Criado
e Escrito por LUCAS GARCIA
CAPÍTULO 08
Cena 01: Floricultura.
Interior. Tarde.
SONOPLASTIA: Somewhere Over The
Rainbow– Instrumental
ISOLDA
também escuta o homem falar e sorri, ela sente a leveza daquele lugar, sente-se
livre, estava à vontade. Num determinado momento ela tira os sapatos, vai
andando mais apressada, ABNER
estranha a atitude, mas permanece em silêncio, observando-a, então, ela passa a
correr entre os corredores, rindo, sorrindo, como um pássaro solto, um estado
de graça toma-a, assim, ela começa a girar, deixando seu vestido solto aos
movimentos.
ISOLDA:
(encantada) – Que delícia, o aroma
das flores – suspira - estou
felicíssima!
ISOLDA
corre em direção a ABNER, que estava
de braços cruzados, boquiaberto, olhando-a, ela então, descruza os braços dele
e o puxa, segura as mãos dele.
ISOLDA:
(encantada) – Esse lugar me trouxe
boas lembranças, o cheiro da minha infância, quando corria pelo jardim florido
da casa de meu pai, na capital, que bons tempos – uma lágrima escorre – aliás, fizeste tudo isso por mim, e mal
perguntei seu nome!
ABNER:
(emocionado) – Enfim, agora consigo
me apresentar, sou ABNER!
ISOLDA:
(encantada) – Estava com medo do que
iria me apresentar, agora posso ter a certeza, me ajudaste! – outra lágrima escorre – És a primeira
pessoa que conheci nesta cidade, já sinto paz, uma paz verdadeira, genuína!
Todos esses dias fiquei presa dentro de minha casa, sequer ver a cor do céu,
ouvindo as afrontas de minha madrasta e agora, repentinamente me vejo neste
lugar, tão lindo, único!
ABNER:
(emocionado) – Não imaginava que
aqui lhe faria tão bem, estou piamente surpreso com sua reação.
ISOLDA
sem pestanejar abraça ABNER, que
fica incrédulo, trêmulo, mas abraça a mulher, ficam segundos abraçados, se
afastam, se encaram de forma carinhosa, sorridentes um ao outro.
ISOLDA:
(encantada) – Abner, me proporcional
o melhor momento desde que chegou nesta cidade!
ABNER:
(emocionado) – Estou totalmente
disponível em ajuda-la, será um prazer ter sua amizade!
ISOLDA:
(encantada) – Pois o prazer será
todo meu!
ISOLDA
abraça novamente ABNER, que fica
todo envergonhado, no mesmo instante, enquanto eles se afastavam e se olhavam, MARICOTA entra na estufa, ela berra:
MARICOTA:
(arrepiada) – MESERICÓRDIA!
MARICOTA
simula um desmaio, mas ABNER corre
acudi-la, segura-a, ela fica pasma, encarando ISOLDA.
MARICOTA:
(assustada) – De hoje você não
passa!
MARICOTA
corre beliscar ISOLDA, que resmunga
com a atitude da mulher e passa a mão no braço, incomodada.
MARICOTA:
(inconformada) – Não é possível,
você realmente existe!
ABNER:
- Maricota, calma, ela não é quem você está pensando, o nome dela é Isolda,
chegou recentemente aqui, trouxe-a para conhecer – pondo-se ao lado da mulher – acredito que tenha entendido!
MARICOTA:
(chocada) – Entender, entender, não
sei muito bem, mas só de saber que não é o espírito dela já me alivia – gargalhadas – mulher, me deu um susto,
meu Deus!
ISOLDA:
(surpresa) – Espero não estar
incomodando, acredito que era isso mesmo que precisava conhecer, Abner, com
licença!
ISOLDA,
se retira sorrateiramente da estufa, ABNER
fica desnorteado, mas decide não ir atrás, MARICOTA
encara o homem.
MARICOTA:
(curiosa) – Onde achou essa mulher?
Eu já a vi na rua, achei que era coisa da minha cabeça.
ABNER:
(desconfiado) – A conheci a poucos
dias, hoje consegui trazê-la aqui, mas enfim, e você por qual motivo veio aqui,
posso ajuda-la?
MARICOTA:
(desconfiada) – Oras, vim pedir para
que separe alguns arranjos, “seu” Júlio irá doar algumas flores para a igreja.
ABNER:
- Avise o senhor Hans que irei providenciar isso.
MARICOTA:
(provocativa) - Que bom, pois se ele
souber que andas por aí, conhecendo pessoas no horário de trabalho, ficará
zangado – ela entrega uma lista para
ele, que pega e observa – tenho certeza que Hans ficará zangado... muito
zangado!
ABNER:
(irônico) – Seus mexericos não me
atingem, Hans sabe muito bem que ajudo na biblioteca, e aqui na floricultura
trabalho apenas com encomendas.
MARICOTA:
(sarcástica) - Enfim, vou-me indo,
até logo.
ABNER
sorri forçadamente, a empregada se retira, deixando-o encabulado.
ABNER:
(pensamento) – Era só o que me faltava,
essa futriqueira levar ao conhecimento de Hans que viu Olívia aqui.
ABNER
respira fundo, lê atentamente a lista de flores e anda vagarosamente em busca
de cada uma delas.
Cena
02: Casarão de Herculano. Sala de estar. Interior. Tarde.
ISOLDA
adentra a mão maravilhada, em estado de graça, fecha a porta e põe-se de
costas, sentia-se leve, diferente de todos os dias desde que chegara na cidade.
ISOLDA:
(pensativa) – Fizeste muito bem a mim, Abner, muito bem!
ISOLDA
caminha em direção ao sofá, senta-se, olha para os móveis da sala, sorri, de
repente escuta os passos de JOCASTA pela escada, logo aproxima-se
desfazendo toda a alegria que sentia.
JOCASTA:
(sarcástica) – Ficou receosa em voltar depois do marido? Estava com medo
de ser punida?
ISOLDA:
(irônica) – Como disse, era algo rápido, não precisava me preocupar – levantando
– porém, irei iniciar os preparativos para o jantar, aposto que Herculano
chegará faminto.
ISOLDA
passa por JOCASTA que avidamente segura seu braço, ambas se encaram,
frias.
JOCASTA:
(nervosa) – Não deixe se enganar, sei muito bem o que vossa digníssima e
seu ilustríssimo marido tem planejado, podem desistir!
ISOLDA:
(intrépida) – Chega, solte-me, não temos mais nada a dizer quanto a
isso, meu marido decidirá se permanecerá ou não nesta casa – soltando-se
bravamente da madrasta – suas insolências beiram o ridículo, chega!
JOCASTA:
(nervosa) – Durmas com a verdade, pois se com mentiras se deitar, sem
lábios acordará!
ISOLDA:
(irritada) – Faça-me o favor, não me venhas com esses jargões, deixe-me
em paz!
ISOLDA
anda em direção a outro cômodo, então, JOCASTA profere uma gargalhada
sinistra, arrepiando totalmente a enteada, que paralisa no corredor.
JOCASTA:
(sarcástica) – As vezes, fico lembrando do quanto era atormentada quando
criança, de quando aprontava para me afrontar, mentia ao meu respeito para seu
pai sempre lhe dar atenção, sua estúpida! – gargalhadas – você se
comportou como uma menina solta, sem rédeas, sem regras, seu pai foi muito
frouxo com você, também, cresceu sem a mãe, não era de menos.
ISOLDA
ao ouvir as últimas palavras tem um ataque de fúria, volta-se para a madrasta e
fica cara a cara.
ISOLDA:
(intrépida) – Não ouse falar de minha mãe! – apontando – deixe-me
em paz!
JOCASTA:
(sarcástica) – O que demais sua mãe fez por você para defendê-la com
tanto vigor? – gargalhadas – aliás, até hoje me arrependo de ser o
motivo da separação delas, seu pai era tão bobinho, sua mãe uma pata-choca,
igualzinha a você!
ISOLDA:
(irada/aos berros) – CALE A BOCA!
SONOPLASTIA: Tenso Stereoflute (Mu
Carvalho) - Instrumental
ISOLDA
desfere um tapa no rosto de JOCASTA, que com o impacto é lançada ao
chão, ambas ficam incrédulas, uma olhando para a outra. ISOLDA, passa tremer, não entende o tamanho da coragem que teve ao
enfrentar a madrasta.
ISOLDA:
(trêmula) – Jocasta, eu não queria
fazer isso, foi por impulso, me perdoe – estendendo
a mão – venha, te ajudo a levantar.
JOCASTA não
retribui a mão, levanta-se, apoiando-se nos móveis, em nenhum momento olha para
a cara da enteada, desvia-se lentamente, com um semblante abatido, e sobe a
escada, extremamente silenciosa.
Cena 03: Mansão de Hans.
Sala de estar. Interior. Tarde.
MARICOTA adentra
a grande residência pela porta da frente, GARDÊNIA
e JÚLIO se assustam.
MARICOTA:
(ofegante) - "Seu" Júlio,
hei falar coisas que vi e não é coisa da minha cabeça, pois estou muito lúcida!
GARDÊNIA:
(furiosa) - Já não disse que nunca
deveria entrar pela porta da frente?
JÚLIO:
Não se preocupe Maricota, diga, o que vistes?
MARICOTA:
Juro, juro - respira fundo - encontrei a
mulher que o senhor viu, e não é espírito, ela existe!
JÚLIO
se levanta em fração de segundos do sofá, reclina-se em direção à empregada.
JÚLIO:
(perplexo) – Pois, então, diga-me,
quem é essa mulher?
MARICOTA:
(irônica) – Ela é amiga de Abner,
inclusive, se me permite - tosse forçada - ele a levou para conhecer a
floricultura, pelo rosto, percebo que gostou do que viu.
GARDÊNIA:
(irada) – Tenha a santa paciência,
pare de inventar mentiras!
MARICOTA:
(sarcástica) – Não sou como a
senhora, viu dona Gardênia, hei de me contentar com a verdade - tosse novamente
- então, "Seu" Júlio, se estiver com dúvidas, chame o Abner!
JÚLIO:
(perplexo) - Não tenho dúvidas, além
do mais, eu a vi, não tenho do que contestar.
Nesse
instante, SALAZAR vem caminhando
para a sala de estar, aparentemente vinha da cozinha, JÚLIO exclama.
JÚLIO:
Salazar, é contigo mesmo que preciso falar, preciso que envie um recado para
Abner, peça que ele compareça impreterivelmente amanhã a noite em minha
residência, faço questão que ele venha e peça para ele trazer a amiga dele – desvia-se para Maricota – qual o nome
dela?
MARICOTA
faz cara de estranhamento.
MARICOTA:
(duvidosa) – “Seu” Júlio, me pegou desprevenida,
não me recordo – colocando as mãos nos
lábios – Inara... Isaura... Iara... Inácia... meu Deus, não me lembro!
JÚLIO:
- Não importa, peça que ele venha com a amiga que apresentastes à Maricota,
preciso conversar com ambos!
SALAZAR
assente positivamente com a cabeça, enquanto MARICOTA e GARDÊNIA se
encaram, estranhando a atitude do patrão.
Cena 04: Escritório de
Donato. Interior. Tarde.
DONATO
estava sentado em frente à mesa de HERCULANO,
ele repara na enorme pilha de papéis que ali estavam expostos.
HERCULANO:
(inquieto) – Então, é aqui... em seu
escritório que iremos tomar o gin?
DONATO:
(rindo) – Nobre, em qual local
acharias que um homem, tão afortunado como eu tomaria um gin e faria negócios?
HERCULANO:
(assustado) – Negócios? Do que o
senhor está falando? – levantando-se –
não tenho negócios a fazer, com licença!
DONATO:
(irônico) – Não ouses sair dessa
sala, pode se arrepender amargamente!
DONATO
abre a gaveta de sua mesa, pega algo que HERCULANO
não consegue enxergar, o contador demonstra um semblante diabólico ao homem, o clima naquela sala torna-se
intransponível.
Encerramento


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