Linha Tênue - Capítulo 20 (29/11/2024)

 LINHA TÊNUE - CAPÍTULO 20



Webnovela de Tony Castello


PARTE 1: AEROPORTO / INT. TERMINAL DE EMBARQUE / MANHÃ

Liliana e Oliver estão de mãos dadas no terminal de embarque do aeroporto, cercados pelo movimento frenético de passageiros e funcionários. Os dois dão um abraço apertado, encostando as cabeças nos ombros um do outro.

Oliver: Se eu pudesse, levava você comigo, bebezinha.

Liliana: E eu, se eu pudesse, faria você ficar.

Oliver: Você sabe que é só estalar os dedos que eu fico, sua boba.

Liliana: Sei, sei bem... Eu sei que você precisa pegar esse avião e ir conquistar as suas coisas. Quero ver você voltando bem lindo, e eu vou estar aqui te esperando.

Oliver: E você vai mesmo ficar bem aqui sem mim? Juro que não queria ir e te deixar assim.

Liliana: Eu sei... mas eu preciso ser forte. Depois de tudo o que aconteceu, o clima lá em casa tá péssimo. Mas eu sinto no meu coração que vai dar tudo certo.

Oliver se aproxima de Liliana, dando um beijo na testa dela. O olhar dos dois se encontra.

Liliana (chorando): Você vai ser sempre o meu amor, não importa quanto tempo passe ou a distância entre a gente.

Oliver: Eu sei, e você vai ser sempre a minha garota, a minha Lily.

Os dois encostam os lábios um no outro em um selinho. Oliver alisa o rosto de Liliana com o dedão e ambos sorriem um para o outro. Liliana aguarda até que o voo de Oliver decole, observando da grande janela uma parte significativa de sua vida ir embora.

Ao retornar para a mansão, Liliana para o carro na entrada e vê um rosto familiar. Ela desce do veículo e vê Gabriela encostada no grande portão, seu rosto praticamente sem vida, apenas olhando para dentro, não sabendo exatamente o que queria.

Liliana sabia que Gabriela estava proibida por Júlio de se aproximar da mansão, mas desde que se conhece por gente, Liliana não respeita determinação alguma do pai. Ela caminha até onde Gabriela está e as duas se encaram. Liliana então dá um abraço apertado em Gabriela.

Liliana: Como você tá, Gabi?

Gabriela: Estou... Ai nem sei como responder isso, Liliana.

Liliana: Você quer entrar?

Gabriela: Não, não tem como. Seu pai vai mandar me expulsarem, chamar a polícia, sei lá... Eu não quero problema pra minha cabeça. Já foi idiotice vir aqui.

Liliana: Nada disso. Aliás, você parece bem pálida. Está se alimentando bem?

Gabriela: Eu tô bem, fisicamente falando.

Liliana: Olha só, você vai entrar comigo, vai tomar um copo d’água e eu vou levar você no quarto dele. Você precisa ir até lá.

Gabriela: Não, Liliana, isso não. Eu não teria forças...

Liliana: Olha aqui, Gabi, você é uma das mulheres mais fortes que eu conheço. Eu te vi enfrentar o meu pai de cabeça erguida, não tem nada que você não possa suportar. Por favor, entra comigo. Se não for por ele, pelo menos por mim.

Gabriela fica indecisa, não sabe se entra na mansão, e corre o risco de dar de cara com Júlio, ou se dá meia volta e nunca mais põe os pés ali.

Gabriela: Tu... Tudo bem.

Liliana sorri para Gabriela e a puxa pela mão para que as duas entrem no carro.

Já dentro da mansão, Liliana leva Gabriela até a cozinha para que ela beba água. Gabriela toma um copo d'água enquanto Liliana a observa.

Liliana: E aí, tá melhor?

Gabriela: Um pouco.

Liliana: Você tem que se cuidar, Gabi. Eu sei que é difícil, mas não dá pra ficar descuidando da saúde assim, ainda mais você.

Gabriela: É, eu sei, mas é tanta coisa na minha cabeça. Eu passei por coisas demais nesses últimos meses. Nem sei como ainda consigo estar de pé todos os dias de manhã. Cheguei a pensar em trancar o curso e não levantar mais da cama pra nada. Mas não é assim que funciona, não pra pessoas como eu.

Liliana: Eu sei, minha amiga. E aí, vamos até o quarto dele?

Gabriela faz uma careta de desagrado.

Gabriela: Ah não, não me sinto pronta ainda. Acho que eu surtaria.

Liliana: Gabi, eu sei que você veio aqui pra isso, não tenta me enganar. Desde que eu vi você naquele portão, por que mais você ficaria plantada naquele portão? Ainda mais sabendo que meu pai pode chegar a qualquer minuto e te ver? Então agora não adianta voltar atrás, seus passos têm que ser para frente. É assim que a gente vence obstáculos. Nós vamos subir sim e você vai comigo. Eu te ajudo.

Gabriela mantém a cabeça abaixada, fitando o copo com água, passando o dedo sobre o vidro, tentando dizer a si mesma que as palavras de Liliana não fazem sentido. Liliana estende a mão para Gabriela, que ainda receosa, a segura. As duas caminham juntas pela sala. As lembranças de William começam a se manifestar na mente de Gabriela fazendo com que ela sinta seu corpo fraquejar. Liliana a ajuda a se recompor enquanto segura firme as mãos de Gabriela entre as suas

Gabriela: Tudo bem.

Liliana sorri para Gabriela e a puxa pela mão, as duas subindo as escadas. Gabriela tenta não olhar ao redor, focando apenas em chegar até o quarto de William.

PARTE 2: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / INT. QUARTO DE WILLIAM / MANHÃ

Liliana abre a porta do quarto de William. Gabriela entra primeiro, hesitante, quase arrastando os pés.

Liliana: Pode entrar, Gabi.

As duas se deparam com William, sentado cabisbaixo em sua cadeira de rodas, sua expressão vazia e olhar perdido na janela. Ao ouvir a porta se abrir, William levanta a cabeça lentamente, seus olhos fixos em Gabriela com uma expressão vazia e cansada. Gabriela sente um aperto no peito ao ver a condição de William.

Liliana: Eu tenho algumas coisinhas pra fazer, vou deixar vocês dois à vontade.

Liliana sorri de forma reconfortante antes de sair do quarto, deixando Gabriela sozinha com William.

Gabriela (com a voz trêmula): William, eu sinto muito pelo que aconteceu. Eu... eu te amo tanto. Eu nem sei o que dizer. Depois da nossa última conversa, fiquei me sentindo tão culpada. Eu só queria correr para te encontrar, achava que tinha te perdido para sempre.

Gabriela mostra o anel que William queria lhe entregar.

Gabriela: Olha só. A Liliana me deu o anel de volta. Ele significa muito pra mim, assim como esse pingente que você me deu. Quando tudo aconteceu, eu segurava ele entre os dedos, apertando forte, para sentir que você ainda estava comigo. Eu pedi a Deus todos os dias pra que você se recuperasse, e todos os dias eu sonhava em te encontrar novamente.

Enquanto Gabriela falava, William se lembrava do dia do seu acidente. Ele revivia toda a angústia que sentiu com o término. Quando saiu da casa de Gabriela e dirigiu como um morto-vivo pela avenida, desejando que sua vida fosse tomada. Não se lembrava de quase nada depois de ter entrado no carro, apenas da pancada do veículo e de ter sido atirado para longe enquanto o carro capotava. Seu corpo atingindo o chão com força, rolando sobre o barranco.

Antes que pudesse continuar, William interrompe Gabriela gritando.

William: CALA A BOCA!

Gabriela se assusta com a explosão de raiva de William, recuando instintivamente.

Gabriela (chocada): William...

William: Isso tudo é sua culpa! Se não fosse por você, eu não estaria assim! Tá gostando de me ver arruinado? Tá gostando de me ver com as pernas estragadas?

Gabriela: William, por favor, não fala isso. Você não está arruinado. Você ainda é o meu amor, o meu príncipe perfeito.

William: Você destruiu a minha vida!

Gabriela: William, você está com raiva agora. Não está pensando direito nas suas palavras. Mas isso vai passar. Eu sei que vai...

William: Olha só, Gabriela, tenho uma notícia para você: nada vai passar, nada vai melhorar e sabe de uma coisa? Eu quero que você suma da minha frente. Quero você longe de mim. Eu não quero mais olhar para essa sua cara. Na verdade, seria melhor se eu tivesse morrido. Tenho certeza de que você ficaria contente com essa notícia.

Gabriela chora, suas lágrimas escorrendo silenciosamente enquanto ela implora para que William pare de gritar.

Gabriela: Por favor, William, para... Eu te amo...

Os gritos de William atraem Liliana, que entra no quarto, preocupada.

Liliana: O que tá acontecendo aqui?

William: Tira essa garota daqui, Liliana! Agora!

Liliana: William, por favor, fica calmo. Tenta conversar com a Gabi. Vocês precisam se acertar.

William: TIRA ESSA MULHER DAQUI!

William grita ainda mais alto, seu corpo se desequilibrando e caindo da cadeira. Liliana e Gabriela correm para ajudá-lo.

William: Sai de perto de mim! (para Gabriela) Não preciso da sua ajuda!

Nesse momento, Júlio e Celina chegam ao quarto e vêem a confusão.

Júlio: Que gritaria é essa?

Liliana: Pai, por favor, me ajuda a colocar William de volta na cadeira.

Júlio e Liliana ajudam William a se sentar novamente na cadeira de rodas.

Júlio: O que essa garota está fazendo aqui?

Liliana puxa Gabriela e começa a sair do quarto, com Júlio seguindo de perto.

Júlio: Vá embora da nossa casa. Você não é mais bem-vinda aqui.

Liliana: Pai, para com isso. Assim o senhor só piora a situação!

Júlio: Liliana, você passou por cima das minhas ordens e trouxe essa marginal até aqui. Olha só, menina se você não sair agora, eu vou chamar a segurança.

Liliana: Olha, se Gabi tiver que sair, eu saio junto com ela!

Gabriela: Liliana, não. É melhor que eu vá embora...

Liliana: Não, Gabi, por favor, fica. Vocês dois ainda têm muitos assuntos pendentes. Eu não suporto ver o meu irmão naquele estado. E eu sei que só você pode ajudar ele a se recuperar. Tenho certeza de que se vocês conversarem com calma, vão se acertar.

Celina: Liliana, acho mais prudente que William esfrie a cabeça e depois ele e a Gabi tentam uma nova conversa.

Júlio: Uma nova conversa? Essa cretina tem é que ficar longe do meu filho. Está me ouvindo bem, mocinha? Você causou esse acidente. Eu não quero você perto do meu filho.

Gabriela: Desculpa, Liliana, mas eu realmente preciso ir embora. Peço que todos vocês me perdoem pelos transtornos que causei.

Liliana vai até Gabriela e as duas se abraçam. Lágrimas escorrem pelo rosto de Gabriela.

No caminho de volta, Gabriela chora, sentindo-se mal. Ela desmaia na rua, e estranhos se aproximam para ajudá-la.

PARTE 3: HOSPITAL / INT. LEITO / TARDE

Gabriela está deitada em uma maca, seus olhos semiabertos, tentando focar no rosto do médico que a observa com preocupação.

Médico: E aí mocinha, como está se sentindo?

Gabriela pisca lentamente, tentando entender onde está e o que aconteceu.

Gabriela: Horrível, parece que fui atropelada por um caminhão.

O médico solta um suspiro e se aproxima, colocando uma mão gentil no ombro dela.

Médico: Bom, eu tenho uma notícia pra você. Não sei como isso vai soar pra você, mas...

Gabriela sente um calafrio percorrer sua espinha, seus olhos arregalando-se com apreensão.

Gabriela: O quê, doutor?

O médico hesita por um momento, escolhendo cuidadosamente suas próximas palavras.

Médico: Esse seu desmaio tem uma razão específica. Você está... grávida.

O rosto de Gabriela é tomado pelo espanto, sua mente girando com a informação inesperada.

Gabriela: Grávida?

PARTE 4: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / EXT. JARDIM / TARDE

William está no jardim em sua cadeira de rodas, observando o céu enquanto a brisa suave balança as árvores. Fernando e Antonella chegam acompanhados de Janaína. Fernando se aproxima primeiro, dando um abraço caloroso no amigo. Antonella segue, dando um abraço e um beijo carinhoso na bochecha de William. Ele reage friamente à presença dos dois

Fernando: É muito bom ver você aqui, tá cada vez melhor. Em breve, a gente vai estar correndo juntos e pegando onda.

William esboça um sorriso forçado, seus olhos traindo a dúvida interna.

William: Espero que sim, mas... Não sei se isso realmente vai acontecer. Não sei se tenho condições de voltar a ser o que era.

Fernando: Mas é claro que você vai! Seu pai me disse que é só questão de tempo. Basta você seguir seu tratamento direitinho, fazer sua fisioterapia, e vai dar tudo certo. Você vai ver, meu irmão.

Fernando afaga as mãos de William entre as suas, esboçando um sorriso solidário. William tenta corresponder, mas seu olhar se desvia, perdido.

Fernando: E eu tenho uma notícia para te dar.

William: Qual?

Fernando: Eu vou me mudar, vou para a Califórnia. Recebi um contrato para representar uma marca e resolvi aceitar. Finalmente um patrocínio. Além disso, pretendo viajar o mundo depois disso, sabe, participando dos mundiais

William força um sorriso simpático, escondendo sua frustração com a iminente partida de Fernando. Sentia que já tinha perdido demais e agora se sentia egoísta por não querer perder o amigo.

William: Meu Deus, isso é maravilhoso. Era o seu sonho.

Fernando: É, sim, meu sonho. E o seu também. Em breve, vai ser você. Você vai ver, meu amigo. Você vai ver como em breve você vai estar comigo.

Antonella se aproxima de William.

Antonella: Sim, William. Logo você vai estar de volta com o Fê e vocês vão poder surfar todas as maiores ondas do mundo. Já pensou? E eu quero estar de camarote torcendo por vocês dois, quero ser sua maior fã

William: Eu penso nisso todos os dias, mas duvido muito que aconteça. Eu tô muito ferrado fisicamente para poder voltar a subir em uma prancha algum dia. Parece até que tudo o que eu vivi antes não passou de um sonho.

Antonella: Mas você tem que focar na sua recuperação. Nós todos temos certeza de que você vai sim voltar a surfar como um rei. E aí, você vai ver que tudo isso não passou de uma fase ruim na sua vida. E eu e o resto dos seus amigos estaremos sempre à sua disposição pra o que der e vier.

Antonella se aproxima ainda mais de William, dando um beijo demorado em sua bochecha. Fernando observa a cena, abaixando a cabeça e coçando-a, soltando um risinho.

PARTE 5: CASA DE GABRIELA / INT. SALA / TARDE

Gabriela está sentada no sofá, o olhar distante, tentando processar a enxurrada de emoções e a notícia inesperada da gravidez. Ela segura as mãos de sua mãe, Fátima, com força, buscando conforto. Fátima observa a filha com preocupação.

Fátima: O que aconteceu? Parece que você viu um fantasma, menina. Te avisei para não ir naquela mansão.

Gabriela balança a cabeça, tentando encontrar as palavras certas enquanto seus olhos começam a se encher de lágrimas.

Gabriela: Mãe, eu... eu tenho uma notícia. Eu tô... Eu tô grávida.

Fátima arregala os olhos, surpresa, segurando as mãos de Gabriela com mais força.

Fátima: Grávida? Minha Nossa Senhora! Mas... e o William sabe disso?

Gabriela desvia o olhar, sentido o incômodo daquela pergunta. O desconforto por saber que o pai do seu filho a odiava profundamente.

Gabriela: Eu ainda não contei a ele. Vou contar, mas preciso de tempo para entender tudo isso.

Fátima: Grávida... E ainda por cima no meio dessa confusão toda. Agora mesmo que aquele troglodita do pai dele não vai querer você por perto.

Gabriela endireita-se, erguendo a cabeça. A menção de Fátima a Júlio a fez relembrar todo o mal que ele causou e o quanto Gabriela desejava não permitir mais que a aquele homem prejudicasse qualquer aspecto de sua vida.

Gabriela: Eu não me importo com ele. Na verdade, eu não deveria ter me importado com nada que esse homem pensa ou diz. Isso só atrapalhou a minha vida e a vida do William. Agora eu preciso pensar em uma forma de contar isso pro William, mesmo que ele não me perdoe. Ele tem o direito de saber que vai ser pai.

Fátima: E se ele souber e ainda assim não quiser assumir essa criança? Já pensou nessa possibilidade?

Gabriela suspira profundamente, a incerteza pesando em suas palavras.

Gabriela: Aí, eu não sei... Vou ver o que faço. Mas ele querendo ou não, eu vou ter o meu filho... E ele vai ser muito amado.

Fátima: E pode ter certeza de que eu vou te apoiar. Mesmo que o pai e o restante daquela família não queiram saber desse bebê, eu vou fazer o meu papel de avó e garantir que ele tenha tudo que precisa. Pode ficar tranquila.

Gabriela sente uma onda de alívio ao ouvir as palavras de apoio de sua mãe. Ela abraça Fátima fortemente.

Gabriela: Obrigada, mãe... Eu não sei o que faria sem você.

DIAS DEPOIS...

PARTE 6: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / INT. SALA / MANHÃ

William convoca uma reunião com sua família. Celina e Júlio estão presentes, sentados no grande sofá da sala, observando-o atentamente. Liliana está em pé ao lado da cadeira dele, com a mão segurando o ombro do irmão em sinal de apoio.

William: Eu reuni vocês aqui porque preciso informar a minha decisão. Eu quero... eu quero me tratar fora do país. Pensei muito e decidi que quero me mudar. Não tenho mais condições de ficar aqui e, se eu tiver que passar por isso, quero que seja no exterior.

Júlio: É o quê? Como assim, William? Fora do país? Longe da sua família? Nem pensar.

Celina: Filho, tem certeza dessa sua decisão? Me parece um grande passo a ser dado.

William: Tenho sim, mãe. Não consigo mais ficar aqui. Não tenho condições psicológicas. Tudo nessa casa me traz lembranças ruins. E, pai, o senhor sempre quis que eu viajasse pro exterior. O senhor vai se opor agora que eu realmente preciso?

Celina começa a chorar, sua boca tremendo. Ela põe a mão sobre a testa abaixando rosto.

Júlio: Isso é culpa daquela marginal! Ela arruinou tudo! Arruinou todos os planos que eu tinha para você, meu filho.

William estremece ao ouvir o nome de Gabriela, seus olhos piscam lentamente, tentando suprimir as lembranças dolorosas e negar a si mesmo o fato de que ainda ama Gabriela com toda a sua alma.

William: Pai, nada mais importa. Se vocês me amam, vão respeitar meu desejo. Eu acho que, mesmo nesse estado, eu ainda tenho plenas condições de decidir o que quero fazer da vida, principalmente onde quero realizar meu tratamento.

Liliana alisa os cabelos de William, abaixando-se para sussurrar algo no ouvido dele.

Liliana: William, tem certeza disso? Você vai mesmo deixar ela aqui?

William foca seu olhar, segurando a mão dela entre as suas, sinalizando para a irmã sua resposta àquela pergunta. Liliana parece entender a decisão do irmão, mesmo que isso a entristeça profundamente.

Liliana: Tudo bem... Se é isso que você quer, eu vou te apoiar.

Ela abraça o irmão com cuidado.

Celina: Então, nesse caso, eu irei com você, meu filho. Não podemos deixar você viajar sozinho. Vamos organizar tudo e você fará seu tratamento fora do país. Estamos de acordo, Júlio?

Júlio não responde, apenas olha para os rostos dos filhos e da esposa com expressão de indignação, respirando rápido, quase como se estivesse prestes a lançar os maiores palavrões.

PARTE 7: HOSPITAL / INT. SALA DE EXAMES / TARDE

Gabriela está deitada, enquanto o médico realiza o ultrassom. Fátima está ao lado da filha, segurando sua mão com força. Sua feição envolta em expectativa e preocupação.

Médico: Prontinho! Olha, tá vendo ali, mamãe? Esse é o seu bebê. Tudo parece estar bem com ele. Parabéns, mamãe, sua gravidez parece estar evoluindo de forma saudável.

Gabriela sorri em meio às lágrimas de emoção. Ela aperta a mão de sua mãe que também sorri de alegria.

Após o exame as duas caminham por um corredor externo no hospital

Gabriela: Vou procurar o William de novo. Talvez a notícia da gravidez ajude na reconciliação.

Fátima: Tem certeza disso? Será que se reconciliar com esse menino é mesmo a melhor decisão? Eu não sei, minha filha... Eu não tenho nada contra o William, mas aquele pai dele... Aquele homem jamais vai te dar sossego e, sinceramente, eu tenho medo do que ele pode fazer com você.

Gabriela: Eu quero muito me acertar com ele, mãe, independente do que o pai dele pense. Eu já deixei aquele crápula influenciar demais as minhas decisões, deixei ele me impor medo. Mas agora eu quero pelo menos que William saiba sobre o filho dele, mesmo que ele não me aceite de volta. E o pai dele que se dane.

Fátima suspira, ainda preocupada, mas tentando apoiar a filha.

Fátima: Bom, pelo menos eu acho que você deveria focar na sua saúde, no resto dos seus exames, em saber se tá tudo bem com meu neto e aí sim, depois você procura esse menino.

Gabriela: É isso mesmo que eu vou fazer. Vou esperar até que ele esfrie a cabeça. Então, depois que a poeira abaixar, eu vou tentar falar com ele novamente.

PARTE 8: APARTAMENTO DE LAURA / INT. QUARTO / MANHÃ

Celso está se arrumando após passar a noite com Laura. Ele coloca o relógio no pulso enquanto Laura o observa ainda deitada.

Laura: Vai sair?

Celso ajusta o relógio e olha para Laura com uma expressão séria.

Celso: Vou ver William, coisa que você deveria fazer também.

Laura se senta na cama, cruzando os braços com uma expressão de desdém.

Laura: Depois da forma que eu fui tratada? Ah não, se eu tô servindo de bucha pra aquela família, não vai ser agora que eu vou lá bajular aquela gente. Queriam me ver pelas costas, pois conseguiram.

Celso se aproxima de Laura, seu olhar penetrante.

Celso: Sabe o que eu acho? Que você não quer é encarar o fato de que você via William como um bilhete premiado e agora esse seu bilhete premiado tá numa cadeira de rodas.

Laura: E se for isso? O que tem? Eu é que não vou pagar de enfermeira de marmanjo, ele que se cuide, se recupere. Depois eu vou lá prestar minha solidariedade pelo momento difícil, mas agora não tô com saco.

Celso segura o queixo de Laura entre os dedos, aproximando seu rosto ao dela.

Celso: É impressionante como você não tem sangue nenhum correndo nas veias.

Laura sorri, com feição provocativa.

Laura: É? Isso por acaso impede que você me ame?

Celso larga Laura e se vira, colocando as mãos nos quadris, pensativo.

Celso: Eu só acho que você tá sendo idiota de não aproveitar o momento. Não era isso que você queria? William afastado da Gabizinha pra você poder atacar?

Laura: Sim, era... Mas não nessas circunstâncias, talvez eu deva esperar um pouco até que William volte a andar, isso se ele voltar. Já disse que não tenho vocação pra ser babá de inválido.

Celso encara Laura, avaliando se o amor que sentia por ela poderia se manter vivo diante da pessoa que ela se tornou.

Celso: E se fosse eu? Hein, Laura? E se fosse eu no lugar do William? Você também me rejeitaria? Sentiria nojo de mim?

Laura se aproxima de Celso, levantando a mão para acariciar seu rosto.

Laura: Mas é claro que não, seu bobo. Você é diferente, eu te amo. Se algo acontecesse com você eu nem sei o que seria de mim.

Celso suspira, ainda incerto.

Celso: Eu não sei não, Laura, às vezes você me assusta.

Laura(sorrindo): Deixa disso, Celso, até parece que você não me conhece. Eu só tava brincando. Quer saber? (se levantando e abraçando ele) Eu vou com você, vou visitar o Willy e vou fazer isso correndo o risco de ser pisoteada mais uma vez naquela casa, mas faço isso por você, pra você ver como eu sou boazinha.

Laura continua abraçando Celso, mas ele mantém seu olhar indiferente, ainda refletindo sobre o caráter de Laura.

Celso e Laura chegam na mansão. Celina os recebe e os conduz até o jardim, onde William quase sempre passa suas tardes. William está sentado em sua cadeira de rodas, apreciando a vista. Os dois cumprimentam William e conversam com ele por um tempo.

Laura: Ai, William, se eu pudesse iria com você nessa viagem. Só de saber que você vai passar tanto tempo longe, meu coração fica apertado. Apesar de tudo, meu carinho por você jamais vai deixar de existir.

William: Eu sei, Laura. Você sempre vai ser uma grande amiga, independente de qualquer coisa.

Laura dá um abraço apertado em William. Celso, observando a cena, balança a cabeça em negação. Ele se aproxima e segura o braço de Laura, afastando-a gentilmente. Em seguida, se agacha, focando seus olhos nos de William.

Celso: Eu quero que você saiba, meu irmão... Eu sempre vou estar com você, mesmo que em países diferentes. Você sabe que pode contar comigo. Você é o meu irmão do coração e sabe que eu te amo como se a gente fosse do mesmo sangue. E se eu pudesse, eu também iria com você. Largaria tudo pra te acompanhar, mas eu tenho que cuidar das coisas aqui. Além disso, alguém precisa ficar de olho na Lilizinha.

Os dois riem brevemente

William: Eu agradeço, meu irmão. Você significa muito para mim. Eu vou fazer de tudo pra voltar logo. Acho que eu não aguentaria passar muito tempo longe de vocês. Vou me esforçar pra que a minha recuperação seja rápida e daí eu volto.

Celso: Isso mesmo, você tem que ser forte, superar isso e acreditar que coisas ótimas ainda virão na sua vida. Eu sinto isso, meu irmão, sinto que você ainda vai ser muito feliz.

Celso e William se abraçam, um abraço apertado onde ambos sentem o peso da despedida e a cumplicidade de uma vida inteira.

ALGUM TEMPO DEPOIS...

O tempo passa e o dia da partida de William chega. No aeroporto, Liliana se despede de William e de Celina aos prantos, segurando firme as mãos do irmão. Júlio também parece muito abalado, mesmo que tente aplacar seus sentimentos para não demonstrar fragilidade. O avião decola e William observa pela janela, seu olhar melancólico enquanto se despede de sua família e de sua antiga vida. Celina ao seu lado faz um carinho em seu rosto com os dedos.

PARTE 9: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE/ EXT. PORTÃO / MANHÃ

Gabriela chega à mansão, mas é barrada pelos seguranças que já haviam recebido ordens explícitas para impedir sua entrada.

Segurança: Eu já disse a você, menina, o doutor Júlio proibiu a sua entrada na mansão. Eu não posso fazer nada, tô de mãos atadas.

Gabriela, desesperada, tenta argumentar.

Gabriela: Por favor, eu tenho algo muito importante pra falar com o William. É urgente. Você precisa me deixar falar.

Segurança: Ordens são ordens. Infelizmente não tem o que fazer, você não pode entrar.

Gabriela, com lágrimas nos olhos, implora.

Gabriela: Por favor, eu tô implorando. Se você quiser, eu me ajoelho aqui, mas pelo amor de Deus me deixa entrar.

Os seguranças permanecem firmes, repetindo que apenas cumprem ordens. Nesse momento, Liliana aparece e vê a situação. Ela se aproxima dos seguranças.

Liliana: O que tá acontecendo aqui?

Segurança: patroa, a moça insiste em entrar, mas nós já cansamos de informar que são ordens do Doutor Júlio.

Liliana: Podem deixar ela entrar, eu assumo a responsabilidade.

Segurança: Mas dona Liliana, seu pai...

Liliana: Com meu pai eu me entendo, anda, deixa logo ela entrar.

Gabriela respira aliviada e agradecida.

Gabriela: Obrigada, Liliana. Você é um anjo.

Liliana leva Gabriela para dentro da mansão. Elas entram na sala, onde Gabriela é informada sobre a partida de William.

Liliana: Eu não queria ter que te dizer isso assim, Gabi, mas... William não tá aqui.

Gabriela: Como assim, aonde ele tá?

Liliana: Ele viajou, foi com a nossa mãe pros Estados Unidos. Lá ele vai conduzir o tratamento dele por um tempo.

Gabriela sente uma fraqueza instantânea, seu corpo começa a pesar e sua cabeça a girar.

Gabriela: Porque... Porque não fui informada?

Liliana: Eu queria contar, eu juro que eu queria muito. Eu tentei de tudo pra persuadir o William a me deixar contar pra você, mas ele me proibiu, me fez prometer que você não saberia de nada. Eu pensei muito se eu poderia quebrar essa promessa, mas no fim das contas, ele é meu irmão, Gabi, eu devo lealdade a ele. Nesse caso, apenas a família mais próxima sabia.

Gabriela: Quanto tempo ele pretende ficar fora?

Liliana: Não sabemos. O tratamento pode levar muito tempo. Mas sabe de uma coisa? Isso pode até ser algo bom pra vocês dois. Um tempo afastados pra organizarem os sentimentos, William vai esfriar a cabeça e parar de ser tão teimoso, ele vai voltar a constatar o óbvio, que você é a mulher da vida dele, daí vai voltar correndo pros seus braços.

Gabriela: Ele foi embora por minha culpa, não foi?

Liliana: Ai, Gabi, também não é assim, nem tudo é sobre você ou sobre vocês dois. William foi porque, dentre muitos motivos, ele queria tirar um tempo desse lugar, dessa casa, se cuidar, se tratar. Ele ainda tá muito abalado, caramba. Ele precisa desse tempo pra si e eu sei que você também precisa.

Gabriela: Eu não sei... Não sei se acredito que nossa relação tem conserto. Eu tô começando a ficar muito exausta com tudo isso.

Liliana: Por favor, Gabriela, tenha paciência, se você ama mesmo meu irmão, eu sei que você vai saber esperar.

Gabriela: Não, Liliana. Quer saber? A partir de agora, eu e você não devemos mais nos ver. Seu irmão já deixou claro que não quer mais a minha presença na vida dele. Eu sei que eu errei, mas se isso é o desejo dele, então eu vou acatar.

Liliana: Como assim não me ver mais? O que eu tenho a ver com isso? Quer dizer que eu também vou ser penalizada por essa confusão toda?

Gabriela: Desculpa, Liliana, desculpa mesmo, mas tudo o que vem da sua família me faz mal. Só de vir aqui insistir em falar com William, eu já sinto que o chão vai se abrir sob os meus pés e me engolir. Eu tô muito confusa com tudo isso, minha cabeça tá girando, eu não tô sabendo pensar direito. Eu vou seguir o seu conselho e tirar um tempo pra mim.

Liliana: Gabriela, também não é assim...

Gabriela começa a chorar intensamente e corre em direção à saída. Liliana tenta dissuadir Gabriela, mas ela insiste em ir embora. Gabriela sai da mansão aos prantos.

PARTE 10: CASA DE GABRIELA / INT. SALA / TARDE

Gabriela entra em casa às pressas, lágrimas escorrendo pelo rosto. Ela se joga no sofá, sendo imediatamente acolhida por Fátima, que a envolve em um abraço reconfortante.

Fátima: O que houve, minha menina?

Gabriela (chorando): Eu não consegui falar com o William. Ele foi embora, mãe. Eu estou me sentindo tão sozinha, mãe...

Fátima enxuga as lágrimas de Gabriela com delicadeza e segura seu rosto com firmeza, olhando nos olhos da filha.

Fátima: Você não tá sozinha. Eu tô aqui e vou te ajudar a criar seu filho.

Gabriela enxuga as próprias lágrimas.

Gabriela: E se eu contar pra família dele sobre a gravidez?

Fátima: Você que sabe. Mas eu acho melhor manter seu filho longe dessa gente.

Gabriela (suspirando profundamente): Não me parece justo criar esse filho sozinha, mas ao mesmo tempo não consigo imaginar como seria lidar com o pai do William. Será que ele iria gostar da ideia de ter um neto que veio de mim? Será que ele iria rejeitar o meu filho? E o William? Tenho medo só de pensar nele rejeitando o nosso filho. Para mim, parece que a melhor solução é cortar contato de vez com todos eles, respeitar a decisão do William de não querer mais me ver e criar meu bebê sozinha.

Fátima puxa Gabriela para outro abraço.

Fátima: O que você decidir, eu vou estar ao seu lado, ouviu bem?

MESES DEPOIS...

PARTE 11: SHOPPING / INT. / MANHÃ

O tempo passa e Gabriela está no shopping, com sua barriga de grávida visivelmente aparente. Laura, que estava fazendo compras, avista Gabriela de longe e fica extremamente chocada. Seu rosto é tomado pelo pavor, quase fazendo ela derrubar suas sacolas no chão. Ela se recupera do susto e tenta puxar o celular da bolsa, digitando o número de Celso.

Laura: Anda, atende... Alô?

Celso: O que foi?

Laura (nervosa): Eu tenho uma bomba pra te contar. Espera só aí que eu vou te enviar um negocinho.

Laura, discretamente, tira fotos de Gabriela e envia para Celso. No escritório, Celso vê as fotos e fica chocado com o que vê.

Celso: Meu Deus...

Mais tarde, no apartamento de Laura, ela e Celso discutem sobre entregar ou não a informação a Júlio.

Laura: Você não tá vendo que ele precisa saber disso?

Celso: Pra quê? O que ele vai fazer? Já deu pra perceber que ela decidiu criar o filho sozinha. Não temos o que fazer a não ser aceitar.

Laura: Celso, se você quer que esse homem confie em você, precisa contar a ele. Tenho certeza que ele vai te adorar por entregar uma informação tão valiosa assim nas mãos dele. E também... Se você não contar, eu mesma conto.

Celso: Qual o seu interesse que esse velho fique sabendo que a garota tá grávida, hein, Laura?

Laura: Você não vê que eu quero te ajudar?

Celso: Me ajudar é? Me ajudar ou se ajudar? Será que o seu interesse não é que o velho tome alguma providência pra neutralizar a garota?

Laura: Que isso? Como você pode pensar isso de mim?

Celso: E quem não pensaria isso de você, Laura? Você sabe que esse velho pode acabar com a raça dela se souber disso.

Laura: Celso, você precisa deixar de ter crises de consciência nesse momento e pensar um pouco mais em você. Você sabe que eu tô certa quando digo que ele vai adorar que você entregue uma bomba dessas nas mãos dele. Pensa nas coisas que você pode conseguir com isso. Você se daria tão bem.

Celso fica pensativo, com expressão séria, ponderando se deve ou não entregar as fotos para Júlio.

NO DIA SEGUINTE

Celso entrega seu celular para Júlio, que está sentado em sua mesa, analisando as fotos de Gabriela no shopping. Ele conclui que Gabriela está grávida de William.

Celso: Veja isso...

Júlio: Mas não é possível que essa imunda conseguiu ficar grávida dele. MALDIÇÃO! Então era esse o plano dela, ficar grávida de um herdeiro pra dar um golpe, muito espertinha, você não acha, Celso? Olha só a cara dessa coisinha. (Mostra a tela do celular para Celso) Olha a carinha de satisfação dela sabendo que me deu uma volta? Ah, mas eu vou dar um jeito nela, nem que eu tenha que ir às últimas consequências.

Celso: Espera, tio, não vamos tomar decisões precipitadas. A menina tava quieta esse tempo todo, não deu nenhuma notícia, não tentou procurar William. Não postou foto alguma em nenhuma rede social, eu sei porque eu chequei. Será mesmo que ela quer dar um golpe?

Júlio: Eu não posso correr o risco de confiar que a fulana se contentou em ser descartada e enxotada e resolveu criar esse filho sozinha. Eu sei que ela tá tramando contra nós. Eu preciso fazer algo.

Celso: Senhor, pense um pouco melhor. Além do mais, esse bebê é o seu neto. Na verdade, o seu primeiro neto. O senhor teria coragem de fazer qualquer coisa contra essa criança?

Júlio: Mas é lógico que não! O que você acha que eu sou? Um monstro? Eu não vou fazer nada desse tipo, mas preciso dar um jeito de manter essa garota longe da família. Você, Celso.

Celso (surpreso): Eu?

Júlio: Isso mesmo, você vai até ela e vai conversar com essa menina em nome do William. Você vai dizer exatamente o que eu te mandar dizer, ouviu bem? Eu quero ela bem amedrontada para que não corra o risco de tentar nos procurar exigindo direitos. Vá até ela e faça com que ela tema perder o filho. Assim, ela não se aproximará de William.

PARTE 12: CASA DE GABRIELA / INT. SALA / TARDE

Gabriela chega da faculdade e Fátima a informa que ela tem visita.

Fátima: Gabi, tem alguém aqui para te ver.

Gabriela entra na sala e vê Celso. Ela fica apreensiva.

Celso (sorrindo): Olá, Gabriela. Quanto tempo. Eu fiquei te esperando pra gente conversar.

Gabriela: O que você tá fazendo aqui?

Celso: Gabi, eu vim te trazer informações do William, mas preciso falar a sós com você, tudo bem?( Olhando para Fatima)

Fátima encara Gabriela, que hesita em responder, olhando desconfiada para Celso, mas então ela assente com a cabeça, concordando em conversarem.

Gabriela: Tudo bem, mãe, eu acho que posso conversar um pouco com ele.

Fátima: Pois eu vou estar no quarto se precisar de mim, tudo bem?

Fátima sai da sala e Celso dá um sorriso simpático para Gabriela, sentando no sofá enquanto ela também se senta.

Gabriela: Então, o que você quer, Celso?

Celso: Primeiro, eu gostaria de te parabenizar pela gravidez.

Gabriela fica em silêncio, sem saber o que dizer.

Celso: O filho é do William, não é?

Gabriela não responde, virando sua cabeça para todos os lados.

Celso: O Doutor Júlio já sabe da gravidez, Gabi.

Gabriela: E daí? Eu não devo nada pra esse homem, ele que fique no canto dele e me deixe em paz.

Celso: William também foi informado.

Gabriela: Pois eu não acredito em você.

Celso: Ele sabe e está disposto... Bom ele está disposto a pagar para que você tire a criança.

Gabriela (incrédula): É O QUÊ? Mas que falta de respeito é essa? Sai daqui, Celso. (Levantando e apontando para a porta) Sai da minha casa agora!

Celso: Calma, Gabriela, não precisa agir assim comigo, eu sou só o mensageiro. Eu só vim te dizer que William nunca quis ter filhos. Eu pensei que você soubesse. Por que você acha que ele e a Laura terminaram?

Gabriela: Isso é mentira. Tem que ser mentira. ( falando ofegante). Ele nunca diria isso. Não é possível que William seja esse tipo de pessoa.

Celso: Mas que tipo de pessoa você acha que ele é? Esse tempo todo que você esteve com ele, você não percebeu o horror que William tem pela ideia de ter filhos? E você nunca soube que a Laura chegou a ficar grávida e ele pediu a ela para tirar a criança? Foi por isso que o relacionamento dos dois azedou, Gabi.

Gabriela (chorando): Chega, saia daqui, agora!

Celso: A família Ferreira Albuquerque está disposta a pagar qualquer quantia que você queira.

Gabriela (gritando): Sai!

Fátima aparece na sala.

Fátima: Já chega. Você já abusou da paciência da minha filha, agora saia antes que eu chame a polícia.

Celso: Calma, já estou indo. Gabi, não fique ofendida comigo, eu ainda sou seu amigo. Eu só estou aqui pra trazer uma proposta da família.

Gabriela agarra Celso pela camisa e aproxima seu rosto ao dele com uma fúria explosiva nos olhos.

Gabriela: Escuta aqui, seu merda. Eu não vou tirar bebê nenhum.

Fátima se assusta com a fala da filha, levando as mãos à boca.

Gabriela: E quer saber do que mais? Eu não quero mais associação com nenhum de vocês. Pode ir lá dizer pro William, pra aquele velho maldito, que eles podem ficar tranquilos que eu não vou procurar mais nenhum deles porque eu sinto nojo de todos vocês. Eu quero que vocês se danem. Eu quero que William se dane, eu quero que o pai dele vá pro inferno e você arranca essa sua bunda da minha casa agora antes que eu faça uma besteira.

Celso ouve tudo de olhos arregalados. Gabriela solta a camisa dele e ele lança um olhar de constrangimento para Fátima. Ele arruma sua roupa amassada e caminha até a porta, saindo em seguida. Assim que Celso sai, Gabriela desaba no sofá, sentindo-se derrotada. Fátima corre para acolher a filha em seus braços. Gabriela chora, chora tão alto como nunca antes na vida. Naquele momento, ela sente que toda a força que vinha cultivando para se manter de pé havia sido roubada de si, e agora só restava o precipício.

PARTE 13: PRAIA / EXT. / MANHÃ

William faz sua fisioterapia e já começa a dar alguns passos. Fernando e Antonella o levam à praia.

William: Ah, meu Deus, como eu tava com saudade dessa brisa da praia! Olha só, Fernando, meus pés mexendo na areia, cara, eu tô sentindo tudo.

Fernando: Sim, eu tô vendo. Não vai demorar e esses seus pezinhos vão estar tocando uma prancha.

William relembra momentos com Gabi na praia e começa a chorar. Seu choro por Gabriela é escondido pela emoção de estar se recuperando. Antonella o consola.

Antonella: E você vai ver como daqui pra frente você vai melhorar mais e mais.

Antonella abraça William. Fernando observa o abraço dos dois, disfarçando sua desconfiança em meio à felicidade por ver o amigo se recuperando.

ALGUM TEMPO DEPOIS

O tempo passa e, em casa, William procura as redes sociais de Gabriela, mas vê que ela não atualiza nada há meses e que as fotos dos dois juntos foram apagadas. Gabriela compra roupinhas de bebê com Fátima. William começa a andar de muletas, dispensando a cadeira, com a ajuda de Antonella. Liliana e Júlio visitam William e comemoram seu aniversário ao lado de Celina.

Após a festa William vai até a praia caminhar ao luar e Antonella o segue. Antonella abraça William e entrega um presente.

Antonella: Feliz aniversário, querido.

William (agradecido): Obrigado!

Eles se abraçam novamente e surge um clima entre os dois.

William: Acho que você interpretou errado as coisas. Não posso fazer isso com o Fernando.

Antonella: Fernando e eu já não estamos tão ligados assim. Nosso relacionamento evoluiu mais pra uma... amizade. E eu não consigo mais mentir sobre os meus sentimentos. Eu me sinto cada vez mais atraída por você.

William: Não dá, eu não posso me relacionar com ninguém agora... E meu último relacionamento foi mais do que devastador pra mim. Quero me manter sozinho por um tempo.

Antonella: Deixa disso, William. Você tá voltando a viver agora, tá voltando a ser o que era e eu tô aqui pra você, confessando os meus sentimentos. Vamos dar uma chance pra gente. Você pode recomeçar a sua vida aqui comigo. Sem pressão e sem preocupações.

Antonella dá um selinho nos lábios de William, que não reage. Ela esboça uma reação de decepção e então se vira tentando ir embora. William a pega pelo braço, seu rosto ainda hesitante. E então ele avança sobre ela e a beija intensamente. Em sua mente, o rosto de Gabriela aparece enquanto Antonella envolve seus braços pelo pescoço dele. A lembrança de Gabriela fica cada vez mais vívida, mas ele decide continuar. Eles se conduzem para um canto escuro onde permanecem se beijando.

MESES DEPOIS

William está na praia, tentando surfar pela primeira vez desde o acidente. Ele e Antonella agora estão juntos. Nesse mesmo instante, Gabriela sente as dores do parto e é levada para o hospital. Fátima chega ao hospital com a filha. Gabriela dá à luz enquanto William surfa habilidosamente após se recuperar. Em casa, Gabriela cuida de seu bebê, a quem decidiu dar o nome de Thomas.

Passado algum tempo, Gabriela resolve retomar a vida, voltando para a faculdade e para o trabalho. Num dia, ela sente lembranças virem à mente e tira um tempo para caminhar na praia. William também vai à praia para caminhar sozinho, um hábito que havia cultivado desde que voltou a andar. O mar sempre teve um significado profundo para William, mas depois de Gabriela, passou a ter um significado ainda mais especial. Era o lugar onde ele ia para recordar e ter um gostinho da sua vida pregressa e onde ele se perdia pensando na vida que imaginou ao lado da mulher de sua vida.



Gabriela anda descalça, despejando sua bolsa na areia. Ela vai até próximo da água, sentindo as ondas em seus pés. Ao mesmo tempo, William também vai até a água, sentindo o frio da água em seus pés, sentindo todas as lembranças que teve com Gabriela retornarem ao mesmo tempo. E assim, os dois se encontram mais uma vez, fazendo a mesma coisa, estando no mesmo lugar, mesmo que separados.





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