01/04/2025

O Cravo no Jardim de Rosas - Capítulo 02 (01/04/2025)

 



Criado e Escrito por LUCAS GARCIA

 

CAPÍTULO 02

 

Cena 01: Avenida. Exterior. Dia

 

ISOLDA fecha a porta do carro e se vira para a rua, logo percebe que um cavalo vinha afoito em sua direção, fica sem reação, tenta correr, todavia, o equino levanta as duas patas da frente, ISOLDA, instantaneamente se joga ao chão e cobre o rosto para não ser ferida. Repentinamente o cavalo é controlado, descendo suas patas ao chão, apenas relinchando.

 

Quando ISOLDA olha para cima, vê a silhueta de um homem, montado sobre o animal, a luz reluzente do sol impedia que visse com nitidez o rosto.

 

Encima do cavalo, JÚLIO estava extasiado, a mulher jogada ao chão, indefesa, trêmula, era a imagem e semelhança de OLÍVIA, seus olhos passam a lacrimejar, seus lábios secam, o nó na garganta impede que qualquer palavra fosse proferida. 

 

HERCULANO: (aos berros) – ISOLDAAA!

 

HERCULANO larga todas as malas ao chão e corre levantá-la, neste mesmo instante, JÚLIO, desce do cavalo e alguns sargentos correm domar o equino.

 

SARGENTO: Dr. Júlio? Que honra, agradecemos sua ajuda!

 

O sargento bate continente ao homem, que não tirava os olhos de ISOLDA que por sua vez, era acudida por HERCULANO.

 

ISOLDA (trêmula) – Estou bem, amor, - limpa o vestido – devemos agradecer ao homem que me salvou!

 

HERCULANO: (nervoso) - Não, vamos para o casarão, precisamos arrumar nossas coisas.

 

JÚLIO em poucos segundos é rodeado de pessoas que queriam saber se ele estava bem, mas ficara imóvel, olhando fixamente para ISOLDA, neste instante seus olhos se enchem de lágrimas novamente.

 

JÚLIO: (voz embargada) - Esperem, eu preciso falar algo com aquela mulher!

 

JÚLIO se desvia das pessoas, tenta se aproximar dela, todavia, HERCULANO pega as malas que estavam no chão, puxa ISOLDA pelo braço e saem apressados pela avenida, perdendo-se de vista entre as pessoas que estavam aglomerando o local, JÚLIO sente-se atordoado.

 

Cena 02: Casarão de Herculano. Exterior. Dia

 

HERCULANO e ISOLDA estavam em frente ao grande casarão, no centro da cidade, o local tinha características barrocas, com evidências de modificação neoclássicas, porém, a estrutura era charmosa, ISOLDA fica impressionada.

 

ISOLDA: - Meu amor, é encantador, tenho certeza que seremos muito felizes aqui!

 

HERCULANO esboça um sorriso tímido, pega a mulher pela nuca e a beija intensamente, logo, se afastam, ele abre o portão frontal, que ligava a uma escada até a porta da residência.

 

Neste instante, HERCULANO sobe a escadaria e abre a porta, ISOLDA entra, e vai caminhando pelo casarão. Ainda na porta, HERCULANO escuta um carro buzinar, ele tenta enxergar quem era, mas os vidros estavam erguidos. Então, desce a escada, aguarda no portão, e no lado de fora o vidro do veículo é abaixado, DONATO aparece.

 

DONATO: (Sorridente) – Seja bem-vindo, meu companheiro, soube que nossa vizinhança há novos moradores, conte conosco!

 

HERCULANO: (desconfiado) – Agradeço a gentileza, mas posso saber quem é você?

 

DONATO desliga o carro, sem o barulho do motor, o silêncio impera.

 

DONATO: - Meu companheiro, sou praticamente seu vizinho, moro algumas ruas daqui, sou também proprietário do CLUBE DOS CANARINHOS, um lugar que todo homem desta cidade já passou, é de lei neste local – gargalhadas – brincadeiras à parte, deixo um convite a Vossa Senhoria!

 

DONATO, tira um cartãozinho do paletó, sai do carro e entrega nas mãos de HERCULANO, que o encara ainda desconfiado.

 

HERCULANO: - Como sabes que mudamos para este lugar?

 

DONATO: - Meu companheiro, Vale das Rosas é um cubículo, todos se conhecem, sabem quem chegou e quem partiu, mas não fique temeroso, somos todos bons pagadores – gargalhadas – enfim, fique com o convite, lhe aguardo!

 

DONATO volta ao carro e sai em disparada, enquanto HERCULANO observa até o perder de vista, o homem mesmo desconfiado, olha para o cartão e o guarda em seu bolso, sobe a escadaria e fecha a porta do casarão.

 

Cena 03: Mansão Hans. Sala de Estar. Interior. Dia

 

JÚLIO abre a porta da mansão, entra lentamente, seus olhos brilhavam, seu semblante era diferente, GARDÊNIA estava ajustando alguns vasos de flores e o observa entrar lentamente, que se assenta no sofá.

 

GARDÊNIA: - Dr. Hans, como foi seu passeio?

JÚLIO: (Ofegante) - Não sei explicar – olhando para o teto, quase deitando-se – definitivamente, não sei explicar.

 

GARDÊNIA: - O senhor precisa de algo?

 

JÚLIO: (Ofegante) - Não preciso -  passa a mão no rosto – acredito que preciso de um banho.

 

GARDÊNIA: - Pedirei que preparem um banho de sais ao senhor!

 

GARDÊNIA revira-se para ir a outro cômodo da mansão, quando a porta se abre abruptamente, com uma força imoderada, causando um barulho estridente, era AUGUSTO, adentra, agitado, olhando para JÚLIO, este se vira imediatamente, a governanta arregala os olhos.

 

AUGUSTO: - Júlio, o que disseram é verdade? Você domou um cavalo durante o desfile?

 

GARDÊNIA: (aos berros) O QUE?

 

JÚLIO levanta-se e olha para o amigo.

 

JÚLIO: - Augusto, eu fui ao desfile e observei o animal solto, estava prestes a avançar sobre uma mulher – respira fundo – essa mulher, eu não sei dizer... ELA É IDÊNTICA a Olívia!

 

AUGUSTO: (Atônito) – Júlio, por favor, olhe seus trajes, você não costuma sair pelas ruas de bermuda, e ainda por cima, colocando-se em uma situação de risco, perigoso demais!

 

JÚLIO: - Foi um ímpeto, mas não se preocupe, estou bem, porém, eu não explicar, tudo naquela mulher é (INTERROMPIDO)

 

GARDÊNIA: - Dr. Hans, o dia está quente, o senhor está bem cansado, talvez, isso tenha confundido os seus pensamentos.

 

JÚLIO: - O que está querendo dizer Gardênia? Que estou louco? Eu a via – ofegante – EU A VI!

 

Nesse instante, JÚLIO sente uma forte dor no tórax, despenca bruscamente no sofá, AUGUSTO e GARDÊNIA imediatamente correm socorrê-lo.

 

GARDÊNIA: (encarando Júlio) – Fique com Hans!

 

GARDÊNIA corre para a cozinha, AUGUSTO apoia suas mãos nos ombros de JÚLIO e observa desesperado a dificuldade de respirar do amigo.   

 


 

Cena 04: Casarão de Herculano. Quarto. Interior Tarde.

 

HERCULANO estava abre uma caixa que continha vários relógios valiosos, e os joga na cama, enquanto ISOLDA arrumava os ternos dele no guarda-roupas.

 

ISOLDA: - Amor, você notou, o homem que me salvou, ficou nos olhando, parecia que nos conhecia.

 

HERCULANO: - Ele não te salvou, deixe de ser boba, só queria aparecer! E mais, afasta-se do povo desse lugarzinho – experimentando um relógio – parece ser todos doidos varridos, antes de entrarmos fui indagado por outro estranho.

 

ISOLDA: - Você sabe quem era?

 

HERCULANO: - Não interessa, peço-te que fique dentro de casa, com seus afazeres, é uma nova casa, mas os nossos costumes permanecem, logo estarei trabalhando novamente!

 

ISOLDA: - Herculano, sei que não gosta quando tocamos neste assunto, mas tinha necessidade de comprar um casarão tão grande como este? Pensei que iríamos nos mudar para algo mais modesto.

 

HERCULANO: - Está triste? Não gostou?

 

ISOLDA: - De forma algum meu amor, só não esperava que tínhamos capacidade para tanto! Fico pensando agora, teremos que contratar vários empregados para manter esse lugar.

 

HERCULANO joga o relógio que estava segurando na cama e encara friamente ISOLDA, que estranha a atitude.

 

HERCULANO: (grosseiro) - Essa casa é o nosso lar, então, terá que cuidá-la, você manterá esta casa!

 

ISOLDA esboça um sorriso tímido, se desvia do semblante do marido e volta a ajeitar o guarda-roupas, enquanto, HERCULANO morde os lábios e fecha as mãos.

 

Cena 05: Mansão de Hans. Sala de Estar. Interior. Dia.

 

JÚLIO tomava alguns goles de água, estava mais calmo, já conseguia respirar sem dificuldades, todos os empregados da mansão estavam de prontidão, AUGUSTO, permanecia sentado ao lado dele.

 

AUGUSTO: - Você nos deu um susto Júlio, não precisa se estressar, certo? – apalmando o ombro do amigo – precisa descansar um pouco.

 

JÚLIO: - Agradeço a preocupação de todos, mas não estou cansado, precisava espairecer a mente, fiquei um pouco emocionado com o que vi – desvia seu semblante à Gardênia, que se sente intimidada – não estou confuso, eu sei muito bem o que vi!

 

GARDÊNIA: - Dr. Hans, não queria ofendê-lo, só estou dizendo que o senhor aparenta estar afadigado, por isso, disse aquilo, mas retiro tudo que falei, me desculpe.

 

JÚLIO: (pensativo) - Não se preocupe, estou começando a acreditar em vocês e aceitar que realmente esteja cansado.

 

SALAZAR observa MARICOTA levantar a mão e cochicha algo no ouvido dela, que mesmo assim permanece com a mão levantada, JÚLIO observa.

 

JÚLIO: - Maricota, tem algo a dizer? Fique à vontade!

 

MARICOTA: - Olha “Seu” Júlio, conheço um lugar que faz descarrego, posso indicar, você quer?

 

JÚLIO e AUGUSTO caem na gargalhada, enquanto GARDÊNIA encara enfurecida a empregada que faz caras e bocas para todos, SALAZAR não se aguenta, também esboça um riso farta.

 

GARDÊNIA: (enfurecida) - Petulante, volte aos seus afazeres e prepare o banho de sais que pedi, Dr. Hans precisa se refrescar!

 

JÚLIO: (comedido) - Inclusive, Maricota – olhando para a empregada - preciso que faça um favor, amanhã, vá até a banca de jornal e compre o diário de hoje, preciso descobrir quem fez aquela manchete, sujando minha reputação!

 

Todos ficam abismados, o clima tenso retoma o lugar.

 

AUGUSTO: - Está me dizendo que fizeram uma manchete falando ao seu respeito?

 

JÚLIO: - Não sei qual a intenção ou finalidade, mas descobrirei quem escreveu aquilo!

 

MARICOTA: - Pode deixar “Seu” Júlio, vou a banca amanhã ao raiar do sol, ei de descobrir quem fez essa marmota.

 

GARDÊNIA: - Ande Maricota, faça o que lhe pedi!

 

MARICOTA se retira da sala, no mesmo instante, SALAZAR sinaliza a JÚLIO e também sai, GARDÊNIA fica em pé, ao lado da mesinha de madeira que ficava no centro da sala.


AUGUSTO: - Isso tem dedo de alguém que nunca gostou de você Júlio, sabemos quem é!

 

JÚLIO: - Não vamos nos precipitar, amanhã peço que volte aqui, quero que tome providências.  

 

AUGUSTO é tomado por um sentimento de revolta, enquanto JÚLIO termina de tomar água e entrega o copo a GARDÊNIA que se retira do local, o clima tenso parecia aumentar.

 

CENAS EXTERNAS

SONOPLASTIA: VOA BICHO – MILTON NASCIMENTO

 

Imagens mostram o alvorecer, flores de uma área rural é destacada ao som de Voa Bicho, uma cachoeira de Vale das Rosas é apresentada, suas águas cristalinas são transmitidas, após uma transição de cenas, aparece trechos das casas da cidade.

 

Cena 06: Casarão de Herculano. Sala de refeição. Interior. Dia.


HERCULANO estava sentado à mesa, tomando o café da manhã, ISOLDA servia um copo de leite.


HERCULANO: - Preciso comprar alguns mantimentos, então, durante a tarde irei me ausentar, procurarei um lugar próximo, com um bom preço e de confiança para tornarmos fregueses.  

 

ISOLDA: - Tudo bem meu amor – senta-se à mesa – preciso de outra coisa também, ainda não instalaram a linha telefônica aqui, então, precisarei fazer uma ligação à capital, informar meu pai que chegamos bem, ele estava muito preocupado.

 

HERCULANO: - Isolda, por favor, você e seu pai precisam se desvencilhar, um dos motivos de sairmos da capital é finalmente vivermos a sós, como um verdadeiro casal, sua família é muito intrometida!

 

ISOLDA: - Amor, é coisa de pai, não se preocupe, acharei um lugar para fazer a ligação – pausa – ou posso ver com algum vizinho?

 

HERCULANO: - De maneira alguma, não pediremos nada aos vizinhos, procure um lugar próximo e faça a ligação, mas volte para casa, preciso que limpe os quartos, estão bem empoeirados.

 

ISOLDA: - Claro, meu amor – se aproxima e o beija, afasta-se – terminando a refeição, irei fazer a ligação.

 

ISOLDA toma o café e observa apaixonada o marido.

 

Cena 07: Banca de Jornal. Exterior. Dia.

´

MARICOTA estava conversando com o jornaleiro na calçada, em frente a banca, ela já segurava em suas mãos o diário completo do dia anterior.


MARICOTA: - Nem te conto, quase que ele descansou pela eternidade, depois desses mexericos do jornal, ei de ficar calada!

 

JORNALEIRO: - Você calada? Conte outra!

 

MARICOTA: - “Seu” Júlio está bem aperreado, até veio com uma história que viu o espírito de Olívia no desfile ontem.

 

JORNALEIRO: - Maricota, eu vi ele montando em um cavalo, pois acompanhava o desfile, mas não vi a mulher que ele salvou.

 

MARICOTA: - Ora, não sei, mas para mim, “seu” Júlio está lelé da cuca, falta um trisco para ser internado – coloca a mão no rosto – eu sei das coisas!

 

JORNALEIRO: - Cala-te boca, Maricota, cala-te boca!

 

MARICOTA entrega algumas gorjetas ao Jornaleiro e se despede, ela atravessa a rua e caminha em direção a praça da Igreja Matriz, por um descuido ela deixa o jornal cair, ela se ajoelha para pegar, mas uma mão delicada também pega a outra ponta do jornal, MARICOTA levanta a cabeça e olha para o rosto de ISOLDA, tem um choque instantâneo.

 

        MARICOTA: (aos berros) – MISERICÓRDIA! Sai daqui espírito obsessor!

 

MARICOTA, puxa o jornal, se levanta rapidamente e corre em direção à Igreja, ISOLDA se levanta lentamente observando de longe o desespero da mulher, sem entender a situação.

 

Cena 08: Biblioteca. Interior. Dia.

 

ISOLDA adentra a biblioteca, o local era um casarão do município, bem preservado, logo na entrava havia uma moça.

 

        ISOLDA: - Olá, gostaria de saber se aqui há telefone? Preciso fazer uma ligação         para a capital!

 

        ATENDENTE: - Sim, pode entrar, no corredor, antes de chegar nas prateleiras,             há um na parede, não há custo!

 

        ISOLDA: - Há, que ótimo, agraciada!

 

ISOLDA, caminha pelo interior da biblioteca, havia alguns estudantes cochichando entre eles, sentados nas mesas. Ao passar o espaço, chega em um corredor, aproxima-se do telefone. Ela disca inúmeras vezes o código da casa do pai, mas ninguém recepciona a ligação.


                                    ISOLDA: - Nossa, será que estão viajando?

 

ISOLDA depois de várias tentativas desiste de ligar e se interessa em adentrar na sala das prateleiras, com os livros, o local cheirava poeira e ao mesmo tempo naftalina, era familiar e aconchegante.

 

CORTA PARA:

 

ABNER estava apreciando algumas literaturas, passeando pelos corredores, até que observa a seção de romances clássicos, tenta encontrar um dos seus prediletos, passa a caminhar atentamente.

 

CORTA PARA:

 

ISOLDA no corredor ao lado, observa que as prateleiras estavam mais vazias e tentar ler pela capa com calma alguns títulos.

 

CORTA PARA:

 

ABNER encontra o livro que tanto ama, “O RETRATO DE DORIAN GRAY”, a capa era vermelha, ele puxa o livro e fica um vão na prateleira, onde é possível ver o outro corredor, assim, desvia o olhar para o calhamaço e repara que estava bem empoeirado e folhas soltas.

 

       ABNER: - Acredito que não lerei novamente, e além do mais está bem debilitado,         precisam dar mais atenção a esses livros.

 

ABNER, decepcionado, decide colocar o livro de volta, no instante que ele olha para a prateleira, pelo vão, é possível ver ISOLDA observando-o, sorrindo, ele automaticamente solta o livro que se espatifa no chão e espalha várias folhas, ABNER bambeia e simula uma queda, mas segura na prateleira, ela por sua vez, fica apavorada com a reação.

 

Encerramento




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Alto Agito - Capítulo 07