4 de nov. de 2024

Linha Tênue - Capítulo 01 (04/11/2024)

LINHA TÊNUE - CAPÍTULO 01



Webnovela de Tony Castello


PARTE 1: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / EXT. / MANHÃ

Em volta da piscina da luxuosa mansão Ferreira Albuquerque, alguns jovens se divertem em um dia ensolarado. A água cristalina reflete o céu azul, e o som das risadas ecoa pelo jardim. Liliana toma sol em uma espreguiçadeira e, ao seu lado, está Laura, que tenta dividir sua atenção entre passar bronzeador nas costas e inspecionar, muito interessada, os três garotos que se divertem na piscina. Até que um deles, o de cabelos dourados, com bochechas levemente ruborizadas e olhos amendoados, surge da piscina, molhando as duas.

Liliana (Franzindo a testa e enxugando o rosto): Ai, William, você me molhou toda.

William(rindo): Desculpa, irmãzinha.

William debocha da indignação de Liliana e olha para Laura piscando. Laura sorri timidamente. Logo fica claro a quem ela estava direcionando o seu interesse na piscina. William,então, mergulha na piscina de novo, enquanto Liliana permanece aborrecida.

Liliana: Esse imbecil molhou meu celular.

Laura: Calma, Lily, seu irmão tá só brincando.

Liliana: Ai, para né, garota! Se você quer ficar com ele, se atira na piscina logo e me deixa em paz.

Liliana levanta e vai até uma mesa próxima, onde pega uma toalha para se secar. Laura continua focada em William na piscina enquanto ele brinca com os outros dois garotos.

PARTE 2: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / INT. COZINHA / MANHÃ

Na cozinha espaçosa e bem iluminada, Janaína está sentada à mesa, fitando um anel, fazendo movimentos com a mão a fim de checar se o acessório coube bem em seu dedo.

Janaína: E você parcela em quantas vezes?

Gabriela: Quantas a senhora consegue pagar?

Janaína: Acho que umas… cinco vezes tá bom pra mim.

Gabriela: Pois então tá ótimo, vai ficar com ele?

Janaína fica pensativa, tentando decidir se aquela era uma compra válida e se caberia no seu curto salário como empregada doméstica.

Janaína: Quer saber? Vou sim, anota o meu nome aí, mas eu só posso pagar depois do dia 10.

Gabriela: Pode ficar tranquila.

Nesse momento, Celina surge na cozinha e cumprimenta Janaína.

Celina: Bom dia, Jana! Como vai o andamento do almoço?

Janaína: Pode ficar sossegada, patroa, tá tudo sob controle. As meninas já estão pondo a mesa e eu tirei um tempinho aqui pra ver umas coisinhas com a minha vizinha, Gabi, a senhora sabe, filha da Fátima que lhe falei.

Gabriela: Muito prazer, dona…

Celina: Celina! Celina Ferreira Albuquerque, meu anjo!

Gabriela: Ah, sim, prazer em conhecê-la.

Celina finge simpatia, mas seu rosto não mente sobre suas impressões em relação a Gabriela. O riso forçado em seus lábios conflita com o olhar frio e clínico que avalia Gabriela dos pés à cabeça.

Janaína: A Gabi vende ótimas coisinhas, dona Celina. Tem algumas joias lindas e uns perfuminhos, se a senhora quiser ver.

Celina: Ah, não, não precisa, Jana, minha linda. Só veja a questão do almoço para os meninos. Eu não irei descer pra almoçar, pois estou um pouco indisposta, mas garanta que meu William e os amigos estejam bem servidos, tudo bem?

Janaína: Claro, senhora.

Celina: Até mais, menina.

Gabriela: Até mais, senhora.

Celina se despede de Gabriela e se retira da cozinha. Alguns instantes depois, William entra no ambiente como um vulto e vai até a geladeira. Ele fica por um breve momento avaliando o que quer pegar e acaba retirando uma lata de cerveja, que coloca em uma bancada. Depois, ele apanha de forma meio desajeitada uma travessa, quase derrubando-a no chão, retira com a mão um pouco do que aparenta ser um doce e come um pouco, até que se vira e nota a presença de Janaína, com uma cara de reprovação, e Gabriela, curiosa e confusa, as duas observando tudo. William guarda a travessa e fecha a geladeira. Ele vai até Janaína e a abraça, dando um beijo na bochecha, ainda mastigando e tentando engolir o doce que havia comido. Janaína aparenta incômodo.

Janaína: Menino, você tá todo molhado, vai se secar.

William: Relaxa, Jana, como você tá, minha linda?

Janaína: Tô triste porque você quase não vem me ver.

William: Ah, que isso! Você sabe que eu te adoro e sempre venho te ver. Hoje estou dando atenção pra esses chatos que vieram encher a pança aqui em casa. Você deveria reclamar com a Liliana, que parece uma fresca naquela piscina.

Janaína: Garoto, deixa sua irmã em paz.

William: Eu deixo, Jana. Ela que implica comigo, só porque eu sou lindo e delicioso.

Janaína: Ah, tá bom… Vai cuidar da sua vida e deixa de ser convencido.

William dá mais um abraço em Janaína que, apesar de tentar se soltar, acaba se rendendo e sorri. William vai até a bancada e pega a lata de cerveja, então caminha até a saída da cozinha, até que para e se vira novamente para Janaína e Gabriela. Ele volta caminhando devagar, encarando Gabriela com uma expressão um pouco séria.

William: Você deve estar me achando o maior babaca, não é?

Gabriela observa-o e confusa com a pergunta.

Gabriela: Quem, eu?

William: Sim, eu entrei aqui e nem falei com você. Me perdoa. Olha, meu nome é William, ao seu dispor.

Gabriela: Nossa, que nada, não precisa disso, não precisa pedir perdão.

William: Preciso sim. A propósito, qual o seu nome?

Gabriela: Gabriela.

William: Gabriela de que?

Gabriela: Assunção.

William: Ah, lindo nome, Gabi. Posso te chamar de Gabi?

Gabriela (meio desconcertada): Acho que… pode, né?(olhando para Janaína)

William pega a mão de Gabriela e se ajoelha, dando um beijo.

William: Muito prazer, Gabriela Assunção.

William sorri para Gabriela enquanto Janaína observa com uma expressão desconfiada, até que ela pega um pano na mesa e bate com ele em William.

William: Aiii!

Janaína: Você deixe de palhaçada.

William: Qual foi?

Janaína: Agora sai da minha cozinha.

Janaína começa a perseguir William, espantando-o com o pano. William foge sorrindo com a lata de cerveja na mão, até que ele para na saída da cozinha e sorri para Gabriela.

William: A gente se vê, Gabriela Assunção.

Janaína: Sai daqui, menino!

E então William vai embora. Gabriela solta um sorrisinho encabulado.

Janaína: Olha, menina, não vai na onda desse daí não, porque apesar de ter bom coração e ser um doce de menino, oh homem pra ser mulherengo. Além disso, a patroa é muito protetora com ele, é o príncipe herdeiro dela. Ainda bem que ela saiu antes que ele chegasse. Deus me livre dela presenciar uma coisa dessa.

Gabriela: Ah, não se preocupa, eu sei me cuidar, isso jamais passou pela minha cabeça.

Gabriela sorri, pensativa.

PARTE 3: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / EXT. / MANHÃ

De volta à piscina, William se senta na beirada enquanto toma sua cerveja. Enquanto isso, Oliver e Celso brincam na piscina.

Liliana: Que isso? A mamãe já disse que não quer ver você bebendo dentro de casa.

William: Ah, garota, sai do meu pé! Que eu saiba não tô dentro de casa.

Júlio: William, ouça sua irmã.

William se vira e vê Júlio parado próximo a ele, usando um terno cinza, óculos escuros e com uma feição gélida.

William: Pai? De onde o senhor surgiu?

Júlio: Acabei de chegar e vim dar um oi para seus amigos. Estão se divertindo?

William: Sim, isso, é claro, se a Lily não estragar o dia.

Júlio solta um risinho e bate nas costas de William. Liliana, que estava próxima, ouve a alfinetada de William e responde.

Liliana: Mais fácil você estragar o meu dia, garoto insuportável!

William: Olha, tá vendo, pai? Olha como ela é comigo.

Júlio sorri da rusga entre os filhos.

Júlio: Eu vou ter que entrar; a mesa já deve estar posta. Chame seus amigos para virem almoçar. Aliás, esconda essa cerveja, você sabe que a sua mãe não gosta.

William: Não se preocupa, pai, a mamãe tá presa no quarto hoje, tá com mais uma daquelas enxaquecas.

Júlio: Tudo bem, eu já subo para ver ela.

Júlio faz sinais para os garotos na piscina, que retribuem o aceno. Ele então caminha para entrar na mansão. Nesse momento, William observa de longe Gabriela caminhando para fora da mansão; ele a segue com os olhos por um tempo, até que se levanta e corre na direção da moça. William alcança Gabriela e a assusta. Ele para em frente a garota, um pouco ofegante pela corrida, e sorri para ela.

William: Você ia embora sem se despedir de mim?

Gabriela fica tímida.

Gabriela: É que eu... Eu já tava de saída.

William: Sim, isso eu entendi, mas você não ia se despedir de mim.

Gabriela fica sem graça, sem saber o que responder. William vira o rosto e observa o grande portão da casa e então olha para Gabriela novamente.

William: Escuta, onde você mora? Eu posso te levar em casa.

Gabriela: Ah, que isso! De jeito nenhum, eu vou pegar uma condução.

William: Deixa disso, eu posso te levar, é só você me explicar o caminho.

Gabriela: Olha, eu agradeço, mas não precisa mesmo. E... sem querer ser grossa nem nada, mas a gente mal se conhece, não pega bem.

William: Não entendi, como assim não pega bem? Eu só quero ser gentil e te dar uma carona, nada além disso.

Gabriela: É, eu sei, mas mesmo assim vou ter que recusar, me desculpa.

Gabriela começa a caminhar e se afasta de William, que fica parado com uma expressão de desapontamento.

Enquanto isso, Laura avista os dois de longe e fica curiosa.

Laura: Lily, olha aquilo, seu irmão conversando com aquela garota.

Liliana soa desinteressada com o comentário de Laura, mas também observa a interação de William e Gabriela.

Liliana: O que tem?

Laura: Quem é aquela garota?

Liliana: Não faço a mínima ideia.

Laura: Meio estranho, não?

Liliana: Não tem nada de estranho, vindo do William. É de se esperar; deve ser mais alguma ficante dele. Coitada, espero que saiba a roubada em que tá se metendo.

Laura: Você acha que os dois têm alguma coisa?

Liliana: Eu suponho, por que outro motivo o William estaria interagindo com uma garota que a gente não conhece? E quer saber? Dane-se ele, vou é curtir meu solzinho. Se você tá muito interessada, vai lá perguntar pra eles o que estão conversando.

Liliana se vira e deita de bruços. Laura permanece atenta a William e Gabriela.

Celso e Oliver saem da piscina e pegam toalhas para se secarem. Os dois vão até onde Laura e Liliana estão. Oliver se senta próximo da espreguiçadeira de Liliana e beija as costas dela. Ele dá vários beijos, subindo até o pescoço dela, até que a garota se vira e os dois se beijam. Celso e Laura trocam olhares interessados.

Celso: E aí, Laurinha, aproveitou bem o dia?

Laura: Ah, nem tanto. Sabe como é, né? Acho que fiquei sobrando hoje.

Celso sorri maliciosamente e Laura retribui o sorriso.

Liliana: Gente, é melhor a gente entrar pra almoçar logo, senão o papai vai ficar uma arara.

Oliver: Mas já? Pensei que você ia ficar mais um pouquinho aqui comigo, curtindo (beijando o pescoço dela).

Liliana: Ah, não! Eu tô morta de fome, vamos logo. Aliás, Celso, seu irmão não ia vir passar o fim de semana com a gente?

Celso: É, mas acabou desistindo. Achou coisa melhor pra fazer.

Oliver sorri e faz uma careta de deboche. Liliana dá uma cotovelada na costela dele, fazendo sinal pra parar.

Celso (notando o gesto): Não se preocupa não, Lily, eu sei que o Ollie e meu irmão não são exatamente os melhores amigos do mundo.

Liliana sorri constrangida.

Oliver: Ah, Celso, você vai ter que me desculpar, mas o seu irmão é um pé no saco.

Laura: Ok, gente, então vamos entrar logo? Eu vou chamar o William.

Celso: Falando nisso, cadê ele?

Após o comentário de Celso, Laura nota que William havia sumido.

PARTE 4: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / SALA / MANHÃ

Dentro da casa, William aborda uma empregada que ia passando com uma bandeja.

William: Pra onde vai levar essa bandeja, Nalva?

Nalva: Pra sua mãe, um chazinho pra acalmar os nervos.

William: Antes de você ir... pode vir aqui um instante?

Nalva: O que foi, senhor William?

William faz sinal para Nalva se aproximar e começa a cochichar.

William: Então, é o seguinte, você viu aquela moça que veio aqui hoje?

Nalva: Sim, senhor.

William: Você conhece ela?

Nalva: Não, mas sei que ela é vizinha da Janaína. Talvez o senhor devesse pedir informações pra ela.

William olha para os dois lados, apreensivo.

William: Mas é aí que tá, a informação que eu quero, tenho certeza de que a Jana não vai querer me passar.

Nalva faz uma expressão de desconfiança.

Nalva: E o que seria isso?

William: Eu queria o endereço daquela menina, Gabriela. Olha, Nalvinha, eu nunca te pedi nada. Será que você poderia chegar na Jana, assim como quem não quer nada, e pedir esse endereço?

Nalva: Mas o que o senhor quer com essa menina?

William: É assunto meu, Nalvinha, mas, por favor, faça isso por mim. Você sabe como eu sou bonzinho.

Nalva: Olha, senhor William, eu sei disso, mas estou muito desconfiada dessa situação.

William: Desconfiada de quê, Nalvinha? Eu vou ser sincero com você: eu achei a menina bonita e queria convidar ela pra sair, só isso.

Nalva: Ah, então por que o senhor não pede esse endereço pra a Janaína?

William: Exatamente porque ela não vai me dar. Você acha que ela me daria o endereço de uma garota assim? A Jana me ama, mas, ao mesmo tempo, tem uma ideia totalmente equivocada da minha pessoa. Por favor, Nalva, faz o que eu tô pedindo.

Nalva: Olha aqui, senhor William, eu não sei se posso fazer isso.

William faz uma cara de decepção.

Nalva: Mas...

William: Mas?

Nalva: Mas eu vou ver o que posso fazer. Não vou prometer nada, hein.

William dá um pulo e comemora.

William: Obrigado, Nalvinha, amor da minha vida. Você é demais! Agora me dá aqui essa bandeja que eu mesmo vou levar o chazinho pra minha mãe.

Antes que Nalva pudesse protestar, William já havia tomado a bandeja e subido as escadas. Nalva observa ele subir com um risinho no canto da boca.

PARTE 5: CASA DE GABRIELA / SALA / TARDE

Gabriela chega em casa e é recebida por Fátima.

Fátima: E aí, como foi?

Gabriela: Foi bem, consegui vender uns perfumes para as meninas e a Janaína ficou com um anel lindíssimo. Agora, deixa eu descansar um pouco.

Fátima: Que cara boba é essa?

Gabriela: Cara boba? Tá falando do que?

Fátima: Eu te conheço, Gabi. Tu tá com um sorrisinho frouxo nos lábios. Andou fazendo algum desvio nesse teu caminho?

Gabriela: É o quê? A senhora só pode estar delirando, insinuando algo assim de mim, mãe.

Fátima: Olha o respeito, menina! Eu não sou besta, conheço a cara de menina que viu passarinho verde. Você não costuma arreganhar tanto esses dentes assim por nada.

Gabriela: Meu Deus, mas a senhora invocou com isso! Foi só um menino que eu conheci lá na casa onde a Janaína trabalha.

Fátima: Que menino? Na casa onde a Janaína trabalha? Ele é empregado de lá?

Gabriela: Não...

Fátima olha para Gabi com uma cara de desconfiança.

Fátima: Gabriela, Gabriela, quem é esse homem que você andou se engraçando?

Gabriela: Aí, mãe, não houve nada! Eu só conheci ele, a gente se cumprimentou e mais nada.

Fátima: E esse homem faz o que da vida?

Gabriela: Não sei, acho que estava de visita. Mas deixa pra lá, mãe, deixa eu ir tirar um cochilinho antes do almoço, senão eu caio dura aqui nessa sala.

Gabriela sai da sala para ir em direção ao seu quarto, enquanto Fátima a encara com feição investigativa.

Fátima (falando sozinha): Isso não tá me cheirando bem.

PARTE 6: RUA DA CASA DE GABRIELA / MANHÃ

No dia seguinte, Gabriela se despede de Fátima e sai de casa rumo à faculdade. Naquele dia, sua aula seria pela manhã. Gabriela caminha muito calmamente até o ponto de ônibus até que vê um rosto familiar de um homem parado em um carro estacionado na esquina de sua rua. Ela logo nota de quem se tratava.

William: Oi, Gabi!

William grita para Gabriela e acena com um sorriso. A garota fica incrédula e desnorteada com o que vê, dando passos bem devagar, sem saber se continua andando ou se volta para casa.


FIM DO CAPÍTULO.


Nenhum comentário:

Postar um comentário