CENA 01 - MANSÃO DE CÂNDIDA - INT/NOITE
Aline - Vai nos ajudar? Ou não?
Caio - Espera… essas fotos são da Irene com o Luigi?
Aline - O que você acha? Essa mulher é uma vagabunda, mentirosa. E ainda paga de moralista, mulher de bem. Mas enfim, vamos focar no nosso objetivo. Você ainda não disse se vai nos ajudar.
Caio - Mas é claro que eu vou. Só precisa me explicar direitinho o que eu devo fazer.
CENA 02 - HOSPITAL - CORREDOR/UTI/BANHEIRO/QUARTO - INT/NOITE
Pérola está sentada na cadeira, cabisbaixa, com os olhos vermelhos. Uma enfermeira se aproxima discretamente, abaixa o tom e se dirige só a ela.
Enfermeira - O quadro da sua mãe estabilizou. Ela saiu do risco imediato. Agora é só questão de tempo e cuidado.
Pérola assente, mas sua expressão não demonstra alívio. A enfermeira se afasta.
Pérola entra rapidamente no banheiro. Tranca a porta. Com raiva, dá um soco no espelho, bate nas paredes, se apoia nas bordas da pia e grita sem som. Depois se joga contra uma das cabines com força. Ela respira ofegante, seus olhos cheios de lágrimas.
Ela se recompõe, sai do banheiro e entra no quarto em que a mãe está.
Lucinda tá desacordada na cama, entubada, com monitores ligados. Pérola entra devagar, olhando em volta. Fecha a porta cuidadosamente. Ela fica alguns segundos encarando a mãe. Então, com um movimento rápido ela desconecta um dos aparelhos.
A máquina começa a apitar em alerta. Pérola permanece fria, encarando a mãe enquanto ela agoniza. Ela então vira as costas e sai do quarto.
Os médicos correm com enfermeiros até o quarto. Uma confusão se forma. Pérola está sentada mais à frente, olhando de longe. O médico se aproxima dela.
Médico - Eu sinto muito… Ela teve uma parada cardíaca. Infelizmente ela não resistiu.
Pérola leva a mão à boca, fingindo choque e começa a chorar desesperadamente, encenando tudo. Nesse momento, o delegado Marino chega correndo, preocupado. Pérola corre para os braços dele.
Pérola - Ela morreu, Marino… Ela morreu!
Marino a abraça forte. A câmera foca no rosto dela por trás do ombro dele, e sua expressão muda.5
CENA 03 - PENSÃO DA LUCINDA - INT/NOITE
Marino entra com a Pérola. Ele carrega uma pequena mala dela. Pérola se mantém abatida, cabisbaixa.
Marino(puxando ela pra perto) - Você não tá sozinha. Tem a mim, viu? Você sabe que eu gostava bastante da sua mãe. Eu vou cuidar de você.
Pérola concorda levemente com a cabeça, encostando no peito dele.
CENA 04 - TERRENO - EXT/NOITE
O chão está lamacento. No meio do terreno está Aline, segurando um envelope nas mãos. Ela olha ao longe. Irene se aproxima, usando um salto alto que afunda na lama a cada passo.
Irene(impaciente) - O que você quer comigo nesse lugar imundo, Aline?
Aline(frontal) - Eu vou ser direta. Te chamei aqui pra te mostrar por que você nunca deveria ter se metido comigo. Mas se acalma, é uma espécie de trato, querida.
Aline abre o envelope e começa a tirar de dentro várias fotos explícitas de Irene e Luigi transando. Ela vai mostrando as imagens para Irene que se choca.
Aline - Várias posições. Algumas até criativas, viu?
Irene(horrorizada) - Sua desgraçada! Como você conseguiu isso?! O que você quer?
Aline - Não foi difícil. Vocês dois são descuidados. Não faltam janelas nesse mundo, Irene.
Eu só preciso… me satisfazer. Pode parecer mesquinho, baixo, chulo. Mas eu necessito disso. Se você fizer o que eu mandar, prometo esquecer que essas fotos existem.
Irene - Você tá mentindo. Eu não confio em você.
Aline(ameaçadora) - Quer pagar pra ver? Quer que o Antônio veja cada detalhe sórdido disso aqui?
Irene fica tensa. Silêncio. Ela engole seco.
Irene - O que eu tenho que fazer?
Aline sorri com desprezo. Com força, ela atira o envelope na lama.
Aline - Pega. Com a boca.
Irene - Você enlouqueceu. Eu não vou fazer isso de jeito nenhum!
Aline - Bom… então o Antônio vai receber um presentinho antecipado.
Irene hesita. Respira fundo. Olha ao redor. Aline cruza os braços esperando.
Aline - Aproveita que dessa vez não tem plateia.
Relutante, Irene se ajoelha. A lama suja seu vestido. Ela se curva. Quando encosta a boca no envelope, Aline grita.
O portão do galpão se abre.
De dentro dele saem Cândida, Jussara, Agatha, Jonas e Caio. Todos observam a cena com espanto, que rapidamente se transforma em risos.
Jussara(rindo) - Essa lama aí tá gostosa, dona Irene?
Aline - Fez muito bem, Irene.
Irene se levanta, a boca e o rosto cheios de lama, furiosa e humilhada.
Aline - Vagabunda! Você merece isso e muito mais!
Aline toma o envelope da mão de Irene, limpa levemente e guarda de volta.
Irene - E o trato? Você tinha dito que…
Aline - Oh meu amor, eu sinto muito que você tenha acreditado nisso. Agora pode ir, não tem pão velho aqui.
Cândida cospe no chão ao lado de Irene. Agatha passa e encara ela sorrindo.
Todos saem. A câmera foca em Irene sozinha no meio do terreno. O rosto tremendo de ódio e humilhação.
Corta para:
Alguns dias se passam. Paisagens do Mato Grosso são mostradas
(Knockin’ On Heaven’s Door - Bob Dylan)
CENA 05 - MANSÃO LA SELVA/SALÃO PRINCIPAL - INT/NOITE
A sala está deslumbrante. Tudo preparado com requinte para o jantar de comemoração do aniversário de casamento de Antônio e Irene. Um telão foi montado no fundo do salão para a homenagem.
Antônio recebe alguns empresários que finalmente estavam querendo fazer negócios com os La Selva. Parecia tudo muito lindo.
Na mesa central, Irene e Antônio estão lado a lado. Irene exibe um sorriso vaidoso, olhando ao redor com satisfação.
Antônio(propondo um brinde) - Aos amores eternos. São desses amores que podemos tirar a vontade de viver cada dia mais.
O som diminui, a luz enfraquece. Todos voltam suas atenções ao telão, que começa a exibir o vídeo que Irene preparou para a ocasião.
No vídeo: Fotos do casamento, do nascimento de Daniel, das crianças brincando. Irene e Antônio mais jovens, se beijando, sorrindo. Dos três irmãos juntos.
De repente, a música corta bruscamente.
O vídeo muda de tom. A tela agora exibe fotos esquisitas. Uma foto de Agatha e Antônio antigamente com Irene olhando com ódio e inveja ao fundo. Todos começam a se encarar. Logo aparece uma foto de Graça e Caio se beijando na loja de Graça, mas isso há muito tempo, pois a Graça ainda tinha o cabelo moreno.
Irene e Antônio encaram Graça e Caio.
Irene - Mas o que é isso? Que tipo de brincadeira de mal gosto é essa?
Gladys - Graça, minha filha…
De repente, uma sequência de fotos explícitas de Irene e Luigi aparece. Eles estão em várias posições íntimas, nítidas e inquestionáveis.
Um silêncio toma o salão.
Graça(tapando os olhos de Júlia) - Júlia, não olha isso!
Gladys(fingindo surpresa) - Passada! Mas que pouca vergonha!
Convidados(espantados) - Mas isso é sério? Foi de propósito?
Antônio(encarando Irene) - O que é isso?! O que está acontecendo aqui?
Irene – Tira isso! Desliga! TIRA ESSE VÍDEO!
Petra corre e desliga, mas as imagens já foram vistas. Irene olha para todos, suando, em pânico.
Antônio(atônito) - Isso era você… você e o Luigi?
Irene(gritando) - Claro que não! Isso é montagem! Foi manipulado por IA, eu tenho certeza!
Antônio(encarando com ódio) - Você acha que eu sou idiota, Irene? Olha pra minha cara e me responde! Acha? E isso tudo acontecendo debaixo do nosso teto. Quem sabe isso também não aconteceu na nossa cama.
Antônio vai até Luigi, que tenta recuar, e o puxa com violência pelo colarinho, levando ele ao lado de Irene.
Antônio(esbravejando) - Fala, seu desgraçado! FALA! É verdade isso?
Os convidados se levantam.
Petra - Olha o vexame, meu pai.
Antônio - Eu tô me lixando pro vexame. Eu quero que esse filho de uma puta tome vergonha na cara e assuma o que fez!
Caio - Pessoal, por favor… vamos encerrar o jantar. Podem ir saindo. Agradecemos a presença de todos.
Alguns convidados saem rapidamente. Quando o burburinho começa a diminuir…
A PORTA SE ABRE COM UM ESTOURO.
Entra Agatha ao lado de Aline. As duas observando tudo. Elas avançam pelo salão.
Agatha - Boa noite, Antônio.
Todos se viram.
Aline(se posiciona ao lado de Caio, fria) - Acho que agora sim esse jantar começou.
Antônio encara Agatha, observando seus olhos e se lembrando deles no passado.
Graça encara Aline, que devolve. A câmera fecha nos olhos de Agatha que saem de apaixonados, olhando Antônio, para destruidores, olhando Irene.
ENCERRAMENTO.
(Coração Alado-Noturno - Fagner)
Nenhum comentário:
Postar um comentário