CENA 1. MANSÃO DOS CAMPOS SODRÉ. INTERIOR. NOITE
SONOPLASTIA – “DON’T LET ME BE MISUNDERSTOOD” – LINO KRIZZ.
A batida elegante e melancólica preenche o ambiente, contrastando com o brilho luxuoso da festa.
A câmera passeia pelo salão. Convidados em trajes de gala dançam e brindam em meio ao luxo decadente da mansão. A champanhe borbulha, risos ecoam, mas tudo parece vazio, como uma farsa bem ensaiada.
Amelinha e Henrique surgem em um canto afastado, sem pressa. Ela impecável em um vestido dourado, olhar de aço sob o brilho das joias. Henrique, com um cigarro já aceso entre os dedos, a encara com tédio disfarçado de indiferença.
AMELINHA - (CALMA, CORTANTE) Engraçado (RI) Eu deveria te dar um sermão, como uma mãe típica. (PAUSA) Mas nós dois sabemos que nunca fui típica.
Ela acende o próprio cigarro, o clique do isqueiro é seco, pontuando o silêncio tenso entre os dois.
HENRIQUE - (SARCÁSTICO) Não, você sempre preferiu o espetáculo. (TRAGA LONGA) Mas vá em frente, me diga como eu te decepcionei dessa vez.
Amelinha solta a fumaça lentamente, sem pressa. O olhar se estreita, quase piedoso.
AMELINHA - Decepcionar implica expectativa. (BEBE UM GOLE DE CHAMPANHE) E eu parei de ter expectativas há anos. Mas (PAUSA LONGA, ELA O OBSERVA DE CIMA A BAIXO) Eu te amo. Sim, apesar de tudo, amo você com a única coisa que sei: controle.
HENRIQUE - (AMARGO, DESCONFIADO) Controle não é amor, mãe. É posse.
Amelinha sorri. Um sorriso calculado, como se saboreasse a provocação.
Amelinha - Posse? Ah, Henrique (PAUSA) Amar é proteger (BEBE UM GOLE DE CHAMPANHE E proteger, às vezes, significa saber quando apertar a coleira.
HENRIQUE - (COM UM RISO FRIO) Eu não sou seu cão, Amelinha.
Ela se aproxima, estreitando ainda mais o olhar. A música ao fundo parece diminuir, intensificando a tensão.
AMELINHA - Não, você é meu filho. E, por mais que tente fugir, esse laço (ELA TOCA O PRÓPRIO PEITO) está aqui. Você pode duvidar de tudo, menos disso.
Por um breve segundo, o cinismo de Henrique vacila. Ele hesita, como se quisesse acreditar. Finalmente, assente, apagando o cigarro. Amelinha sorri, satisfeita, antes de se voltar para o salão com a elegância de quem venceu mais uma batalha silenciosa.
A IMAGEM FUNDE-SE COM:
CENA 2. MANSÃO DOS CAMPOS DE SODRÉ. SALA DE ESTAR. INT. NOITE
Os paramédicos estão em movimento frenético, tratando de Alice com pressa. Sua respiração é superficial, seus olhos vidrados, e o rosto pálido como uma tela em branco. O prognóstico não é bom, o ambiente denso de incerteza. Eles se preparam para levá-la.
Olga está ao lado, com os olhos vermelhos, mas sua expressão de dureza permanece intacta. Ela olha para a filha, sem demonstrar fraqueza, e se dirige aos paramédicos.
OLGA - (SEM EMOÇÃO, FIRME) Levem-na. Eu vou junto.
PEDRO - (OLHA DE SOSLAIO) Não vai esperar para saber sobre o filho?
OLGA - (COM DESPREZO) James fez sua escolha. No momento em que atirou na minha neta, ele deixou de ser meu filho. Vou atrás da única coisa que ainda me importa.
Ela se vira sem mais palavras. Os paramédicos a acompanham enquanto a carregam para a ambulância. O som do carro acelerando ao longe ecoa pela mansão.
Sol, que está sendo atendida em um canto da sala, observa tudo em silêncio. Seus olhos piscam, como se estivesse se preparando para a próxima batalha. Ela tenta se mover, mas é contida pela paramédica.
SOL - (IRRITADA, QUASE HISTÉRICA, COM VOZ TRÊMULA) Eu não saio dessa maldita mansão sem o meu filho! James ainda está com ele, e eu preciso dele (PAUSA) Quero Joaquim agora! Já basta tudo que ele me tirou essa noite, não vou permitir que me tire a única pessoa que ainda me resta!
PARA-MÉDICO - (ACONCHEGANTE, MAS FIRME) Senhora, você precisa de cuidados. Não podemos deixá-la aqui.
SOL – (FIRME) Eu não saio daqui sem o meu filho, não adianta argumentar...
A tensão cresce. Mary León observa, um sorriso sarcástico nascendo em seus lábios, claramente divertida com o caos que se desenrola. Ela se aproxima de Pedro, falando com o tom ácido que lhe é peculiar.
MARY LEÓN -(SARCÁSTICA) E agora, Pedro? Vai conseguir salvar todo mundo? Ou vai deixar que o circo continue pegando fogo? Porque, sinceramente, nem parece que tem controle da situação.
CLARISSE - (APROXIMANDO-SE, IRRITADA) Acha que está fazendo o que, Mary? Ficar zombando nesse momento?
MARY LEÓN -(SORRISO FRIO) Eu só estou observando o espetáculo. Como sempre, no meio de tanta gente perdida, só eu fico lúcida. O que eu vejo é que estamos em uma guerra sem heróis.
CLARISSE - (OLHA FIXAMENTE PARA ELA, DESAFIADORA) E você acha que a sua ironia vai salvar alguém? Estamos todos em risco, e você aí, rindo da própria desgraça.
MARY LEÓN - (RI BAIXINHO, PROVOCANDO) Clarisse, não é ironia, é realismo. A tragédia se desenrola e ninguém está aqui para evitar o desfecho.
PEDRO - (INTERROMPENDO, TENSO) Chega!
Ele se vira para sua equipe, sua voz tomando uma direção mais objetiva, mas cheia de autoridade.
PEDRO - (PREPARANDO-SE) Vamos invadir o escritório. Precisamos fazer isso agora. Preparem-se para agir rapidamente. Precisamos de reforços já. Não sei quanto tempo a gente tem.
A tensão na sala aumenta. Sol, que antes parecia em um estado de desespero controlado, agora olha para Pedro com um semblante mais fechado, como se algo dentro dela se tornasse mais desesperado. Clarisse também mantém o olhar firme, analisando cada movimento que ocorre ao seu redor.
O clima na mansão se torna ainda mais carregado, o ar pesado com as ações iminentes. Cada respiração parece contar uma história de luta, e o relógio, implacável, avança sem perdão.
CORTA PARA:
CENA 3. MANSÃO DOS CAMPOS DE SODRÉ. ESCRITÓRIO DE AMELINHA. INT. NOITE
SONOPLASTIA - BANG BANG (MY BABY SHOT ME DOWN) - NANCY SINATRA
A chuva forte martela as janelas, cada gota explodindo contra o vidro como um aviso sombrio. Trovões rasgam o céu lá fora, iluminando por um instante as sombras deformadas nas paredes do escritório. James segura o revólver com força, o tambor girando em um ruído seco e implacável. O suor escorre por sua testa, mas seu olhar permanece fixo, febril, encarando Amelinha, que mantém o queixo erguido, desafiadora, mesmo com o medo contido sob a máscara de aço.
Joaquim, pálido, respira em arquejos curtos, os olhos arregalados, trêmulo. O silêncio se estende como um corte profundo.
James leva a arma à própria têmpora, um sorriso lento e cruel se formando em seus lábios. Ele aperta o gatilho.O martelo cai. Nenhum disparo. Nenhuma explosão. Apenas o vazio cortante, o silêncio implacável e o eco da tensão pesando como chumbo no ar.
JAMES - (SORRINDO, PERVERSO) Parece que o destino está jogando ao meu favor, Amelinha.
Amelinha não se abala. Ergue o queixo com uma calma feroz, os lábios se curvando em um meio sorriso gélido, controlado. Seus olhos, estreitos e duros como lâminas, brilham sob a luz fraca, não de medo, mas de um desafio silencioso. O reflexo do revólver na sua mão treme sutilmente, mas sua postura é inabalável, cada músculo tenso, contido, como uma fera aguardando o momento certo para atacar.
O silêncio pesa. A chuva tamborila nas janelas, um som distante, abafado, enquanto James a encara, frustrado, buscando uma rachadura em sua máscara de aço. Mas ela permanece impenetrável, o olhar fixo nele, como se já soubesse o desfecho daquele jogo mortal.
AMELINHA - (FERINA, SECA) Engano seu, James (PAUSA) O destino apenas tem o péssimo hábito de brincar com homens medíocres antes de esmagá-los.
James estreita os olhos, o cenho se contorcendo em uma mistura de fúria e desprezo, como se a calma de Amelinha fosse uma afronta pessoal. Seus lábios se repuxam em um sorriso amargo, mas há um brilho selvagem em seu olhar, a paciência se esvaindo.
De repente, com um movimento brusco e carregado de tensão, ele vira o revólver, o cano gelado agora apontado diretamente para Joaquim. O estalo seco do tambor girando ecoa no silêncio opressivo da sala, enquanto Joaquimprende a respiração, os olhos arregalados. A chuva lá fora parece ensurdecedora, mas ali dentro, o tempo parece suspenso, o perigo pulsando como um coração descompassado.
JAMES - (SÁDICO, TENSO) Vamos testar essa teoria (SORRI)
Ele puxa o gatilho. O som seco do mecanismo se move, mas nada. Nenhum disparo. Apenas o eco vazio do fracasso. Amelinha avança um passo, lenta, implacável. Seus lábios se curvam em um sorriso glacial, cruel em sua precisão. O olhar perfurante, como se já soubesse o desfecho. A chuva tamborila lá fora, mas dentro da sala o silêncio é sufocante. James ofega, confuso, o suor escorrendo pela têmpora.
AMELINHA - (VENENOSA, IMPLACÁVEL) Veja só, James. Parece que até a bala despreza você.
James, tomado pela fúria, gira o tambor da arma com um movimento brusco. Seus olhos ardem de raiva enquanto ele aponta o revólver diretamente para Amelinha.
O dedo pressiona o gatilho com força. O mecanismo se move, mas nenhum disparo. O som seco e vazio ressoa pela sala como um trovão mudo.
O silêncio pesa, sufocante. A chuva lá fora parece distante, abafada pela tensão crescente.
Amelinha não desvia o olhar. Queixo erguido, firme, seus olhos cravam em James com um brilho frio e desafiador, como se o medo não fosse sequer uma possibilidade.
JAMES - (SORRINDO, CRUEL) Chegou minha vez de novo. Sabe o que é pior que a morte, Amelinha? Assistir ao seu precioso neto morrer (APONTA PARA JOAQUIM) Bem diante de você (SORRI)
Ele gira o tambor mais uma vez, o metal rangendo no silêncio denso. A arma retorna à sua própria têmpora, e James, tomado por uma confiança doentia, sorri, seguro de sua invencibilidade.
O dedo pressiona o gatilho. O estampido seco e brutal rasga o ar. O som do disparo explode como um trovão abafado, ecoando pelas paredes da mansão. James cambaleia. O sorriso se desfaz em um instante de choque absoluto antes que seu corpo desmorone, pesado, o revólver escapando de sua mão trêmula.
Silêncio.
A chuva tamborila contra as janelas. Uma gota de sangue se espalha lentamente pelo tapete, o som de sua queda inaudível frente ao vazio cortante da cena.
Amelinha permanece imóvel. Seus olhos, serenos e implacáveis, mantêm-se fixos no corpo inerte de James. O peito sobe e desce com calma, como se já soubesse que o desfecho sempre seria esse.
Joaquim, em choque, mal consegue respirar, o olhar perdido entre o corpo do avô e o semblante gélido da avó.
A porta é arrombada com um estrondo.
Delegado Pedro surge, arma em punho. Seus olhos varrem o ambiente até se fixarem no cadáver, no menino pálido e em Amelinha, que ergue o rosto lentamente.
Seu olhar encontra o de Pedro, inabalável, como se desafiasse o próprio destino.
CORTA PARA:
CENA 4. RIO DE JANEIRO. CLIP. DIA EXT.
15 DIAS DEPOIS
Com a sonoplastia da cena precedente, a câmera sobrevoa o Rio de Janeiro, banhado por uma luz dourada do amanhecer. O Cristo Redentor se ergue imponente sobre a cidade, enquanto a orla de Copacabana reflete as luzes do dia que se aproxima. As praias estão vazias, o mar agitado, e as ondas batem contra as pedras. A baía de Guanabara brilha sob o céu, com os primeiros vestígios de sol no horizonte. A imagem se move suavemente, passando pelas luzes das ruas da cidade, as cores vibrantes das fachadas contrastando com o cinza das montanhas ao fundo. Tudo é calmo, mas a tensão no ar é palpável.
CORTA PARA:
CENA 5. CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA. EXT. DIA
A imagem da lápide de Aníbal é imponente, com o nome esculpido em letras grandes. Sol chega, usando óculos escuros que escondem as lágrimas que já começam a escorrer. Ela caminha lentamente até a lápide, sua expressão é um misto de tristeza e pesar. Quando chega mais perto, passa a mão sobre a pedra fria, como se sentisse uma conexão com o homem que ela perdeu. Sua voz, carregada de emoção, sai baixa, quase como um sussurro.
SOL -(VOZ EMBARGADA) A vida sem você, meu gostoso, vai ser um inferno (T) Mas eu vou seguir (TRISTE) Sempre segui em frente, você sabe (T) Sempre segui.
Sol fica alguns segundos em silêncio, com os olhos fechados, deixando as lágrimas escorrerem sem se importar. Ela respira fundo, ajusta os óculos e, com uma última olhada na lápide, se vira e sai, com a mesma postura altiva de sempre, mas agora marcada por uma dor silenciosa.
CORTA PARA:
CENA 6. PRAÇA DA REPÚBLICA. EXT. DIA
SONOPLASTIA – SYMPATHY FOR THE DEVIL - THE ROLLING STONES - THE NEPTUNES REMIX)
A sonoplastia de Sympathy for the Devil reverbera no ar, enchendo a praça com sua intensidade. A câmera captura o movimento frenético de repórteres correndo para ajustar suas câmeras, cidadãos com cartazes em mãos, e manifestantes que gritam palavras de apoio. A praça está tomada por uma mistura de emoção e tensão palpáveis, como se todos estivessem aguardando o ápice de um grande evento.
O clima é de pura expectativa. O palanque está montado, visivelmente imponente, enquanto o público aguarda ansioso. Soraya Thronicke, com seu estilo arrogante e cativante, sobe ao palco. Ela sorri com um olhar calculista, abrindo os braços para o público, absorvendo os aplausos que chegam como uma onda.
SORAYA - (ALTIVA, COM GRANDE CARISMA) Hoje é o dia em que nosso partido dá um passo histórico para o futuro do Rio de Janeiro! E é com uma honra imensa que apresento a todos vocês a mulher que, nos anos noventa, fez o Brasil inteiro dançar ao som da sua música. A mulher que fez o mundo girar — mas agora está aqui para fazer algo muito maior: fazer os corruptos girarem, fazer a economia girar e transformar esse país. Ela é Sol do Verão!
A multidão explode em gritos frenéticos, e a câmera se aproxima de Sol, que sobe ao palco com um sorriso enigmático, os olhos fulgurantes de determinação. Sua presença é magnética, cada movimento seu parece irradiar poder. Ela se aproxima do microfone, e a tensão aumenta.
SOL DO VERÃO - (SUA VOZ CORTANTE, IMBATÍVEL) É isso mesmo, povo! Vocês me conhecem — fui a mulher que fez todos dançarem, fiz o Brasil girar ao som das músicas da nossa rainha Xuxa, mas agora, meus amores, a música vai ser outra! Chega de corrupção! Chega de promessas que nunca saem do papel! Chega de ver os mesmos de sempre roubando o futuro de nossos filhos!
Ela ergue a mão, como se estivesse segurando o destino do Brasil nas pontas dos dedos. O público está em silêncio, absorvendo cada palavra.
SOL DO VERÃO - (COM FORÇA, COM A INTENSIDADE DE QUEM ESTÁ JOGANDO TUDO) Eu não sou mais a mulher que se contenta em fazer a plateia dançar. Eu sou a mulher que vai fazer esse país voltar a andar! Eu não sou mais a cantora, eu sou a guerreira! E os corruptos, os mentirosos vão sentir o peso de minha mão! Vamos transformar o Rio, vamos transformar o Brasil, com coragem, com energia, com garra! Não vou parar até ver um futuro de verdade para todos nós!
O público vai à loucura, os gritos se tornam ensurdecedores. O som da música se mistura com o delírio da multidão. Ela sorri, satisfeita com o poder que sente emanando de cada palavra dita. Porém, por trás desse sorriso triunfante, há algo mais — uma sensação de fim, de um ciclo que chega ao seu ápice.
Soraya a observa com um olhar que mistura admiração e medo, percebendo a força de Sol do Verão. A personagem finalmente alcançou o que sempre desejou, mas em um preço muito alto. Essa será sua última luta, o fim de uma era, e ela sabe disso.
CORTA PARA:
CENA 7. REUNIÃO DOS ALCOÓLICOS ANÔNIMOS. SALA. INT. DIA
SONOPLASTIA – O QUE TINHA DE SER – INSTRUMENTAL
A câmera foca nas cadeiras organizadas em círculo, o ambiente é simples, mas acolhedor, com luz suave e uma atmosfera de apoio mútuo. A sonoplastia começa com O Que Tinha de Ser instrumental, que preenche o espaço com uma melodia suave, como uma respiração profunda, lenta e reconfortante. No centro, uma senhora de meia-idade, Elvira, se levanta lentamente. Ela está visivelmente emocionada, mas sua voz é firme quando ela começa a falar.
ELVIRA - (VOZ TRÊMULA, MAS DETERMINADA) Boa tarde a todos. Eu sou Elvira e estou sóbria há dez anos. Eu venho aqui, todos os dias, porque sei que não posso esquecer de onde vim. (PAUSA) A bebida destruiu tudo em minha vida... meu casamento, minha relação com os filhos (PAUSA)Eu fui CEO de uma grande empresa, mas perdi tudo. Me demitiram porque não conseguia controlar mais nada. A bebida me controlava. Eu estava sozinha, sem saber o que fazer, até que um dia encontrei esse grupo, e foi a única coisa que me fez ver uma saída.
Ela respira fundo, enxuga uma lágrima que escapa, mas sorri com uma força silenciosa. O grupo está em silêncio, ouvindo atentamente. Cada palavra de Elvira ressoa profundamente nos outros membros da reunião.
ELVIRA - (MUITO EMOCIONADA, COM UMA LEVE VOZ DE ESPERANÇA) Hoje, posso olhar nos olhos dos meus filhos. E sei que, apesar de tudo, eu sou mais forte do que a bebida. Cada dia, cada hora, cada minuto sem ela é uma vitória. (PAUSA, OLHANDO PARA O GRUPO) E eu estou aqui, para dizer que é possível. Não importa quanto tempo tenha passado, sempre há uma chance de recomeçar.
Os membros do grupo aplaudem gentilmente. A câmera se desvia para Alice, que está sentada ao lado de Olga, ainda com o olhar perdido, mas visivelmente tocada pelo depoimento de Elvira. Olga, atenta, coloca a mão sobre a de Alice, oferecendo-lhe conforto silencioso, como uma ancla emocional.
O ambiente se mantém silencioso por um momento, a música de fundo ainda presente, enquanto as palavras de Elvira ecoam nos corações de todos os presentes.
A reunião segue, com cada pessoa compartilhando seu próprio testemunho. As cadeiras estão ocupadas por rostos que carregam histórias de dor, mas também de resiliência e recuperação. Alice, com os olhos marejados, observa a interação dos outros membros. Ela se levanta devagar e caminha até Elvira, que está sentada com um sorriso sereno, ouvindo um outro depoimento.
ALICE -(SINCERA, COM A VOZ SUAVE) Eu fiquei muito impressionada com o que você disse. Eu posso ver que a sua força é real.
ELVIRA - (SORRI, COM UM OLHAR ACOLHEDOR) Obrigada, querida. Eu sei que não é fácil, mas é possível. Eu vi muito sofrimento, mas também vi muitas vitórias. E você quantos dias você está sóbria?
ALICE - (SEM HESITAR, COM UMA LEVE CONFIANÇA) Quinze dias.
ELVIRA -(PEGANDO SUA MÃO COM DELICADEZA) Quinze dias (PAUSA) Que vitória! Você já está mais forte do que pensa. E (PAUSA, COM UM OLHAR FIRME E CARINHOSO) eu quero ser sua madrinha. Nós vamos caminhar juntas, Alice. Não importa o tempo, você não está sozinha.
Alice olha para Elvira, com um sorriso tímido, mas cheio de gratidão. Olga observa de longe, visivelmente emocionada e feliz com o que vê, aliviada por Alice encontrar um novo apoio, uma nova esperança.
A sonoplastia continua suave, criando uma sensação de renovação e calma, enquanto a câmera se afasta lentamente, capturando o momento de conexão genuína entre as duas mulheres, marcando o início de um novo capítulo na vida de Alice.
CORTA PARA:
CENA 8. PRAIA DE COPACABANA. EXT. DIA
SONOPLASTIA – SUA ESTUPIDEZ – GAL COSTA
A sonoplastia de Sua Estupidez de Gal Costa começa suave, criando uma atmosfera introspectiva e melancólica, com o som das ondas quebrando suavemente ao fundo. O cenário é de uma Copacabana banhada por uma luz dourada de fim de tarde, o mar refletindo os últimos raios do sol. Joaquim e Joana caminham pela areia, as pegadas se apagando rapidamente, como se o passado já não os definisse mais. Eles caminham juntos, mãos dadas, em um silêncio confortável, onde cada passo parece ser dado em sintonia.
JOAQUIM - (OLHANDO PARA O HORIZONTE, COM UMA LEVEZA NO TOM DE VOZ) É estranho (T) Às vezes, eu penso que minha vida nunca teria um final feliz. Sempre tive a sensação de que o futuro seria uma sequência de erros e perdas. Mas agora, com você parece que tudo se encaixa. Como se o destino finalmente me tivesse trazido para cá. Para você.
Joana para por um momento, olhando para Joaquim com um sorriso suave, quase como se quisesse saborear suas palavras, antes de se aproximar dele e repousar a cabeça em seu ombro, sentindo o calor de sua presença. O vento bate levemente em seus rostos, mas não há nada que pareça importar ali.
JOANA -(SUSSURRANDO, COM UM SORRISO SERENO) A vida (PAUSA) A vida é como o mar, Joaquim. É imprevisível, tem suas tempestades, suas ondas altas e baixas. Mas o que realmente importa é o que fazemos com ela, o que escolhemos. E, nós, escolhemos estar aqui, agora. Juntos.
Ela se afasta suavemente, seus olhos se encontrando com os dele. O mundo parece diminuir ao redor deles. O som da música de Gal Costa ecoa, intensificando a intimidade daquele momento.
JOAQUIM - (SUSPIRO, COM UMA INTENSIDADE CRESCENTE, TOCANDO SEU ROSTO) Sim, juntos.
Eles se olham por um instante, os corações acelerados. Com uma suavidade quase etérea, eles se beijam, um beijo profundo, como se o tempo tivesse parado por um segundo. O mar ao fundo parece guardar o segredo daquele momento, e a câmera, como que respeitando a privacidade de seus sentimentos, captura a cena de longe, envolvendo-os no cenário de Copacabana, com o som das ondas embalando o instante.
CORTA PARA:
CENA 9. HOTEL COPACABANA PALACE. SUÍTE DE CLARISSE. INT. DIA
A luz suave do dia entra pelas janelas da suíte de Clarisse, iluminando o ambiente sofisticado. Ela está sentada diante de uma câmera, com o celular em mãos, fazendo uma live para seus milhares de seguidores. O fundo elegante e o sorriso encantador de Clarisse ajudam a dar ares de mistério e glamour à situação.
CLARISSE -(SORRINDO PARA A CÂMERA, COM VOZ DOCE E CATIVANTE) Meus amores, hoje é um dia de grandes revelações. Depois de tanto tempo investigando, tentando entender a morte daquele homem que mal conheci, finalmente tudo se esclareceu nos últimos dias. E sabem o que fez isso acontecer? Amelinha, minha amiga, minha salvadora!(ELA FAZ UMA PAUSA, COM UM SORRISO IRÔNICO) Vê quem diria que a resposta para um mistério tão grande viria de uma mulher como ela?
Nesse exato momento, Amelinha surge por trás de Clarisse, entrando de forma imponente no campo de visão da câmera. Ela está com um sorriso venenoso nos lábios, e sua presença imediatamente muda a atmosfera. Clarisse parece um pouco surpresa, mas rapidamente sorri, sabendo que a oportunidade para uma boa interação está ali.
AMELINHA - (COM UM SORRISO CORTANTE, OLHANDO DIRETAMENTE PARA A CÂMERA, COMO SE ESTIVESSE CONVERSANDO COM UMA PLATEIA) Ah, querida, você sempre sabe como me enaltecer. É claro que fui eu a responsável pela revelação. Não sou uma mulher qualquer. Tenho a capacidade de fazer o impossível acontecer.
Clarisse ri com afeto, ainda mantendo a câmera ligada, e olha para Amelinha com uma expressão de quem está se divertindo com a situação.
CLARISSE - (ENGANANDO O RISO, MAIS AFETUOSA DO QUE IRÔNICA)
Mas, Amelinha, sério (PAUSA) Me diga uma coisa. Em toda essa trama perigosa, em todo esse jogo de morte e vida, você chegou a sentir medo da morte? Não me diga que você, tão imbatível, não teve nem um pouquinho de receio.
Amelinha a observa com um olhar penetrante, seus olhos brilhando com uma confiança absoluta. Ela solta uma gargalhada, com a mesma ironia que caracteriza sua personalidade.
AMELINHA - (RINDO, VIRANDO-SE PARA A CÂMERA, COM A VOZ DE QUEM NÃO TEM PACIÊNCIA PARA TOLICES) Medo da morte? Uma mulher como eu? Não, querida. Medo eu tinha era de morrer aqui, nesse Brasil.
Ela olha para Clarisse com um sorriso vitorioso e provoca:
AMELINHA - E eu te digo mais, Clarisse (PAUSA) A verdadeira morte não está no fim da vida, está na mediocridade. E aqui, todos sabem que eu estou muito longe disso.
Clarisse se inclina para a frente, encarando Amelinha com uma expressão de quem está divertidamente chocada, mas pronta para dar a resposta que ela sabe que Amelinha adoraria ouvir. O tom leve e ácido do diálogo entre elas faz a atmosfera vibrar com uma energia de respeito mútua e competição sutil.
CLARISSE - (LEVEMENTE INCLINADA, COM UM SORRISO SARCÁSTICO) Então, estamos entendidas. Nem a morte pode te parar, né, Amelinha?
AMELINHA -(OLHA FIXAMENTE PARA CLARISSE, COM UM OLHAR DESAFIADOR E UM SORRISO QUE DIZ TUDO) Não, querida. Nem a morte. Nem aqui, nem em qualquer lugar.
A câmera segue suas expressões afiadas e termina com a imagem de ambas em um silêncio carregado de tensão, como se estivessem prestes a protagonizar uma grande jogada.
CORTA PARA:
CENA 10. HOTEL COPACABANA PALACE. ESCRITÓRIO DE MARY LÉON. INT. DIA
O escritório de Mary Léon é um ambiente meticulosamente decorado, com um toque de opulência discreta. Mary está sentada atrás de sua mesa, examinando documentos, quando a porta se abre com um estrondo. Amelinha entra com sua postura imponente, segurando uma pilha de papéis. Ela joga os papéis sobre a mesa de Mary com uma atitude de quem tem o controle da situação.
AMELINHA - (SORRINDO COM MALÍCIA) Aqui está, Mary. O presente que você mereceu. Pode abrir.
Mary a observa com um olhar calculista, mas já sabe que algo grande está por vir. Ela pega os papéis e começa a folheá-los, seus olhos se arregalando à medida que percebe o conteúdo. Uma leve surpresa aparece em seu rosto, mas ela a disfarça rapidamente.
MARY LÉON -(SEM PERDER O TOM SARCÁSTICO) Ah, um presente? Não me diga que é uma carta de alforria...
AMELINHA -(RINDO, COM UM TOQUE DE CINISMO) Não, querida. Não é alforria. É algo bem mais valioso. Você acaba de ser nomeada como herdeira das ações do Copacabana Palace no meu testamento.
Mary coloca os papéis sobre a mesa, visivelmente surpresa, mas com um sorriso maroto. Ela olha para Amelinha com uma expressão de diversão, sabendo que a situação é ainda mais profunda do que parecia à primeira vista.
MARY LÉON - (OLHANDO PARA AMELINHA COM UM SORRISO AFIADO) Então, tudo isso foi apenas uma forma de me manter por perto? Para garantir que a pessoa certa estivesse aqui quando tudo fosse revelado?
Amelinha a observa com um sorriso enigmático e dá um passo à frente, mantendo seu charme natural.
AMELINHA - (COM UMA RISADA TRANQUILA) Você me ajudou, Mary. E a ajuda tem seu preço. Agora, sobre Henrique você sabe o que aconteceu com ele. E eu te darei essa pequena recompensa por me ter ajudado a desvendar a verdade.
Mary não consegue esconder o conhecimento que já tem, seu sorriso se amplia enquanto ela levanta uma sobrancelha, como se estivesse brincando com a situação.
MARY LÉON - (AFIAR SUA VOZ, COM UM TOM IRÔNICO) Claro que sei. E não sei como um homenzinho como James teve colhões para fazer tudo isso (PAUSA) Não é todo mundo que tem a ousadia de ir tão longe...
Amelinha sorri para a resposta de Mary, sem pressa de revelar mais detalhes, mas mantém seu olhar fixo e penetrante.
AMELINHA - (SORRI COM DESDÉM) O que aconteceu com Henrique foi inevitável. A verdade, no final, se impõe, não importa o quanto tentemos escondê-la. (PAUSA) Mas, não se preocupe, Mary, não morrerei tão logo. Até lá, serei a maior acionista do Copacabana Palace.
Mary se aproxima da mesa com uma postura desafiadora, cruzando os braços e mantendo o sorriso, como se estivesse esperando mais.
MARY LÉON - (SOMENTE COM UM SORRISO, CHEIA DE IRONIA) Ah, é? E quanto tempo mais você acha que pode brincar de dona do pedaço, Amelinha? Porque, até onde eu vejo, sua superioridade tem prazo de validade. Mas, por enquanto, veremos...
As duas se encaram, e a tensão no ar é palpável. Há uma compreensão mútua, um jogo de poder que só as duas sabem jogar tão bem. Amelinha mantém sua compostura, satisfeita, enquanto Mary, com um sorriso venenoso, se afasta um pouco. As duas sabem que o jogo está longe de acabar.
CORTA PARA:
CENA 11. HOTEL COPACABANA PALACE. RESTAURANTE PÉRGULA. INT. DIA
O ambiente luxuoso do restaurante Pérgula é iluminado por uma luz suave que entra pelas janelas do Copacabana Palace. As mesas estão organizadas com elegância, e o som da taça de champanhe sendo preenchida é nítido no ar. Amelinha e Olga estão sentadas em uma mesa discreta, ambas com taças de champanhe nas mãos, relaxadas e com a expressão de quem já venceu a batalha.
Amelinha sorri de forma satisfeita, o olhar cheio de confiança. Ela levanta sua taça e a observa, como se admirasse sua própria vitória. Olga, por sua vez, mantém uma postura séria, mas seu sorriso discreto mostra que também está ciente de que foi parte crucial do jogo. O silêncio entre elas é confortável, mas carregado de uma tensão sutil, como se ambas soubessem que a vitória de uma é a vitória da outra.
AMELINHA - (SORRINDO, COM UM TOM DE SUPERIORIDADE) O jogo acabou, Olga. E, como você sabe, eu fui a grande vencedora. Não havia outro caminho. (PAUSA, ERGUENDO A TAÇA) A vida me reservou esse prêmio.
Olga observa Amelinha por um momento, absorvendo suas palavras, e então, com um leve sorriso, levanta sua taça também.
OLGA - (SÉRIA, MAS COM UM TOQUE DE ADMIRAÇÃO) Você sempre soube, Amelinha. Eu estive ao seu lado durante o jogo inteiro, você sabia que poderia contar comigo.
Amelinha dá uma leve risada, como se a compreensão mútua entre as duas fosse algo já consolidado. Ela olha para Olga, uma expressão de gratidão disfarçada de arrogância.
AMELINHA - (SORRINDO COM UM TOQUE DE IRONIA) É verdade, Olga. E eu te agradeço por isso. Por cada passo, por cada decisão. Como sempre, você foi uma aliada fiel. E, claro, uma peça chave no meu sucesso. (PAUSA) O que é um jogo, senão uma sequência de boas escolhas?
Olga sorri, mas sua expressão é tranquila, sem pressa de demonstrar emoção. Ela olha para Amelinha com a calma de quem sabe que, apesar de todas as vitórias de Amelinha, sua própria participação foi igualmente decisiva.
OLGA - (DIPLOMÁTICA, COM UM SORRISO SUAVE) Às vezes, o maior jogo é aquele que você sabe jogar sem precisar mostrar as cartas. Eu só fiz o que estava ao meu alcance. Mas sim, Amelinha, você foi a vencedora.
O olhar entre elas é profundo, como se compartilhassem um segredo que nenhuma palavra poderia explicar. Ambas sabem que o jogo pode estar no fim, mas os próximos passos ainda estão por vir.
AMELINHA - (SARCASTICAMENTE) Você sempre tão modesta, Olga. Mas eu aprecio. Afinal, um jogo desse tamanho só uma verdadeira jogadora como eu poderia sair vitoriosa.
Olga ri suavemente, e as duas brindam. O silêncio que segue é carregado de entendimento. Ambas sabem que, por mais que a vitória seja de Amelinha, a colaboração de Olga não passa despercebida. A cena termina com as duas mulheres, unidas pela estratégia e pelo poder, enquanto o som suave do champanhe se mistura ao murmúrio baixo do restaurante.
CORTA PARA:
CENA 12. RIO DE JANEIRO. ANOITECER. EXT.
SONOPLASTIA - MON MANÉGE À MOI - ETIENNE DAHO
O Rio de Janeiro se banha em tons dourados e rosados, à medida que o sol se despede no horizonte, atrás das montanhas. As luzes da cidade começam a se acender, criando uma dança luminosa que reflete no mar calmo da baía de Guanabara. A sonoridade suave de Mon Manège à Moi de Etienne Daho envolve a cena, trazendo um toque melancólico e íntimo. O Cristo Redentor se ergue imponente no topo do Corcovado, iluminado pela última luz do dia. As ondas quebram na praia de Copacabana, enquanto as sombras se alongam pelas ruas, sugerindo o mistério que vem com a noite carioca. As cores do céu se fundem com a energia da cidade, criando um cenário de beleza e tensão crescente.
CORTA PARA:
CENA 13. HOTEL COPACABANA PALACE. SUÍTE DE AMELINHA. INT. NOITE
Com a sonoplastia iniciada na cena precedente, iniciamos com a suíte de Amelinha iluminada apenas por velas, criando sombras dançantes nas paredes. O clima é sensual, carregado de tensão. Amelinha beija apaixonadamente Pedro, o delegado, enquanto uma taça de champanhe repousa sobre a mesa ao lado. Eles brindam, trocando olhares cúmplices. Amelinha, sorrindo, se afasta para a sacada, onde o vento noturno acaricia sua pele. Pedro a segue, agora só de cueca, e começa a beijar seu pescoço com uma intensidade crescente. O som das ondas quebrando ao longe parece distante, como se o mundo ali tivesse parado.
De repente, um som surdo é ouvido. Um estalo de metal, quase imperceptível, mas suficiente para interromper o momento. Amelinha congela, seus olhos se arregalam quando ela olha para Pedro. O choque é imediato. Ela vê o sangue em sua boca, brilhando à luz suave da lâmpada. Antes que possa processar, a dor a atinge. Ela olha para seu corpo e, horrorizada, percebe o sangue escorrendo de uma ferida fatal. Uma bala a atravessou.
Amelinha cai lentamente nos braços de Pedro, seus olhos ainda arregalados, sem acreditar no que está acontecendo. O calor de seu corpo começa a se dissipar. Pedro a segura, mas o gesto é vazio, sem remorso. Ele não diz nada, seus olhos vazios. O sangue de Amelinha mancha o tecido branco de sua roupa enquanto ela morre lentamente, seu último suspiro perdido na imensidão da noite.
A câmera se aproxima de seu rosto, ainda com a expressão de incredulidade. Amelinha, a mulher que sempre controlou tudo, finalmente sucumbe ao destino que ela mesma traçou. O silêncio pesado toma conta da cena, e a música suave de fundo se mistura com o som distante do mar, como um adeus silencioso.
CORTA PARA:
FIM

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