LINHA TÊNUE - CAPÍTULO 16
Webnovela de Tony Castello
PARTE 1: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / ÁREA EXTERNA / NOITE
É a noite da festa de formatura de William. A área externa da mansão está resplandecente, tomada por mesas com convidados e uma iluminação delicada. Convidados circulam entre as mesas, onde garçons atentos servem bebidas e aperitivos. No palco, uma orquestra toca canções clássicas, embalando a festa com melodias elegantes. Em um canto mais reservado, Gabriela e William estão abraçados, conversando.
William: Olha só que presepada, isso é muito maior do que eu esperava.
Gabriela: Ah, eu gostei, tá tudo tão elegante, né?
William: Você curte festas elegantes assim?
Gabriela: Claro, tá tudo tão bonito. Além disso, é a sua formatura, uma ocasião assim merecia um festão. Acho que seus pais arrasaram. E sabe do que mais, senhor William?
William: O que?
Gabriela envolve os braços no pescoço de William e encosta os lábios na orelha dele.
Gabriela: Você tá um tesão com esse smoking, tá me dando uma vontade louca de tirar.
William: Ah, sua safada, pode ficar tranquila que hoje à noite você vai tirar cada peça de roupa minha.
Os dois sorriem com os rostos colados um no outro e então se beijam apaixonados. Após o beijo William alisa os lábios de Gabriela com os dedos.
William: Tem pessoas demais aqui. Eu nem sei quem são algumas dessas pessoas.
Oliver: São amigos do seu pai.
Oliver surge, surpreendendo William, que vira a cabeça para vê-lo. Eles se cumprimentam com um aperto de mão e um abraço.
William: E aí, cara, como você tá?
Oliver (Engolindo um pouco de champanhe): Ah, estou bem, na medida do possível. Vocês viram a Lily?
William balança a cabeça em negação.
Oliver: Imaginei...
William: Por que você não procura ela lá em cima?
Oliver: Não, vou ficar por aqui mesmo.
Ao tentar se mover, Oliver fica um pouco cambaleante. William nota e tenta ajudá-lo, mas Oliver levanta a mão para impedi-lo.
William: Tudo bem?
Oliver: Tudo, eu só...
William: Oliver, você não acha que já bebeu demais?
Oliver: Não, não, eu tô bem. Só estou comemorando. Em breve eu vou embora daqui. Quero estar feliz nesse dia. Apesar de que... a Liliana disse que ia ficar comigo, mas não encontro ela em lugar algum.
Gabriela: Você não quer se sentar um pouco?
Oliver: Não, Gabi. Aliás, Gabi, a gente não teve tempo de se conhecer bem, uma pena.
Oliver se afasta, deixando William e Gabriela preocupados.
Gabriela: Acho que preciso ir ao banheiro.
William: Vamos, eu te levo.
Gabriela: Não precisa. Acho melhor você dar uma checada no seu amigo, ele não me parece bem.
William: Acho que ele só bebeu um pouco demais.
Gabriela: Mas é melhor você tentar ajudar. Os pais dele estão aqui, talvez fosse melhor você ficar de olho nele. Pode deixar que eu me viro.
William: Tudo bem.
Gabi beija a mão de William e se afasta, passando graciosamente por entre alguns convidados. William a observa com um sorriso até perceber que Oliver não está mais à vista, começando a vasculhar o local com os olhos. De repente, Celso avista William e se aproxima por trás, envolvendo seus braços em torno do abdômen do amigo.
Celso sorri e William se assusta levemente. Celso solta William, dando-lhe tapinhas amigáveis nas costas.
Celso: E aí, príncipe, como é que tá se sentindo?
William: Tô me sentindo leve, tirei um peso das costas.
Celso: É assim que eu gosto de ver. Meu maninho finalmente formado... parece que foi ontem que você não passava de um garotinho mimado jogando videogame. Escuta, tô muito orgulhoso de você, sério mesmo. Chega eu até me emociono. Mesmo que eu não demonstre o suficiente, você é como um irmão pra mim, nunca se esqueça disso.
William: Eu sei, Celso. Muito obrigado pelo seu apoio!
Celso dá um abraço forte em William. Os dois se afastam, e Celso ajeita as mangas do smoking de William.
Celso: Olha só, você parece aquele pinguim do filme “Tá Dando Onda”! Já pode surfar com esse smoking e ir pra Ilha de Pen Gu. É pra lá que eles migram, né?
William gargalha com a piada de Celso, apoiando seu rosto no ombro do amigo.
William: Deixa de graça e me diz se você viu o Oliver passar por aqui.
Celso: Não vi esse pulha. O que ele andou aprontando?
William: Tava muito bêbado. Preciso achar a Liliana também, mas não sei onde essa esquisita se meteu.
Celso: Ela está ali, conversando com o meu irmão.
Celso aponta para longe, onde William vê Liliana conversando animadamente com Fred em uma mesa. William começa a caminhar até eles, mas Celso o segura pelo braço.
William: O que foi?
Celso: Espera aí, mocinho, primeiro você tem que me contar uma coisa.
William: Contar o que?
Celso encara William com uma expressão investigativa.
Celso: Você tá com uma carinha muito suspeita pro meu gosto.
William: Eu? Suspeita por quê?
Celso: Não sei... Sinto um risinho no canto da sua boca que só reconheço como sendo de felicidade.
William: Mas é óbvio que tô feliz! Me formei, acabei de fechar um ciclo na minha vida. Você queria que eu estivesse como?
Celso: Ah é? Você pensa que me engana? Não me vem com essa. Eu sei que não é só por isso que você tá assim, todo risonho.
William hesita por um momento, olhando para os lados.
William: Tudo bem, vem aqui. Vou te mostrar algo.
William pega Celso pelo braço e o conduz a um canto mais afastado. Ele para em frente a Celso, ainda olhando ao redor para se certificar de que ninguém está prestando atenção neles. Celso, confuso, franze a testa. William retira uma pequena caixinha do bolso e a abre, mostrando o conteúdo para Celso. Os olhos de Celso se arregalam.
Celso: É o que eu tô pensando?
William: Sim, eu vou pedir a mão da Gabi hoje.
Celso: Meu Deus, William!
William fecha a caixinha e a guarda rapidamente no bolso. Celso o puxa para outro abraço, desta vez mais longo.
Celso: Você não sabe como eu torço por vocês. Vocês vão ser muito felizes, meu amigo.
William: Muito obrigado, Celso. Você não sabe como é bom ouvir isso. Tô muito nervoso, parece que meu coração vai sair pela boca.
Celso: Relaxa, vai dar tudo certo. Tenho certeza de que você vai fazer o pedido mais romântico de todos.
William: Se eu conseguir ao menos pronunciar as palavras corretamente.
Celso: Que isso, você vai se sair bem. Você nunca foi uma pessoa tímida, sempre teve desenvoltura para falar com as mulheres.
William: É, mas com a Gabi é diferente. Ela me deixa sem direção. Às vezes ainda sinto um frio na barriga por estar perto dela, como se eu não merecesse estar. Fico me perguntando se sou um homem à altura dela.
Celso: William, é claro que você é um homem à altura da Gabi. Você é uma das pessoas mais verdadeiras e gentis que conheço, e a Gabi, pelo pouco tempo que eu conheço dela, me parece ser assim também. Vocês foram feitos um para o outro.
William sorri timidamente, com os olhos marejados. Celso dá uns tapinhas encorajadores no ombro dele.
William: Bom, preciso ir. Preciso avisar a Liliana sobre o Oliver.
Celso: Tudo bem, eu vou com você pra ajudar a achar ele.
Celso e William começam a caminhar juntos até a mesa onde Liliana e Fred estavam, mas, de longe, os dois avistam a mesa vazia.
William: Droga, Celso, cadê eles?
Celso: Pelo visto foram para um lugar mais reservado. Acho que a conversa tava boa. (sorrindo)
William: Deixa de palhaçada, Celso, e me ajuda a encontrar a Lily. Vou entrar na casa pra ver se encontro os dois. Você vasculha aqui fora, atrás deles e do Oliver.
William começa a caminhar em direção à casa, mas para e se vira.
William: E se você vir o Oliver, pelo amor de Deus, não deixa ele beber mais nada. Senão, é capaz de sair daqui de ambulância.
Celso: Ai, que exagero.
William se afasta em direção à casa, enquanto Celso vistoria a área externa. Ele dá alguns passos e faz uma dancinha, percebendo que a música era inadequada para dançar.
Celso: Ai, que coisa caída! Esse velho carcomido tinha que fazer essa festa parecer uma celebração de múmias!
PARTE 2: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / INT. ENTRADA ENTRE A SALA E A COZINHA / NOITE.
Gabriela chega à cozinha e pede ajuda a Nalva para achar um banheiro. Nalva explica o caminho e se retira. Laura aparece na cozinha, seguindo Gabriela. Ela solta um risinho e volta pelo caminho de onde veio, esbarrando em William.
Laura: Ai, desculpa!
William: Tudo bem, você viu a Gabi por aqui?
Laura desvia o olhar, hesitando em responder.
Laura: Nã... Não. Não vi ela.
William: Droga, sabia que não deveria ter deixado ela vir sozinha, deve ter se perdido. E a Liliana, você viu? O Oliver tá enchendo a cara, preciso que ela me ajude com ele.
Laura: Sua irmã? Me poupe, né, William. Sua irmã quer me ver pelas costas. A gente se esconde uma da outra aqui nessa mansão. Na verdade, eu me escondo, já que ela quer me espancar em todas as oportunidades.
William: Ah é... Esqueci que vocês duas estão nessa.
William: Pois é, Laura, deixa eu ir que agora eu tenho um batalhão de pessoas pra encontrar.
William tenta passar por Laura para ir até a cozinha, mas ela se coloca entre ele e a entrada.
Laura: Espera aí, William!
William: O que foi?
Laura: Como assim, o que foi? E esse jeito seco que você me trata?
William: Ah, Laura, essa agora? Sinceramente, não tenho tempo pra isso.
Laura: William, o que eu te fiz pra você me tratar assim? Parece que agora você só me vê como uma estranha.
William: Laura... Olha só, não é bem assim. Eu não quero te tratar como uma estranha, mas você tem que entender que a nossa relação mudou. A gente não pode mais se tratar com a mesma intimidade que antes. Eu sou um homem comprometido agora. E isso não quer dizer que eu ache você uma mulher vulgar pra estar perto de mim. Só significa que eu quero respeitar a minha namorada.
Laura: Ah, William, pra você pode parecer fácil se desconectar assim de mim, mas pra mim... Pra mim é horrível. Eu e você somos mais do que ex-namorados, nós fomos criados juntos. Eu tenho por você um carinho tão forte, que não pode ser quebrado assim da noite pro dia. Eu ainda considero você como uma das pessoas mais importantes da minha vida e parece que pra você eu não signifiquei nada, parece que eu sou apenas uma mulher qualquer que você precisa se afastar.
William: Laura, não piora as coisas. Eu não posso me responsabilizar pela sua dependência emocional por mim. O que você quer que eu faça? A gente já terminou, não somos mais nada um pro outro. Você precisa colocar isso na sua cabeça e seguir em frente.
Laura: William, eu só quero que você me trate com um mínimo de dignidade. É só o que eu peço. Eu não quero ser tratada como uma estranha por você. Que espécie de relação é essa que você tem com essa garota que exija que você se afaste totalmente de mim?
William: Uma relação linda, de respeito mútuo e cumplicidade, a relação que eu sempre sonhei em ter na minha vida e agora eu tenho com a mulher dos meus sonhos. Se pra você é difícil entender isso, então eu não posso fazer nada. Agora, por favor, me dê licença que eu preciso passar.
William tenta passar por Laura se encaminhando para a cozinha, mas antes de entrar no cômodo, Laura segura seu braço.
Laura: William, espera!
William para e vira para Laura, aguardando que ela diga algo.
Laura: Pelo menos me dá um abraço e me deixa te dar as minhas felicitações pela sua formatura.
William fica pensativo. Ele caminha hesitante até Laura e então os dois se abraçam. Laura repousa a cabeça no ombro dele, fechando os olhos e alisando as costas dele, suspirando levemente. Ela abre os olhos e avista Gabi voltando do banheiro. Nesse momento, ela solta William e segura o rosto dele. Com um olhar emocionado, ela avança sobre William e o beija. Gabriela, que estava passando pela cozinha, acaba presenciando a cena.
Enquanto isso, Júlio se aproxima de Celina, que estava conversando com Mônica, e a puxa pelo braço.
Júlio (cochichando no ouvido): Preciso falar com você.
Mônica: Júlio querido, como vai?
Júlio: Estou ótimo, Mônica. Será que eu poderia roubar a minha esposa de você só por uns instantes?
Mônica: Ah, mas é claro. Nosso papo tá tão bom, mas fica à vontade. Faz tempo que eu não venho aqui e tava com tanta saudade da Celina. Finalmente surgiu uma oportunidade de dar um pulinho. Ah, e antes que eu me esqueça, quero dar os parabéns. Eu vi sua nora, Gabi, um doce de menina. Você deve estar encantado.
O rosto de Júlio fica tenso, e ele se contém, mordendo os lábios e direcionando o rosto para baixo.
Júlio: Sim, uma garota excepcional. William teve muita sorte, querida Mônica. Sabe, não é tão fácil achar muitas mulheres de valor por aí hoje em dia.
Mônica: Ah, tenho certeza que sim.
Júlio: Agora você pode nos dar licença?
Mônica: Claro.
Mônica se retira, bebendo um pouco de champanhe e dando um risinho de canto de boca.
Celina: O que você quer, Júlio? Já disse que não quero conversa com você.
Júlio: Já chega, Celina. Já chega dessa palhaçada de me tratar assim. Será que você poderia dar um tempo? Pelo menos no dia da festa de formatura do nosso filho?
Celina: E como você quer que eu trate um homem como você? Escuta, Júlio, eu não quero que você me dirija a palavra até que William volte a morar nesta casa. Entendeu bem? Isso tudo é culpa sua. Agora eu tenho que aturar ver meu filho frequentar nossa casa como se fosse um visitante.
Júlio: Olha só, minha querida. Eu tentei convencê-lo, mas seu filho ficou irredutível. Talvez você devesse se conformar com o fato de que ele criou asas e voou. Não há nada que eu e você possamos fazer, senão aceitar.
Celina: Ah, sim. Da mesma forma que você aceitou ele te contrariar?
Júlio: Isso não vem ao caso.
Celina: Não vem ao caso porque você é um ignorante que não tem coragem de assumir seus erros. Estou cansada de você, Júlio. Eu vou dar um jeito de trazer William de volta, e você trate de ficar longe de mim.
Celina se afasta de Júlio.
PARTE 3: ÁREA EXTERNA / NOITE
Em um canto mais afastado, Liliana e Fred conversam enquanto riem entre si. A festa ao redor segue animada.
Liliana (rindo, com um brilho nos olhos): Dá pra acreditar? Em breve seremos só eu e você.
Fred (sorrindo nervoso): Só de pensar eu fico zonzo.
Liliana: Normal, eu também fico apavorada pensando no que vai ser da minha vida depois de formada.
Fred sorri, mas abaixa a cabeça, segurando sua taça junto ao peito. Há um momento de silêncio.
Liliana (curiosa, inclinando-se para ele): O que foi?
Fred: Nada, é só que... Você não me parece uma pessoa que deveria ter esse tipo de preocupações.
Liliana (arqueando uma sobrancelha): Deixa eu adivinhar, porque eu sou herdeira?
Fred desvia o olhar, claramente desconfortável com a pergunta.
Liliana: Não vou te recriminar por pensar assim, afinal é o que todo mundo pensa.
Fred: Espero que não se ofenda comigo.
Liliana: Ah, relaxa, não tenho pelo que me ofender. Além do mais, você tá certo em pensar assim. Quais preocupações eu teria na vida sendo filha de um magnata?
Fred: Olha, me desculpa se eu insinuei algo assim de você. Você é uma garota linda e é sempre tão gentil comigo.
Liliana (tocando o ombro dele): Relaxa, fofinho, eu entendi o que você quis dizer, é super natural que você pense assim.
Fred: Posso te fazer uma pergunta?
Liliana: Claro!
Fred: Por que você é sempre tão legal comigo? A gente nunca foi sabe... Próximo.
Liliana: Ah, Fred... Sei lá... É que eu te vejo e reconheço que você é o tipo de pessoa que transparece bondade. Infelizmente, no meu mundo isso é algo raro de se ver.
Fred fica encabulado com o comentário, suas bochechas ganham um tom levemente ruborizado enquanto ele desvia o olhar.
Fred: É que eu cheguei a pensar que...
Liliana: Que?
Fred: Ah, não, deixa pra lá. Foi só uma bobagem que passou pela minha cabeça.
Liliana: Pode falar, bobinho, eu juro para você que, seja o que for, eu não vou te julgar.
Fred: Não, sério mesmo, deixa pra lá.
Liliana: Então tudo bem, não vou te forçar a nada, mas saiba que você pode ficar à vontade comigo pra falar o que quiser.
Liliana se aproxima de Fred e, delicadamente, dá um beijo em sua bochecha. Ela permanece com o rosto próximo do dele, e seus olhares se fixam um no outro. Oliver observa tudo de longe. Sua expressão é de pura decepção e raiva. Ele começa a caminhar na direção dos dois, afastando com truculência alguns convidados que estavam em seu caminho. Ao se aproximar dos dois, Oliver fecha o punho e, num movimento rápido, acerta um soco no rosto de Fred. Fred cai desajeitadamente sobre uma mesa, derrubando taças e talheres no chão com estrondo. Os convidados próximos se assustam e gritam. Liliana fica paralisada de susto, os olhos arregalados enquanto a cena se desenrola diante dela. Celso, que estava procurando por Oliver e Liliana, presencia a cena e, como um vulto, avança rapidamente sobre Oliver, segurando-o pela lapela de seu smoking.
Celso: O que você pensa que tá fazendo, hein? Anda, responde, seu bostinha porque você bateu no meu irmão?
FIM DO CAPÍTULO.
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