CENA 01: MANSÃO FIGUEIRA/INT./NOITE
INSTRUMENTAL: HANS DRONE - IURI CUNHA
Agindo por impulso, ela começa a rasgar a foto, pedaço por pedaço, com prazer. Nesse exato momento, a porta se abre com força. Cecília entra e dá de cara com Isabel destruindo a foto.
CECÍLIA: O que é isso? O que você tá fazendo no meu quarto? Tá mexendo nas minhas coisas por que?
Isabel gela.
CECÍLIA (se aproxima): A foto… a foto da minha mãe… você rasgou. Não é possível! Como você teve a coragem?
ISABEL (gaguejando): E-eu… eu só…
CECÍLIA (com os olhos cheios de lágrimas, com raiva): Eu cansei, Isabel! Cansei de ser humilhada, rebaixada e ofendida por você. Mas agora chega! Eu não vou mais tolerar esse tipo de coisa!
Cecília avança e desfere um tapa estalado no rosto de Isabel. Antes que ela possa reagir, a mocinha dá o segundo tapa, fazendo a noiva de Leandro segurar o rosto, incrédula. Com ódio, a mocinha joga Isabel contra o chão e sobe em cima dela, dando vários tapas seguidos.
CECÍLIA: EU FALEI QUE NÃO SOU DE LEVAR DESAFORO PRA CASA, NÃO FALEI? TÁ AQUI Ó, TÁ AQUI O QUE VOCÊ MERECE!
Ela continua a dar golpes em Isabel, que, em um momento, reage e lhe devolve alguns tapas, mas quase sem sucesso. Ao ouvirem a gritaria, Tércio, Leila e Nina sobem a escada apressadamente e vão até o quarto.
TÉRCIO (gritando, indignado): MAS O QUE É ISSO?! PERDERAM O JUÍZO?!
Depois de muito custo, o empresário consegue apartar a briga das duas.
CECÍLIA (bufando, furiosa, ofegante): Eu cansei de aguentar as humilhações dessa mal amada! CHEGA!
ISABEL (chorando, transtornada): Você vai pagar caro pelo que fez comigo, sua desgraçada! Vai se arrepender amargamente de ter nascido!
CECÍLIA (encarando, sem medo): Eu? Quem devia se arrepender é você! Que entrou no MEU QUARTO, mexendo nas MINHAS COISAS... e ainda teve a cara de pau de rasgar a foto da MINHA MÃE!
Silêncio. Todos se chocam.
LEILA (olhando, boquiaberta): COMO?! Isso é verdade, filha?!
TÉRCIO: Por que fez isso, Isabel?
ISABEL (gagueja, transtornada): Eu... eu... agi por impulso! Não sei o que me deu… quando vi, a foto já tava em pedaços…
CECÍLIA: Mexer comigo, Isabel, eu até posso tolerar, mas mexer com a memória de minha mãe… ah, isso você pode ter certeza que se acontecer, eu viro uma onça!
ISABEL (se aproxima da rival, com raiva no olhar): Sabe de uma coisa? Eu odeio você! Eu te odeio com todas as minhas forças, desde quando você botou os pés nesta casa. E se prepara, porque eu não vou esquecer dessa surra tão cedo, sua infeliz. Pode levar o tempo que levar, mas vai ter volta! A partir de hoje, você tem uma inimiga!
TÉRCIO (grita): JÁ CHEGA, ISABEL! CHEGA, AS DUAS! ACABOU ESSA PALHAÇADA!
Isabel encara Cecília por uns segundos e se retira do quarto, acompanhada por Leila.
CENA 02: MANSÃO FIGUEIRA/QUARTO DE ISABEL/NOITE
Bufando de raiva, Isabel entra no quarto, batendo a porta com força. Sem pensar, arremessa um objeto contra a parede, que se espatifa. Ela solta um grito alto, misto de ódio e frustração. Nesse momento, Leila surge logo atrás, apressada, preocupada, e fecha a porta imediatamente.
LEILA: Pelo amor de Deus, Isabel... o que foi isso?! Você enlouqueceu de vez?!
ISABEL (gritando, surtada): EU ODEIO AQUELA DESGRAÇADA!
Sem pensar duas vezes, Leila se aproxima de Isabel, segura firme pelos ombros e começa a sacudi-la, já perdendo completamente a paciência.
LEILA (alterada): OLHA AQUI, EU JÁ SUPORTEI POR DEMAIS ESSAS SUAS LOUCURAS, MAS AGORA JÁ DEU!
Isabel engole seco.
LEILA: Até quando eu vou ter que pedir pra você não agir assim, por impulso, Isabel?! Você acha o quê? Que a vida é um conto de fadas? Você precisa ser mais inteligente! Precisa ser mais estratégica! Você só tá dando mais poder pra bastarda, não tá vendo?!
ISABEL: Credo… a senhora nunca falou assim comigo. Fico até com medo.
LEILA: Chega uma hora, que não dá mais! Eu quero que você seja igual a mim, minha filha! Quero que seja discreta, que coma pelas beiradas e que saiba a hora certa de atacar! Você acha que eu gosto de ver a minha filha apanhando? Eu não gosto, Isabel! Pelo contrário, odeio quando alguém te faz mal. Mas a verdade é que você caçou com as mãos!
ISABEL: A minha vontade era de acabar com a raça daquela mosca morta e fazer ela desaparecer da face da Terra!
LEILA (fria): Você quer mesmo que isso aconteça? Então comece a pensar… a usar a cabeça!
ISABEL: Mas como?! A senhora sabe que eu sou assim, intensa, explosiva!
LEILA (olhando nos olhos de Isabel, manipulando): Comece a ser a vítima da história, Isabel. Se faça de coitada, de humilhada… deixa que o resto… eu cuido.
ISABEL: Eu só queria que aquela suburbana dos infernos saísse dessa casa de uma vez por todas!
LEILA: Fica tranquila. Uma hora ou outra, vamos fazer com que isto aconteça, meu amor. Agora vem cá, deixa eu te fazer um cafuné. Minha linda… eu te amo tanto. Pode ter certeza que não vou deixar que nenhum mal te aconteça.
Cortamos para o quarto de Cecília, onde mostramos a mocinha sentada na beira da cama enquanto chora e bebe um copo d'água, servido por Nina.
NINA: Você não devia ter feito isso… por mais que a Isabel esteja errada, agir assim só faz você perder a razão.
CECÍLIA (com lágrimas nos olhos): Eu perdi a cabeça… fiquei cega…
NINA: Olha, eu acho que vocês deveriam sentar e conversar como duas adultas. Estão parecendo duas crianças birrentas.
CECÍLIA: A Isabel, né? Ela mesmo já declarou abertamente que me odeia.
NINA: Eu vou tentar conversar com ela depois, mas a Leila sempre me impede de chegar perto da menina…
CECÍLIA: Por qual motivo?
NINA (se enrola): Deixa pra lá…
CECÍLIA (se levanta): Eu acho que vou dar uma saída, pra espairecer… minha amiga começou a trabalhar naquela discoteca famosa do centro, sabe? Acho que vou pra lá.
NINA: A Let's Dance?
CECÍLIA: Sim… você não quer ir também?
NINA: Não… não… deixa pra próxima.
Ao som de “Got To Be Real - Cheryl Lynn”, mostramos imagens do Rio de Janeiro e em seguida, cortamos para o exterior da discoteca, onde a música continua a tocar.
CENA 03: DISCOTECA LET'S DANCE!/INT./NOITE
O ambiente está cheio de luzes, música alta, gente dançando, rindo e curtindo. A câmera passeia pelo salão, mostrando o clima descontraído, até cortar para Lurdinha, que está na recepção, observando tudo com um sorriso no rosto, admirando. De repente, Leandro surge. Ele a reconhece e se aproxima, surpreso.
LEANDRO (surpreso): Lurdinha!? Não sabia que tava trabalhando aqui.
LURDINHA (sorrindo): E eu não sabia que você frequentava esse lugar. Veio dançar também?
LEANDRO (ri, descontraído): Não… eu sempre venho aqui pra apreciar as músicas, o lugar…
Nesse instante, Cecília entra no local. Ela está visivelmente abalada, os olhos marejados. Anda apressada, olhando em volta, até avistar os dois. Sem pensar, corre até eles.
LURDINHA (preocupada, correndo até ela): Cecília?! Meu Deus, você tá chorando… o que houve?
Lurdinha a abraça apertado, tentando confortá-la.
LEANDRO (surpreso, preocupado): Aconteceu alguma coisa?
CECÍLIA (respira fundo): A Isabel…
LEANDRO: O que foi que ela fez agora?
CECÍLIA: Eu cheguei em casa e… e dei de cara com ela, no meu quarto… mexendo nas minhas coisas… e… e ela ainda teve a coragem de rasgar uma foto da minha mãe.
LURDINHA (arregala os olhos, indignada): O quê?! Eu vou lá agora dar uma surra naquela nojenta! Essa patricinha vai aprender a não mexer com você! Quem ela tá pensando que é?
CECÍLIA: Não precisa, Lurdinha. Eu… eu já fiz isso.
LEANDRO (arregalando os olhos, em choque): Você… você bateu na Isabel?!
Cecília respira fundo e balança a cabeça, confirmando.
LURDINHA (abre um sorriso enorme, dando risada e batendo palmas): Isso aí, minha amiga! Finalmente! Foi assim que eu te ensinei!
LEANDRO: A Isabel tá passando de todos os limites… Cada dia mais infantil, mais descontrolada…
CECÍLIA (se encolhe no abraço de Lurdinha, respirando fundo, triste): Foi horrível… eu tô me sentindo tão mal… nunca imaginei que eu fosse capaz de fazer isso…
LEANDRO: Calma, Cecília. Eu não vou dizer que você fez o certo… mas, olha… ela pediu.
LURDINHA: Se até você, que é noivo dela, tá falando isso…
CECÍLIA (limpa as lágrimas, suspira): Eu vim pra cá… porque eu tava com saudades de você, Lurdinha. Saudades das nossas conversas, das nossas risadas… E também… pra tentar espairecer um pouco, esquecer um pouco dessa guerra toda.
LURDINHA (abraçando Cecília com força): Pois então pode ficar tranquila, meu amor. Tá comigo, tá com Deus!
LEANDRO (após pensar várias vezes): Quer dançar comigo, Cecília?
CECÍLIA (se surpreende): O quê?
LEANDRO: Dançar… você quer?
CECÍLIA: Ah, não… não sei… eu não tô com cabeça pra isso hoje…
LURDINHA (incentivando): Vai dançar com ele, boba! É bom que você para de pensar naquela patricinha nojenta. Vai logo! Mexe esse corpinho, mulher!
CECÍLIA (olha pra Leandro, depois pra Lurdinha, hesita… respira fundo): Tá bom… só uma música.
Eles seguem em direção à pista. A câmera acompanha os dois, e a música “Outra Vez - Roberto Carlos” começa a tocar. Leandro segura Cecília pela cintura, e ela coloca as mãos nos ombros dele. Começam a dançar devagar, bem próximos, olhando um no olho do outro. Aos poucos, os rostos vão se aproximando. Leandro toca o rosto de Cecília com carinho. Ela fecha os olhos. Então, eles se beijam. Um beijo calmo, cheio de paixão. Lurdinha observa a cena de longe e sorri, entusiasmada.
AMANHECE
CENA 04: LANCHONETE/INT./MANHÃ
Cecília e Lurdinha estão sentadas na mesa, tomando café. Cecília olha meio distraída, pensativa. Lurdinha olha pra ela, toda debochada.
LURDINHA (cruza os braços): Tá... então você acha que eu vou fingir que não vi o que aconteceu ontem? Acha mesmo que eu sou cega, Cecília?
CECÍLIA (faz a desentendida): O quê? Não tô entendendo do que você tá falando, não...
LURDINHA (ri): Ah, não vem não, mocinha! Eu vi muito bem! Você e o Leandro... no meio da pista... se agarrando... e olha, não foi beijinho, não, hein! Foi um beijão!
Cecília fica sem saber onde enfiar a cara.
CECÍLIA (suspira): Ai, Lurdinha... eu não sei nem o que dizer. Eu juro que não tava nos meus planos... A gente começou a dançar... um olhou pro outro... e, de repente...
LURDINHA: De repente... pimba! Beijo na boca! E que beijo, viu! Quase pegou fogo naquela pista!
CECÍLIA (ri, meio nervosa): Para, Lurdinha! Você tá me deixando sem graça...
LURDINHA (se diverte): Sem graça, nada! Tá é apaixonada, isso sim! Eu vi a sua cara, Cecília! E a dele também... ele tava babando em você!
CECÍLIA (muda a expressão, ficando séria): É… mas temos que levar em conta que ele é noivo da Isabel, né? Ai, Lurdinha… eu beijei o noivo da minha irmã…
LURDINHA: Calma. Não fica pensando nisso, Cecília. É só você não deixar isso acontecer de novo.
CECÍLIA: É isso mesmo que eu vou fazer!
LURDINHA: E olha... já que a gente tá falando de romance... tenho uma coisa pra te contar também!
CECÍLIA (curiosa): O quê?
LURDINHA (faz suspense): Eu... tô conhecendo melhor o Teófilo.
CECÍLIA (arregala os olhos, chocada): O quê?! O Teófilo? O segurança da mansão?!
LURDINHA: Esse mesmo, meu amor! Grandão, sério... mas olha... quando pisa na discoteca... se transforma! Já até dançou comigo, acredita?
CECÍLIA (ainda surpresa): Eu não tô acreditando nisso!
LURDINHA (pisca): Pois acredite! O homem dança direitinho e ainda é um gato. Quem vê aquele jeito todo sério lá na mansão nem imagina...
CECÍLIA: Não vai se apaixonar, hein?
LURDINHA: E se eu já estiver?
CENA 05: HOSPITAL DA UNIÃO/INT./MANHÃ
Leandro está em sua sala, pensativo. Ele pensa no beijo que deu em Cecília e sorri de canto. Logo depois, a expressão dele muda e fica preocupado.
LEANDRO: Isabel, Isabel… só espero que eu não esteja fazendo a coisa errada em me casar com você…
CENA 06: APARTAMENTO DE LUXO/INT./MANHÃ
Ivani está na sala, sentada no sofá, pintando as unhas com toda calma do mundo. Ela fuma um cigarro, distraída. De repente, a campainha toca. Ela se assusta levemente, olha para a porta desconfiada, apaga o cigarro no cinzeiro e se levanta. Caminha até a porta, ajeitando a alça da camisola no ombro. Ao abrir, se depara com Tércio.
IVANI: Olha só… se não é o doutor Tércio Figueira. Que surpresa…
TÉRCIO : Posso entrar?
IVANI: Claro!
Ele adentra o apertamento e olha em volta, assustado com tanto luxo, enquanto Ivani fecha a porta.
TÉRCIO (olhando em volta): Ué… esse apartamento é esplendoroso! Não é nada do que você havia me contado.
IVANI (gagueja): É que… não é meu. Esse apartamento é de um cliente. Como ele vive viajando e tem outra casa, eu fico aqui quando ele deixa… Na minha casa mesmo não tem nada. Água, luz… tudo foi cortado.
TÉRCIO: Que situação… Bom, eu vim até aqui pra saber se aquela proposta ainda tá de pé.
IVANI: De ir trabalhar na sua casa? Mas é claro que tá! Eu não vejo a hora de sair daqui… parece que tô incomodando…
TÉRCIO: Por mim, você pode ir ainda nesta semana. A minha casa está cheia, sabe? Descobri que tive uma filha fora do casamento e ela foi morar lá… além da sobrinha da minha irmã que se instalou também.
IVANI: Deve ser estranho, né? Descobrir que tem uma filha assim.
TÉRCIO: Pois é. No começo, confesso que fiquei incomodado, mas agora… parece que conheço ela desde sempre.
IVANI: E a mãe? Aceitou numa boa?
TÉRCIO: A mãe… faleceu.
IVANI: Poxa…
TÉRCIO: Pois é. Mas Cecília já superou tudo, está seguindo a vida como deve ser seguida…
IVANI (desconfiada): Cecília?
TÉRCIO: Sim… este é o nome de minha filha. O da mãe era Margarida… nomes bonitos, não acha?
IVANI (cruzando os braços): Pera aí… o senhor disse… que o nome da sua filha é Cecília e a mãe dela se chamava Margarida?
TÉRCIO: Sim. Qual o problema? Você a conhece?
IVANI (disfarçando o choque): Não, não… devo ter confundido os nomes.
HORAS DEPOIS…
CENA 07: MANSÃO FIGUEIRA/INT./DIA
Nina está em seu quarto, ouvindo música e dançando. De repente, Leila entra apressada e corta o som, fazendo Nina desmanchar sua expressão de alegria imediatamente.
NINA: Mas o que é isso? Quem você pensa que é pra invadir o meu quarto desse jeito?
LEILA (irritada): Isso aqui não é uma discoteca! Você já tá passando de todos os limites, sua abusada! Você vai embora dessa casa o mais rápido possível, não te quero mais aqui!
NINA (enfrentando, firme): Não vou! Não vou, não vou e não vou! Você que chame os seguranças, a polícia, o papa, mas eu não vou sair!
LEILA: Eu te imploro, Nina… saia desta casa enquanto é tempo… eu te dou o que você quiser, a grana que você quiser… é só falar o seu preço.
NINA: Não saio! Ou você para de querer me tirar desta casa, ou eu conto tudo pro seu Tércio e pra Isabel que ela não é filha de vocês!
LEILA: Shhh! Cala essa sua boca! Imagina se Isabel escuta uma coisa dessas?
De repente, Isabel que estava passando pelo corredor, ouve a frase que a mãe disse e decide entrar no quarto, curiosa.
ISABEL: Escutar o que, mamãe? O que é eu não posso saber?
Silêncio. A câmera dá close alternado em todos os personagens presentes na cena.
CONGELAMENTO EM LEILA.
A novela encerra seu 11° capitulo ao som de “Trouble - Elvis Presley”.
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