A TERCEIRA VÉRTICE - CAPÍTULO 3
Rodrigo: Investigar o paradeiro da sua mãe biológica?
Daniel confirma com a cabeça.
Rodrigo: Desculpa, mas… Você tem certeza de que é mesmo isso o que você quer? Você acabou de perder a sua mãe adotiva…
Daniel: Eu sei. Parece loucura né? Mas eu tenho muita curiosidade de saber sobre o meu passado. Até outro dia sequer passava pela minha cabeça que eu pudesse ser adotado, e agora que eu descobri a verdade, eu acho que tenho direito de saber mais sobre a minha origem. Quero pelo menos entender porquê que eu fui abandonado pela minha mãe de sangue. Fora que meu pai morreu faz pouco tempo, e agora minha mãe… Se eu tenho uma referência materna por aí, eu quero tê-la do meu lado.
Rodrigo suspira.
Rodrigo: Tá… Você tá no seu direito. Eu vou te ajudar.
Daniel: (respira aliviado) Ai que bom. E por onde que a gente começa?
Rodrigo: Bem… você foi adotado, certo?
Daniel acena positivamente.
Rodrigo: Tem algum documento que comprove isso?
Daniel: Eu acredito que sim.
Rodrigo: Eu tô perguntando isso porque você pode não ter sido adotado. Você pode ter sido sequestrado ou roubado da sua mãe de sangue.
Daniel: Peraí, a minha mãe Sílvia nunca faria uma coisa dessas.
Rodrigo: Eu não sei, Daniel, eu não conhecia ela. Ok, ela deixou uma carta assumindo a verdade, mas caso ela tenha te sequestrado, ninguém vai poder fazer nada contra ela, já que ela não está mais aqui, então seria bem conveniente essa confissão ter sido feita só agora.
Daniel: Isso é loucura! Eu convivi com ela por anos, eu sei que ela jamais seria capaz de fazer isso. Com certeza tem algum documento comprovando que ela me adotou legalmente. Eu vou pra casa procurar, deve estar guardado em algum lugar nas coisas dela.
Rodrigo: Outra coisa, se tiver alguma coisa além do documento que você possa achar seria ótimo. Um diário, sei lá. Ela tinha costume de escrever em diário?
Daniel: Não que eu me lembre. Mas qualquer coisa eu pergunto pra Angélica, ela sabia tudo sobre minha mãe, sobre o que ela fazia e deixava de fazer.
Rodrigo: Ah, tá ótimo, pergunte, vai ser ótimo. Quem é Angélica?
Daniel: Ela é a nossa governanta.
Rodrigo: Ah sim.
Daniel: Bem, eu vou indo. (ele se levanta)
Rodrigo levanta também.
Rodrigo: Qualquer novidade, você me liga tá?
Daniel: Tá…
Os dois dão um abraço demorado.
Rodrigo: Você vai ficar bem?
Daniel: Vou…
Rodrigo: É… se precisar de um carinho pode me ligar do mesmo jeito também.
Daniel sorri e lhe dá um selinho. Rodrigo o acompanha até a porta, abrindo-a.
Rodrigo: Tchau…
Daniel: Até mais.
Ele vai embora. Rodrigo fecha a porta.
Ao chegar em casa, Daniel vê Marinalda polindo um móvel de madeira.
Daniel: Marinalda, sabe onde tá a Angélica?
Marinalda: Dona Angélica tá no quarto dela.
Daniel: Tá, obrigado.
Ele vai subir.
Marinalda: Daniel.
Daniel volta.
Daniel: Que foi?
Marinalda: Queria pedir permissão pra visitar minha vó hoje.
Daniel: Como assim, aconteceu alguma coisa?
Marinalda: Não, mas é que eu ando pensando muito nela esses dias, não sei bem o porquê, mas sinto que devo ir ver ela. Ela tá muito velhinha já, fora que foi a pessoa que me criou. Eu preciso muito ir vê-la.
Daniel: Melhor ir então. Pode tirar o resto do dia de folga.
Marinalda: Muito obrigada!
Daniel sobe as escadas e vai até o quarto de Angélica, que está sentada na cama. Ela ouve batidas na porta.
Angélica: Pode entrar.
Daniel entra.
Angélica: Oi, meu bem.
Daniel: Queria muito falar com você.
Angélica: Claro, senta.
Daniel: (sentando) Eu vou ser direto, Angélica. Eu já sei que sou adotado. O advogado me entregou uma carta depois da leitura do testamento e lá a minha mãe me contou toda a verdade. Você sabia disso?
Angélica: Sabia. Sempre soube que você era adotado, Daniel.
Daniel: E porque você nunca me contou? Eu tinha o direito de saber.
Angélica: Eu nunca te contei porque não cabia a mim contar.
Daniel: Você ajudou a me criar, você é como se fosse uma segunda mãe pra mim.
Angélica: Mas não fui eu a pessoa que te adotou. Era pra Sílvia te falar tudo, não eu. Esse assunto não era da minha conta. E antes de ser sua “segunda mãe”, eu sou apenas a governanta dessa casa. Não me cabia falar pra você a verdade sobre sua origem.
Daniel suspira.
Daniel: Você tá certa. Bom, de qualquer forma, você sabe pelo menos quem é minha mãe biológica?
Angélica: Não.
Daniel: E a minha mãe me adotou de onde? Onde que ela me achou?
Angélica: Não sei bem… acho que foi num orfanato. Não lembro o nome. Mas sua mãe tinha um diário. Ela escrevia tudo lá. Vai ver lá tem as respostas que você tanto quer.
Daniel se levanta.
Daniel: Tá, vou procurar. Obrigado.
Angélica: Espera aí, por que você quer tanto saber isso agora?
Daniel: Porque eu vou investigar o paradeiro da minha mãe biológica. Quero descobrir quem é ela.
Angélica: (treme na base) Mas porquê isso agora, Daniel? Você passou anos sendo criado com tanto amor pela gente e agora você quer ir atrás de uma mulher que te abandonou num orfanato? Uma mulher que nem quis saber de você?
Daniel: Eu quero pelo menos entender porquê eu fui abandonado por ela. Eu tenho esse direito! Dá licença.
Ele sai. Angélica esbraveja.
Angélica: Inferno. Era só o que me faltava agora.
Ela pega o celular e começa a discar.
Angélica: (no celular, falando com alguém) Daniel agora quer investigar a identidade da mãe dele. A mãe biológica, né, idiota? Quem mais seria? É, ele descobriu que é adotado. Aquela desgraçada da Sílvia deixou uma carta contando tudo. Ele não pode descobrir onde tá essa infeliz, me ouviu? Não pode. Senão isso vai acabar com nosso plano de colocar as mãos na herança que agora está com ele!
Angélica faz uma expressão de espanto.
Angélica: Não é possível. Isso não pode estar acontecendo.
Do outro lado da linha, Lucas fala com ela do seu apartamento.
Lucas: Mas está. Olha, eu fiz o que você me pediu. Juntei o Daniel e o Rodrigo. Não era isso o que você queria?
Angélica: Sim, mas não era pras coisas acabarem dessa forma.
Lucas: Não tenho culpa do Rodrigo ser investigador particular. Se caso ele tiver ajudando o Daniel a investigar onde tá a mãe de sangue dele, o que a gente pode fazer?
Angélica: Qualquer coisa! O Daniel não pode descobrir a verdade sobre a origem dele, Lucas. Você me entendeu? Não pode. Fica na cola dele e do Rodrigo! Eu quero saber os próximos passos dessa investigação e acabar com a festinha desses dois. Se essa mãe perdida desse imbecil chega aqui tomando posse do que é nosso, eu nem sei o que eu sou capaz de fazer. Eu boto fogo nessa casa com todo mundo dentro.
Lucas: Esfria essa cabeça que ficar descontrolada desse jeito não vai te ajudar em nada. E pode ficar sossegada que eu vou ficar no pé dos dois… Mamãe!
ENCERRAMENTO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário