Limite da Vida - Capítulo 06
novela de Larice da Costa
Giovanna observa o movimento, ela se aproxima sem fazer barulho e toca o sino, gritando juntamente.
Giovanna: MADREEEEE, MADRE LÚCIA. AS MENINAS ESTÃO FUGINDO.
Lícia: O que?
Mitra ouve os gritos do lado de fora e decide sair para ver o que estava acontecendo.
Madre Lúcia: O que foi?
Giovanna: Elas estão fugindo, madre.
Madre Lúcia: Ah, se acham muito espertas, não é? Então pensaram que podiam escapar do convento assim, tão facilmente?
Mitra encara Lícia do outro lado e tem uma visão com fogo, até que ela não se sente bem e se apoia na porta, tentando gritar por Lícia.
Giovanna encara as noviças com deboche, e ao mesmo tempo, percebe que Mitra está passando mal e vai até ela.
Giovanna: não está se sentindo bem, meu chuchuzinho? Venha comigo.
Enquanto isso, madre Lúcia e outras freiras tentam impedir que as noviças escapem.
Madre Lúcia: Acharam mesmo que poderiam fazer tudo isso na calada da noite? Erraram feio. Podem levar elas, e você, queridinha.
Madre encara Lícia.
Madre Lúcia: Vem comigo.
Lícia: Não vou a canto algum, me solte.
Lícia chuta a canela de madre Lúcia e tenta correr, quando derruba um candelabro no corredor, ele cai no pé de uma cortina, incendiando tudo em segundos.
Madre Lúcia: Olha o que você fez. Corram, busquem baldes, vão.
Madre agarra em Lícia, enquanto algumas noviças correm e outras caem no chão quente.
Lícia tenta ajudar e cai junto da madre Lúcia.
No outro lado.
Giovanna: Fica aqui bem quietinha.
Giovanna joga Mitra no quartinho em que as noviças iam fugir.
Giovanna: Converse com as baratas.
Mitra cai toda bamba. Giovanna volta para o local onde está acontecendo a confusão, e percebe que as coisas saíram do controle.
As noviças, incluindo Lícia e madre Lúcia, estavam encurraladas pelo fogo, uma tenta pular e o fogo alastra pelo seu hábito. As noviças e freiras ficam desesperadas vendo aquela cena.
Mitra se levanta cambaleando e tenta abrir a porta, mas percebe que está trancada. Ela ouve os gritos e bate na porta, gritando por Lícia.
Mitra: Espera. Eu estou no quarto em que elas iam fugir.
Mitra se dirige ao alçapão e abre, ela toma coragem e desce por ele. Mitra entra em um corredor escuro, ela corre por ele, atravessando até o outro lado.
Moradores da proximidade correm em direção ao convento, que neste momento já está majoritariamente incendiado.
Mitra consegue sair do outro lado com muita dificuldade, as fumaças já estavam invadindo o túnel e a saída.
Mitra tossindo: LÍCIA.
ABERTURA.
(Fazenda Poaia)
Catarina está deitada em sua cama, pensativa sobre Mitra.
Catarina: Humberto, gostaria de ir visitar Mitra amanhã, apesar das nossas desavenças, enfim, desde sempre. Me leva até lá amanhã?
Humberto: Claro que eu levo, também estou com saudades de Mitra.
Catarina: Agora sabe que não fiz aquilo por mal. Sabe que as minhas intenções foram as melhores e quem sabe não tenha dado certo. Mitra sempre foi muito rebelde, você sabe, lá ela aprenderá.
Humberto: Não sei ainda, quando chegarmos lá é que eu vou tirar minhas conclusões. Agora, vamos dormir, estou cansado.
Catarina observa Humberto se virar para o outro lado.
(Mansão de Tânia):
Tânia suspira pelos cantos com um sorriso apaixonado. Felícia se aproxima aos pouquinhos reparando Tânia.
Felícia: O que houve, minha mãe? Está com uma luz no rosto. Mas eu conheço essa cara, está apaixonada?
Tânia: Ai menina, você me assustou. Isso é jeito de falar comigo?
Felícia: O que foi? Uma pergunta tão inocente.
Tânia: Acho que para você eu posso contar. Hoje eu reencontrei uma pessoa que foi muito especial no meu passado, meu primeiro namorado. Ah Felícia, ele está tão diferente, quer dizer, o jeito chucro e mão fechada permanece, acredita que eu tive que pagar a conta?
Felícia: Nossa… e está suspirando por isso?
Tânia: Não. Ele foi meu primeiro namorado.
Felícia sorri surpresa.
Felícia: Achava que papai era o seu primeiro namorado.
Tânia: Não… seu pai foi aquele que eu escolhi casar. Mas voltando ao assunto, foi tão mágico reencontrar ele, parece que eu me transportei até a juventude.
Felícia: Que lindo, mãe. A senhora quase não fala sobre seu passado, sobre o MEU passado. Podemos aproveitar o momento e a senhora me contar.
Tânia: Agora não, está tarde e eu tenho que acordar cedo, vá para a cama, boa noite.
Felícia levanta desconfiada de Tânia.
Felícia: Como sempre escondendo, mas a senhora terá que me contar um dia, não sou mais criança.
Tânia: Não escondo nada, não tem passado misterioso algum. Vá se deitar, por favor.
Felícia: Tudo bem…
(Convento):
Mitra: AJUDA, SOCORRO. Tem pessoas lá dentro. Está todo mundo lá.
Fazendeiro: Eu sinto muito, mas pelo jeito que o convento está…
Mitra: NAAAOO.
Mitra corre em direção ao convento, tentando adentrar, mas é segurada pelo fazendeiro.
Fazendeiro: Não senhorita, fique aqui, não é seguro que entre.
Mitra: Não, por favor.
Mitra cai no chão de joelhos chorando e ao fundo o cenário decadente do convento incendiado e as pessoas tentando ajudar.
Fazendeiro: Leve ela, Jussara. Vá com a Jussara, você precisa de apoio.
Jussara: Venha comigo, garota.
Jussara envolve Mitra em um manto e a leva para a casa.
Jussara: Qual o seu nome, menina?
Mitra atordoada.
Mitra: É Giovanna.
Jussara: Tome esse copo de água, deve ter sido horrível.
Mitra: Foi a pior sensação que eu senti na minha vida, foi horrível.
Mitra começa a chorar e Jussara tenta consolar ela passando a mão pelo seu braço.
Jussara: Não fique assim, o pior já passou. Onde a sua família mora? Vamos te levar lá amanhã bem cedinho.
Mitra: É… mora na cidade, eles moram na cidade.
Jussara: Tudo bem Giovanna, amanhã te levaremos até lá, agora se deite, venha, tente dormir.
Mitra: Eu não vou conseguir, não vou.
Mitra chora novamente se lembrando de Lícia.
*Flashbacks*
Mitra: Tem certeza de que quer fazer isso, Lícia?
Lícia:Mitra, não adianta, não vamos mais permanecer nesse lugar deplorável, abominoso. Mas venha comigo, Mitra. Eu… eu me aproximei tanto de você, não queria te deixar agora.
Mitra: Eu também não queria te deixar, mas eu vou ficar, também estou decidida. Mas tome isso, pra você não se esquecer de mim.
Mitra entrega seu pingente com uma rosa para Lícia, a mesma se vira de costas para Mitra que coloca o pingente em seu pescoço.
Lícia abraça Mitra.
Lícia: Eu nunca vou me esquecer de você, Mitra. Nem que eu esteja bem velhinha vou me esquecer dos seus olhos, do seu sorriso, da sua pele. Você foi uma das pessoas mais especiais da minha vida, com você eu aprendi a ver um pouco de cor nesse mundo, muito obrigada.
Mitra: Obrigada por ter me acolhido aqui dentro, só queria te dizer que…
Lícia: O que foi?
Mitra: Nada, não é nada. Vou sentir saudades de todas vocês, meninas. Acho melhor vocês irem antes que alguém perceba.
Mitra fala secando as lágrimas.
Lícia agarra a mão de Mitra até que a abraça novamente e sussurra em seu ouvido:
Lícia: Eu te amo.
*Fim do flashback*
Mitra intensifica o choro.
Mitra: Eu devia ter ido com você, Lícia.
Jussara: Tente não se lembrar, minha querida, não sofra mais.
Mais tarde… Mitra conseguiu finalmente dormir e o fazendeiro entra repentinamente no casebre.
Jussara se levanta.
Jussara: Shh, ela está dormindo. E então? Ninguém?
Fazendeiro: Como a gente previa, ninguém sobreviveu além da menina. E ela? Quem é?
Jussara: Se chama Giovanna, a coitadinha chorou até dormir.
Fazendeiro: Um convento como aquele pegar fogo assim… que tristeza, meu Deus.
Jussara: É… ela disse que mora na cidade, prometi a ela que amanhã bem cedinho levaria ela pra casa, por favor.
Fazendeiro: Claro, está certo, vamos sim. Então eu vou passar uma água no rosto e já me deito.
Jussara: Tá certo, homem.
Cenas mostrando os montes e as serras, o dia nasce.
Jussara: Vamos querida?
Mitra: Vamos, já estou pronta.
O fazendeiro,
Jussara e Mitra saem juntos em direção a cidade, de charrete.
Humberto e Catarina chegam no convento por outra direção.
Catarina avista o convento incendiado, mas não vê Mitra, e se desespera.
Catarina: Meu Deus, MITRA!
ENCERRAMENTO.
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