一 Escuta, você é meu preferido. Se você colaborar e for bonzinho comigo, eu posso te oferecer tudo, Lucas, mas… Se você preferir e por um caminho mais longo e ficar de malcriação, eu vou ter que ser um pouco mais severo nos castigos.
LUCAS 一 Não faz isso, Caco, por favor!
CACO 一 Lembra? (Cochicha) bonzinho…
Caco pega no braço de Lucas e o guia até uma porta, um cativeiro com uma cama, ele o põe lá e fecha a porta.
LUCAS 一 Não, por favor…
CENA 06. RUA. EXT. DIA
TOCANDO: Cálice 一 Pitty
CÂMERA LENTA. Gás lacrimogêneo por toda a parte. Barulhos de tiro de borracha e jovens gritando e correndo. Alguns caem. As ruas estão interditadas. Um carro preto para no meio de toda a bagunça e caos. Um homem, ADALBERTO (46 anos) abre o vidro da porta do passageiro e avista Thalita e retira os óculos.
ADALBERTO 一 Thalita?
Adalberto desce do carro e entra no meio do furdúncio, tossindo bastante, em desespero. Tira o paletó e joga em Thalita, a puxando pelo braço.
ADALBERTO 一 O que você está fazendo aqui? Ficou louca? Vem, vamos para a casa agora, anda!
THALITA 一 (assustada) Eu não vou a lugar nenhum.
ADALBERTO 一 Thalita, eu não vou repetir duas vezes. Agora! Eu sou seu pai.
THALITA 一 Você não manda em mim! Solta meu braço!
ADALBERTO 一 Você me respeita!
Adalberta levanta a mão para bater em Thalita.
THALITA 一 Isso, mostra pra todo mundo o homem violento que você é! O que é que é? Vai me bater? Igual você fazia com a mamãe, seu covarde. Me bate, anda!
Adalberto sacode Thalita e continua com a mão levantada. Em outro ponto do protesto, Ariadne tenta fugir, mas se depara com seus pais dentro de um táxi, ela vira-se e respira fundo, apavorada.
ARIADNE 一 Ai meu Deus… O que é que eu faço agora?
Ela tenta olhar para trás , sem coragem. Em outro ponto, Lorenzo discute com um policial.
POLICIAL 一 Você está preso!
LORENZO 一 (Raiva) Por lutar por meus direitos enquanto esses sanguessugas estão roubando o país e comprando propriedades com o nosso dinheiro?
POLICIAL 一 Por desacato a autoridade!
LORENZO 一 Um bando de gente que querem calar a boca do povo com força bruta e impedir que os alunos impeçam uma escola de ser demolida? Para mim, isso não é autoridade nenhuma!
Lorenzo ia sair, mas o policial põe o pé no meio e Lorenzo cai. Imediatamente o policial iria lhe acertar o cacetete. A cena congela estilo “Manequim Challenge”. Em destaque, Thalita, Ariadne e Lorenzo, ambos com seus problemas.
FIM DO
CAPÍTULO | EVERTON B DUTRA
OBRA REGISTRADA E PROTEGIDA PELA LEI N° 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO, DE 1998. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.

Nenhum comentário:
Postar um comentário