11/06/2025

Teia de Sedução - Capítulo 08



 “TEIA DE SEDUÇÃO”

Novela criada e escrita por 

Susu Saint Clair

Capítulo 08


CENA 01: MANSÃO PASSARELLI - SALA DE ESTAR - TARDE


Jaqueline confronta Cláudia e Felipe. Afonso e Nadine à parte. 


JAQUELINE: Bora. Vai negar que é verdade o que eu acabei de falar? 


FELIPE: Não. (faz uma pausa / olha para Cláudia e depois volta a olhar pra Jaqueline) A gente descobriu que sua mãe tava grávida depois que papai se aposentou. O Nelson não quis manter ela na casa. Ele se recusou a assumir sua paternidade. Disse que o filho não era dele. Que poderia ser de qualquer homem, menos dele. Não tinha como eu continuar a relação com a Gisela porque ela se recusou a ficar do nosso lado.


JAQUELINE: (se revolta) Aí eu cresci na pobreza, sem pai, sem dinheiro, sem nada… (olha pra mãe) Porque você se escondeu ao invés de reivindicar!


CLÁUDIA: Eu fiz isso pra te proteger, minha filha. Aquela gente tem muito dinheiro, gente com muito dinheiro pode qualquer coisa. Eu tinha muito medo. Medo do que eles poderiam fazer com uma empregada grávida. Filha, aquela gente se preocupa muito com a própria imagem, com o nome. Uma empregada grávida, naquela época, seria um escândalo pra eles. E eu só queria te manter segura, longe de toda essa sujeira! Acha que foi fácil?


Jaqueline balança a cabeça, não convencida.


JAQUELINE: Claro que não foi fácil. Nossa vida nunca foi fácil, né, mãe?! A minha vida sempre foi uma merda. E enquanto eu crescia no lixo, eles viviam como se nada tivesse acontecido, recebendo tudo do bom e do melhor! Eu fui trabalhar na Bergmann Privé porque eu queria chegar perto daquela loja, eu queria chegar perto daquela família, porque aquilo tudo lá também é meu! E a Gisela, aquela filha da puta, me botou pra fora. Me botou pra fora de um lugar que me pertence, por direito! Eu vou acabar com aquela família e é pela Gisela que eu vou começar. Graças ao Raí, eu já virei amante do marido dela... Agora é só uma questão de tempo. Eu vou desgraçar aquela família inteirinha. Vou tirar tudo deles. E agora que eu comecei ninguém vai me parar. Nem você! 


A fúria de Jaqueline ecoa pela sala. Cláudia, que parecia segurar o mundo nas costas, cede. Ela se senta abruptamente no sofá, os olhos fixos no vazio, uma lágrima silenciosa escorrendo pelo rosto marcado pela vida e pelos segredos. Não há mais defesa, apenas a exaustão de quem teve a dor mais profunda exposta.


CLÁUDIA: Se você continuar com isso não é a vida deles que você vai desgraçar. É a sua.


Jaqueline a olha por cima. Ela de pé. Cláudia sentada no sofá. 


JAQUELINE: A minha vida foi desgraçada no dia que eu fui concebida! 


Cláudia coloca a mão no rosto. Afonso caminha até Jaqueline. Ele coloca a mão em seu ombro, um gesto de apoio que contrasta com a devastação ao redor. 


JAQUELINE: Agora que não há mais segredos… Eu vou sair. 


Ela caminha até a porta, abre e sai.


Cláudia fica imóvel no sofá, as mãos cobrindo o rosto, o corpo tremendo em soluços abafados. A dor da revelação e a sensação de ter perdido a filha para um caminho sem volta a esmagam.


Felipe se aproxima dela hesitante, o rosto contraído pela culpa e pela impotência, mas sem saber como consolar a irmã que tanto protegeu e que agora se desfazia diante de seus olhos.


Nadine, afastada, observa a cena com uma expressão de horror. O que havia começado como uma briga alheia de repente se transformou em uma revelação devastadora que agora maculava sua própria família. Ela sente um arrepio percorrer seu corpo.


Afonso observa sua família despedaçada na sala, ciente de que a teia havia se fechado, e agora, a destruição era iminente. 


CENA 02: PEDRA DO FORTE - PRAIA - TARDE


Gisela estaciona o carro de luxo à beira do calçadão. Ela desce, a passos firmes, e caminha até uma mureta que se debruça sobre a praia. A maré está cheia, as ondas quebram com um som constante e hipnotizante. Gisela retira seus óculos escuros lentamente, revelando um olhar intenso que varre o vasto azul do oceano. O vento forte balança seus cabelos, chicoteando-lhe o rosto. Ela fecha os olhos, inspirando profundamente o cheiro salgado da maresia. Um leve sorriso, quase imperceptível, surge em seus lábios, mas não é um sorriso de paz. É a expressão de quem calcula, de quem traça estratégias afiadas. Em sua mente, os ecos do passado se misturam aos novos planos. Ela calcula na cabeça seus próximos passos.


CENA 03: PRIME FITNESS - TARDE


Otávio analisa a obra da academia, que já está quase no fim. Ele pega o celular e faz uma chamada de voz. 


CENA 04: MANSÃO PASSARELLI - QUARTO DE AFONSO - TARDE


O celular de Afonso toca. Ele está com a camisa meio aberta, os cabelos molhados do banho, e pega o aparelho na escrivaninha. Vê o nome de Otávio na tela e um pequeno sorriso, quase imperceptível, surge em seus lábios antes de deslizar o dedo para atender.


AFONSO: Alô?


OTÁVIO: Oi, Afonso? Te atrapalho?


O sorriso de Afonso se alarga um pouco mais ao ouvir a voz do outro lado. Ele se senta na beirada da cama, relaxado.


AFONSO: Que isso, Otávio. Ligou pra lembrar de tomar o remédio? Porque se for por isso, já não preciso mais, viu? Já tô novinho em folha.


OTÁVIO: (ri) Que nada! Eu sei disso, não esqueci. Nem da questão do remédio, nem de você.


Afonso passa a mão pelo cabelo, um flerte sutil em seu olhar.


AFONSO: Ah é? E por que você não esqueceu de mim?


OTÁVIO: Porque... sei lá. Não consigo parar de pensar em você.


Afonso ri, um riso genuíno e charmoso.


AFONSO: Pra ser sincero, eu também não.


Um breve silêncio, carregado de uma eletricidade boa.


AFONSO: Quer me encontrar hoje à noite?


OTÁVIO: Posso passar aí às oito?


AFONSO: Vou estar te esperando.


Afonso desliga, o sorriso fixo no rosto, um brilho nos olhos. Ele joga o celular na cama e se recosta. 


CENA 05: MANSÃO VON BERGMANN - SALA DE ESTAR - TARDE


A porta da frente abre. Gisela entra. Uma empregada tava passando com um espanador e para na hora, estranhando ver a patroa.


EMPREGADA: (Meio surpresa, um pouco curiosa) Dona Gisela? A senhora por aqui a essa hora? Aconteceu alguma coisa?


GISELA: Você é paga pra limpar a casa, não pra cuidar da minha vida. (estende a bolsa para a empregada pegar) E faz o favor de avisar o Caetano que tô esperando ele no escritório. Agora. Anda! 


A empregada pega a bolsa, meio sem graça.


CENA 06: MANSÃO VON BERGMANN – ESCRITÓRIO – TARDE


O escritório, decorado com móveis de madeira escura e estantes repletas de livros antigos, tem uma atmosfera austera. Gisela está de pé, elegante e impaciente, observando a rua pela janela.


A porta se abre. Caetano, o mordomo, entra com sua postura impecável, firme e discreta.


CAETANO: A senhora mandou me chamar?


Gisela se vira lentamente. Seu olhar é cortante, frio, calculista.


GISELA: Mandei. Preciso que me faça um favor — e quero absoluta discrição.


Caetano assente com um leve movimento de cabeça.


CAETANO: Pois não, madame.


GISELA: Quero que siga o José Carlos. Desde a saída da Bergmann Privé até o destino final. Quero saber exatamente onde ele está se encontrando com a vagabunda da amante dele.


Caetano hesita, a tensão em seu semblante é sutil, mas perceptível.


CAETANO: Amante? A senhora tem certeza?


GISELA: (seca) Eu tive. Só estava esperando o momento certo pra desmascarar esse cretino. E esse momento é agora.


Caetano baixa os olhos, visivelmente desconfortável. Ele respira fundo.


CAETANO: Perdoe minha franqueza, dona Gisela, mas... talvez não seja apropriado que eu me envolva nesse tipo de situação.


GISELA: (se aproxima lentamente) Ah, mas você vai se envolver, Caetano. Porque se não fizer o que estou mandando, eu abro a boca. Eu conto tudo o que sei sobre você!


Silêncio. A ameaça paira no ar.


GISELA: Vamos ver quem perde mais se isso for parar fora desse escritório...


Caetano fecha os olhos por um segundo. Em seguida, sorri — um sorriso tenso, quase cínico.


CAETANO: (baixo, resignado) Eu farei o que a senhora quer. Mas não se iluda, dona Gisela... a senhora não é a única nessa casa que guarda segredos. Nem está em condições de me fazer ameaças. A senhora sabe disso, não sabe? 


Ele se recompõe.


CAETANO: Com licença.


Caetano sai. Gisela permanece imóvel por um instante. Apenas seus olhos se movem.


CENA 07: BERGMANN PRIVÉ - FACHADA - ENTARDECER


O sol já está começando a se pôr, pintando o céu de tons alaranjados sobre a Bergmann Privé. A movimentação na frente da empresa diminui à medida que os funcionários deixam o local.


Pouco depois, o luxuoso carro de José Carlos surge da garagem subterrânea e segue pela rua. Seus faróis se acendem enquanto ele se afasta, apressado.


Alguns quarteirões atrás, com uma distância calculada, um dos discretos carros da mansão von Bergmann também emerge. Ao volante, Caetano mantém uma postura impassível. Seus olhos, no entanto, estão fixos no veículo de José Carlos à frente.


CENA 08: PEDRA DO FORTE - STOCK-SHOTS - ANOITECE


Clipe com imagens da cidade anoitecendo. 


CENA 09: VELUDO VERMELHO - FACHADA - NOITE


O letreiro neon do bar Veludo Vermelho pisca em tons rubros na noite de Pedra do Forte. O carro de luxo de José Carlos desliza e para bem em frente à entrada. Ele desce, apressado, ajeitando o paletó.


Quase no mesmo instante, Jaqueline surge da penumbra do bar, com um sorriso convidativo. José Carlos não espera; ele a puxa para si e a beija ali mesmo, na calçada, sem se importar com quem possa ver. A mão dele desliza atrevida pela cintura dela até sua bunda, e ele a conduz, com um sorriso cúmplice, até a porta do passageiro, que ele mesmo abre.


Jaqueline entra no veículo. José Carlos dá a volta, entra no carro e arranca, deixando o Veludo Vermelho para trás.


Mais afastado, discretamente parado sob a sombra de uma árvore, o carro dirigido por Caetano permanece imóvel. No interior do veículo, a luz da tela do celular ilumina o rosto do mordomo. Ele revisa as fotos que acabou de tirar: José Carlos e Jaqueline se beijando com fervor, a mão dele na coxa dela, e a imagem dele a conduzindo para dentro do carro. Caetano acena com a cabeça, uma expressão fria e determinada. 


CENA 10: MANSÃO VON BERGMANN - QUARTO DE GISELA - NOITE


Gisela está sentada na cama, envolta em um robe de seda, quando seu celular vibra com uma notificação. É Caetano. Gisela abre a mensagem esperando ver a confirmação de uma traição previsível.


Mas à medida que as imagens carregam, a expressão em seu rosto se transforma. Os olhos, antes gélidos, arregalam-se em um choque brutal. As fotos mostram José Carlos, seu marido, e Jaqueline, sua ex-funcionária, trocando beijos apaixonados e carícias íntimas.


Gisela prende a respiração. Um misto de incredulidade, fúria e um ódio avassalador começa a tomar conta dela. Ela eleva o celular à altura dos olhos, como se precisasse confirmar a visão, e um sussurro rouco escapa de seus lábios.


GISELA: (Sussurrando, a voz quase inaudível) Não acredito... Jaqueline. 


O celular treme em suas mãos. 


TRANSIÇÃO PARA FLASHBACK DE ÁUDIO – CENA 1 DO CAPÍTULO 07


JAQUELINE: (OFF) Ah, mas pra homem na cama eu sou nota dez. E você, Gisela? É boa assim pro teu macho?


Seu semblante é uma paisagem de ódio congelado. Gisela surta. 


GISELA: (grita) DESGRAÇADA!


Ela pega um vaso e atira contra a parede. 


CENA 11: MANSÃO PASSARELLI - SALA DE ESTAR - NOITE


Celina e Nadine conversam no sofá.


CELINA: Meu Deus, não imaginava que uma simples conversa minha com o Afonso fosse provocar essa confusão toda.


NADINE: Pois é, mamãe. Eu vou te dizer, tô muito preocupada com essa ideia louca do Afonso e da Jaqueline.


CELINA: Sabe o que eu acho? Que o Afonso tem mais é que se vingar mesmo, e a Jaqueline também. Os dois estão certíssimos e tem todo meu apoio!  


A campainha toca. Neide surge do corredor para atender. A porta se abre e Otávio surge na soleira, elegante em sua roupa de noite, com um sorriso educado.


OTÁVIO: Boa noite. Vim encontrar o Afonso.


NEIDE: Claro, ele disse que o senhor viria. (Dá passagem para ele) Por favor. 


Ele entra, e seu olhar se volta para Celina e Nadine.


OTÁVIO: Olá, boa noite.


CELINA: (sorri, amigável) Boa noite. Mas quem é esse homem elegante aqui na minha sala?! 


OTÁVIO: Eu sou amigo do Afonso, como vai, senhora?


CELINA: Eu vou muito bem.


NADINE: (levanta e o cumprimenta) Sou Nadine, mãe dele.


CELINA: (simpática) Sou avó do Afonso, querido!


OTÁVIO: Prazer, sou Otávio von Bergmann. 


Nadine e Celina trocam um olhar. Celina fica surpresa. Já, Nadine está tensa. Nesse momento, Afonso desce as escadas, já pronto para sair.


AFONSO: Oi, Otávio! Chegou na hora certa.


Afonso caminha até Otávio e o cumprimenta com um abraço caloroso, sem tirar os olhos do choque estampado no rosto de Nadine.


AFONSO: Acho que não preciso mais apresentar minha mãe e minha avó pra você, né?


Nadine olha para Afonso, a incredulidade brilhando em seus olhos. 


AFONSO: (para Otávio) Vamos?


OTÁVIO: (com um sorriso leve) Claro! (volta-se para Celina e Nadine) Foi um prazer.


Os dois saem da mansão, deixando Nadine e Celina sozinhas.


NADINE: (com a voz fraca, quase um lamento, as mãos tremendo) Você viu, mamãe? Até Afonso tá envolvido com essa gente. Meu Deus, isso é um pesadelo. 


CELINA: Se é um pesadelo, então acorde, viu? Porque o que eu tô vendo aqui é bem real.


Elas duas ficam em silêncio. 


CELINA: Mas aqui, o rapaz até que é gatinho, né?


NADINE: (levanta, sem paciência) Ai, mãe, não dá pra conversar sério com a senhora. Não dá mesmo.


Ela sai. Celina dá de ombros.


CENA 12: PEDRA DO FORTE - PRAIA - NOITE


A escuridão da noite abraça a praia de Pedra do Forte. O som constante das ondas quebrando na areia, um eco rítmico, serve de trilha sonora para a conversa. Otávio e Afonso caminham lado a lado na beira da água, a areia fria sob seus pés, enquanto as luzes distantes da cidade brilham no horizonte.


OTÁVIO: E você faz o quê da vida?


AFONSO: Eu vivo.


OTÁVIO: (ri) Vive?! 


AFONSO: Do jeito que dá. Eu meio que não me encontrei ainda. 


OTÁVIO: Já me senti assim há um tempo.


AFONSO: E descobriu o que gostava de fazer?


OTÁVIO: É, eu descobri sim. Sou formado em Educação Física. Meus pais não me apoiaram muito, mas, eu liguei o foda-se pra isso. (pausa) Eu tô montando uma academia. Tô com esse projeto na mente já tem um tempo, mas agora, finalmente, vai sair do papel.


AFONSO: Nossa, eu achei isso ótimo. Olha, você já tem seu primeiro aluno aqui, viu? Eu até que tava precisando de um pouco de agitação na minha vida. Muita coisa acontecendo, muita coisa pra digerir. Uma academia nova, um lugar pra desestressar... vai ser bom pra sair mais de casa, conhecer gente nova.


Otávio o observa com um olhar curioso, um leve sorriso brincando nos lábios. Parece estar lendo algo nas entrelinhas da fala de Afonso.


OTÁVIO: Você não é de sair muito, né? De ter uma vida social agitada?


Afonso ri.


AFONSO: Não. Eu não tenho muitos amigos, pra ser sincero. Sou meio na minha, sabe? Mas... agora eu tenho você, né?


O olhar de Otávio se fixa em Afonso, intenso, carregado de um sentimento que vai além da amizade. Ele estende a mão e toca o rosto de Afonso com carinho, o polegar roçando suavemente sua pele, um arrepio percorrendo Afonso.


OTÁVIO: Agora você tem.


Sem mais palavras, num impulso que parece selar um novo começo, Otávio se inclina e beija Afonso. É um beijo suave no início, que rapidamente se aprofunda, cheio de uma entrega mútua. O som das ondas ao fundo parece embalar o momento, enquanto os dois se perdem um no outro, sob a luz fraca da lua, o mundo ao redor se tornando um mero ruído distante.


CLOSE NELES.


CENA 13: AMANHECE - HOTEL - QUARTO 


José Carlos está de pé, já se arrumando, com a pressa e a distração de quem tem compromissos importantes. Ele abotoa a camisa. Na cama king-size, ainda embaixo dos lençóis amassados e de seda, Jaqueline o observa, os olhos semicerrados, um leve sorriso, quase imperceptível, brincando em seus lábios.


JOSÉ CARLOS: (sem olhar para ela, ajustando o colarinho e o nó da gravata) Pode ficar aí descansando à vontade, viu? Sem pressa nenhuma. Quando for sair, é só deixar a chave lá na portaria. Se quiser pedir um café na cama também… viu? 


Ele caminha até a cama, dá um beijo rápido na boca de Jaqueline. 


JOSÉ CARLOS: Preciso ir pra casa agora. Tenho uma reunião chata lá. Coisa de família, sabe como é.


Ele se afasta, pegando a carteira e as chaves que estavam sobre a cômoda. Jaqueline o segue com os olhos, mas não diz nada, mantendo a expressão enigmática. José Carlos abre a porta e sai do quarto, fechando-a atrás de si com um clique suave. Jaqueline espera apenas um segundo. Ela sorri, maliciosa, e se refestela na cama.


CENA 14: MANSÃO VON BERGMANN - SALA DE ESTAR - MANHÃ


Toda família reunida, com exceção de Otávio. Gisela de pé, andando de um lado para o outro com um envelope na mão.


GIOCONDA: Gisela, não é melhor esperar o Otávio chegar?


GISELA: O importante é o José Carlos aparecer. Com o Otávio eu converso depois.


MARCOS: (sussurra para Sabrine) Aposto como ele está com o acidentado. 


NELSON: Gisela, o que você tem de tão importante pra falar com a gente, hein? Abre logo o jogo.


Barulhos de chave tilintando. A porta se abre. José Carlos entra, com uma expressão de falsa tranquilidade e um sorriso forçado.


JOSÉ CARLOS: (com a voz um pouco alta demais, tentando disfarçar) Bom dia a todos! Peço mil desculpas pelo atraso. É que a noite foi longa... Passei a madrugada toda em uma reunião importantíssima com sócios de uma empresa chinesa. A negociação se estendeu mais do que o previsto.


Gisela fixa seu olhar em José Carlos.


GISELA: (com um riso seco e desdenhoso, carregado de desprezo) Você é muito cara de pau de inventar uma mentira dessas, José Carlos. 


JOSÉ CARLOS: (confuso, com um tom de inocência forçada) Não estou entendendo, Gisela. Grosseria logo de manhã? Quê isso? 


Gisela caminha até José Carlos com o envelope nas mãos. 


GISELA: Eu mandei registrar o início da sua reunião com os investidores chineses. 


Ela abre o envelope e tira de lá um punhado de fotos impressas, jogando-as no peito dele. As imagens se espalham pelo chão, revelando José Carlos e Jaqueline se beijando e se tocando em frente ao Veludo Vermelho. José Carlos pega uma das fotos e olha, em choque. Todos se abaixam para pegar e olham as imagens, em choque.


GISELA: Agora eu entendo que "reunião importantíssima" foi essa... Não só essa como todas as outras que você vem tendo desde que a gente se casou. Uma dessas reuniões foi com essa vagabunda!


Todo mundo olha para ela, chocada. 


GISELA: Você e a vagabunda da Jaqueline! Aquela vendedora de merda! 


NELSON: (levanta, chocado) Como assim, vendedora?


GISELA: Ele tá tendo um caso com a ex-vendedora da Bergmann Privé. (parte para cima de José Carlos) Esse desgraçado! DESGRAÇADO! 


Marcos levanta e segura ela.


GISELA: Maldito dia que eu resolvi me casar com você! Seu LIXO! (para Nelson) E a culpa disso também é sua. Se você não tivesse me obrigado a me casar com esse traste, eu não teria vivido uma vida tão infeliz. Seu velho desgraçado! 


NELSON: E VOCÊ PREFERIA O QUÊ? SUJAR NOSSO NOME SE CASANDO COM O FILHO DO MOTORISTA? 


GISELA: (descompensada) Eu preferia mil vezes ser feliz ao lado dele do que ser infeliz como fui esses anos todos. Mas agora eu não preciso mais disso. Eu não preciso desse casamento, não preciso mais de você, não preciso mais de nada. Eu vou correr atrás da minha felicidade. Vou correr atrás do homem que eu deixei pra trás, do homem da minha vida! 


Ela se vira e encara José Carlos, olhando-o no olho.


GISELA: Eu quero o divórcio!



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