
Criado
e Escrito por LUCAS GARCIA
CAPÍTULO 02
Cena 01: Avenida.
Exterior. Dia
ISOLDA
fecha a porta do carro e se vira para a rua, logo percebe que um cavalo vinha
afoito em sua direção, fica sem reação, tenta correr, todavia, o equino levanta
as duas patas da frente, ISOLDA,
instantaneamente se joga ao chão e cobre o rosto para não ser ferida.
Repentinamente o cavalo é controlado, descendo suas patas ao chão, apenas
relinchando.
Quando
ISOLDA olha para cima, vê a silhueta
de um homem, montado sobre o animal, a luz reluzente do sol impedia que visse
com nitidez o rosto.
Encima
do cavalo, JÚLIO estava extasiado, a
mulher jogada ao chão, indefesa, trêmula, era a imagem e semelhança de OLÍVIA, seus olhos passam a lacrimejar,
seus lábios secam, o nó na garganta impede que qualquer palavra fosse
proferida.
HERCULANO:
(aos berros) – ISOLDAAA!
HERCULANO larga
todas as malas ao chão e corre levantá-la, neste mesmo instante, JÚLIO, desce do cavalo e alguns sargentos
correm domar o equino.
SARGENTO:
Dr. Júlio? Que honra, agradecemos sua ajuda!
O
sargento bate continente ao homem, que não tirava os olhos de ISOLDA que por sua vez, era acudida por
HERCULANO.
ISOLDA
(trêmula) – Estou bem, amor, - limpa o vestido – devemos agradecer ao
homem que me salvou!
HERCULANO:
(nervoso) - Não, vamos para o
casarão, precisamos arrumar nossas coisas.
JÚLIO
em poucos segundos é rodeado de pessoas que queriam saber se ele estava bem,
mas ficara imóvel, olhando fixamente para ISOLDA,
neste instante seus olhos se enchem de lágrimas novamente.
JÚLIO:
(voz embargada) - Esperem, eu preciso
falar algo com aquela mulher!
JÚLIO
se desvia das pessoas, tenta se aproximar dela, todavia, HERCULANO pega as malas que estavam no chão, puxa ISOLDA pelo braço e saem apressados
pela avenida, perdendo-se de vista entre as pessoas que estavam aglomerando o
local, JÚLIO sente-se atordoado.
Cena
02: Casarão de Herculano. Exterior. Dia
HERCULANO e
ISOLDA estavam em frente ao grande
casarão, no centro da cidade, o local tinha características barrocas, com
evidências de modificação neoclássicas, porém, a estrutura era charmosa, ISOLDA fica impressionada.
ISOLDA:
- Meu amor, é encantador, tenho certeza que seremos muito felizes aqui!
HERCULANO
esboça um sorriso tímido, pega a mulher pela nuca e a beija intensamente, logo,
se afastam, ele abre o portão frontal, que ligava a uma escada até a porta da
residência.
Neste
instante, HERCULANO sobe a escadaria
e abre a porta, ISOLDA entra, e vai caminhando
pelo casarão. Ainda na porta, HERCULANO
escuta um carro buzinar, ele tenta enxergar quem era, mas os vidros estavam
erguidos. Então, desce a escada, aguarda no portão, e no lado de fora o vidro
do veículo é abaixado, DONATO
aparece.
DONATO:
(Sorridente) – Seja bem-vindo, meu
companheiro, soube que nossa vizinhança há novos moradores, conte conosco!
HERCULANO:
(desconfiado) – Agradeço a
gentileza, mas posso saber quem é você?
DONATO desliga
o carro, sem o barulho do motor, o silêncio impera.
DONATO:
- Meu companheiro, sou praticamente seu vizinho, moro algumas ruas daqui, sou
também proprietário do CLUBE DOS
CANARINHOS, um lugar que todo homem desta cidade já passou, é de lei neste
local – gargalhadas – brincadeiras à
parte, deixo um convite a Vossa Senhoria!
DONATO,
tira um cartãozinho do paletó, sai do carro e entrega nas mãos de HERCULANO, que o encara ainda desconfiado.
HERCULANO:
- Como sabes que mudamos para este lugar?
DONATO:
- Meu companheiro, Vale das Rosas é um cubículo, todos se conhecem, sabem quem
chegou e quem partiu, mas não fique temeroso, somos todos bons pagadores – gargalhadas – enfim, fique com o
convite, lhe aguardo!
DONATO
volta ao carro e sai em disparada, enquanto HERCULANO observa até o perder de vista, o homem mesmo desconfiado,
olha para o cartão e o guarda em seu bolso, sobe a escadaria e fecha a porta do
casarão.
Cena
03: Mansão Hans. Sala de Estar. Interior. Dia
JÚLIO
abre a porta da mansão, entra lentamente, seus olhos brilhavam, seu semblante
era diferente, GARDÊNIA estava
ajustando alguns vasos de flores e o observa entrar lentamente, que se assenta
no sofá.
GARDÊNIA:
- Dr. Hans, como foi seu passeio?
JÚLIO:
(Ofegante) - Não sei explicar – olhando para o teto, quase deitando-se
– definitivamente, não sei explicar.
GARDÊNIA:
- O senhor precisa de algo?
JÚLIO:
(Ofegante) - Não preciso - passa
a mão no rosto – acredito que preciso de um banho.
GARDÊNIA:
- Pedirei que preparem um banho de sais ao senhor!
GARDÊNIA
revira-se para ir a outro cômodo da mansão, quando a porta se abre
abruptamente, com uma força imoderada, causando um barulho estridente, era AUGUSTO, adentra, agitado, olhando para
JÚLIO, este se vira imediatamente, a
governanta arregala os olhos.
AUGUSTO:
- Júlio, o que disseram é verdade? Você domou um cavalo durante o desfile?
GARDÊNIA:
(aos berros) O QUE?
JÚLIO levanta-se
e olha para o amigo.
JÚLIO:
- Augusto, eu fui ao desfile e observei o animal solto, estava prestes a
avançar sobre uma mulher – respira fundo
– essa mulher, eu não sei dizer... ELA É IDÊNTICA a Olívia!
AUGUSTO:
(Atônito) – Júlio, por favor, olhe seus
trajes, você não costuma sair pelas ruas de bermuda, e ainda por cima, colocando-se
em uma situação de risco, perigoso demais!
JÚLIO:
- Foi um ímpeto, mas não se preocupe, estou bem, porém, eu não explicar, tudo
naquela mulher é (INTERROMPIDO)
GARDÊNIA:
- Dr. Hans, o dia está quente, o senhor está bem cansado, talvez, isso tenha
confundido os seus pensamentos.
JÚLIO:
- O que está querendo dizer Gardênia? Que estou louco? Eu a via – ofegante – EU A VI!
Nesse
instante, JÚLIO sente uma forte dor
no tórax, despenca bruscamente no sofá, AUGUSTO
e GARDÊNIA imediatamente correm
socorrê-lo.
GARDÊNIA:
(encarando Júlio) – Fique com Hans!
GARDÊNIA corre
para a cozinha, AUGUSTO apoia suas
mãos nos ombros de JÚLIO e observa
desesperado a dificuldade de respirar do amigo.
Cena 04: Casarão de
Herculano. Quarto. Interior Tarde.
HERCULANO estava
abre uma caixa que continha vários relógios valiosos, e os joga na cama, enquanto
ISOLDA arrumava os ternos dele no guarda-roupas.
ISOLDA:
- Amor, você notou, o homem que me salvou, ficou nos olhando, parecia que nos
conhecia.
HERCULANO:
- Ele não te salvou, deixe de ser boba, só queria aparecer! E mais, afasta-se
do povo desse lugarzinho – experimentando
um relógio – parece ser todos doidos varridos, antes de entrarmos fui
indagado por outro estranho.
ISOLDA:
- Você sabe quem era?
HERCULANO:
- Não interessa, peço-te que fique dentro de casa, com seus afazeres, é uma
nova casa, mas os nossos costumes permanecem, logo estarei trabalhando
novamente!
ISOLDA:
- Herculano, sei que não gosta quando tocamos neste assunto, mas tinha necessidade
de comprar um casarão tão grande como este? Pensei que iríamos nos mudar para
algo mais modesto.
HERCULANO:
- Está triste? Não gostou?
ISOLDA:
- De forma algum meu amor, só não esperava que tínhamos capacidade para tanto!
Fico pensando agora, teremos que contratar vários empregados para manter esse
lugar.
HERCULANO
joga o relógio que estava segurando na cama e encara friamente ISOLDA, que estranha a atitude.
HERCULANO:
(grosseiro) - Essa casa é o nosso
lar, então, terá que cuidá-la, você manterá esta casa!
ISOLDA esboça
um sorriso tímido, se desvia do semblante do marido e volta a ajeitar o guarda-roupas,
enquanto, HERCULANO morde os lábios
e fecha as mãos.
Cena 05: Mansão de Hans.
Sala de Estar. Interior. Dia.
JÚLIO
tomava alguns goles de água, estava mais calmo, já conseguia respirar sem
dificuldades, todos os empregados da mansão estavam de prontidão, AUGUSTO, permanecia sentado ao lado
dele.
AUGUSTO:
- Você nos deu um susto Júlio, não precisa se estressar, certo? – apalmando o ombro do amigo – precisa
descansar um pouco.
JÚLIO:
- Agradeço a preocupação de todos, mas não estou cansado, precisava espairecer
a mente, fiquei um pouco emocionado com o que vi – desvia seu semblante à Gardênia, que se sente intimidada – não
estou confuso, eu sei muito bem o que vi!
GARDÊNIA:
- Dr. Hans, não queria ofendê-lo, só estou dizendo que o senhor aparenta estar afadigado,
por isso, disse aquilo, mas retiro tudo que falei, me desculpe.
JÚLIO:
(pensativo) - Não se preocupe, estou
começando a acreditar em vocês e aceitar que realmente esteja cansado.
SALAZAR
observa MARICOTA levantar a mão e
cochicha algo no ouvido dela, que mesmo assim permanece com a mão levantada, JÚLIO observa.
JÚLIO:
- Maricota, tem algo a dizer? Fique à vontade!
MARICOTA:
- Olha “Seu” Júlio, conheço um lugar que faz descarrego, posso indicar, você
quer?
JÚLIO e
AUGUSTO caem na gargalhada, enquanto
GARDÊNIA encara enfurecida a
empregada que faz caras e bocas para todos, SALAZAR não se aguenta, também esboça um riso farta.
GARDÊNIA:
(enfurecida) - Petulante, volte aos
seus afazeres e prepare o banho de sais que pedi, Dr. Hans precisa se refrescar!
JÚLIO:
(comedido) - Inclusive, Maricota – olhando para a empregada - preciso que
faça um favor, amanhã, vá até a banca de jornal e compre o diário de hoje,
preciso descobrir quem fez aquela manchete, sujando minha reputação!
Todos
ficam abismados, o clima tenso retoma o lugar.
AUGUSTO:
- Está me dizendo que fizeram uma manchete falando ao seu respeito?
JÚLIO:
- Não sei qual a intenção ou finalidade, mas descobrirei quem escreveu aquilo!
MARICOTA:
- Pode deixar “Seu” Júlio, vou a banca amanhã ao raiar do sol, ei de descobrir
quem fez essa marmota.
GARDÊNIA:
- Ande Maricota, faça o que lhe pedi!
MARICOTA se
retira da sala, no mesmo instante, SALAZAR
sinaliza a JÚLIO e também sai, GARDÊNIA fica em pé, ao lado da mesinha
de madeira que ficava no centro da sala.
AUGUSTO:
- Isso tem dedo de alguém que nunca gostou de você Júlio, sabemos quem é!
JÚLIO:
- Não vamos nos precipitar, amanhã peço que volte aqui, quero que tome
providências.
AUGUSTO
é tomado por um sentimento de revolta, enquanto JÚLIO termina de tomar água e entrega o copo a GARDÊNIA que se retira do local, o clima tenso parecia aumentar.
CENAS EXTERNAS
SONOPLASTIA: VOA BICHO – MILTON
NASCIMENTO
Imagens
mostram o alvorecer, flores de uma área rural é destacada ao som de Voa Bicho,
uma cachoeira de Vale das Rosas é apresentada, suas águas cristalinas são
transmitidas, após uma transição de cenas, aparece trechos das casas da cidade.
Cena 06: Casarão de
Herculano. Sala de refeição. Interior. Dia.
HERCULANO
estava sentado à mesa, tomando o café da manhã, ISOLDA servia um copo de leite.
HERCULANO:
- Preciso comprar alguns mantimentos, então, durante a tarde irei me ausentar,
procurarei um lugar próximo, com um bom preço e de confiança para tornarmos fregueses.
ISOLDA:
- Tudo bem meu amor – senta-se à mesa
– preciso de outra coisa também, ainda não instalaram a linha telefônica aqui,
então, precisarei fazer uma ligação à capital, informar meu pai que chegamos
bem, ele estava muito preocupado.
HERCULANO:
- Isolda, por favor, você e seu pai precisam se desvencilhar, um dos motivos de
sairmos da capital é finalmente vivermos a sós, como um verdadeiro casal, sua
família é muito intrometida!
ISOLDA:
- Amor, é coisa de pai, não se preocupe, acharei um lugar para fazer a ligação
– pausa – ou posso ver com algum vizinho?
HERCULANO:
- De maneira alguma, não pediremos nada aos vizinhos, procure um lugar próximo
e faça a ligação, mas volte para casa, preciso que limpe os quartos, estão bem
empoeirados.
ISOLDA:
- Claro, meu amor – se aproxima e o
beija, afasta-se – terminando a refeição, irei fazer a ligação.
ISOLDA toma
o café e observa apaixonada o marido.
Cena 07: Banca de Jornal.
Exterior. Dia.
´
MARICOTA estava
conversando com o jornaleiro na calçada, em frente a banca, ela já segurava em
suas mãos o diário completo do dia anterior.
MARICOTA:
- Nem te conto, quase que ele descansou pela eternidade, depois desses
mexericos do jornal, ei de ficar calada!
JORNALEIRO:
- Você calada? Conte outra!
MARICOTA:
- “Seu” Júlio está bem aperreado, até veio com uma história que viu o espírito
de Olívia no desfile ontem.
JORNALEIRO:
- Maricota, eu vi ele montando em um cavalo, pois acompanhava o desfile, mas
não vi a mulher que ele salvou.
MARICOTA:
- Ora, não sei, mas para mim, “seu” Júlio está lelé da cuca, falta um trisco
para ser internado – coloca a mão no
rosto – eu sei das coisas!
JORNALEIRO:
- Cala-te boca, Maricota, cala-te boca!
MARICOTA
entrega algumas gorjetas ao Jornaleiro e se despede, ela atravessa a rua e
caminha em direção a praça da Igreja Matriz, por um descuido ela deixa o jornal
cair, ela se ajoelha para pegar, mas uma mão delicada também pega a outra ponta
do jornal, MARICOTA levanta a cabeça
e olha para o rosto de ISOLDA, tem
um choque instantâneo.
MARICOTA:
(aos berros) – MISERICÓRDIA! Sai
daqui espírito obsessor!
MARICOTA,
puxa o jornal, se levanta rapidamente e corre em direção à Igreja, ISOLDA se levanta lentamente observando
de longe o desespero da mulher, sem entender a situação.
Cena 08: Biblioteca.
Interior. Dia.
ISOLDA
adentra a biblioteca, o local era um casarão do município, bem preservado, logo
na entrava havia uma moça.
ISOLDA:
- Olá, gostaria de saber se aqui há telefone? Preciso fazer uma ligação para a
capital!
ATENDENTE:
- Sim, pode entrar, no corredor, antes de chegar nas prateleiras, há um na
parede, não há custo!
ISOLDA:
- Há, que ótimo, agraciada!
ISOLDA, caminha pelo interior da biblioteca, havia alguns estudantes cochichando entre eles, sentados nas mesas. Ao passar o espaço, chega em um corredor, aproxima-se do telefone. Ela disca inúmeras vezes o código da casa do pai, mas ninguém recepciona a ligação.
ISOLDA: - Nossa, será que estão viajando?
ISOLDA
depois de várias tentativas desiste de ligar e se interessa em adentrar na sala
das prateleiras, com os livros, o local cheirava poeira e ao mesmo tempo
naftalina, era familiar e aconchegante.
CORTA PARA:
ABNER estava
apreciando algumas literaturas, passeando pelos corredores, até que observa a
seção de romances clássicos, tenta encontrar um dos seus prediletos, passa a
caminhar atentamente.
CORTA PARA:
ISOLDA
no corredor ao lado, observa que as prateleiras estavam mais vazias e tentar
ler pela capa com calma alguns títulos.
CORTA PARA:
ABNER
encontra o livro que tanto ama, “O RETRATO DE DORIAN GRAY”, a capa era
vermelha, ele puxa o livro e fica um vão na prateleira, onde é possível ver o
outro corredor, assim, desvia o olhar para o calhamaço e repara que estava bem
empoeirado e folhas soltas.
ABNER:
- Acredito que não lerei novamente, e além do mais está bem debilitado,
precisam dar mais atenção a esses livros.
ABNER,
decepcionado, decide colocar o livro de volta, no instante que ele olha para a
prateleira, pelo vão, é possível ver ISOLDA
observando-o, sorrindo, ele automaticamente solta o livro que se espatifa no
chão e espalha várias folhas, ABNER bambeia
e simula uma queda, mas segura na prateleira, ela por sua vez, fica apavorada
com a reação.
Encerramento