5 de nov. de 2024

Linha Tênue - Capítulo 02 (05/11/2024)

 LINHA TÊNUE - CAPÍTULO 02



Webnovela de Tony Castello


PARTE 1: EXT. RUA DA CASA DE GABI/ MANHÃ

No dia seguinte, Gabriela se despede de Fátima e sai de casa rumo à faculdade. Naquele dia, sua aula seria pela manhã. Gabriela caminha muito calmamente até o ponto de ônibus até que vê um rosto familiar de um homem parado em um carro estacionado na esquina de sua rua. Ela logo nota de quem se tratava.

William: Oi, Gabi!

William grita para Gabriela e acena com um sorriso. A garota fica incrédula e desnorteada com o que vê, dando passos bem devagar, sem saber se continua andando ou se volta para casa.

Gabriela: O que... O que você faz aqui?

William: Eu vim te ver.

Gabriela: Como descobriu meu endereço?

William: Você mora perto da Janaína, lembra?

Gabriela: Mas ela te disse onde eu moro assim, sem mais nem menos?

William: Ah, isso não. Eu tive que dar um jeitinho pra descobrir.

Gabriela: Isso é muito estranho.

William: Escuta, pode parecer estranho, sim, e é, talvez... Mas eu vi você ontem e fiquei curioso. Queria ter a oportunidade de conversar mais com você, mas eu não sabia quando ia te ver de novo nem onde poderia te encontrar, e isso estava me matando por dentro. Eu só queria conversar com você, só isso.

Gabriela: Olha, William, eu entendo, mas ainda assim eu acho tudo isso muito estranho. A gente não se conhece direito e, do nada, você aparece assim de repente na rua da minha casa.

William: É, eu sei, acho que fui meio idiota em ter vindo, mas fui vencido pela expectativa. Eu só queria ver você mais uma vez. Aliás, para onde você está indo?

Gabriela: Pra faculdade.

William: Ah sim, faculdade de quê?

Gabriela: Eu faço enfermagem.

William: Ah, que legal! Eu faço economia. Não é um curso que eu goste, mas meio que fui obrigado a fazer pro meu pai sair do meu pé.

Gabriela: Ah, sim, eu optei pela enfermagem porque era um sonho de infância. Sempre sonhei em ser enfermeira.

William: E eu admiro isso. Sabe qual é o meu sonho?

Gabriela: Não, qual é?

William: Quero ser atleta profissional de surf, viver pegando onda e ganhando campeonatos.

Gabriela: Nossa, inesperado... Mas reparando bem agora você tem mesmo cara de surfista.

William(Com um sorriso no canto da boca): Tenho é?

Gabriela: Olha...Acho que, se é o seu sonho, deveria correr atrás dele.

William: Ah, não é tão simples assim. Às vezes, a gente tá destinado a seguir por trilhos e ver os alguns de nossos sonhos passando pela janela do vagão.

Gabriela dá um risinho simpático e William retribui.

William: Escuta, eu sei que você vai pensar em recusar pela estranheza desse momento, mas que tal aquela carona que eu te ofereci ontem? Só que agora eu te levo até a sua faculdade.

Gabriela: Ah, eu não sei...

William: Por favor, Gabi, você pode não me conhecer, mas eu não sou má pessoa, e a Jana me conhece; trabalha para a nossa família há anos. Você tem o direito de ficar desconfiada de mim, mas eu te peço um voto de confiança.

Gabriela fica indecisa, olhando para os lados.

Gabriela: Tudo... Tudo bem, então.

William ergue e sacode os braços, tentando algum tipo de comemoração, mas depois se envergonha do ato e assume uma feição constrangida. Então, ele vai até a porta do passageiro e abre para Gabriela.

William: Então vamos, princes... Digo, Gabriela.

Gabriela caminha devagar até o carro, ainda receosa com a situação. Ela entra, e William fecha a porta e também entra no carro pela porta do motorista, partindo com o carro.

O carro de William para em frente ao prédio da faculdade e, então, ele e Gabriela trocam olhares.

William: Acho que é aqui.

Gabriela: É sim.

Os dois permanecem em silêncio por uns instantes, Gabriela aparentando nervosismo.

Gabriela: Então eu vou indo, muito obrigada!

Gabriela se arruma para sair do veículo, até que William segura o braço dela.

William: Gabi, será que eu posso...

Gabriela: O que?

William: Sabe... Quando eu posso te ver de novo?

Gabriela encosta-se no banco, pensativa.

Gabriela: Não sei, preciso ver um dia em que esteja livre. Pode ser pra você?

William: Pode sim, você pode me passar o seu número, então?

Gabriela: Claro!

Gabriela então diz o número dela para William, que registra no smartphone.

William: Então é isso... Ah, espera um pouco.

William sai do carro e corre até a porta do carona, abrindo-a para Gabriela, que faz uma expressão confusa, mas sorri com o gesto gentil do rapaz. Algumas meninas que estavam na entrada do prédio veem tudo e começam a cochichar entre si. Gabriela, então, sai do carro e William dá um abraço e um beijo no rosto dela. Nesse momento, um clima surge entre os dois e os olhares se cruzam, ambos focando um no outro.

Gabriela: Então, tchau, William, a gente se vê.

William: Tchau, Gabi.

Gabriela começa a andar meio tímida em direção ao prédio, enquanto William a observa, encabulado e com o rosto corado, colocando as mãos nos bolsos. As meninas que cochichavam se aproximam de Gabi para perguntarem.

Milena: Gabiii, quem é aquele gato? É seu namorado?

Gabriela sorri envergonhada.

Gabriela: Não, é só um menino que eu conheci; ele me deu uma carona.

As meninas continuam fazendo perguntas para Gabriela enquanto caminham juntas para o prédio. Por um momento, Gabriela vira o rosto e avista William, que ainda está parado olhando para ela. Os dois sorriem um para o outro.

PARTE 2:  MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / SALA DE JANTAR / NOITE

Liliana: Eu tô sem ânimo até pra respirar. Preciso correr atrás de outro rumo enquanto ainda tô nova.

Júlio: Tudo bem, querida, o que você decidir, nós vamos apoiar.

Celina: Tem certeza que é isso que você quer, Liliana?

Liliana: Claro! Daqui a pouco o Oliver vai embora e eu vou ficar aqui. Preciso encontrar algo que me empolgue, que me faça levantar da cama todos os dias e correr atrás desse sonho.

Júlio: Não há necessidade de pressa, querida. Você ainda é tão mocinha. Tudo que você quiser, eu posso te dar. Quanto a isso não se preocupe.

Liliana: É exatamente com isso que eu me preocupo. Não posso mais ficar debaixo da asa de vocês. William concordo comigo, não é mesmo?

Liliana encara William com uma expressão questionadora. William, distraído com a mão direita no queixo, sai do transe e demonstra confusão.

William: O quê?

Liliana: Parece que alguém anda com a cabeça nas nuvens.

William: Só tava... pensando em umas coisas.

Celina: Pensando em quê, filho?

William: Coisas minhas, mãe, preocupações.

Celina: Ah, querido, sabe que pode me contar qualquer coisa. Não gosto de te ver assim. Você é sempre tão alegre.

Liliana: É, William, que bicho te mordeu?

William: Nada. Já disse que são coisas minhas, coisas da faculdade. Pronto, agora você já sabe.

Júlio: É normal ficar assim, filho. Afinal, sua formatura está se aproximando! Mal posso esperar pra vê-lo trabalhando comigo, depois que fizer uma especialização no exterior, é claro.

William mantém os olhos no prato, com tensão nos músculos da testa.

William: Sobre isso…

Celina: Nem fale nisso, Júlio. Só de pensar em ver meu bebê saindo do país, já fico aflita.

William coloca a mão sobre a de Celina.

William: Não precisa ficar assim, mãe. Além disso, ainda não me decidi quanto a isso.

Júlio faz uma careta de espanto.

Júlio: Como assim, filho? Não se decidiu? Achei que estava claro…

William: Não está, pai. Não… está. Só queria pedir que o senhor não me pressione sobre isso, pode ser?

Júlio sorri, desconcertado.

Júlio: Claro, filho. Não quero que pense que sou o tipo de pai que encurrala os filhos e…

Celina: Tenho certeza de que ele já entendeu, Júlio. Vamos mudar de assunto e ter um jantar em família como deve ser, sem essas discussões desagradáveis.

Liliana: Nossa, o clima pesou.

Júlio: Você tem razão, Celina. Desculpe por estragar o jantar.

William: Você não estragou nada, pai. Podemos conversar sobre isso outro dia. Só me dê um tempo pra pensar.

Júlio assente com a cabeça após um momento de hesitação.

PARTE 3: ÁREA EXTERNA DA MANSÃO / NOITE

William está deitado no sofá da área externa, com a mão direita sobre o rosto. A noite é calma, com o som distante de grilos e uma brisa suave. Liliana chega e dá um tapinha nas pernas dele, fazendo-o despertar.

Liliana: E aí!

William: Que foi?

Liliana: Você com essa cara.

William: Que cara? Eu tô normal.

Liliana: Olha, William, não deixa esses papos do papai te afetarem. Você tava sorridente mais cedo e agora tá com essa cara fechada.

William se senta no sofá, permanecendo em silêncio por alguns instantes e colocando uma almofada no colo.

William: É fácil pra você falar. Ele não coloca em você o mesmo tipo de expectativa que coloca em mim.

Liliana: Ah, mas você acha que isso é bom? Papai é um homem tradicional, jamais me veria à frente dos negócios da família. Por isso, não me ronda como faz com você.

William: E vai me dizer que você não gosta disso?

Liliana: Sinceramente? Não. Eu queria um pouco da consideração que ele tem por você. Mas ao mesmo tempo, tenho mais liberdade pra escolher ser o que eu quiser, sem que ele fique me chateando.

William: Tá vendo? É isso que eu quero: liberdade pra escolher meu caminho. Parece que ele já decidiu por mim. Isso não é pra mim, Liliana. Não é a vida que eu quero.

Nesse momento, Janaína se aproxima acompanhada de Laura.

Janaína: Viu, dona Laura? Falei que ele estava aqui.

Liliana: Laurinha, que surpresa ver você a essa hora. Já passou da hora do jantar, querida.

William: Boa noite, Laura!

Laura: Boa noite, William! Boa noite pra você também, Liliana! Eu só vim conversar com William.

Liliana: Então tá bom. Vou deixar vocês a sós.

Ela ergue uma sobrancelha em desdém para Laura.

Liliana (antipática): Até mais, queridinha…

Laura: Até mais.

Após Liliana sair, Laura a segue com os olhos, revirando-os brevemente.

William: Quer sentar aqui ou prefere ir pra outro lugar?

Laura: Que tal se a gente for pra um lugar mais reservado?

William: Tudo bem, então.

PARTE 4: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / VARANDA / NOITE

William segue com Laura até uma ampla varanda no andar de cima. Laura retira o casaco que vestia, revelando seu vestido tomara que caia. Ela tenta se ajeitar para parecer mais provocante. Enquanto isso, William parece distraído, com um dos braços apoiados no parapeito da varanda e o outro apoiando o queixo. Laura percebe a frieza de William e tenta chamar sua atenção.

Laura: William? William?

William: O que foi?

Laura: O que você tem? Estava pensando em quê?

William: Ah, nada, Laurinha, só umas coisinhas aqui que não vêm ao caso.

Laura se aproxima de William e envolve os dois braços em volta do pescoço dele.

Laura: E posso saber que coisas são essas?

William: É coisa minha.

Laura (aproximando os lábios dos dele): É mesmo?

Laura beija William, que tenta resistir, mas acaba se entregando. William interrompe o beijo e afasta Laura.

William: Vamos com calma.

Laura: O que foi? Você não gosta mais de mim?

William: Não é isso.

Laura (alisando os cabelos dele): Então o que foi?

William: É só que eu não tô no clima, me desculpa.

Laura: E o que você tem pra estar assim?

William: Nada, já disse que é assunto meu.

Laura: Então o que você acha da gente dar uma saidinha pra curtir a noite? Hã? E quem sabe ir fazer outras coisinhas, relembrar os velhos tempos. Tô com saudade de você, William.

Laura tenta avançar em William para beijá-lo novamente, mas ele a interrompe.

William: Laura, eu já disse que não tô no clima, não insiste, tá legal?

Laura: Nossa, o que você tem?

William: Eu não tenho nada e acho melhor você ir embora pra sua casa, já tá tarde.

Laura: Nossa, William, não precisa me tratar assim também.

William: Não estou te tratando mal, é só que agora não é o melhor momento, você entende?

Laura: Você conheceu alguém?

William: Que?

Laura: Era aquela garota que veio aqui ontem?

William: Quem?

Laura: Ai, William, deixa de ser sonso, você sabe muito bem quem é.

William: A Gabi? Ah, não, ela só tava vendendo uns negócios pro pessoal.

Laura: Mas você estava de muito papinho com ela ontem. Que negócios eram esses? Você estava interessado em comprar também? Agora se interessa por cacarecos de uma sacoleira qualquer.

William: Ih, Laura, esse teu papo está muito estranho. Quer saber? Cansei. Se não quiser ir embora, fica aí com meus pais fazendo sala pra você. Eu estou indo me deitar. Até mais.

William começa a caminhar de volta para dentro da mansão.

Laura: William!

William não dá ouvidos para Laura, que permanece gritando na sacada. Ele vai até as escadas e sobe, com Laura na cola dele, ainda gritando.

Laura: William, volta aqui!

Liliana surge e vê William subir as escadas com pressa. Ela encara Laura com um risinho no canto da boca. Laura vê e assume uma expressão enfurecida.

Laura: O que foi agora?

Liliana: Nada, querida, só tô vendo o seu showzinho.

Laura: Não tem nada para você ver aqui. Você sabia que seu irmão anda se engraçando com uma sacoleira?

Liliana: Não, não sabia. É aquela moça que veio aqui? Muito bonita ela! Talvez o Willy esteja finalmente refinando o gosto. Sabe, ele costumava se envolver com cada mocreia. Você precisava ver; aliás, acho que você sabe bem, não é mesmo?

Laura: Ai, pelo amor de Deus, me deixa em paz.

Laura sai com cara de choro, e Liliana debocha, gargalhando.

PARTE 5: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / QUARTO DE WILLIAM / NOITE

William entra no quarto e deita na cama, puxando o celular do bolso. Ele digita um número e faz uma chamada.

William: Oi, Gabi, boa noite, William aqui!

Gabriela: Boa noite, William.

William: Como tem sido a sua noite?

Gabriela: Pra falar a verdade um pouco exaustiva. Acabei de chegar em casa.

William: Sério?

Gabriela: Sim, estava trabalhando.

William: Você trabalha além de estudar?

Gabriela: Sim, mas é só meio período. Ajudo minha tia na loja dela; é só um empreguinho para me socorrer com algumas despesas. Ainda tenho a renda das coisinhas que vendo.

William: Entendo... Você parece ser uma pessoa muito esforçada.

Gabriela(rindo): Eu tento, as vezes nem sei como eu consigo.

William: Escuta, eu queria saber se aquele nosso encontro está de pé.

Gabriela: Acho que sim.

William: Então a gente pode marcar?

Gabriela: Sim, no fim de semana, que fica melhor para mim.

William: Beleza, então.

Gabriela: E onde você quer ir?

William: Ah, tem muitos lugares que eu quero levar você, mas tem um em especial; quero fazer surpresa.

Gabriela: Surpresa? Vai me levar na praia para ver você surfando?

William sorri.

William: Não, relaxa, quer dizer, se você quiser ir me ver surfando também pode.

Gabriela: Até que eu queria.

William: Nossa, então são dois encontros marcados?

Gabriela: Pode ser que sim, vamos ver o andamento do primeiro.

William: Então, sábado às 19h está bom pra você?

Gabriela: Está sim.

William: Então, às 19h eu passo aí e te pego.

Gabriela: Tudo bem.

William: Posso te dizer mais uma coisa?

Gabriela: Fala.

William: Vou contar os dias até o nosso encontro.

Gabriela: Eu... Eu também.

William: Ah, que bom que; tava com vergonha de você me achar emocionado demais.

Gabriela: Não, que isso, você é um fofo, talvez um pouco apressado, mas ainda assim um fofo, e eu vou adorar sair com você. Agora eu tenho que desligar porque estou morrendo de fome, tenho que tomar banho e jantar.

William: Tudo bem, minha linda, bom jantar pra você. Tchau.

Gabriela: Tchau.

A ligação é encerrada e William coloca o telefone devagar sobre o peito, com o olhar fixo no teto e um riso bobo nos lábios, como se estivesse sonhando acordado. Até que ele ouve um barulho de notificação vindo do celular e, ao checar, nota que Gabriela lhe enviou uma mensagem via WhatsApp. Ele então vê que se tratava de uma foto enviada por ela, aparentemente tirada após a ligação; na selfie, Gabriela esbanja um sorriso simpático. William ri e fica um tempo admirando a foto de Gabriela, até que tira uma selfie dele sorrindo e a envia para ela.


FIM DO CAPÍTULO 

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