12/06/2025

Terra Vermelha - Capítulo 22 - Últimas Semanas

 





Capítulo 22



CENA 01 - MANSÃO LA SELVA - INT/NOITE


Angelina caminha pelo corredor dos quartos. Ela para diante a porta do quarto do Caio, prestes a bater, quando percebe a porta entreaberta no quarto de Júlia. Então ela se aproxima e ouve um murmúrio.


Júlia dorme serenamente, com os cabelos soltos pelo travesseiro. Graça, sentada à beira da cama, faz carinho nela.


Graça(voz baixa) - Você é tão linda, minha filha… cheia de luz. Eu queria tanto te contar a verdade… Queria tanto que você soubesse que seu pai é o Caio. 


Angelina, imóvel atrás da porta, escuta tudo.


Angelina(sussurrando) - Que babado forte! E é dos bons! 


Graça se levanta, apagando a luz do abajur. Angelina percebe e sai de fininho, indo até a porta do quarto de Caio.

Ela bate e ele abre.


Caio - Angelina? Aconteceu alguma coisa? Tá batendo no meu quarto numa hora dessas.


Angelina - Caio, eu preciso que você confie em mim. Eu preciso muito de você… quer dizer. Eu preciso da sua ajuda. 


Caio - O que foi? Fala logo, Angelina. Tá me deixando preocupado. É com a Júlia?


Angelina - Não! É algo que te interessa e muito. Eu só queria que você confiasse em mim e me acompanhasse.


Caio - Tá! Mas pra onde?


Angelina - Não posso contar agora. É surpresa.


Os dois se encaram.


Corta para:


CENA 02 - MANSÃO DE CÂNDIDA - EXT/INT/NOITE


Angelina e Caio descem do carro. O clima é silencioso. 


Caio(olhando ao redor, desconfiado) - Angelina… o que a gente tá fazendo aqui?


Angelina(sorrindo) - Eu já te disse. É uma surpresa.


Ela toca a campainha. Um instante depois, a porta se abre, revelando Cândida, elegante, também com um sorriso receptivo.


Cândida - Boa noite. Entrem, por favor.


Caio entra, meio hesitante. A casa está silenciosa, exceto por uma leve música clássica tocando ao fundo. Na sala, uma figura está sentada de costas, somente com a luz do abajur iluminando metade de seu rosto.


Angelina e Cândida trocam um olhar e sobem discretamente a escada, deixando Caio ali.


Caio - Vocês vão me deixar sozinho aqui?


Nesse instante, Agatha se levanta lentamente e se vira.


Caio franze a testa, intrigado.


Agatha(sorri com emoção) - Você não tá me reconhecendo, Caio?


Caio - Desculpa… eu acho que a gente não se conhece.


Agatha se aproxima devagar. Passa delicadamente a mão pelo rosto dele.


Agatha - Tudo bem… eu não quero enrolar. Já esperei demais pra isso. Enfim…


Agatha dá uma pausa dramática.


Agatha - Eu… eu sou a sua mãe, Caio.


Caio dá um passo pra trás, atordoado, e se deixa cair no sofá.


Caio(chocado) - Isso é algum tipo de brincadeira?


Agatha - Não é. Eu sei que é difícil… mas é a verdade.


Caio - E você ainda tem coragem de aparecer depois de todos esses anos? Me abandonou no momento em que eu mais precisei de você. E todo mundo pensando que você estava morta… Meu Deus.


Agatha - Eu entendo a sua revolta, a sua mágoa. Mas não foi como você pensa. Tudo tem uma explicação, e você merece saber. E eu… eu também mereço essa chance de te contar. Não acha?


Caio a encara, confuso. Os olhos dele, até então duros, começam a fraquejar.


Agatha(pedindo) - Por favor… me ouve. Me deixa contar tudo, nem que seja pela última vez. Depois disso, se você quiser ir, eu vou entender. Mas me deixa contar.


Um silêncio toma a sala.


Caio(olhando ela com outra expressão) - Eu… eu não sei. Tudo bem, pode falar. Eu tô ouvindo.


Agatha se aproxima, pega a mão dele com carinho, quase como se estivesse pegando algo sagrado.


Agatha - Então escuta… eu vou te contar tudo nos mínimos detalhes.


Corta para:


CENA 03 - PENSÃO DA LUCINDA/HOSPITAL - EXT/INT/NOITE


Sirenes cortam o silêncio da noite. A ambulância estaciona em frente à pensão. Vizinhos observam de longe, aflitos. 

Os paramédicos descem correndo e entram na pensão. Em segundos, saem com Lucinda, desacordada, pálida, sendo levada em uma maca.


Pérola, em desespero, segura a mão da mãe com força enquanto caminha ao lado dos paramédicos.


Pérola(gritando, para uma vizinha) - Comadre, pelo amor de Deus, cuida do meu pai! Fica com ele!


A vizinha acena que sim. Pérola sobe na ambulância.



CENA 04 - HOSPITAL - INT/NOITE


Portas se abrem violentamente. Os paramédicos correm pelos corredores com Lucinda na maca. Pérola corre ao lado, segurando a mão da mãe até onde pode.


Pérola(despedaçada) - Fica comigo, mãe… não faz isso comigo… por favor…


Eles chegam à porta da UTI. Os médicos impedem a entrada de Pérola.


Médico - Aqui a senhora não pode entrar. Espera aqui fora.


Pérola(gritando) - Não! Eu quero ficar com ela! Ela precisa de mim!


A porta da UTI fecha. Pérola desaba, tomada pelo choro. Ela se senta em uma longarina encostada na parede.


Nesse instante, o delegado Marino chega às pressas. Ele corre pelo corredor e, ao ver Pérola, se aproxima.


Marino - Pérola! O que aconteceu com a sua mãe?


Pérola ergue o olhar e olha pra ele com ódio.


Ela se levanta e o abraça. No abraço, Pérola abre os olhos. A câmera fecha em seu rosto com uma expressão de ódio.


Marino - Como ela está?


Pérola(olhando pra ele com dor) - Muito mal… não sei se ela vai resistir.


Ela começa a chorar novamente, e Marino a abraça mais forte, apertando contra o peito.


Corta para:


CENA 05 - MANSÃO DE CÂNDIDA - INT/NOITE


Caio está sentado no sofá, os cotovelos nos joelhos, os olhos perdidos.


Agatha, de pé diante dele, com os olhos marejados.


Caio(em choque) - É muita coisa pra ouvir assim… de uma vez.


Agatha - Eu sei que nada do que eu disser vai justificar o que eu fiz. Eu te deixei… E não há dor maior do que essa no meu coração, pode ter certeza. Mas, meu filho… na época, eu era outra. Eu tinha medo. Medo do mundo, das pessoas, da vida… 


Ela se aproxima devagar, com algo nas mãos. Senta-se à frente dele e retira cuidadosamente de uma bolsa gasta um pequeno carrinho de madeira. Simples, mas cheio de detalhes.


Agatha - Fiz isso na prisão. Eu não tinha como te ver crescer… então fiz isso pensando em você. Imaginando como você seria. Eu pensava em te entregar isso um dia, se Deus me permitisse. E ele permitiu.


Caio segura o carrinho com delicadeza. Lágrimas escorrem discretamente.

Ele se levanta.


Caio(voz embargada) - Mãe…


Agatha levanta os olhos pra ele, surpresa.

Ela também se levanta.


Um momento de tensão surge entre eles, até que Caio abraça ela.


Agatha(falha na voz) - Meu filho…


O abraço é forte, de anos de distância, silêncio e saudade. Ela chora contra o peito dele. Ele fecha os olhos e respira fundo, finalmente permitindo-se sentir.


Aline, Jussara, Angelina e Cândida descem as escadas. Angelina está com um sorriso lindo no rosto.


Caio - Aline? Aqui?


Aline - Surpreso? Eu queria conversar com você também. Pode ser aqui mesmo.


Caio - Tudo bem. Pode falar.


Aline - Você disse que faria qualquer coisa pra ter moral comigo de novo. Então chegou a sua hora. Angelina nos disse que a Irene está preparando uma surpresa para o seu pai no dia do aniversário de casamento deles. E essa surpresa envolve fotos. Então eu preciso que você coloque essas fotos no modelo.


Aline levanta o celular mostrando Irene e Luigi se pegando.


Aline - Vai nos ajudar? Ou não?


A câmera foca no rosto de Caio, tenso. Todos encaram ele. A câmera alterna em cada um dos rostos e termina em Aline.


ENCERRAMENTO.


(Henry Come On - Lana Del Rey)












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