18 de mar. de 2024

A Terceira Vértice - Capítulo 01 (18/03/2024)


A TERCEIRA VÉRTICE - CAPÍTULO 1


Daniel Ferraz está no apartamento de seu melhor amigo, Lucas Belmonte. Sentado no sofá com os braços apoiados no joelho e as mãos cruzadas, ele se encontra bastante pensativo. 

Daniel: Não sei se é uma boa ideia eu me envolver com outra pessoa agora. Desde o dia que eu peguei o Otávio na cama com outro cara, eu não consigo gostar de mais ninguém. 

Lucas: Por causa daquele babaca você vai passar a vida toda fugindo do amor? Vai passar a vida inteira se escondendo, se privando por medo? 

Daniel: Eu tenho medo de me machucar de novo como eu me machuquei há dois anos atrás. Você não imagina o tamanho da dor que é ser traído por alguém. É como se tivesse uma faca afiada rasgando a carne da gente por dentro. 

Lucas: As pessoas são diferentes umas das outras, Daniel. Não é porque o Otávio te fez sofrer que outra pessoa vá fazer igual. Você precisa renascer, meu amigo. Precisa se abrir pro novo. E precisa fazer isso logo, senão vai passar sua vida toda na inércia, sem se movimentar. Porque o medo paralisa a gente. (pega na mão dele) Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço. Ter coragem é ir. Só ir. Mesmo com medo. 

Daniel olha para ele e sorri. Põe a mão por cima da dele.

Daniel: É… Eu só tenho receio de me frustrar de novo. Mas eu vou tentar ser positivo. 

Lucas: Vou chamar uns amigos pra virem no jantar aqui em casa hoje. Quem sabe não tenha alguém que chame sua atenção, alguém que você goste e que goste de você. 

Daniel: Vou vir sem expectativas. (sorri) Mas eu vou vir. 


Rodrigo Brandão vem do banheiro com o corpo molhado e uma toalha enrolada na cintura. Ele pega seu iPhone que toca em cima da mesa.

Rodrigo: Fala, Lucas. Claro que eu vou né? Acha que eu ia perder um dos seus jantares? Tá certo, às 19h. Pode me aguardar que eu vou ser o primeiro a chegar. Tchau, parceiro. 

Ele desliga e vai pro quarto vestir uma roupa. 


Na mansão Ferraz, a governanta Angélica instrui a empregada Marinalda. 

Angélica: Arruma essa mesa direito, Marinalda. Olha aí. Os talheres estão em cima dos pratos. Onde já se viu talher ficar em cima da louça? Eles ficam dos lados. Já falei mil vezes sobre isso. 

Marinalda: Desculpe, dona Angélica. 

Angélica: Não aprendeu nada nas aulas de etiqueta que eu dei no seu primeiro dia aqui. Vou terminar louca nessa porcaria dessa casa tendo que fazer tudo sozinha, porque se eu depender de uma imprestável como você eu estou ferrada! 

Outra empregada, Olga, aparece.

Olga: Com licença, dona Angélica. A dona Sílvia está chamando a senhora no quarto dela. 

Angélica: Vou lá. Vê se instrui essa infeliz da Marinalda, que hoje ela não tá servindo pra nada. Aliás, só hoje não, todo dia! 

Angélica sai. 

Olga: Ela tá pegando no seu pé hoje, hein, Marinalda? 

Marinalda: (com ódio) Me pegou pra Cristo. Essa demônia. 

Ela continua arrumando a mesa. 


Sílvia está deitada na cama. Batidas na porta. 

Sílvia: Pode entrar.

Angélica entra no cômodo. 

Angélica: Mandou me chamar, dona Sílvia? 

Sílvia: Sim, Angélica, sente-se. 

Angélica se senta na ponta da cama.

Sílvia: Não estou me sentindo bem. 

Angélica: A senhora quer que eu chame o doutor Andrade? 

Sílvia: Não tem necessidade. Não estou tendo nenhum mal estar, mas eu sinto que não tenho muito tempo de vida. Me sinto estranha, como se meu corpo estivesse me avisando que meu tempo aqui na terra está acabando. 

Angélica: (com feição pensativa) Isso não faz sentido, dona Sílvia. A senhora foi ao médico na semana passada, fez uma bateria de exames e todos estão normais.

Sílvia: Tem algo estranho acontecendo comigo, Angélica. Eu não faço ideia do que é, mas eu te peço. Se alguma coisa acontecer comigo, não deixe meu filho desamparado. Não deixe meu Daniel sozinho. 

Angélica olha para a patroa e pega na mão dela. 

Angélica: Ajudei a criar esse menino, não ajudei? Eu jamais vou deixá-lo sozinho. Jamais vou abandoná-lo. 

Sílvia: Quero vê-lo. Ligue pra ele. Quero falar com ele. 

Angélica: Vou fazer isso. Licença! 

A governanta se levanta, caminha calmamente até a porta. Abre, sai do cômodo, fechando-a com cuidado. Há apenas ela no vasto corredor vazio repleto de portas fechadas, com paredes de cor cinzenta e pouca iluminação.  

Angélica: Espero que faça o favor de morrer, sua infeliz. Dessa noite você não pode passar! 

Close em seu olhar sombrio.


No apartamento de Lucas, Daniel recebe uma ligação de Angélica.

Angélica: Sua mãe está muito preocupada com você, meu filho. Venha pra casa. 

Daniel: Mas como ela está, Angélica? 

Angélica: Não está se sentindo bem não, Daniel. Por isso te liguei. Ela não para de chamar por você. Venha pra casa. 

Ela desliga. 

Lucas: O que houve? 

Daniel: Minha mãe… Tem algo errado com ela. 

Lucas: Mas não estava tudo bem? 

Daniel: Foi o que o doutor Andrade disse né, mas pelo visto ele se enganou. Tenho que ir. Depois falo com você. 

Lucas: Tá certo, qualquer coisa me liga. 

Daniel: Tá certo. 

Lucas: Me mantenha informado.

Daniel vai embora. 


Sílvia está deitada na cama, dormindo. Daniel entra no quarto e senta-se ao seu lado. Esquenta as mãos frias dela com o seu calor ao tocá-las.

Sílvia: (acorda e sorri ao vê-lo) Meu filho…

Daniel: (sorri) Oi… 

Sílvia: Que bom que veio. Queria tanto te ver. (acaricia o rosto dele) Meu filho amado, querido.

Daniel pega a mão dela e a beija.

Sílvia: Eu te amo tanto, Daniel. Você foi a melhor coisa da minha vida. Eu sempre fui uma mulher muito linda, chique, que sempre teve dinheiro pra comprar tudo o que eu quisesse. Mas o melhor presente que eu tive na vida e que não teve preço nenhum foi o amor que você sempre me deu, meu filho. 

Daniel não se contém e começa a deixar as lágrimas caírem. 

Sílvia: Me prometa uma coisa. Me promete que vai ser feliz. Que vai viver intensamente como eu nunca vivi. 

Daniel: A senhora ainda vai viver muito, mãe.

Sílvia: Não…

Daniel: Vai…

Sílvia: Não, eu não vou, meu filho, eu sinto que não vou. Eu quero que você viva por mim tudo o que eu gostaria de ter vivido e não consegui. Deixe o passado pra trás, meu amor. Esqueça tudo o que te fez sofrer. Não deixe que nada do que veio antes defina quem você é. Viva sua vida, ame muito, constitua uma família. Encontre o amor da sua vida. 

Daniel sorri entre lágrimas, de cabeça baixa. Ele olha para a mãe. 

Daniel: O amor da minha vida é você, mãe. 

Ele deita a cabeça no peito dela, que começa a acariciar seus cabelos.

Daniel: Eu tinha um jantar pra ir hoje na casa do Lucas, mas eu vou passar a noite aqui com a senhora. 

Sílvia: Não. (ela levanta a cabeça dele e os dois se olham) Você vai! 

Daniel se levanta, ainda sentado na cama. 

Sílvia: Vai se arrumar. Quero que vá ao jantar. Precisa se divertir. Eu vou ficar bem. 

Daniel volta a abraçar a mãe, um abraço mais forte e demorado. Os dois choram juntos. 


Anoitece. 

Lucas abre a porta do apartamento e recebe Daniel. Lucas o abraça.

Lucas: Fiquei preocupado.

Daniel: Desculpa, eu achei que tivesse mandado mensagem.

Lucas: Se mandou, não chegou aqui.

Daniel: Minha internet está péssima. Vou trocar de operadora. 

Lucas: Mas e a sua mãe? 

Daniel: Não consigo ficar em paz com ela dizendo que vai ficar bem. Eu sinto que não tá tudo bem, sabe? 

Lucas: Olha, se acalma, tá? Eu não chamei tanta gente assim, você vai poder ficar à vontade, qualquer coisa é só ir pro quarto ou pra varanda lá no fundo, caso você se sinta desconfortável aqui na sala. 

Daniel: Obrigado. 

A campainha toca. Lucas vai atender e ao abrir dá de cara com Rodrigo, que segura uma garrafa de vinho. 

Lucas: Que bom que chegou. 

Rodrigo: Disse que chegaria às 7 em ponto. (vê Daniel) Mas pelo visto alguém chegou antes de mim. (entrega a garrafa) Trouxe pra você. 

Lucas: (pega a garrafa) Deixe eu te apresentar. (p/Daniel) Dani, esse aqui é meu amigo, Rodrigo. Rodrigo, esse é Daniel. 

Daniel se aproxima e olha cordialmente para ele. Estende a mão. 

Daniel: Satisfação! 

Rodrigo o encara. Aperta a mão dele. 

Rodrigo: Prazer!

Os dois trocam olhares. Daniel desvia algumas vezes, tímido. Rodrigo o olha fixamente. 

ENCERRAMENTO.


Próximo Capítulo

Sinopse e ficha técnica


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