“TEIA DE SEDUÇÃO”
Novela criada e escrita por
Susu Saint Clair
Capítulo 01
CENA 01: BERGMANN PRIVÉ - MANHÃ
A loja de roupas finas, Bergmann Privé, exala luxo e exclusividade. As vendedoras sempre impecáveis, deslizam de um lado para o outro, atendendo clientes exigentes, enquanto nossa protagonista, JAQUELINE (28), vestida com sua melhor postura, luta para manter a confiança. SUSANE (54), secretária da diretora da loja, aproxima-se sorrateiramente e sussurra em seu ouvido.
SUSANE: A dona Gisela quer falar com você.
Jaqueline engole seco.
JAQUELINE: E ela disse o motivo?
SUSANE: Não. E boa sorte. Você vai precisar.
CORTA PARA:
SALA DA DIRETORIA
A sala da diretoria tem o mesmo luxo da loja, porém, com um toque gélido e intimidador.
GISELA VON BERGMANN (46), imponente em seu tailleur impecável, está de costas para a porta, observando a vista panorâmica da cidade. Batidas na porta. Ela se abre. Susane entra, acompanhada de Jaqueline.
SUSANE: Com licença, dona Gisela.
Gisela vira-se lentamente.
GISELA: Pode ir, Susane.
A funcionária fecha a porta atrás de si. Gisela pousa seu olhar afiado em Jaqueline, que está apreensiva.
JAQUELINE: A senhora queria falar comigo?
Gisela desliza as mãos sobre um monte de relatórios na mesa, analisando-os com desinteresse.
GISELA: Seu desempenho tem sido decepcionante.
JAQUELINE: Não tenho me dedicado ao trabalho tão bem ultimamente, dona Gisela, mas é porque as coisas não estão fáceis pra mim. A minha mãe e eu estamos prestes a ser despejadas por causa dos aluguéis atrasados, eu não tenho tido cabeça para/
GISELA: (corta) O que acontece fora dessa loja não é problema meu. O único problema aqui é você!
JAQUELINE: Dona Gisela, eu só preciso de mais uma chance. A senhora sabe que eu sempre fui uma das melhores vendedoras daqui.
GISELA: E justamente por isso que sua queda é tão decepcionante. Mas sabe o que é pior do que uma vendedora ruim, Jaqueline?
Ela se levanta e se aproxima.
GISELA: Uma vendedora ruim que ainda acredita ser boa.
Silêncio cortante.
GISELA: A verdade é que você não tem mais lugar aqui. Você está demitida! Desça, passe no RH, acerte suas continhas e vá embora. Eu não quero mais olhar pra sua cara.
Jaqueline arregala os olhos.
JAQUELINE: A senhora não pode fazer isso comigo!
GISELA: Claro que posso! Eu sou a dona dessa loja!
Gisela volta para trás da mesa, pega uma caneta e assina um dos papéis.
GISELA: Agora me faz um favor: suma da minha vista!
Jaqueline se corrói por dentro.
JAQUELINE: A senhora está sendo injusta comigo. Fui a melhor vendedora daqui cinco vezes!
GISELA: (solta um riso de deboche) E hoje você é igual um acessório ultrapassado: sem brilho, sem valor, e nem tem etiqueta para que eu possa dar um desconto.
JAQUELINE: Você vai pagar caro por isso, dona Gisela!
GISELA: “Caro” é um conceito de gente pobre que não tem onde cair morta. Agora saia. E saia bem rápido, porque não quero que ninguém pense que deixo uma qualquer como você entrar na minha sala.
Jaqueline encara Gisela pela última vez antes de sair batendo a porta com força.
CENA 02: MANSÃO DOS PASSARELLI - QUARTO DE AFONSO - MANHÃ
AFONSO (23) e VOLNEY (23) estão deitados. Afonso analisa cada detalhe dele, suspirando.
AFONSO: Até quando eu vou precisar te dividir com a sombra do teu próprio medo? Eu sou só um refúgio pra você, né? Uma fuga. Algo que só existe quando essa porta está fechada.
Volney olha para ele, e surpreso, se endireita, apoiando-se no cotovelo.
VOLNEY: Isso não é verdade. Você sabe que não é.
AFONSO: (ri, amargo) Será que sei mesmo? Porque quando eu tô com você, eu sinto que sou tudo, mas quando essa porta se abre, eu não sou ninguém.
VOLNEY: (passando a mão pelo rosto dele) É só uma questão de tempo, meu amor.
AFONSO: De tempo? Quanto tempo, Volney? Meses? Anos? Uma vida inteira?
Ele se levanta. Anda pelo quarto. As mãos na cabeça, peito arfando.
AFONSO: Eu te amo, Volney, mas eu tô cansado! Cansado de ser sua confissão silenciosa, seu segredo bem guardado. Eu mereço mais do que isso.
Volney se levanta e segura Afonso pelo rosto, forçando-o a encará-lo.
VOLNEY: (suplicante) Por favor, não fala assim…
AFONSO: (com os olhos marejados) Eu passo noites acordado imaginando como seria andar com você de mãos dadas sem medo, sem precisar olhar por cima do ombro, sem precisar medir cada palavra.
Volney fecha os olhos com força.
AFONSO: E sabe o que dói mais?
Ele leva a mão ao rosto de Volney, o polegar roçando levemente seus lábios.
AFONSO: Você também quer isso. Eu vejo nos seus olhos. Mas o seu medo sempre vence o amor que a gente sente um pelo outro.
Volney engole seco.
Afonso solta um riso trêmulo, um riso de quem já chorou demais. Ele se afasta, pega a camisa jogada no chão e começa a vesti-la. Movimentos duros. Definitivos.
VOLNEY: (baixo) Me dá só mais um tempo…
Afonso para por um instante.
AFONSO: Eu quero um amor que não precise de tempo para existir.
Enquanto Afonso termina de se vestir, Volney fica ali, olhando, despido, preso no próprio medo. CLOSE NELE.
CENA 03: DIAS DEPOIS - PEDRA DO FORTE - RUA - MANHÃ
Jaqueline caminha pela rua enquanto fala com RAÍ (30) pelo celular.
JAQUELINE: Oi, sou eu, Jaqueline. Tô te ligando pra dizer que aceito aquela proposta de emprego que você me fez. A gente pode se encontrar hoje à noite?
CORTA PARA:
CASA DE VOLNEY. QUARTO DE RAÍ E ESTELA
Raí sentado na cama, sem camisa, com o celular no ouvido.
RAÍ: Tá, mas pode ser lá em casa? É, lá a gente conversa melhor, mais à vontade… Fechou então. Nos vemos de noite. Outro pra você!
Ele desliga. ESTELA (50) entra no quarto e vai direto pra penteadeira se maquiar.
ESTELA: Quem era, mozão?
RAÍ: Minha prima. Tá passando por uns problemas, aí resolvi ajudar.
Ele levanta e vai até ela. Raí fica por trás dela, fazendo massagem em seu ombro, os dois se olham pelo espelho.
ESTELA: Você vai almoçar em casa hoje?
RAÍ: Não. Vou passar no bar, depois vou na casa dos meus pais, vou ficar por lá até de noite, depois volto pro bar.
Raí vira ela bruscamente, agarrando-a pela cintura com força. Eles começam a se beijar loucamente, até que param.
RAÍ: Vou indo, tá? (ele dá mais um beijo nela e sai)
Estela continua se arrumando diante do espelho.
CENA 04: CASA DE VOLNEY - CORREDOR - MANHÃ
Raí passa pelo corredor, colocando a camisa. Passando pela porta do quarto de Volney, ele para quando ouve ele falar com alguém lá dentro. Ele encosta o ouvido na porta.
VOLNEY: (off) A gente se encontra no quiosque hoje à noite. (ri) Depois? Depois a gente vai pra qualquer lugar fazer um amor bem gostoso.
Raí continua escutando, atento.
VOLNEY: (off) Vou beijar muito essa boquinha. Tchau. Sua gostosa! Até mais tarde.
CLOSE em Raí, de cara fechada.
CENA 05: MANSÃO DOS PASSARELLI - QUARTO DE AFONSO - MANHÃ
Raí sentado na ponta da cama. Afonso em choque diante dele.
AFONSO: Você tá falando sério?
RAÍ: Eu ouvi muito bem quando ele disse que iria encontrar alguém hoje à noite. E é com uma mulher, porque ele chamou ela de gostosa e tudo.
AFONSO: (coloca a mão no rosto) Meu Deus do céu. Isso não pode ser verdade.
RAÍ: Fica calmo, Afonso.
AFONSO: Foram dois anos, Raí! Dois anos me escondendo feito um rato, esperando o Volney tomar coragem pra assumir a gente e pra quê? Pra continuar ouvindo ele dizer que “ainda não é o momento” enquanto me trai dessa maneira?
RAÍ: Não sei como você engoliu essa história de esperar pelo momento certo, porque vou te contar, dois anos pro momento certo vir, tá vindo de balão né?
AFONSO: (aflito) O que eu faço agora?
RAÍ: (incisivo) Acaba de vez com esse namorico. Vai continuar sofrendo enquanto deixa o Volney te enganar dessa maneira?
AFONSO: (encara ele) Você tem razão! Sabe o que eu vou fazer? Eu vou hoje nesse encontro! Eu quero ver isso com meus próprios olhos.
CLOSE nele, decidido.
CENA 06: ANOITECE - PEDRA DO FORTE - PRAIA / CARRO DE AFONSO
SABRINE (22) aparece no quiosque, arrumada e maquiada. O dono do estabelecimento ao vê-la, sai de trás do balcão e vai diretamente falar com ela.
DONO: Sabrine von Bergmann, que honra receber você aqui.
Ele pega a mão dela e beija.
SABRINE: (sorri) Imagina.
DONO: Minha filha é sua fã, sabia?
SABRINE: Jura? Que fofa!
DONO: Posso tirar uma foto com você?
SABRINE: Claro!
O dono pega seu celular e tira uma selfie com ela.
DONO: Hoje eu faço questão de servi-la.
SABRINE: (sorri) Obrigada, eu tô esperando uma pessoa.
Sabrine olha em volta. Ela pousa seu olhar em uma direção e sorri. Logo vemos que é Volney que vem andando em direção a ela.
VOLNEY: Demorei?
Ele a agarra pela cintura.
SABRINE: (fazendo charme) Só um pouquinho.
Os dois se beijam.
CORTA PARA:
DO OUTRO LADO DA RUA. CARRO DE AFONSO
De dentro do carro, Afonso observa os dois com os olhos fixos e o coração acelerado. Raí do seu lado.
AFONSO: (derrama uma lágrima, com ódio) Desgraçado! Como ele pôde fazer isso comigo? Como?
RAÍ: Calma, Afonso.
Afonso engole seco.
AFONSO: Uma pinóia!
Num impulso cego, ele abre a porta do carro com força e salta do veículo. Nem fecha.
RAÍ: (surpreso) Ei! Vai aonde, seu maluco?! AFONSO!
Mas Afonso já corre em disparada pela calçada, atravessando a rua feito um furacão em direção à Volney e Sabrine. CLOSE nele.
Abertura
CENA 07: PEDRA DO FORTE - PRAIA - NOITE
Afonso atravessa a rua correndo até Volney e Sabrine, mas sente uma mão segurar seu braço.
AFONSO: Me solta!
RAÍ: Eu não vim aqui pra ver você dar um escândalo.
AFONSO: Escândalo é tudo o que eu mais quero agora. Quero que todo mundo saiba o canalha que o Volney é. Quero que todo mundo fique sabendo que ele tava comigo esse tempo todo enquanto posou de hétero pegador por aí.
RAÍ: Olha aqui, Afonso. Se você quiser acabar com o Volney, se controle e seja mais esperto!
Afonso respira fundo. Vê Volney e Sabrine rindo enquanto se beijam.
AFONSO: Ele não podia ter feito isso comigo!
CLOSE NELE.
CENA 08: MANSÃO DOS PASSARELLI – SALA DE ESTAR – NOITE
Raí está sentado no sofá, observando Afonso andar de um lado para o outro feito leão enjaulado. A campainha toca. NEIDE (43), a empregada da mansão, vai até a porta e a abre. Jaqueline entra.
JAQUELINE: Oi, gente! (ela nota o clima tenso) O que tá havendo aqui?
AFONSO: Eu descobri que o Volney me enrolou e me traiu esse tempo todo.
JAQUELINE: Mas vocês dois estavam juntos? Achei que era só amizade.
AFONSO: Pois é, nunca foi.
JAQUELINE: Mas por que esse segredo todo?
AFONSO: Porque ele é um covarde que tinha medo de se assumir. Eu sei que é difícil, mas porra... Como é que eu fico nisso tudo também?! Mas isso não vai ficar assim não. Eu vou me vingar daquele desgraçado.
JAQUELINE: Calma, Afonso, desse jeito você vai ter um treco. Vem, senta aqui.
Jaqueline conduz ele pro sofá, fazendo-o se sentar.
AFONSO: Nunca teria coragem de fazer com ele o que ele fez comigo, Jaqueline. Foi muita sacanagem.
Jaque pega uma bebida pra ele, que toma num só gole.
JAQUELINE: Olha, aproveitando que eu tô aqui... Eu vou mandar a real pra você, Raí. Eu só aceitei sua proposta de trabalho porque eu preciso muito me aproximar de uma pessoa.
RAÍ: De quem?
JAQUELINE: Do marido da minha ex-patroa. Você conhece todo mundo da alta sociedade, não é?
RAÍ: Nem todo mundo, mas a maioria. Quem era sua ex-patroa?
JAQUELINE: Gisela von Bergmann.
RAÍ: Putz... O marido dela é cliente assíduo do meu bar.
JAQUELINE: Então minha intuição estava certa.
RAÍ: Mas o que você pretende com isso, Jaqueline?
JAQUELINE: Eu quero acabar com aquela vaca! Depois do que ela fez comigo, eu vou tirar tudo o que é dela!
AFONSO: O que foi que ela te fez?
JAQUELINE: Me demitiu. Me humilhou. Me tratou como se eu fosse um traste. Eu quero dar o troco naquela vadia desgraçada!
AFONSO: Olha, Jaqueline... Eu estava aqui pensando... Já que você vai trabalhar pro Raí, você poderia me ajudar também, né? Se eu te der um bom dinheiro para você seduzir o Volney, você aceitaria?
JAQUELINE: (sorri, surpresa) Claro!
RAÍ: Gente, peraí. Vocês dois ficaram malucos?
JAQUELINE: (olha para ele e Afonso ao mesmo tempo) Não, mas isso é perfeito!
AFONSO: Eu quero que você seduza o Volney, quero que você faça ele se apaixonar por você, e quando ele tiver totalmente envolvido, você vai pisar em cima dele! Eu quero que aquele desgraçado sofra a mesma dor que ele me fez sofrer!
Afonso levanta e ergue a mão para ela.
AFONSO: Então? Negócio fechado?
Jaqueline se levanta. Os dois ficam frente a frente.
JAQUELINE: Negócio fechado!
Eles apertam as mãos. CLOSE nas expressões maléficas de ambos.
CORTA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário