Paixões & Legados
Escrita por Fafá
Faixa das 18h
Elza olha com estranheza para Jarbas.
ELZA: Desculpe-me, mas nos conhecemos?
JARBAS: Nós, não, mas conheço seu ex-noivo, Leonel. Estou à procura dele.
ELZA: Pois então, perdeu tempo. O senhor mesmo disse que ele é meu EX-noivo.
JARBAS: Soube que ele saiu da cidade há algumas semanas, você não sabe para onde foi? Onde está?
ELZA: Meu querido, ouça bem: se eu soubesse onde Leonel está, eu garanto que arrancaria toda a pele do corpo dele. Agora, dê-me licença, pois estou ocupada.
Elza fecha a porta na cara do capataz de Guilhermino.
Leonel, mancando, passeia pelo jardim da grande mansão ao lado de Celine.
LEONEL: Me arrisco a dizer que esse é o jardim mais bonito que já vi.
CELINE: Desde pequena eu sempre sonhei em cuidar de flores e plantas. Aos 8 anos, comecei a plantar uma florzinha aqui e ali, pois esse pátio era apenas um gramado alto e mal cuidado, e com o tempo foi se transformando nesse belo jardim. Hoje em dia, quem mais cuida daqui são os jardineiros, não tenho tempo e nem disposição para cuidar de tudo sozinha.
LEONEL: Mas já deve se orgulhar de ter construído uma obra dessas.
CELINE: Obrigada, Leonel! Desde que você chegou aqui, tenho me sentido mais alegre, mais viva. É muito bom ter alguém para desabafar. Antes eu tinha apenas a Débora, e ela sempre quis me privar de tudo. Diz que não posso sair, que devo ficar no quarto e apenas me alimentar e cuidar do legado de minha família. E desde que fiquei doente quer tomar conta de tudo, disse que só deveria ficar dentro de casa, tratando-me com remédio e repouso.
LEONEL: Vejo que foi uma moça criada em meio ao luxo, com classe e etiqueta, é muito comum que sempre tenha toda essa preocupação ao seu redor.
CELINE: O que pensa em fazer assim que melhorar?
LEONEL: Eu não sei… minha vida está sem rumo. Todos os meus sonhos e desejos se foram após as escolhas que fiz e tudo que passei. É como se eu estivesse procurando um motivo para viver.
CELINE: Pensa em ficar aqui, conosco?
LEONEL: Não quero atrapalhar vocês. Afinal, Débora não gostou muito de mim.
CELINE: Deixe Débora para lá. Se é só isso que lhe incomoda, fique, é um pedido meu!
LEONEL: E o que farei para te ajudar?
CELINE: Trabalhe ao meu lado. Preciso de ajuda na empresa e nas terras que eram de meus pais. Eu te ensinarei tudo o que for necessário.
LEONEL: Não acha que Débora implicará comigo por conta disso? Disse que ela queria ajudar nos negócios da família.
CELINE: Débora não quer me ajudar, quer controlar todos os negócios sozinha. Ela é minha irmã, mas… não consigo confiar o suficiente nela, assim como nossos pais preferiram a mim, a filha mais nova, a cuidar de tudo.
LEONEL: Então, eu estou disposto a ajudar. Prometo não decepcionar.
Eles se abraçam. Débora, que olhava pela janela de seu quarto, olha para eles com desprezo e fecha suas cortinas.
Elza desce as escadas de sua casa e se dirige ao seu pai.
ELZA: Tenho uma novidade!
TERÊNCIO: Boa?
ELZA: Eu consegui uma vaga de professora substituta! Vão me chamar no final do mês.
TERÊNCIO: Que notícia boa, minha filha! E onde fica a escola.
ELZA: É numa cidade da região mesmo, em Riacho das Rosas…
Algumas semanas se passam. Chega o dia do casamento de Lúcia e Bernardino, uma cerimônia pequena apenas para os mais próximos. Lúcia, a noiva, caminha até o altar lentamente, com a barriga pequena ainda e um vestido que deixa ainda mais discreta, ninguém desconfia de sua gravidez. Ela sobe ao altar e é recebida por Bernardino, seu noivo. O padre faz todo o discurso e no final Bernardino beija sua noiva na testa, encerrando a cerimônia com aplausos.
Logo após saírem da igreja, os noivos chegam à mansão onde Mercedes os recebe com as malas na porta.
BERNARDINO: Estaremos saindo por algum tempo em lua de mel, apenas para não ocorrerem comentários desagradáveis. Cuide de tudo enquanto estivermos fora, Mercedes.
MERCEDES: Com muito prazer, senhor. Cuidarei dessa casa como se fosse a dona, assim como sempre cuidei.
BERNARDINO: Ótimo, até mais!
Os recém-casados saem e Mercedes olha ao seu redor com satisfação.
Lúcia e Bernardino estão dentro do trem esperando para partir.
LÚCIA: Ainda não estou preparada para as inúmeras vertigens que terei durante esta viagem.
BERNARDINO: Espero que goste de onde vamos. Vou te mostrar os meus locais favoritos por toda a Europa.
LÚCIA: Europa… É engraçado que eu não tenha conhecido o Rio de Janeiro, mas já esteja indo para a Europa…
BERNARDINO: Passaremos também pelo Rio de Janeiro, é lá onde embarcaremos no navio. Quem sabe, poderíamos dar uma volta, apenas para ver algumas coisas.
LÚCIA: Eu adoraria. Obrigada, Bernardino! Nunca alguém foi tão generoso assim comigo.
BERNARDINO: Eu já lhe disse, é apenas uma troca.
Celine e Leonel mexem em alguns papéis no escritório. Leonel quase que totalmente recuperado de seus problemas de saúde anteriores, ao contrário de Celine, que adquiriu discretas olheiras ao redor dos olhos e parece mais magra. Os dois fazem um ótimo trabalho ao ler cartas e documentos e assinar papéis. Sempre que Leonel tem alguma dúvida, Celine para o que está fazendo para respondê-lo imediatamente.
CELINE: Por hoje é apenas isso. Fizemos um trabalho rápido hoje.
LEONEL: Que tal o nosso passeio diário pelo jardim, agora?
CELINE: Hoje não, me sinto cansada. Ficarei em meu quarto por um tempo, desço novamente na hora do jantar.
LEONEL: Celine, está tudo bem?
CELINE: Tudo sim. Apenas não me recuperei o suficiente da ida às fazendas ontem.
LEONEL: Se estiver sentindo qualquer coisa, não hesite em me contar.
CELINE: Eu prometo que está tudo ótimo.
A moça sobe as escadas da grande mansão com Leonel lhe observando com um ar de desconfiança. Débora brota do nada na sala dando um susto enorme no rapaz.
LEONEL (Sem ar): Que isso, Débora? Parece uma assombração.
DÉBORA: Te assustei, por acaso? Por quê? Está escondendo algo.
LEONEL: Nunca me acostumei com alguém aparecendo atrás de mim repentinamente. Tenho medo de espíritos desde quando era criança.
DÉBORA: Desde quando sou um espirito?
LEONEL: Pois esta maquiagem exagerada te deixa pálida igual a um.
DÉBORA: Eu ainda não entendi o que quer aqui, mas saiba que, desde sempre, mantenho meus olhos atentos a você. Se pensa em dar um golpe na minha irmã, saiba que eu não deixarei com que isso aconteça.
LEONEL: Débora, Débora… essas radionovelas você que ouve, mexem muito com sua mente fantasiosa e fraca. Sempre inventando histórias que mais parecem folhetins.
DÉBORA: Deboche mesmo! Bonito, viu! Agora, licença, pois tenho que conversar com minha irmã.
Débora sobe as escadas com um ar de superioridade.
Celine, deitada em sua cama, tem outra de suas crises de tosse. Quando a sequência finalmente termina, ela olha para o paninho bordado com seu nome que pressionava na boca enquanto tossia, estava manchado de sangue novamente. Débora interrompe o clima do local ao entrar. Celine se recompõe para receber minha irmã.
CELINE: Débora, tudo bem?
DÉBORA: Tudo sim. Recebi uma carta hoje mais cedo, nossa tia e primos voltarão para cá daqui uns meses.
CELINE: E o marido de titia?
DÉBORA: Foi pego na cama com outra, morri de rir quando li essa parte na carta. Ela só está esperando pelo desquite.
CELINE: Que decadência, mal se casou e já separou, e ainda nem foi com o pai de seus filhos. Mamãe tinha razão quando dizia que suas irmãs andavam com os pensamentos nas nuvens.
DÉBORA: Era apenas isso mesmo que eu tinha a dizer… o que é isso em sua mão?
Diz ela apontando para o pano bordado manchado de sangue.
CELINE: Não é nada, apenas me cortei com uma roseira hoje mais cedo.
DÉBORA: E saiu tudo isso de sangue?
CELINE: Foi estranho mesmo, mas acontece.
Débora percebe a mentira mas não diz mais nada, apenas sai do quarto. No corredor, ela pensa sozinha.
DÉBORA (Pensando): Seria isso pelo problema de saúde dela? Mas se já está nesse nível, então é porque está beirando a morte. Não deve faltar tanto tempo para que eu controle os negócios da família. Eu finalmente terei esta casa, as roupas, as jóias, finalmente tudo será meu.
Elza desembarca na estação de Riacho das Rosas. Ela chega na Pensão Maria das Graças.
TOMÉ: Boa tarde!
ELZA: Boa tarde! Gostaria de um quarto, sou a mais nova professora da escola.
TOMÉ: Seja bem-vinda! Tenho certeza de que gostará de viver aqui.
ELZA: Obrigada!
Alguns meses se passam. Lúcia e Bernardino viajam por diversos lugares da Europa. Após a longa viagem, eles retornam para casa. Lúcia, com sua barriga enorme de grávida, vai até a pensão distribuir presentes aos seus amigos.
TOMÉ: Ora, Lúcia, não precisava se incomodar conosco.
CÁSSIA: Mas amamos os presentes, viu? A moça tem muito bom gosto.
LÚCIA: Não foi incômodo algum, gente. E foi tudo de coração por vocês terem me acolhido quando cheguei aqui. E quanto às novidades?
TOMÉ: Nada demais desde que você partiu. Apenas uma nova hóspede, a professora.
LÚCIA: E onde está? Gostaria de conhecê-la.
TOMÉ: Está trabalhando ainda, talvez outro dia...
GUSTAVO: E esta criança? Tenho certeza de que já está perto de nascer.
LÚCIA: Acho que nas próximas semanas já estarei dando à luz. Estou quase morrendo de ansiedade pelo nascimento do meu filho.
Mais um tempo se passa. Dessa vez, Lúcia está em um dos quartos da mansão de Bernardino, em trabalho de parto. A criança vem ao mundo e ela pega o bebê em seus braços.
LÚCIA (Emocionada): Uma menina! Minha pequena menina… Se chamará Anabel, era um apelido carinhoso com o qual chamávamos a minha falecida avó, Ana Isabel.
Ela aninha a filha em seu colo.
LÚCIA: Bem-vinda ao mundo, minha pequena.
ENCERRAMENTO
Nenhum comentário:
Postar um comentário