CENA 1. EMPRESA CAMPOS DE SODRÉ. ESCRITÓRIO DE ANÍBAL. INT. DIA
1 MÊS ATRÁS
Aníbal está sentado à sua mesa de mogno imponente, revisando documentos. O escritório é elegante, sóbrio, com um bar de cristal ao fundo e cortinas pesadas que filtram a luz do dia. A porta se abre sem cerimônia. James entra, impecável em um terno cinza escuro, trazendo consigo uma aura de poder gélido. Aníbal ergue o olhar, impassível.
ANÍBAL — (SEM LEVANTAR) Algum problema, James? Ou só veio fiscalizar meu trabalho de novo?
JAMES — (SARCÁSTICO, FECHANDO A PORTA) Trabalhando duro, como sempre, eu vejo. E pensar que tudo isso vai mudar em breve...
ANÍBAL — (ARCANDO A SOBRANCELHA) Ah, é? Pretende me demitir?
James se aproxima da mesa, apoiando as mãos sobre ela, inclinando-se ligeiramente para frente.
JAMES — (BAIXO, VENENOSO, DELIBERADO) Amelinha está morrendo, Aníbal. Câncer em estado terminal (T) Meses, talvez semanas. E sabe o que eu descobri? No testamento dela, (PAUSA CALCULADA) a fortuna está dividida igualmente entre você, eu e a doce Marina. (SARCÁSTICO) Quanta generosidade, não acha?
O silêncio pesa. Aníbal fecha a pasta de documentos com calma, tentando disfarçar o impacto da revelação. Então, recosta-se na cadeira, um sorriso irônico nos lábios.
ANÍBAL — (DESDENHOSO) Bom, é o mínimo que eu mereço, não? Por aguentar aquela mulher durante todos esses anos. Fui o filho que ela perdeu...
James solta um riso frio, estreitando os olhos.
JAMES — (GELADO) Sentimentalismo não combina com você, Aníbal. Nem comigo. Eu estou propondo algo mais prático.
Aníbal franze o cenho, avaliando James.
ANÍBAL — (TENSO) O que você quer dizer, exatamente?
James dá a volta na mesa, pegando uma garrafa de uísque no bar de cristal. Serve dois copos com gestos lentos, precisos.
JAMES — (SUSSURRANDO) Quero dizer que talvez possamos acelerar o inevitável. E garantir que a doce Marina a acompanhe em diração ao paraíso.
Aníbal pega o copo que James lhe estende, mas não bebe. Um silêncio carregado toma conta do ambiente.
ANÍBAL — (PROVOCANTE) Parece ousado (T) E arriscado.
James dá um passo à frente, fixando o olhar em Aníbal.
JAMES — (FERINO) O risco é não agir (T) Você sabe o quanto Marina é imprevisível (T) E eu não pretendo dividir o que é meu com uma lunática.
Aníbal esboça um sorriso sombrio. Eles brindam.
ANÍBAL — (SUSSURRANDO) Então está combinado.
Os copos se tocam. O cristal ecoa no silêncio, enquanto os dois vilões selam sua aliança.
A IMAGEM FUNDE-SE COM:
CENA 2. MANSÃO DOS CAMPOS DE SODRÉ. ESCRITÓRIO DE AMELINHA. INT. DIA
Amelinha, impecável em um tailleur de seda bege, está sentada em sua poltrona de couro, um copo de uísque com gelo em mãos. Mary León, de postura rígida e olhar altivo, observa-a com um meio sorriso calculado. As janelas imensas refletem a luz difusa da manhã, criando um clima tenso e elegante.
AMELINHA — (GELADA, OLHANDO A BEBIDA) Engraçado como o tempo coloca as pessoas em seus devidos lugares, não é mesmo, Mary? (PAUSA) E pensar que há poucos anos, certos aventureiros circulavam por esta casa como se fossem donos de alguma coisa.
MARY LÉON — (SARCÁSTICA) É o que acontece quando se baixa o padrão de quem se permite sentar à mesa (T) Afinal, misturar-se nunca foi o seu forte, Amelinha.
Amelinha sorri de lado, felina, e se levanta, caminhando lentamente pelo escritório. Seus passos ecoam no piso de mármore.
AMELINHA — (CORTANTE) Misturar-se (T) Não, querida. Eu elevo (T) Eu educo (T) Só quem tem berço entende a diferença. (VIRA-SE SUBITAMENTE) Mas chega de filosofia barata. Quero que você providencie uma equipe de segurança completa. Contrate os melhores, não aqueles amadores que circulam por aí se achando James Bond (T) Quero profissionais.
MARY LÉON — (PROVOCANTE) Algum risco iminente ou só o seu velho capricho de milionária entediada?
Amelinha avança um passo, olhos estreitos, venenosa.
AMELINHA — (GELADA) Hoje Será uma noite histórica, Mary (T) Esta casa verá a verdade emergir das sombras (T) A verdade sobre a morte de Henrique. E você sabe o que dizem sobre a verdade (SORRI) Ela destrói quem não está pronto para encará-la.
Mary León cruza os braços, desafiadora.
MARY LÉON — (IRÔNICA) Imagino que as cozinheiras estejam exultantes em preparar esse espetáculo. Ou devo chamar o bufê de algum evento corporativo?
AMELINHA — (SARCÁSTICA) Não subestime as minhas funcionárias. Quero que organize um jantar de gala. Cristais, prataria, flores brancas. A aristocracia pode estar decadente, mas o estilo (T) Ah, esse eu faço questão de preservar.
MARY LÉON — (MORDAZ) Estilo (T) Claro, não seria você se não houvesse uma dose generosa de teatralidade.
Amelinha volta para sua poltrona, elegante e calculista.
AMELINHA — (SUSSURRANTE) Não se trata de teatro, Mary. É o ato final. Prepare tudo. (T) Hoje, os fantasmas desta casa terão nome e sobrenome.
CLOSE EM AMELINHA
CORTA PARA:
CENA 3. MANSÃO DOS CAMPOS DE SODRÉ. QUARTO DE JOAQUIM. INT. DIA
O quarto de Joaquim é elegante. A luz suave da manhã atravessa as cortinas semiabertas, criando um ambiente íntimo, mas tenso. Joaquim e Joana estão sentados à beira da cama, conversando de forma calma, mas com cumplicidade.
A porta se abre de súbito. Sol entra, impecável e exuberante, como sempre. Vestida em um conjunto branco impecável, ela exala controle e drama. Sol encara Joana com um sorriso gélido.
SOL — (FALSA CORDIALIDADE) Querida, será que eu posso ter um momento a sós com o meu filho? Assunto de família.
Joana lança um olhar a Joaquim, que assente com um leve aceno, desconfortável. Joana se levanta, encarando Sol de volta, um silêncio cortante se forma.
JOANA — (TENSO) Claro. Mas não demore, Joaquim (T) Vamos visitar o centro histórico, lembra? (SAI)
A porta se fecha. Sol dá um longo suspiro, caminhando até a janela e fechando levemente as cortinas. Ela se vira, encarando Joaquim.
SOL — (VOZ DOCE, FINGIDA) Meu amor (T) Eu precisava falar com você. Eu só quero que você entenda tudo o que eu fiz. Tudo sempre foi para te proteger daquela mulher.
JOAQUIM — (FERINO, INTERROMPENDO) Da minha avó? É disso que você está falando, Solange?
SOL — (TOM MAIS ÁSPERO) Não me chame assim! Eu sou sua mãe! E sim eu te protegi da Amelinha, daquela velha amargurada, egoísta. (APROXIMA-SE) Eu te blindei do veneno dela. Você não imagina o que eu passei...
JOAQUIM — (CORTANTE) Não? Então me conta, mãe. Porque, até onde eu sei, você passou a vida tentando se exibir, tentando provar o quê? Que era melhor do que ela? Que podia jogar no mesmo nível?
SOL — (FERIDA, MAS CONTROLADA) Eu me sacrifiquei por você! Eu fiz o que era necessário! Amelinha (RISADA ÁCIDA) Ela sempre me odiou. Tentou me destruir. Você acha que ela te ama, Joaquim? Ela quer te controlar, como controla a todos.
Joaquim se levanta, a tensão entre os dois cresce, os olhares fixos, desafiadores.
JOAQUIM — (DURO) E o que você quer, Sol? Me controlar também? Manipular tudo, como sempre fez? Ou vai me dizer que nunca mentiu para mim? Que nunca escondeu nada?
SOL — (TOM GÉLIDO) Eu fiz o que era melhor (T) Porque eu sei quem ela é e eu sei do que ela é capaz.
JOAQUIM — (EXPLODINDO) E você? O que você é capaz de fazer, mãe? Até onde vai o seu jogo?
Silêncio. Os olhos de Sol brilham, vulneráveis por um instante, mas logo ela retoma a pose, superior e implacável.
SOL — (SUAVE, MAS CRUEL) Eu não jogo, Joaquim. Eu venço.
O clima se mantém carregado. A porta se abre ao fundo e Joana retorna, visivelmente tensa, interrompendo a troca de olhares.
JOANA — (APREENSIVA) Está tudo bem?
Joaquim não responde. Sol apenas lança um sorriso sarcástico, saindo com passos firmes, deixando o ambiente carregado.
CORTA PARA:
CENA 4. MANSÃO DOS CAMPOS DE SODRÉ. PISCINA. EXT. DIA
SONOPLASTIA – SOM DISTANTE DE CIGARRAS E VENTO LEVE NAS ÁRVORES.
O sol reflete nas águas azuis da piscina. Alice, vestindo um robe de seda marfim, está sentada em uma espreguiçadeira. Ela segura uma taça de mimosa, com gestos lentos e olhar perdido, mas altivo. O copo já pela metade. James surge ao fundo, impecável em um blazer bege, óculos escuros e um sorriso gélido.
JAMES — (CÍNICO, SEMPRE ELEGANTE) Mimosa, Alice? A essa hora?
ALICE — (LEVEMENTE SARCASTICA) Ah, James (T) Que maravilha ser julgada por alguém com tanto moral. (LEVANTA A TAÇA) Um brinde ao seu julgamento impecável.
James se aproxima, afasta a taça com um gesto sutil e se inclina, falando baixo.
JAMES — (FERINO) Algumas pessoas sã mais encantadoras caladas, querida (T) É mais seguro para todos (T) Inclusive para você.
ALICE — (ENCARANDO, FRIA) Eu tenho plena consciência do que faço (T) E do que sei.
Olga surge no terraço, observando de longe, depois se aproxima, séria.
OLGA — (SECA) E o que exatamente você não quer que Alice fale, James? O que tanto te assombra, meu filho?
James se vira lentamente, recolhendo o cinismo para algo mais rígido, mas igualmente cruel.
JAMES — (IMPLACÁVEL) Mamãe, talvez fosse mais prudente controlar o seu sentimentalismo patético. Nem tudo gira em torno de conspirações.
Olga encara James com uma expressão dura, mas ele não cede e apenas se afasta, ajustando os punhos da camisa.
James sai de cena, deixando Olga e Alice. Um silêncio paira. Olga senta-se ao lado de Alice, agora mais suave, porém intensa.
OLGA — (BAIXO, PERSUASIVA) Alice (T) Eu quero ajudar você. Precisa confiar em mim. O que está acontecendo de verdade?
Alice fixa o olhar na água da piscina, tomando outro gole.
ALICE — (SUSSURRANDO, AMARGA) Ainda não, Olga. Mas logo, logo todos saberão (T) E nada mais vai poder ser escondido e nem será como antes.
A câmera se afasta lentamente enquanto Alice continua a beber, e Olga permanece observando-a, pensativa.
CORTA PARA:
CENA 5. MANSÃO DOS CAMPOS DE SODRÉ. HALL DE ENTRADA. INT. DIA
O hall é amplo, luxuoso, com detalhes clássicos e frios. O som distante de um relógio de pêndulo marca a passagem do tempo. A porta de entrada entreaberta deixa entrar um sopro leve de vento.
Joana, elegante porém discreta, está ao lado de Joaquim, que segura as chaves do carro. Eles estão prestes a sair. Joaquim veste um blazer casual, e Joana, um vestido de linho claro, simples, mas refinado. A tensão paira no ar, mas o momento é interrompido pela voz cortante de Amelinha, que surge no topo da escada, impecável e com um olhar altivo e implacável.
AMELINHA — (CORTANTE) Joaquim! (PAUSA DRAMÁTICA. ELE SE VIRA, JÁ APREENSIVO.) Eu exijo que você esteja presente no jantar desta noite. É um evento de extrema importância para a família.
JOAQUIM — (TENSO, RESPIRA FUNDO) Eu já tinha combinado de sair com a Joana, vó. Não pode ser outra noite?
AMELINHA — (DESDENHOSA) Claro que não. Mas eu entendo, afinal manter compromissos banais parece ser sua nova especialidade. (SORRI GELIDAMENTE.) Estamos falando da história desta família, Joaquim. Algo que, ao contrário dessas distrações (OLHA JOANA DE CIMA A BAIXO), tem peso e consequência.
JOANA — (COMPOSTA, MAS FIRME) Não precisa falar comigo como se eu não estivesse aqui, Dona Amelinha.
AMELINHA — (ARCANDO A SOBRANCELHA) Ah, mas eu estou falando com você, minha querida. Com o devido respeito, claro (T) No seu caso, tão devido quanto o necessário. (VOLTA-SE A JOAQUIM.) Não haverá discussão. Você estará aqui. É o mínimo que espero do meu neto.
JOAQUIM — (DERROTADO, SUSPIRO) Está bem. Estarei aqui.
Amelinha dá um sorriso satisfeito, triunfante. Joana lança um olhar de frustração a Joaquim, que evita encará-la. Ele abre a porta e sai com Joana, deixando Amelinha sozinha no hall, saboreando a vitória.
CORTA PARA:
CENA 6. MANSÃO CAMPOS DE SODRÉ. SALA DE ESTAR. INT. DIA
Sol está sentada em uma poltrona de veludo, vestida de forma provocante, pernas cruzadas, segurando uma taça de vinho branco. Ela observa seu reflexo no espelho dourado com um sorriso calculado.
A porta se abre e Amelinha surge, impecável e elegante. O olhar de superioridade é inconfundível. As duas se encaram como feras.
AMELINHA — (GELADA) Que cena patética. Uma mulher da sua idade sentada aí, como se ainda fosse relevante.
SOL — (SARCASTICA, SEM SE ABALAR) E você, sempre tão previsível, Amelinha. Entrando em cômodos como quem está no terceiro ato de uma tragédia grega. (LEVANTA-SE) Isso cansa, sabia?
AMELINHA — (AFIADA) O que me cansa, Solange — sim, eu não me submeto a esse nome ridículo que você inventou —, é a sua presença nesta casa. Você nunca passou de uma aventureira barata.
SOL — (FERINA) Engraçado porque o seu filho parecia bem satisfeito com essa "aventureira barata" (T) Ou será que dói admitir que, mesmo com todo esse verniz, você nunca conseguiu mantê-lo sob controle?
AMELINHA — (SUSSURRANDO, MORTAL) Não ouse falar do meu filho. Você destruiu essa família. E hoje à noite (SE APROXIMA) Todos saberão a verdade sobre você e o que fez.
SOL — (ENCARANDO, SEM PISCAR) Verdade? (RINDO) Verdade é um conceito tão flexível, não acha? Mas fique à vontade, Amelinha. Eu sempre soube brilhar sob os holofotes.
AMELINHA — (IMPLACÁVEL) Então prepare-se, Solange. Porque esta noite, quando eu expuser o que você realmente é nem todo o brilho do mundo vai esconder a sujeira.
Sol sorri, mas seus olhos tremem de leve. Amelinha dá as costas e sai, deixando um rastro de silêncio gelado.
CLOSE EM SOL
CORTA PARA:
CENA 7. CENTRO HISTÓRICO DE PARATY. EXT. DIA
SONOPLASTIA - "SUA ESTUPIDEZ" - GAL COSTA
O centro histórico de Paraty está bucólico, com suas ruas de pedras molhadas por uma garoa fina. O céu, carregado, anuncia uma tempestade iminente. A música de Gal Costa ecoa suavemente, dando um tom melancólico e romântico à cena.
Joana e Joaquim caminham de mãos dadas, trocando olhares cúmplices. Eles riem de algo bobo, a conversa é leve, mas cheia de sintonia. Joaquim observa Joana encantado, enquanto ela comenta sobre as construções históricas ao redor.
JOAQUIM — (SUAVE) Você faz tudo parecer mais bonito (T) Até mesmo um dia cinza como esse.
JOANA — (SORRINDO) É porque você só vê o que quer ver, Joaquim. Essa cidade é linda, mesmo com a chuva chegando.
Eles param em frente a uma pequena igreja, onde uma folha de bougainvillea caída no chão chama a atenção de Joana. Ela pega a flor e a coloca no bolso do blaser de Joaquim, que segura a mão dela por alguns instantes, terno.
O vento começa a soprar mais forte. Ao fundo, o som distante de um trovão ecoa. Joaquim olha para o céu.
JOAQUIM — (PREOCUPADO) Acho melhor irmos (T) Parece que o céu vai desabar a qualquer momento.
JOANA — (BRINCALHONA) E você vai deixar uma chuvinha estragar nosso passeio?
JOAQUIM — (GENTIL, FIRMEMENTE) Não quero que você pegue um resfriado. Vamos, prometo compensar com outro passeio quando o sol voltar.
Ela sorri, e ele a abraça protetoramente, caminhando juntos em direção ao fim da rua, enquanto a chuva começa a cair suavemente.
CORTA PARA:
CENA 8. MANSÃO DOS CAMPOS DE SODRÉ. SALA DE ESTAR. INT. DIA
SONOPLASTIA - SOM DE CHUVA AO FUNDO
A sala de estar da mansão está iluminada de forma suave, mas a atmosfera é tensa. Olga está à janela, segurando uma taça de conhaque, observando a chuva fina que começa a cair, pingos escorrendo pelo vidro. Clarisse, descontraída, folheia uma revista, mas a tensão é palpável.
CLARISSE — (LEVEMENTE SARCASTICA) Parece que o clima resolveu combinar com o espírito da noite. Alguma premonição, Olga?
Olga vira-se lentamente, elegante e controlada, como sempre. Seus olhos fixam-se em Clarisse com um meio sorriso enigmático.
OLGA — (FRIA) Premonições são para espíritos fracos, Clarisse. O que nos aguarda esta noite é o inevitável. (T) Verdades têm uma forma peculiar de emergir (PAUSA, OLHANDO A CHUVA) assim como a tempestade que se anuncia.
Clarisse ri, mas a insegurança está em seus olhos.
CLARISSE — (PROVOCANDO) Sempre tão dramática. Vai me dizer que Amelinha pretende encerrar a noite com um número musical?
Olga se aproxima, a voz mais baixa, carregada de gravidade.
OLGA — (CORTANTE) Não brinque com o que você não entende, Clarisse. Quando esta noite terminar, nada (PAUSA DRAMÁTICA) Absolutamente nada será como antes.
Um trovão ribomba ao fundo, ecoando pela mansão. Clarisse desvia o olhar, desconfortável. Olga sorri de leve, triunfante, e vira-se novamente para a janela, a chuva agora mais intensa.
CORTA PARA:
CENA 8. PARATY. EXT. ANOITECER
SONOPLASTIA - "TANGO AMORE" - EDVIN MARTON
A noite cai sobre Paraty sob uma chuva torrencial. A ventania agita as árvores e faz as placas das ruas baterem com violência. A tempestade se intensifica, e galhos caem, bloqueando parcialmente a estrada de acesso à Mansão dos Campos de Sodré. Relâmpagos iluminam o céu enquanto a câmera se aproxima da imponente fachada da mansão, que surge sombria e isolada sob a tempestade
CORTA PARA:
CENA 9. MANSÃO DOS CAMPOS DE SODRÉ. QUARTO DE AMELINHA. INT. NOITE
A câmera se aproxima da elegante sala de estar do quarto de Amelinha, onde a mulher está sentada em uma poltrona, uma taça de vinho em mãos, com Mary Léon ao seu lado, ambas imponentes e afiadas como sempre. A tensão no ar é palpável, os olhares cortantes, como se nada pudesse escapar à vigilância delas.
MARY LÉON - (CAUTELOSA) A equipe de segurança não vai conseguir manter a área protegida durante a tempestade, Amelinha. Está tudo fora de controle lá fora.
Amelinha solta uma risada abafada e balança a taça de vinho, como se estivesse lidando com uma trivialidade. Sua expressão permanece impassível, mas há um brilho afiado nos olhos.
AMELINHA - (COM IRONIA) Ah, a tempestade. É sempre a mesma coisa com esse povo. Acreditam que o aquecimento global vai destruir tudo, mas na verdade, o que nos destrói é a ignorância brasileira. Aqui, o único calor que sentimos é o da falta de inteligência, não a do clima (T) E que se dane a tempestade, querida, o que importa é quem está no controle.
Ela dá um gole no vinho e a câmera foca no sorriso enigmático que se forma em seu rosto, enquanto Mary Léon a observa, com um misto de admiração e medo.
AMELINHA (DE MANEIRA DEFINITIVA) E quem está no controle sou eu, Mary (T) Lembre-se disso.
CLOSES ALTERNADOS
CORTA PARA:
CENA 10. MANSÃO DOS CAMPOS DE SODRÉ. SALA DE JANTAR. INT. NOITE
SONOPLASTIA - SEVEN DEVILS - FLORENCE AND THE MACHINE
A música começa suave, mas com uma intensidade crescente, combinando com a tensão que se instala na sala.
A câmera revela a longa mesa de jantar, iluminada por candelabros de cristal que lançam sombras dramáticas pelas paredes. Clarisse, Olga, Joaquim, Joana, Aníbal, Sol, Alice e James estão sentados ao redor da mesa. O ambiente é luxuoso, mas uma sensação de desconforto paira no ar. As conversas baixas e olhares desconfiados são interrompidos pela chegada de Amelinha.
Ela entra na sala com a postura de uma grande estrela, como se fosse o centro do universo. Seu vestido elegante brilha sob a luz das velas, e ela caminha com confiança, cada passo calculado. Ela se detém na entrada da sala, aguardando que todos a olhem. A música "Seven Devils" começa a crescer em volume, criando uma atmosfera quase mística, como se o momento estivesse carregado de revelações.
AMELINHA - (COM UMA VOZ MELÓDICA, PORÉM CORTANTE, E UM SORRISO TRIUNFANTE) Bem, bem, bem... vejo que todos já estão confortavelmente acomodados. Pois saibam, meus caros, que esta noite será reveladora. Eu sou uma mulher que adora revelar segredos. E, ah, meus amores, todos vocês têm algo a esconder, não é mesmo? Não adianta disfarçar, eu vejo tudo. Cada um de vocês tem uma história que gostaria de manter enterrada, mas eu… eu estou aqui para desenterrar tudo!
Amelinha começa a andar pela mesa, com sua presença imponente, como uma cobra que se aproxima da presa. Seu olhar atravessa os rostos dos convidados, um por um, com um brilho de malícia. A música aumenta, acompanhando a crescente tensão no ar.
AMELINHA - (COM A VOZ FIRME, COMO SE ESTIVESSE ORQUESTRANDO UMA CENA DRAMÁTICA) E o que mais me encanta, meus caros, é saber que nenhum de vocês pode escapar do meu olhar. Não importa o quanto se esforce para esconder, eu vejo tudo. Cada gesto, cada palavra não dita, todos estão aqui, exatamente onde eu planejei. Cada um de vocês tem um papel a desempenhar neste grande jogo que só agora começa a se revelar. Mas, como em toda grande produção, o espetáculo está apenas começando e eu, meus queridos, sou a estrela.
Ela dá uma risada abafada, como se estivesse em seu próprio espetáculo, e se senta com uma graça calculada, colocando suas mãos sobre a mesa, como uma imperatriz que finalmente tomou seu lugar.
AMELINHA - (COM UM TOM MAIS SUAVE, MAS COM UM SORRISINHO CÍNICO) E agora, meus queridos vamos ver até onde vai a mentira, e onde começa a verdade.
Olga troca um olhar com James, ambos visivelmente desconfortáveis com a chegada de Amelinha. Joana observa, com um semblante de quem espera que algo aconteça, enquanto Joaquim parece cada vez mais tenso. Aníbal troca olhares com Sol, ambos parecendo saber mais do que estão dispostos a admitir. Alice, com um copo de vinho na mão, começa a se sentir nervosa, como se tivesse algo a perder.
Amelinha observa tudo isso, sentindo o poder da situação, enquanto a música atinge seu clímax, fazendo com que a sala pareça vibrar com a tensão crescente.
AMELINHA - (COM UM SORRISO ENCANTADOR, MAS VENENOSO) Vamos ver, então, quem realmente sabe a verdade. Quem se atreve a encarar o que está bem diante dos seus olhos (T) e quem ainda está cego para o que está escondido nas sombras. O jogo está só começando, meus caros, e eu, como sempre, sou a única que conhece as regras.
A câmera gira lentamente em torno da mesa, capturando os rostos tensos e os olhares trocados. A música se torna quase estridente, criando uma sensação de presságio. A tensão entre todos os presentes é palpável, enquanto Amelinha se acomoda na cadeira, aguardando, como se estivesse em um palco, pronta para fazer seu grande movimento.
A cena está construída para que cada palavra de Amelinha ecoe como uma sentença, enquanto todos se preparam para os segredos que ela está prestes a revelar. O silêncio se instala, carregado de expectativa, e a música vai diminuindo gradualmente, deixando apenas um leve eco de suspense.
FIM

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