“TEIA DE SEDUÇÃO”
Novela criada e escrita por
Susu Saint Clair
Capítulo 16
CENA 01: MANSÃO PASSARELLI – SALA DE ESTAR – NOITE
Continuação da última cena do capítulo anterior. O delegado entra, acompanhado de dois policiais. Afonso está de pé, tenso.
DELEGADO: Sr. Afonso Passarelli... o senhor vai ter que me acompanhar.
NADINE: (assustada) Que brincadeira é essa, Afonso?
AFONSO: (frio) Liga pro Raí, mãe. Agora.
NADINE: (se aproxima dele, apavorada) Afonso, pelo amor de Deus... o que foi que você fez com o Volney?
AFONSO: (a encara) Liga pro Raí contando o que tá acontecendo. E chama meu advogado também! Vou indo com eles.
Ele a encara por um segundo, respira fundo e lhe dá um beijo na testa. Ele dá as costas e segue com o delegado. Os policiais o escoltam.
Celina desce as escadas, ainda ajeitando o robe de seda, confusa.
CELINA: Mas que barulheira é essa?
Nadine está paralisada, com o celular na mão.
NADINE: (com a voz embargada) Afonso foi preso.
CELINA: (parando no meio da escada) O quê?! Que história é essa?
NADINE: A polícia disse que ele tá sendo acusado de tentar matar o Volney.
Celina leva a mão à boca. Felipe senta pesadamente no sofá, com a cabeça entre as mãos.
CELINA: Isso é... isso é loucura. Isso não pode ser verdade.
FELIPE: O problema é que é verdade. Infelizmente. Eu sabia que essa história de vingança não ia dar certo.
Nadine começa a discar no celular, as mãos trêmulas.
CENA 02 – VELUDO VERMELHO – ESCRITÓRIO – NOITE
Uma música lenta e sensual vaza de fora do escritório, abafada pelas paredes acolchoadas. Jaqueline está sentada numa poltrona vermelha, com uma taça de vinho nas mãos, observando Raí que caminha de um lado pro outro, ansioso, com o celular colado no ouvido.
RAÍ: (tenso, impaciente) Eu não tô acreditando nisso…
Jaqueline se endireita na poltrona, os olhos fixos nele.
JAQUELINE: O que foi?
Raí afasta o celular do ouvido, respira como se tivesse levado um soco.
RAÍ: O Afonso foi preso. Ele está sendo acusado de tentar matar o Volney.
JAQUELINE: (suspira com as mãos no rosto) Meu Deus… será que a culpa bateu na consciência ao ponto dele se entregar?
RAÍ: Acho que não. A minha mãe falou que o Afonso foi pego de surpresa.
JAQUELINE: Então o Volney descobriu sobre a armação do campeonato e denunciou ele.
RAÍ: Ah, mas eu mato aquele desgraçado.
CENA 03 – DELEGACIA – NOITE
A porta de vidro se abre com um rangido seco. Afonso entra, escoltado pelos policiais. O ambiente é frio, iluminado por fluorescentes implacáveis. O burburinho dos plantonistas silencia quando ele cruza o saguão.
Mas o que realmente congela o ar é quando ele dá de cara com Volney e Estela, lado a lado.
ESTELA: (avançando nele) Desgraçado, maldito, você tentou matar meu filho, afogando ele no mar. Como você teve coragem de fazer uma coisa dessas, seu miserável?
AFONSO: Se eu quisesse mesmo matar o Volney, você acha que eu teria salvado a vida dele?
Volney, mais abatido do que furioso, dá um passo à frente. A tensão entre os dois é elétrica, perigosa.
VOLNEY: Você já tinha me exposto pra cidade inteira com aquela foto, Afonso! O que mais você queria? Minha cabeça numa bandeja?
AFONSO: Volney, minha intenção nunca foi te machucar fisicamente. Eu tô arrependido de ter feito aquilo, foi burrice minha, eu nunca iria me perdoar se você tivesse morrido. Porque apesar de tudo eu ainda gosto de você.
Volney aproxima o rosto a centímetros do de Afonso.
VOLNEY: Você quer saber de uma coisa, Afonso? Eu preferia ter morrido naquele afogamento. Eu preferia ter morrido só pra você carregar essa culpa até o fim da sua vida!
SILÊNCIO. Afonso não responde. Só o encara, como se por dentro algo estivesse sendo arrancado. O Delegado aparece e segura Afonso pelo braço.
DELEGADO: Chega. Vamos.
Afonso é conduzido para a sala. Volney desaba num suspiro contido. Estela está com os olhos marejados, em choque.
É nesse instante que a porta da delegacia se abre novamente. Raí surge como um furacão, com Jaque logo atrás. Ao ver Volney ele nem hesita.
RAÍ: (gritando) DESGRAÇADO!
Raí avança e acerta um soco seco no rosto de Volney, que cai no chão com estrondo. Os policiais correm, mas Raí já recua, ofegante.
Volney, no chão, passa a mão na boca sangrando e olha para Raí com ódio frio.
CENA 04 – SALA DO DELEGADO – NOITE
Afonso está sentado à frente do delegado. Ao lado, o ESCRIVÃO digita tudo, impassível.
O som das teclas ecoa no silêncio.
DELEGADO: (olhando fixamente para Afonso) A gente precisa da verdade, Afonso. Sem floreio e sem meia culpa.
AFONSO: (encarando-o, direto) Eu marquei um encontro com a Sabrine no shopping, sabia que ela tava disposta a qualquer coisa pra se vingar do Volney.
DELEGADO: E você a manipulou?
AFONSO: Sim, eu fiz ela acreditar que tava tomando as próprias decisões. Mas fui eu quem plantou a ideia de dopar o Volney.
O escrivão digita. O clique das teclas agora parece mais alto.
AFONSO: (com amargura na voz) Eu queria ver ele perder. Só isso. Ele me traiu, me feriu do jeito mais baixo possível.
DELEGADO: E você achou justo acabar com o futuro dele por causa disso?
AFONSO: Eu não queria acabar com nada. Eu só queria…
Ele se cala por um instante. Pensa. Ele não quer meter Jaqueline e todo plano no meio da confissão. Ele suspira e continua.
AFONSO: Queria que ele sentisse um gosto do que é ser deixado pra trás. Que sentisse um pingo da dor que ele me causou. Mas matar…? Eu nunca quis isso.
DELEGADO: (frio) Mas foi isso que quase aconteceu.
AFONSO: (mais firme agora) Eu podia ter deixado ele morrer, Delegado. Mas eu salvei a vida dele.
Silêncio. O delegado o observa. Afonso abaixa os olhos, quase num sussurro agora.
AFONSO: Eu ainda tinha algum afeto por ele… Mesmo depois de tudo. Mesmo depois dos chifres, da humilhação…
DELEGADO: E o rapaz do quiosque?
AFONSO: (encara de volta) A Sabrine pagou pra ele dopar o Volney. Ele colocou tranquilizante na bebida dele antes do campeonato. Foi tudo arquitetado. Mas a ordem foi minha.
O escrivão para de digitar e olha para o delegado, que fecha uma pasta lentamente. Silêncio denso. A verdade está no ar, crua, fedendo a ressentimento.
DELEGADO: (levantando-se) Seu depoimento vai ser anexado ao inquérito.
Afonso assente, em silêncio. A máscara de controle racha um pouco. Mas ele não chora. Não ali.
CENA 05 – DELEGACIA – NOITE
CONTINUAÇÃO DA CENA 03: Volney ainda esfrega a boca machucada do soco. Estela volta bruscamente para Raí.
ESTELA: Você perdeu a cabeça, Raí! Meu filho é a vítima e é nele que você bate?
RAÍ: (encarando com sangue nos olhos) Tava devendo esse soco desde o dia em que esse canalha traiu meu irmão. Enchia a boca pra dizer que amava ele, aí traiu ele, e agora jogou ele na cadeia. Desgraçado.
Volney ri com escárnio.
RAÍ: (sem tirar os olhos dele) E te digo mais: o que o Afonso fez contigo ainda foi pouco.
ESTELA: (chocada) Eu não tô acreditando que você tá defendendo uma tentativa de assassinato.
RAÍ: (irritado) Que tentativa de assassinato, Estela, acorda pra vida. Se o Afonso quisesse matar esse aí, ele já teria matado no dia que descobriu o chifre, eu que não deixei ele fazer nada.
Volney e Estela se entreolham.
VOLNEY: Como é que é?
RAÍ: Fui eu que contei pro Afonso que você traía ele com a Sabrine. Foi graças a mim que ele arrasou com aquele jantar, e vou te dizer uma coisa, se não fosse por mim, ele teria acabado com você no dia que cê foi se encontrar com ela no quiosque. Porque era isso que ele pretendia fazer. E se ele quisesse mesmo te matar, ele não teria salvado a sua vida.
VOLNEY: Então foi por sua culpa que eu caí daquela escada? Seu miserável.
Volney vai partir pra cima dele. Os dois se atracam. Jaqueline se coloca entre os dois, tentando manter o controle.
VOLNEY: Olha aqui, mãe. Isso aqui é uma cobra que você colocou dentro da nossa casa. Se ele não cair fora… quem vai sair sou eu!
JAQUELINE: Chega, gente. Esse não é o momento pra lavar roupa suja não.
Nesse instante, a porta da delegacia se abre novamente. Entra Sabrine, acompanhada de Gioconda.
VOLNEY: Aí, ó! Chegou quem tava faltando: a cúmplice. A criminosa.
SABRINE: Você adora se fazer de vítima, né, Volney? Seu ridículo.
ESTELA: (voa pra cima dela) Sua vagabunda! Quase matou meu filho! Duas vezes!
CONFUSÃO. Jaqueline e um policial tentam apartar. GRITOS. Gioconda segura a filha pelo braço. Sabrine se solta.
SABRINE: Eu não falo uma palavra sem a presença do meu advogado.
ESTELA: (indignada, ofegante) Eu vou sair daqui! Se eu ficar mais um segundo olhando pra tua cara, eu vomito!
Estela puxa Volney e saem para o corredor lateral. Silêncio. Clima tenso. Gioconda observa Jaqueline com olhos semicerrados.
GIOCONDA: Pera aí… Eu tô te reconhecendo. Cê não é a amante do Zé Carlos?
Jaqueline arqueia a sobrancelha.
JAQUELINE: Eu? Cê deve tá me confundindo, querida.
SABRINE: É ela mesma, mãe.
GIOCONDA: Você é parente do Afonso, meu bem?
Jaqueline paralisa. RAÍ se inclina e sussurra no ouvido dela, rápido e firme.
RAÍ: (baixo) Mete o pé agora.
JAQUELINE: (olhando em volta, tensa) E o Afonso?
RAÍ: Eu falo com ele que você veio. Vai logo.
Jaqueline hesita por um segundo, depois se afasta com passos calculados, dignos. Gioconda observa a saída dela, depois se vira para Sabrine.
GIOCONDA: A Gisela tem que saber disso. Agora.
CENA 06 – MANSÃO VON BERGMANN – QUARTO DE GISELA – NOITE
Gisela está sentada numa poltrona ao lado da cama, envolta num robe de seda vinho. Um copo de conhaque repousa na mesa de canto. O celular encostado na orelha.
GISELA: (seca, direta) Você tem certeza, Gioconda?
CORTA PARA: INTERIOR da delegacia, Gioconda encostada na parede, de costas para o corredor. Voz ao telefone.
GIOCONDA: (sussurra) Gisela, presta atenção. A Jaqueline tava aqui! Acompanhada do Raí. Quando eu disse que ela era amante do Zé Carlos, ela fingiu que não sabia nem quem era. Se fez de sonsa.
CORTA DE VOLTA – Gisela, com o olhar fixo no espelho.
GISELA: Se ela tá ligada ao Afonso… Então, inevitavelmente, está ligada ao Felipe.
Pausa. Gioconda hesita. A tensão atravessa a linha telefônica.
GIOCONDA: (quase num sussurro) Você não tá achando que a Jaqueline… é a…
Gisela aperta o copo de conhaque. Os olhos brilham com uma fúria silenciosa, como se uma peça antiga de um quebra-cabeça finalmente tivesse voltado à mão.
GISELA: Eu vou tirar a prova agora!
Ela desliga o celular antes que Gioconda possa responder. Silêncio no quarto. Gisela se levanta, vai até a cômoda, abre uma gaveta e pega um revólver. Ela encara por um instante. A mão treme levemente.
GISELA: (baixo, quase um sussurro para si mesma) Já estava desconfiada que aquela vagabunda queria acabar comigo. Roubou meu marido… e agora que ele é presidente da empresa… ela pode ser capaz de conseguir qualquer coisa através dele. Se for você, sua bastardinha… O inferno vai parecer recreio.
CENA 07 – SALA DE ESTAR – NOITE
Gisela ajeita o casaco com um gesto firme, pronta para sair. A empregada aparece, observando-a com curiosidade.
EMPREGADA: Dona Gisela, a senhora não vai jantar hoje?
GISELA: Não. Tenho algo muito importante pra resolver. Tô indo pra Bergmann Privé.
Ela dá as costas sem esperar resposta, caminhando com passos decididos rumo à porta.
CENA 08 – APART-HOTEL – SUÍTE PRESIDENCIAL – NOITE
Jaqueline conversa com José Carlos.
JAQUELINE: Meu primo, Afonso, tá preso.
JOSÉ CARLOS: (surpreso) O que aconteceu?
JAQUELINE: Por causa do Volney, ex-namorado dele, que também foi ex da Sabrine, filha da Gioconda.
José Carlos franze a testa, preocupado.
JAQUELINE: Eu tava lá na delegacia. A Gioconda me reconheceu, José Carlos. Me reconheceu como sua amante. Ficou me fazendo umas perguntas. O Raí tava comigo. Ele mandou eu meter o pé. Eu saí correndo, mas eu tô preocupada.
JOSÉ CARLOS: E se ela abrir a boca pra Gisela e contar da ligação entre você e o Afonso? Porque pelo que você me contou, ela já tinha uma noção quando te viu com o Raí, agora então… ela vai ficar desconfiada e ligar os pontos, vai sacar tudo… se você é ligada ao Raí e ao Afonso, é ligada ao Felipe.
JAQUELINE: (engolindo seco) É o que mais temo. Aquela vadia não pode saber que eu sou filha do Nelson antes dele! Não antes dele me botar como principal herdeira da fortuna dele.
José Carlos pega o celular com rapidez, disca e espera. A voz da empregada responde.
EMPREGADA: (V.O.) Boa noite, casa dos von Bergmann.
JOSÉ CARLOS: Gisela está aí?
EMPREGADA: (V.O.) Saiu há pouco. Foi pra Bergmann Privé.
José Carlos desliga o celular, com a respiração acelerada.
JOSÉ CARLOS: Ela já pode estar investigando. Preciso ir até lá. Agora. A pasta com todas suas informações estão na minha sala na empresa.
Jaqueline se levanta, apressada.
JAQUELINE: Eu vou com você.
JOSÉ CARLOS: (segurando seu braço, firme) Não, Jaque. Pode ser perigoso.
Ele a puxa para perto e a beija com intensidade, cheio de aflição e proteção. José Carlos solta um suspiro profundo, pega a jaqueta e sai apressado pela porta, deixando Jaqueline sozinha, preocupada.
CENA 09 – MANSÃO VON BERGMANN – SALA DE ESTAR – NOITE
Otávio entra pela porta da sala, o olhar carregado de cansaço. Marcos aparece com um copo de uísque na mão.
OTÁVIO: Cadê todo mundo?
MARCOS: Minha mãe e a Sabrine foram pra delegacia.
OTÁVIO: O que houve?
MARCOS: Sabrine foi indiciada como cúmplice na tentativa de homicídio contra o Volney. Ela foi até lá prestar depoimento.
Otávio olha para ele, surpreso.
MARCOS: (com um sorriso cruel) Com isso já se supõe que seu namoradinho também deve estar por lá, já que ele é o chefe da quadrilha. Eu até avisei pro Volney não meter minha irmã nessa história, mas ele quis fazer as coisas do jeito dele, né? Fazer o quê…
OTÁVIO: Peraí, então foi você quem delatou o Afonso pra ele? Você fez o Volney denunciar o Afonso pra polícia por causa daquela história da vingança?
MARCOS: Pois é, né. Alguém tinha que fazer alguma coisa, afinal de contas, lugar de bandido é na prisão! E graças a mim, aquele miserável do Afonso vai apodrecer na cadeia.
Otávio perde o controle. Num impulso, desfere um soco violento no rosto de Marcos, que vai ao chão, derrubando a bandeja com copos e garrafas de uísque, que se espalham pelo chão com estilhaços.
Otávio, tomado pela raiva, respira pesado e sai em disparada pela porta. Marcos se levanta, com a boca sangrando, olhos faiscando raiva.
CENA 10 – BERGMANN PRIVÉ – SALA DA DIRETORIA – NOITE
A sala está mergulhada na penumbra. Sombras alongadas nas paredes. José Carlos entra devagar, o corpo tenso, olhos vasculhando cada canto. Ele avança até a mesa, onde apoia as mãos, sentindo o frio do móvel.
Com um gesto rápido, liga a luz do abajur. O foco ilumina sua mão abrindo a gaveta com cuidado. Ele remexe entre papéis.
GISELA: (off) Olá, meu querido.
José Carlos levanta a cabeça, assustado, o rosto ficando pálido.
Gisela dá um passo à frente, a pasta negra com detalhes dourados em mãos, abrindo-a levemente para revelar documentos e fotos de Jaqueline.
GISELA: (com um sorriso cruel) É isso aqui que você está procurando?
José Carlos fixa o olhar na pasta, enquanto Gisela sorri com a frieza de quem segura todas as cartas do jogo.
GISELA: (continuando, com a voz baixa e afiada) Não precisa mais procurar. Porque agora, todas as informações sobre a bastardinha estão nas minhas mãos!
CLOSE no rosto de José Carlos, surpreso e com medo.
Próximo Capítulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário