Alto Agito | Capítulo 03
"Esta é uma obra de ficção coletiva baseada na livre criação artística e sem compromisso com a realidade".
Continuação do Capítulo Anterior…
CENA 01. MANSÃO DE THALITA. INT. DIA.
Thalita se encontra sentada na cama. Cotovelos apoiados nas pernas cruzadas. Boceja, enquanto Adalberto fala.
ADALBERTO 一 Francamente. Foi cúmulo!
THALITA 一 Já acabou o sermão da montanha?
ADALBERTO 一 Impressionante como você não me dá ouvidos. Thalita, eu sou seu pai!
THALITA 一 Mas parece que você se esqueceu disso por muito tempo.
ADALBERTO 一 É, eu posso ter sido um pai na ausente, sim.
THALITA 一 Ausente? Você foi muito mais que isso. Enquanto a minha mãe tentava transformar você em um rei de conto de fadas pra mim, você se enfiava num maldito escritório e quando saia de lá, bem, você já sabe...
ADALBERTO 一 Eu nunca te bati, Thalita! O incidente com a sua mãe foi um caso isolado.
THALITA 一 Você pode não ter me agredido físicamente, mas não existe só uma forma de agressão, não, seu Adalberto. Eu posso te lembrar, mas se bem que não vai adiantar muita coisa. O inalcançável Adalberto Veronesi! Cuidou da vida de todo mundo e esqueceu de cuidar da própria vida… Bem típico seu.
ADALBERTO 一 Você não sabe o quanto me dói lembrar disso. O que aconteceu com a gente? Thalita, quando eu peguei você nos meus braços… Aquela coisinha pequena, que parecia uma bonequinha… Você continua sendo a coisa mais importante da minha vida.
THALITA 一 (Contendo as lágrimas/Mudando o assunto) Não pode me proibir de ver o Lorenzo.
ADALBERTO 一 Eu não vou fazer isso. Não vai caber a mim fazer o papel do vilão que você criou na sua mente. Mas hoje você não sai de casa!
Adalberto sai. Bate a porta. Thalita se joga na cama, agarra seu celular e tenta se distrair.
THALITA 一 É ruim que não vou sair.
Pensa em Lorenzo e sorri.
CENA 02. CASA DE LORENZO. EXT. DIA.
Uma mão bate à porta. Algum tempo depois, é aberto por Lorenzo. A pessoa que está de costas, vira-se. Revela Lucas, com semblante triste e cara de quem chorou a noite toda.
LUCAS 一 Oi.
CENA 03. CASA DE ARIADNE. INT. DIA.
Ariadne, sentada no sofá, lendo um livro, acaba pensando em Leonardo subitamente, mal escutando seus pais que lhe falavam alguma coisa.
NOLA 一 Filha? Ouviu o que nós dizemos?
ARIADNE 一 O que? Desculpa, eu… Tava pensando na volta às aulas.
BELMIRO 一 Bem, o dia da seu batizado à nossa religião é amanhã. O que você sente?
Uma ponta de tristeza passa por Ariadne, mas ela disfarça e dá um sorriso forçado.
ARIADNE 一 Eu sinto uma imensa felicidade… É tudo que eu sempre quis.
Uma mensagem chega em seu celular. Ela agarra e lê.
ARIADNE 一 (Off) Rolê hoje? Thalita.
Ela sorri.
ARIADNE 一 Mãe, pai, tô indo.
NOLA 一 Para onde? Você não nos falou nada.
ARIADNE 一 Uma amiga está precisando muito da minha ajuda. Ela tem problemas com a família, a coitadinha. Foi até lá orar por ela para que tudo melhore.
BELMIRO 一 Vai sim, filha, vai… Leve paz de espírito para essa garota.
ARIADNE 一 Pode deixar. Ela vai se sentir, oh… Renovada. Tchau.
Ariadne sai.
CENA 04. MANSÃO DE THALITA. INT. DIA
Thalita desce as escadas e encontra o pai tomando café. Ele a olha, esperando alguma palavra sair de sua boca. Sem sucesso, ele devolve a xícara de café ao pires.
ADALBERTO 一 Não vai tomar café, filha?
THALITA 一 Tô sem fome.
Thalita se aproxima da cadeira onde o paletó do pai está apoiado e finge um quase desmaio, esbarrando na cadeira e derrubando o paletó. A chave do carro que estava no bolso, cai, ela sorri, sarcástica.
Adalberto levanta-se rapidamente e segue para ajudá-la.
ADALBERTO 一 Filha, você está bem?
THALITA 一 Acho que foi uma tontura… Pensando bem, eu vou tomar café sim.
ADALBERTO 一 Você precisa se cuidar melhor. Todas essas nossas brigas não devem estar te fazendo bem… Como está agora?
THALITA 一 Sim. Acho que sim. Estou um pouco melhor.
ADALBERTO 一 Vou preparar alguma coisa para você comer. Eu já volto.
Adalberto apanha o paletó e some . Thalita aguarda um pouco e em seguida para a caçar a chave. Acha. Sorri e sai correndo para fora de casa. Toma cuidado para não fazer barulho ao trancar a porta.
CENA 05. MANSÃO DE THALITA. EXT. DIA.
TOCANDO: That’s My Girl- Fifith Harmony.
Ariadne e Thalita adentram no carro, batendo as portas. Ambas se entreolham.
THALITA 一 Pronta?
Ariadne, acabando de retocar o batom e soltar o cabelo, diz:
ARIADNE 一 Eu já nasci pronta meu amor!
Thalita buzina e arranca em alta velocidade. As duas riem.
CENA 06. CASA DE LORENZO. SALA. INT. DIA.
Lucas se encontra sentado no sofá, segurando uma xícara de chá, enquanto conversa com Marta. Ele balança a perna constantemente, ansioso.
LUCAS 一 Obrigado por ter me deixado ficar aqui por uns tempos.
MARTA 一 Imagina… Eu e sua mãe éramos melhores amigas.
LUCAS 一 Ela me contou.
MARTA 一 Bom… Você pode pôr suas coisas no quarto do Lorenzo enquanto eu arrumo o outro pra você.
Lucas assente. Triste.
CENA 07. CASA DE LORENZO. QUARTO. INT. DIA.
Lucas, já no quarto, observa as fotos de Lorenzo quando pequeno. Sorri. Pega um retrato e observa. Atrás dele, Lorenzo, adentra no quarto e fecha a porta. Não percebendo que Lucas está. Tira a toalha em que estava enrolado, ficando completamente nú. Lucas vira-se. Os dois se assustam. Lucas deixa cair o quadro, que se quebra. Eles se entreolham, nervosos.
TOCANDO: Nós 一 Anavitória.
CENA 08. ESTRADA. EXT. DIA.
Thalita dirige o carro com o som alto.
TOCA: Little Mix 一 Black Magic. As duas cantam. Ariadne levanta-se e observa tudo pelo teto panorâmico do carro, sorri, com os cabelos ao vento. Logo mais à frente, ela avista uma Blitz e rapidamente põe-se para dentro do carro novamente.
ARIADNE 一 Amiga… Uma Blitz.
THALITA 一 O que?!
Thalita para o carro e fica perplexa com o movimento dos fiscais.
ARIADNE 一 (Nervosa) E agora? Thalita…
Um policial chega perto. Thalita abaixa o vidro.
FISCAL 一 Identidades, por favor.
Thalita e Ariadne entreolham-se, perplexas.
CENA 09. CASA DE LORENZO. QUARTO. INT. DIA.
Lucas e Lorenzo continuam atônitos. Lucas vira de costas, nervoso., enquanto Lorenzo agarra a toalha do chão.
LUCAS 一 Desculpa, eu não sabia…
LORENZO 一 (Grita) Sai daqui!
LUCAS 一 Eu não sabia mesmo…
LORENZO 一 Sai!
Lucas estremece e fica bastante envergonhado, pega a sua mochila e sai do quarto o mais rápido que pode. Lorenzo bate a porta, enraivecido e se abaixa para ver o retrato caído.
= = CORTE DESCONTÍNUO = =
Lucas respira fundo, nervoso. Em seguida sai andando rapidamente.
CENA 10. DELEGACIA. INT. DIA
Thalita e Ariadne se encontram sentadas, enquanto Adalberto conversa com o delegado.
ARIADNE 一 Thalita, se meus pais souberem disso eu tô ferrada. Como é que vão me liberar se eu sou menor? Meus pais teriam que vir à delegacia.
THALITA 一 Calma! Eu vou dar um jeito (Grita) Pai! Anda logo, eu e a minha IRMÃ estamos cansadas!
ADALBERTO 一 (Ao delegado) Um momentinho.
Adalberto segue até onde as duas estão.
ADALBERTO 一 Que história é essa de irmã, Thalita?
THALITA 一 Os pais da Ariadne são muito religiosos, se eles descobrem que a Ariadne foi apreendida… É tipo, o fim.
ADALBERTO 一 Pensasse nisso antes de entrar num carro com uma maluca como você!
THALITA 一 Pai, por favor. Me põe de castigo, eu fico em casa a semana inteira, eu faço tudo que o senhor quiser.
ADALBERTO 一 Mentir para um delegado, Thalita, você ficou louca? Ah, não sei por que eu pergunto.
THALITA 一 Eu nunca te peço nada. Estou te pedindo agora.
ADALBERTO 一 Bem se vê que não pede mesmo, levando em consideração que é o meu carro que está apreendido.
Adalberto pensa um pouco, respira fundo e responde.
ADALBERTO 一 Uma semana sem sair de casa e sem internet (Grita ao delegado). E então seu delegado, as minhas filhas estão liberadas?
CENA 10. CASA DE LORENZO. INT. DIA.
Lorenzo bate na porta do outro quarto, à frente do seu. Ele procura palavras antes de poder, de fato, falar.
LORENZO 一 Ei… Lucas seu nome, né? Cara, desculpe por hoje. Eu acabei me exaltando demais… Você está aí?
Lorenzo abre a porta e se assusta quando não vê ninguém.
LORENZO 一 Ah, não… A mamãe vai me matar
Lorenzo se apressa e sai correndo.
CENA 11. RUA. EXT. NOITE.
Ariadne anda na rua e pensa no que seus pais lhe disseram hoje cedo:
”O dia do seu batizado à nossa religião é amanhã”. Ela para de andar, roendo as unhas.
ARIADNE 一 Eu não quero isso… Não quero.
Pensando, um pouco amedrontada, Ariadne esconde-se num beco e respira fundo.
ARIADNE 一 Coragem, Ariadne, coragem. Com certeza seria algo que a Thalita faria.
Ariadne rasga parte de sua blusa, bagunça o cabelo e se arranha toda. Em seguida, dá sucessivos tapas em seu próprio rosto.
CENA 12. PRAIA. EXT. NOITE.
Lucas está sentado nas areias da praia. O vento sopra seu rosto. Ele chora e respira fundo, observando o movimento das ondas calmas do mar.
LUCAS 一 Pra onde é que eu vou? Ai, mãe… Como a senhora faz falta.
Uma mão pega em seu ombro. Ele vira-se e se levanta, assustado.
LUCAS 一 O que você está fazendo aqui?
CACO 一 Vim te ver, ou você achou que tinha se livrado de mim, assim, tão rápido. Sabe aquilo que você fez comigo na sua casa? Pois é, eu não gostei muito. Não foi legal.
Lucas recua e tenta fugir, mas Caco o segura.
LUCAS 一 Me solta!
Lucas dá um soco na cara de Caco.
CACO 一 Isso, bate mais. Eu vou te levar para um lugar onde a gente vai poder brincar a vontade e você vai poder me bater quantas vezes quiser.
LUCAS 一 (Chora) Me solta.
Caco puxa Lucas pelo braço.
CENA 13. CASA DE ARIADNE. INT. NOITE.
Ariadne acaba de adentrar em casa, fingindo choro e toda machucada. Nola e Belmiro, sentados no sofá, levantam-se, esbaforidos.
NOLA 一 Filha, mas o que é que houve?
BELMIRO 一 Filha, o que aconteceu?
ARIADNE 一 Eu fui assaltada, mãe… Como eu não tinha nada para dar, eles me bateram… Foi horrível.
NOLA 一 Calma, filha, calma!
BELMIRO 一 A gente vai a polícia agora, isso não pode ficar assim.
ARIADNE 一 NÃO! Quer dizer… Eu nem vi a cara dos bandidos, não vai adiantar em nada… Mãe, pai, me desculpem… Eu não vou poder ir para o batizado amanhã. Eu não tenho condições emocionais. Eu tô com muito medo.
Ariadne chora bem alto e finge desespero e soluço.
NOLA 一 Calma, filha. Quanto tempo você precisar para se recuperar.
BELMIRO 一 É claro, imagina. Estamos aqui para o que der e vier.
Ariadne os abraça e sorri, aliviada. Depois, volta a chorar.
CENA 14. FLORESTA. INT. NOITE.
Caco leva Lucas até uma floresta e o larga no chão com violência.
LUCAS 一 O que você vai fazer comigo? Caco, me deixe sair daqui! Seja lá no que estiver pensando, é loucura!
Lucas tenta fugir, mas Caco o agarra e o encurrala contra uma árvore, furioso, o sacode com força.
CACO 一 Você só vai sair daqui quando eu quiser, entendeu?
CENA 15. MANSÃO DE THALITA. QUARTO. INT. NOITE
Thalita está com o telefone no ouvido, ansiosa. Ela caminha de um lado para o outro, roendo as unhas.
THALITA 一 Ai, Lorenzo, por que você não está me atendendo, heim? Atende.
Thalita põe o celular no lugar.
THALITA 一 tô sentindo algo muito ruim.
Thalita senta - se na cama, preocupada.
CENA 16. FLORESTA. INT. NOITE.
CACO 一 Para de ficar se debatendo e gritando, ninguém vai te ouvir aqui!
LUCAS 一 Você pode fazer o que quiser comigo depois, mas eu não vou satisfazer os seus desejos!
Lucas chuta Caco e sai correndo.
TOCANDO: BOP 一 Raimundos.
Caco corre atrás de Lucas, com raiva, conseguindo alcançá-lo. Lucas se debate com ódio e grita, consegue se soltar e dá um soco em Caco, seu nariz sangra. Lucas encara Caco, que toca o sangue no nariz.
LUCAS 一 Vai pro inferno!
CACO 一 Desgraçado!
Caco aperta o pescoço de Lucas com muita força. Lucas tenta se debater, mas aos poucos fraqueja com falta de ar. Estava perto de apagar quando Caco é acertado por uma paulada na cabeça. Lucas cai, fraco no chão. Revela Lorenzo, segurando um pedaço de madeira grossa nas mãos. Percebendo um movimento de Caco, quase inconsciente, Lorenzo desfere mais um golpe em sua cabeça.
LUCAS 一 Como… Você…?
LORENZO 一 Eu segui vocês da praia até aqui. Vi de longe a cena. Quem é esse cara?
LUCAS 一 Obrigado!
Lucas e Lorenzo se abraçam. Lucas, meio ao choro, sorri, nos braços de Lorenzo, que se encontra confuso.
= = CORTE DESCONTÍNUO = =
Logo o local está cercado de policiais e viaturas. Lucas está junto de Lorenzo, perto de uma viatura, enquanto observa Caco ser aprisionado e levado até junto da viatura.
CACO 一 Você vai me pagar, seu idiota! Você vai se arrepender!
LORENZO 一 Acabou pra você, seu psicopata! Você vai apodrecer na cadeia.
Caco é colocado para dentro da viatura. O policial segue até os dois garotos.
POLICIAL 一 Como já está um pouco tarde. Peço para que compareçam amanhã na delegacia para prestar depoimentos. Preferem que eu os leve para casa?
LUCAS 一 Na verdade, eu queria passar num lugar antes.
LORENZO 一 Eu ligo para a minha mãe. Ela virá nos encontrar.
POLICIAL 一 Eu os acompanho até a saída da floresta.
CENA 17. PRAIA. EXT. NOITE.
Lorenzo e Lucas se encontram distantes um do outro. Lorenzo olha um instante para Lucas, observando o mar, distraindo, enquanto carrega um semblante sereno no rosto.
LORENZO 一 Desculpa.
LUCAS 一 Pelo o que?
LORENZO 一 Eu não costumo tratar as pessoas como eu tratei hoje cedo.
LUCAS 一 Era do seu pai?
LORENZO 一 O que?
LUCAS 一 O retrato. Era você e ele?
LORENZO 一 Ele abandonou a minha mãe no parto. E eu tenho que olhar todo dia para aquela foto pra lembrar que eu nunca vou ser igual a ele.
Lucas esfrega os braços, com frio. Lorenzo tira o casaco que estava usando, vai até Lucas e o enrola, em seguida senta-se ao seu lado. Um minuto de silêncio.
LUCAS 一 Eu também sinto saudades da minha mãe.
LORENZO 一 Quem sabe elas não viraram estrelas? Me alivia pensar assim.
LUCAS 一 É… Quem sabe? Seu perfume.
LORENZO 一 (Ri) O que tem ele?
LUCAS 一 Me trás paz… Assim como esse lugar. Por isso quis vir pra cá. Uma calmaria que há muito tempo não sen
tia.
Lucas, sem perceber, encosta sua cabeça no ombro de Lorenzo, que se surpreende, mas depois sorri e o abraça.
TOCANDO: Nós 一 Anavitória
FIM DO CAPÍTULO | EVERTON B DUTRA
OBRA REGISTRADA E PROTEGIDA PELA LEI N° 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO, DE 1998. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
.

Nenhum comentário:
Postar um comentário