Limite da Vida - Capítulo 02
Catarina caminha até o altar da santa, se ajoelha e começa a rezar, pedindo uma direção.
Ela abre os olhos como se tivesse tido um lapso e se levanta.
(Mansão de Tânia):
Tânia está tomando um chá no sofá da sala, quando Felícia chega.
Tânia: Ah, apareceu a margarida, já estava preocupada. Onde esteve tão cedo?
Felícia: Minha mãe, a senhora preocupada comigo?
Tânia: Pode não parecer, mas eu me importo com você sim.
Felícia: Sei bem... Mas fui na casa de vovó, infelizmente eu não trago boas novas, ela está muito mal.
Felícia respira agoniada passando a mão pelo pescoço.
Tânia: É mesmo! Tem a sua avó! Ela é uma ótima saída para tirar a gente desse poço.
Felícia se vira com uma expressão indignada.
Felícia: A senhora não tem respeito nem em um momento tão delicado como esse?
Tânia: Sua avó é uma rancorosa, despeitada e orgulhosa. Eu sou filha dela, mereço ajuda financeira e onde ela está?
Felícia: A senhora não entende que ela está doente? Doente! Não pode ficar gastando mundos e fundos ajudando a filha que não conseguiu manter o patrimônio do marido.
Tânia: O seu pai que me deixou dívidas, não tenho culpa se ele não soube controlar o dinheiro. Bem que falam, dê poder a um homem e descobrirá quem ele realmente é. E tem mais, com certeza essa mixaria não faria falta a ela.
Felícia: Eu fico impressionada com o descaramento da senhora, sinceramente...
Tânia: Me respeite, garota.
Felícia sobe as escadas, enquanto Tânia permanece pensativa na sala.
Tânia: Rosinhaaaaaa!
Rosinha aparece correndo secando as mãos.
Rosinha: Pois não.
Tânia: “Pois não, senhora”
Rosinha: Mas foi a senhora quem me chamou.
Tânia: Ai, esqueça. Pegue a minha bolsa, vou sair.
Rosinha: Vai onde? Posso ir com a senhora?
Tânia: Mas que atrevimento, não quero assombração atrás de mim.
Elas ficam se encarando.
Tânia: Anda, minha bolsa.
Rosinha: Ah, é verdade.
Rosinha corre.
(Fazenda Poaia):
Catarina aproveita o momento, seu marido não está em casa. Ela pega uma carona com um vizinho que ia pra mesma direção.
Chegando no convento Santa Isabel, ela se assusta com a aparência do local, o vizinho a deixa no portão e ela entra, analisando tudo ao redor.
Catarina encontra a madre.
Catarina: Necessito de sua ajuda, madre.
Madre Lúcia: Venha minha filha, vamos conversar em minha sala.
Catarina: Pelo amor de Deus, eu necessito de sua ajuda, madre. Encontre uma vaga para minha filha.
Catarina ajoelha aos pés da madre que fica desconfortável.
Madre Lúcia: Levanta daí, não precisa beijar meus pés. Em consideração a tantos anos que nos conhecemos e por saber da sua fé fervorosa, irei dar um jeito com a ajuda de Nossa Senhora.
Catarina beijando as mãos dela.
Catarina: Muito obrigada, que Deus lhe abençoe. Ah… só mais uma coisa.
As duas se encaram e a madre se inquieta.
Madre Lúcia: O que foi?
Catarina: A senhora poderia ir buscar Mitra, ela é difícil de lidar, acho que a senhora indo até lá, pode facilitar a situação.
Madre Lúcia: Pois bem, que assim seja. Amanhã estarei lá pela manhã, pontualmente.
Catarina: Obrigada, muito obrigada.
(Mansão de Maia):
Tânia toca a campainha e a empregada abre.
A empregada se assusta ao ver Tânia.
Tânia: O que foi, querida? Viu fantasma?
Empregada: Não senhora.
Tânia: Mamãe está no quarto?
Empregada: Sim senhora.
Tânia: Mas o que é isso? Só sabe dizer “sim senhora” ou “não senhora”?
Empregada: Sim… quer dizer, não…
Tânia: Vou subir.
Tânia chega na porta do quarto e entra sem bater, a enfermeira, chamada Graça, está cuidando de dona Maia.
Tânia: Com licença, como vai, tudo bem? Então a senhorita é a enfermeira que está cuidando de mamãe?
Graça: E quem é a senhora?
Tânia: Eu? Sou filha da dona Maia, muito prazer.
A enfermeira arregala os olhos.
Graça: A senhora aqui? Não sabia que dona Maia tinha filha.
Tânia: Minha filha vem aqui todos os dias, não é possível que não saiba que Felícia é neta de dona Maia.
Graça: Disso eu sabia, mas nunca tocaram no assunto de dona Maia ter uma filha, achei que... enfim, estivesse morta.
Tânia: Que horror, menina. Melhor a gente encurtar esse assunto, não tenho todo o tempo do mundo. Gostaria de ficar a sós com mamãe, posso?
Graça: Ah com toda certeza, fique a vontade, querida.
Graça se retira do quarto.
Tânia: Querida é sua mãe.
Tânia permanece encarando Maia até ela acordar.
Maia: O que está acontecendo? O que está fazendo aqui? Onde está Graça?
Tânia: Vamos com calma, uma pergunta de cada vez, a senhora não tá com idade de se exaltar, mamãe.
Maia: O que quer aqui? Veio desdenhar de mim no leito de morte. Mas isso era tudo o que você sempre quis, sempre de olho na minha herança.
Tânia: Espere, eu não vim aqui para isso.
Maia: De todo jeito, não me importa, saia daqui, saia dessa casa, da minha casa.
Tânia: Mãe, eu só gostaria de conversar com a senhora, não vai demorar.
Maia: Não quero conversar com você, Tânia. Vá embora daqui, eu já disse. Ai, não estou me sentindo bem.
Tânia: O que houve? Está sentindo algo?
Maia: Chame a Graça.
Tânia sai do quarto aflita.
Tânia: Sua imprestável, mamãe está passando mal, venha, rápido.
Graça corre até o quarto de Maia e Tânia vai atrás.
Maia: Já pode ir, vai embora, Tânia.
Maia começa a tossir.
Tânia: A senhora vai se arrepender, eu garanto.
Tânia se retira do quarto abalada.
Tânia: Não precisava ser dessa forma, não precisava.
Tânia dá de cara com a porta do antigo quarto e decide entrar nele.
Ela passa a mão pelos móveis antigos, todos empoeirados. Ela encontra a antiga caixinha de bailarina que ganhou de presente do pai quando era criança. Tânia tem lembranças da época que morava ali, uma lágrima escorre e ela seca com brutalidade.
Ela sente uma presença naquele cômodo, abre a janela que há muito tempo não era aberta e uma luz entra, iluminando totalmente aquele cômodo escuro. Ela fica alguns minutos sentindo aquele conforto.
O dia passa, a noite chega.
(Fazenda Poaia):
Catarina chega em casa.
Humberto estava sentado na mesa de jantar sozinho, à meia luz.
Humberto: Finalmente chegou, onde esteve? Não venha com desculpas ou meias palavras pensando que eu vou acreditar, porque eu não vou.
Catarina: Dá pra parar de falar e me escutar, por favor. Vamos até o quarto, precisamos conversar.
Humberto a encara.
Humberto: Primeiro você vai me dizer onde esteve.
Catarina: Venha logo, é realmente um assunto sério.
Catarina fala disfarçando para Mitra não perceber.
Eles vão até o quarto e Catarina tranca a porta.
Catarina: Escute, eu decidi tomar uma atitude que Mitra vai odiar, mas eu peço que não me julgue pois foi bastante difícil pra mim tomar essa decisão.
Humberto se senta na cama.
Humberto: Nossa… algo tão sério assim?
Catarina: Muito… Eu pensei bastante e decidi colocar Mitra no convento Santa Isabel.
Um close na cara de Humberto estarrecido.
Abertura:
Ele se levanta indignado.
Humberto: Você não pode fazer isso, ela não vai aceitar de maneira nenhuma.
Catarina: Ela não tem que aceitar, tem que acatar. Ela vai para esse convento sim!
Humberto: Eu estou achando essa ideia um pouco precipitada demais.
Catarina: Não me importa. Vai ser bom… bom pessoas mais experientes auxiliando ela e iluminando seu caminho.
Catarina se levanta sem meias palavras.
Catarina: Não quero saber, a freira virá até aqui amanhã pela manhã, eu espero que até lá você tenha conversado com ela.
Humberto: Eu? Mas quem devia conversar com ela era você que tomou a atitude. Aliás, e sem conversar comigo previamente.
Catarina: Ela não me escuta, vocês têm mais intimidade, apesar dos pesares.
Catarina sai do cômodo e deixa Humberto pensativo.
No outro dia…
Humberto se aproxima do quarto de Mitra, ele bate na porta que já estava aberta e entra.
Humberto: Licença, minha filha. Posso entrar?
Mitra: Claro, pai. O que o senhor faz aqui tão cedo?
Humberto engole seco e se senta na cama.
Humberto: Sente-se aqui ao meu lado, venha.
Mitra se senta.
Mitra: Pelo visto é algo sério.
Humberto respira fundo.
A cena corta para a madre Lúcia chegando de charrete e ouvindo os gritos.
Mitra: EU NÃO VOU A LUGAR ALGUM, O SENHOR NÃO TEM ESSE DIREITO, MUITO MENOS A MAMÃE.
Catarina corre para receber madre Lúcia e elas entram repentinamente.
Catarina: Mitra, se acalme.
Mitra: Por que a senhora está fazendo isso comigo? Quer me ver sofrer, tirar a minha paz?
Madre Lúcia só observa.
Mitra se aproxima de Catarina.
Mitra: A senhora nunca me amou, nunca demonstrou um carinho genuíno por mim, sempre me reprimindo, reprimindo as minhas vontades.
Catarina: Vontades do corpo.
Mitra: Vontades da alma. A senhora sempre destruindo momentos em que eu me sentia bem, me sentia feliz.
Catarina: Eu sempre busquei a sua felicidade, sempre fiz isso pensando no melhor para você. Se não for para esse convento, terá que casar com o filho do coronel, ele demonstrou interesse em você, seria quase um pecado se não usássemos essa situação para melhorar nossa relação com eles.
Mitra: Eu não vou me casar com aquele panaca, nem se estivesse posta em praça pública. Se me pedissem para escolher a morte ou esse casamento, não pensava duas vezes, pulava na fogueira agora mesmo.
Catarina: Pois se não quer se casar com ele, terá que ir para o convento.
Mitra: A senhora é uma bruxa, mentirosa, vive de mistério com o seu passado, acha que Deus se agrada disso? Viveu todo esse tempo escondendo segredos, quanto a isso prefere evitar tocar no assunto não é?
Catarina passa a mão pelo pescoço e pega no terço aflita; Catarina coloca a mão no coração.
Catarina: Ai… eu tô passando mal.
Catarina cai desmaiada no chão, Humberto rapidamente a pega no colo e a põe na cama.
Humberto: Meu amor, Catarina. Acorda, Catarina.
Madre Lúcia observando aquilo tudo, se aproxima de Humberto.
Madre Lúcia: Com todo respeito, sem querer ser indiscreta, mas o que ela tem.
Humberto: Catarina tem sopro no coração, não pode passar emoções fortes.
Madre se espanta e coloca a mão na boca.
Madre Lúcia: Ah… eu sinto muito.
Ela se aproxima de Mitra no canto, que estava aflita.
Madre Lúcia: Você quer ir para o convento, querida?
Mitra pensa no que sua mãe disse, sobre o casamento forçado.
Mitra pensa: Não aguento mais viver nessa casa, mas se bem que o convento é cheio de regras, mas deve ter mais paz do que aqui.
Mitra: Eu não sei…
Madre Lúcia: Vamos fazer um acordo então, faça a vontade de sua mãe temporariamente. Pense no convento em um lugar que você pode se reconectar com a paz divina, não precisa levar em conta as regras, para você eu abro uma excessão.
Madre dá um sorriso falso.
Mitra olha confusa, pensando se realmente aceita ou não.
Mitra: Eu… eu aceito, na verdade, só quero sair daqui.
Madre Lúcia: Ótimo, meu bem, vai lhe fazer muito bem.
Catarina aperta a mão de Humberto bem forte, os dois sorriem, Catarina bem mais alegre.
Mitra vai fazer as malas chorando, enquanto isso, madre Lúcia se aproxima de Catarina e Humberto.
Madre Lúcia: Escutem, não fiquem preocupados, de início ela não vai dar muita importância às regras do convento, mas aos poucos eu vou moldando ela, com a ajuda divina, é claro.
Mitra se despede do pai dando um abraço e da mãe pedindo a benção; eles vão até o lado de fora, elas se preparam para subir na charrete quando Mitra para e observa a fazenda, ela olha para o casarão onde nasceu, para o pé de manga com um balanço onde se divertiu bastante, para o açude onde tomou vários banhos e volta o olhar ao casarão, ela sobe na charrete e uma lágrima escorre.
Madre Lúcia também sobe e elas vão embora dando tchau aos pais.
Mitra se vira com um certo ódio da mãe.
Mitra pega uma mala, bate na cabeça da madre e pula da charrete, ela corre pelo mato adentro.
A imagem volta para ela na charrete, mostrando que isso era um pens
amento dela.
Elas chegam no convento, é um lugar frio, sombrio e de arquitetura gótica. Um lugar sujo e triste.
Mitra se assusta ao ver onde vai ficar por um tempo.
Madre Lúcia: Pronto, chegamos. Desça logo, garota! Não tenho todo o tempo do mundo.
Mitra desce acanhada e se espanta ainda mais.
Encerramento.
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