11 de nov. de 2024

Linha Tênue - Capítulo 06 (11/11/2024)

 LINHA TÊNUE - CAPÍTULO 06



Webnovela de Tony Castello

PARTE 1: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / INT. QUARTO DE CELINA E JÚLIO / MANHÃ

Júlio sai do banheiro e pega seu paletó no closet, vestindo-o. Celina, que estava deitada, acaba despertando.

Celina: Já vai sair, Júlio?

Júlio: Sim, preciso resolver umas questões.

Celina: Onde vai?

Júlio: Vou dar uma passadinha na empresa.

Celina: No sábado? Não tem ninguém que possa resolver suas questões para que você possa aproveitar o fim de semana?

Júlio: Não, Celina, você sabe como eu gosto de trabalhar. Aquela empresa é a minha vida. Não posso largar tudo como um vagabundo qualquer e não posso deixar que qualquer palhaço me faça de tolo.

Celina: Do que está falando? Que tom é esse?

Júlio: Nada, Celina, nada... Volte a dormir e diga aos meninos que deixei um beijo para os dois.

Celina: Tudo bem, então.

Celina lança um olhar de desconfiança, mas se recolhe na cama ajeitando o travesseiro debaixo da cabeça para voltar a dormir. Júlio coloca um relógio no pulso, sua respiração ligeiramente ofegante e seus olhos gélidos, escondidos pela escuridão do quarto.

PARTE 2: MANSÃO FERREIRA ALBUQUERQUE / INT. SALA DE JANTAR / MANHÃ

William chega e dá um beijo nos cabelos de Celina, que abraça o filho. Ele também beija Liliana rapidamente na bochecha, e ela faz uma careta de incômodo.

Liliana: Aiii, sai!

William: Bom dia, irmãzinha. Bom dia, mamãe.

Liliana: Ui, alguém acordou animado hoje!

William: E quando eu não tô animado, maninha?

Liliana: Tem razão, cê tá sempre animado e enchendo o saco, mas agora parece que tá com um brilho diferente no olhar. O que andou aprontando?

Celina: Pare de perturbar seu irmão, Liliana. Deixa o meu garotinho lindo tomar o café dele em paz.

William joga um beijo para a mãe, rindo, e depois olha para Liliana com expressões de deboche, que retribui com uma careta.

Celina: Mas sua irmã tem razão, William, você está mesmo muito mais alegre do que o normal esses dias. Posso saber o motivo do seu entusiasmo?

Liliana: Humm, eu até tenho uma ideia do que pode ser.

William: Pois guarde suas ideias pra você, irmãzinha. Pode ficar tranquila, mãe, em breve todos vocês vão saber, mas por enquanto é coisa minha. Só saiba que é notícia boa.

Celina: Ah, sim, mas o que pode ser isso que você não pode me contar?

Liliana: Ai, mãe, é óbvio que é mulher!

Celina: Sério? Namorada nova, William?

William (encarando Liliana): Por que você não cala a boca, hein?

Liliana: Porque você não deixa de ser galinha uma vez na vida?

William: Não liga para ela, mãe, sua filha tem o costume de fantasiar situações que só são reais na cabeça de vento dela. Prometo pra a senhora que ando me comportando.

Celina: Ah, que isso, meu filho! Eu sei muito bem da sua índole, sei que essas insinuações da sua irmã não passam de malcriação. Além disso, não tem problema nenhum se você estiver namorando de novo, querido. Eu acho até bom que esteja saindo com alguém de novo.

Liliana: Ai, sinceramente...

William (sorrindo): Viu? Deixa de ser maldosa, irmãzinha. Você não vai conseguir manchar a minha reputação.

Liliana (gargalhando): Reputação? Só pode ser piada...

William: Olha, muito em breve eu vou contar pra vocês, mas por enquanto quero um pouco de privacidade na minha vida particular, pode ser, maninha?

Liliana não responde apenas fica observando o irmão com expressão investigativa. Enquanto come um pedaço de pão, William limpa a boca rapidamente, antes de virar-se para falar com Celina.

William: Agora deixa eu ir, que hoje eu tenho um compromisso inadiável.

Celina: Mas, meu filho, nem vai terminar seu café?

William: Não, mãe, na rua eu como algo. Até mais.

William levanta e dá um beijo em Celina, que fica consternada com a pressa do filho em sair. Antes de se retirar, William mostra o dedo do meio para Liliana e ri, saindo apressado após Liliana revidar, atirando um pão nele, enquanto Celina resmunga com a filha.

PARTE 3: CASA SE GABRIELA / INT. COZINHA / MANHÃ.

Fátima: Vai sair?

Gabriela: Sim, eu vou encontrar umas amigas na praia.

Fátima: Ah, bom! Acho que é bom que você saia pra se divertir. Desde que seu pai morreu, você andava muito abatida.

Gabriela: É, mas agora eu tô bem.

Gabriela começa a caminhar devagar para ir até a sala, mas para pensativa e então se vira para Fátima.

Gabriela: Mãe?

Fátima: O que?

Gabriela: É que eu queria te contar uma coisa.

Fátima: Pode falar, filha.

Gabriela: É que eu conheci uma pessoa e a gente tá... A gente tá saindo já faz uma semana.

Fátima: Oxe! E por que você não me contou?

Gabriela: É que eu não sabia se ia dar certo com ele, então não quis falar nada, sabe? Podia ser só um rolinho passageiro.

Fátima: Então quer dizer que ficou sério?

Gabriela: É... mais ou menos. A gente tá se dando super bem e eu sinto que gosto muito dele e quero fazer dar certo.

Fátima: Tudo bem, então. Só acho estranho você ter escondido de mim.

Gabriela: Me desculpa, mãe. Só quero te pedir um favor.

Fátima: Pede, então.

Gabriela: Eu quero trazer ele aqui, quero apresentar pra senhora.

Fátima: Pois traga, a hora que quiser. Afinal, eu preciso saber com quem a minha filha anda se enrolando. Eu sou sua mãe, não sou?

Gabriela: Tudo bem, então. E o que a senhora acha da gente fazer algo especial pra ele? Tipo um almoço? A senhora faz uma das duas comidinhas e eu ajudo a cozinhar, que tal?

Fátima: É, pode ser. Tenho certeza de que ele vai gostar da minha comida. Então... pelo visto, você se apaixonou por esse rapaz.

Gabriela: Não, nada disso. Ele é lindo e muito gentil, mas ainda é cedo pra dizer.

Fátima: Ai, Gabriela, deixa de história. Eu te conheço e já te vi ficar com outros meninos. Quantas vezes você já me pediu pra preparar almoço pra algum namorado seu? Tá óbvio que você tá rendida por esse garoto. Olha, só toma cuidado pra não se iludir demais e acabar quebrando a cara.

Gabriela: Tudo bem, mãe. Pode ficar sossegada que ele é um rapaz do bem, nada de ruim vai me acontecer, juro pra senhora.

Fátima: Então tá bom. Bem, vamos fazer uma lista do que comprar pra esse almoço. Quantos convidados vamos chamar? Vou chamar sua tia e seus primas pra verem seu novo namorado. É bom que você já exiba ele pra aquelas invejosas.

Gabriela: Ah, não, mãe! Pelo amor de Deus, tem que ser algo reservado, só eu, a senhora e ele, mais ninguém.

Fátima: Ué, tem certeza?

Gabriela: Tenho, eu quero que ele se sinta à vontade e não vai dar para fazer isso convidando a família toda pra cá; ele pode ficar constrangido. Eu quero que a senhora conheça ele e só isso.

Fátima: Então tá, é bom que eu não vou precisar cozinhar para um batalhão.

PARTE 4: EXT. CALÇADA / RUA / MANHÃ

Gabriela está parada, olhando para os lados, como se esperasse alguém, até que um homem em uma moto preta se aproxima e estaciona próximo dela. Ela estranha, mas logo percebe que se trata de William, que tira o capacete e abre um sorriso empolgado para ela.

William: E aí, minha princesa, pronta pra ir?

Gabriela: William?

William: Sim, eu mesmo.

Gabriela: E essa moto?

William: Que foi, tem medo de andar de moto?

Ele sorri, tentando tranquilizá-la.

Gabriela: Não... quer dizer, tenho um pouco, mas...

Ela morde o lábio, hesitante.

William: Mas o que? Sobe logo. Olha o seu capacete.

Gabriela: Calma aí, cadê sua prancha?

William: Não está comigo, amor. Meu amigo Fernando vai levar as pranchas. Eu queria te pegar de moto pra gente andar agarradinho(piscando para ela). E também eu tenho que vir te deixar na sua casa depois.

William entrega o capacete para Gabriela, que segura meio receosa. Ela então dá um riso tímido para ele e tenta colocar o capacete.

William: Espera!

Gabriela: O que?

William desce da moto rapidamente e para em frente a Gabriela, segurando a cintura da garota e beijando os lábios dela com veemência. Gabriela fecha os olhos quase sem reação.

William: Pronto, agora podemos ir.

Gabriela abre os olhos, tentando se recuperar do beijo, e abre um sorriso, lançando os dois braços em volta do pescoço dele e beijando a boca do namorado. Então, ele a ajuda a colocar o capacete. Ele sobe na moto e, em seguida, ela também sobe, colocando seus braços em volta da cintura dele. No caminho, Gabriela fica apreensiva devido à velocidade da moto. William percebe e acaricia a coxa da moça devagar para tentar acalmá-la. Gabriela, então, aperta seus braços ainda mais em volta da cintura dele, apoiando sua cabeça nas costas do namorado. William segue com a moto em velocidade reduzida, com o vento batendo nos dois. Aos poucos, Gabriela se sente mais segura, abraçada a ele e sentindo os músculos de seu abdômen entre os dedos.

PARTE 5: APARTAMENTO DA FAMÍLIA FORTUNATO / INT. QUARTO DE CELSO / MANHÃ

Celso está deitado, estirado na cama, apenas de cueca preta. Mônica entra no quarto, abrindo as cortinas e deixando a claridade do dia entrar, enquanto Celso se revira na cama, incomodado com a luz.

Mônica: Anda, meu bebê, hora de levantar.

Celso (sonolento): Me deixa em paz.

Mônica: Nada disso, você precisa levantar e tomar um banho; seu tio tá aí na sala te esperando.

Celso (se apoiando nos cotovelos): Tio Júlio? O que esse velho tá fazendo aqui?

Mônica: Veio falar com você; pelo visto, é algo importante. Anda, meu filho, vai logo tomar banho, faz isso pela gente. Você sabe que a gente não pode contrariar seu tio.

Celso: Mãe, eu quero que esse homem se dane; tô de saco cheio dessa vida de ficar paparicando esse velho caído.

Mônica: Você pare com isso! Seu tio Júlio nem é tão velho assim, ainda tá muito conservado.

Celso: Mãe, por favor, me deixa em paz.

Mônica: Chega, Celso, chega disso. Vamos encarar a realidade: eu, você e o seu irmão estamos todos na pior, não tem pra onde correr. Você sabe muito bem que ama a vida boa que tem, mas sabe que ela não vai durar muito com o que o seu pai nos deixou. Ou você enfia seu orgulho debaixo do braço e lambe os sapatos do seu tio, ou muito em breve você não vai mais ter um centavo pra bancar suas baixarias mundanas. Eu sei que não precisaria te alertar sobre isso porque você mesmo é capaz de enxergar. Agora se arruma e vai na sala beijar a mão daquele homem.

Celso revira os olhos e levanta da cama devagar, sem dizer nada e se arrastando até o banheiro.

Mônica(aliviada): Isso mesmo, bom garoto, gosto assim.

Na sala, Júlio espera sentado no sofá com expressão séria, com as pernas cruzadas e balançando o pé esquerdo numa espécie de tique. Celso chega à sala e sorri para o tio, levantando as duas mãos para o ar para expressar uma falsa surpresa com a presença de Júlio ali. Júlio não esboça reação e continua calado; ele se levanta devagar e anda até Celso, ficando parado em frente ao rapaz com um olhar gélido.

Celso: Bom dia, ti...

Júlio (interrompendo): Eu pensei que tivesse sido claro na nossa última conversa.

Celso: Tio, desculpa, é que...

Júlio: Você não foi trabalhar ontem.

Celso (gaguejando): É... Bom... É que eu tive alguns problemas para resolver de última hora.

Júlio: Sei... Escuta, Celso, eu pensei que estivesse sendo generoso quando aceitei que você trabalhasse comigo. Pensei que, após a morte do seu pai, do qual eu fui um grande amigo e a quem eu sempre vou estar em dívida, que se eu cuidasse da família dele, estaria prestando um favor ao meu amigo. Mas olha que curioso, Celso, parece que a nossa generosidade sempre vai se voltar contra nós. Nesse mundo, ser generoso virou sinônimo de fraqueza, e a cada dia eu tenho mais certeza disso. Agora, me sinto um fraco, um idiota por ter ignorado meus instintos e dado a você uma chance de provar que eu estava errado. E você não sabe o quanto isso me enfurece, o quanto eu sinto uma vontade avassaladora de acabar com aqueles que me provam que eu fui um fraco. Mas ainda há tempo de corrigir isso. Dessa vez, eu posso seguir meus instintos e procurar pessoas realmente capazes de fazer um bom trabalho, de seguir ordens, de ter compromisso e, principalmente, de ter honra ao trabalho. Isso, meu caro, é algo que você já me provou que não tem.

Celso: Tio, me desculpa.

Júlio: Tio uma ova! Você tá proibido de me chamar de tio, moleque. É isso que você é: um moleque.

Celso: O que eu posso fazer pra corrigir o meu erro?

Júlio: Nada! O único erro que vai ser corrigido será o meu, mandando você pra sarjeta a qual você pertence.

Celso: Por favor, senhor, me dê uma chance de me retratar.

Júlio: Eu não quero mais saber, Celso. Eu já disse a você o que tinha que dizer. Pelo menos tive a decência de vir aqui e dizer na sua cara. Isso é algo que você jamais saberá o que é. Agora, me dê licença, que eu preciso trabalhar.

Júlio começa a caminhar em direção à porta.

Celso: Não! Espera.

Celso corre e bloqueia a passagem de Júlio, levantando o braço direito.

Celso: Espera! O senhor não pode fazer isso comigo. Eu sei que errei, sei que fui um imbecil, mas também sei que ainda posso ser útil pro senhor. Por favor, tio Júlio, pelo meu pai, que o senhor diz ter tanta consideração. Não é por mim que estou pedindo, e sim por ele. Eu sei que o senhor amava ele como um irmão. Eu peço só mais uma chance; prometo que não vou decepcioná-lo.

Júlio: Saia da minha frente, Celso.

Celso (chorando): Não! O senhor pode me falar o que for, mas se for pra pisar em mim e me humilhar, pelo menos deixe que eu lute até o fim.

Júlio vira para o outro lado, suspira e coloca a mão no rosto.

Celso: Por favor, senhor, tudo o que eu peço é mais uma chance.

Júlio fica em silêncio por alguns instantes.

Júlio (falando pausadamente, mas com firmeza): Eu estou de saída... e espero que você não tente me impedir.

Júlio sai andando em direção à porta, dando as costas para Celso. Antes de abrir a porta, ele para e fica alguns instantes ali, sem dizer nada. Júlio então abre a porta e sai. O rosto de Celso, antes tomado por lágrimas, agora se contorce em uma expressão de fúria incontrolável. Ele pega um vaso que estava sobre a mesinha de centro e o arremessa com toda a força contra a parede, fazendo os cacos voarem em todas as direções. Ele grita, quase como um rugido, expressando toda a sua raiva. Mônica aparece na sala, com o rosto pálido de susto, tentando conter o filho. Celso cai no chão de joelhos e começa a chorar. Mônica abraça o filho, que apoia a cabeça nos ombros da mãe enquanto chora.

Mônica: Meu filho, calma!

Celso(gritando): Calma nada! Aquele velho asqueroso acha que pode pisar em mim!

Mônica: Tenha calma, Celso. Seu tio só está querendo o seu bem. Ele só ficou bravo porque você anda faltando no escritório. Você sabe o quanto ele detesta esse tipo de comportamento.

Celso: Ah, era só o que me faltava! Você vai ficar do lado dele agora? Quer saber, me deixa em paz. Se a senhora quer tanto o dinheiro desse miserável, então vai lá lamber a sujeira do sapato dele você mesma.

Celso se levanta e sai andando nervoso até o quarto, onde bate a porta com força.

Mônica(falando sozinha): Santo deus! Como foi que a situação chegou a esse ponto?

FIM DO CAPÍTULO.


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