05/04/2025

O Cravo no Jardim de Rosas - Capítulo 06 (05/04/2025)



 


Criado e Escrito por LUCAS GARCIA

 

CAPÍTULO 06

 

Cena 01: Mansão de Hans. Quarto de Gardênia. Interior. Dia.

 

GARDÊNIA, deixa uma lágrima cair sobre o álbum, rapidamente seca com a ponta dos dedos. De repente, a porta se abre, MARICOTA adentra de supetão.

 

MARICOTA: (gritando) – Bom dia Gardênia, posso preparar o café para “seu” Júlio?

 

GARDÊNIA, se assusta com a presença dela, e deixa cair uma foto no chão, MARICOTA rapidamente pega a foto e encara, fica boquiaberta.

 

MARICOTA: (chocada) – Calma aí, hei de saber quem é esse bebê – arregala os olhos – é o “seu” Júlio, pois nesta casa tem várias fotos dele bem bebezinho! E é você nesta foto segurando ele? Mas, desde quando você trabalha nesta casa?

 

GARDÊNIA fica pálida, o questionamento de MARICOTA a deixa sem respostas.

 

GARDÊNIA: (aflita) – Devolva-me este retrato – levantando-se da cama – é uma recordação de família!

 

MARICOTA: (acuada) – Não se afobe Dona Gardênia, hei de devolver – estendendo a mão – tome, pegue!

 

GARDÊNIA: (afita) – Petulante! – estendendo a mão e pegando a fotografia – agora saia do meu quarto e apresse com o café de Hans!

 

MARICOTA dispersava-se em direção a porta, quando num ímpeto, GARDÊNIA a chama, deixando-a surpreendida.

 

GARDÊNIA: (constrangida) – Fique, sente-se aqui – sentando novamente na cama e apalmando o local que a empregada deveria acomodar-se – como vossa pessoa vive de mexericos, penso que falando da minha própria boca, seria mais prudente!

 

MARICOTA: (irônica) – Como pensastes isso de minha pessoa? – sentando-se na cama – sou muito reservada!

 

GARDÊNIA: (constrangida) – Conte-me outra, deixe de lorota! Mas, vamos ao que interessa, respondendo sua indagação, trabalho nesta casa há mais de quarenta anos, desde a minha mocidade. Servi a família Hans com muita dedicação, os pais de Júlio foram praticamente meus pais, me ajudaram em tudo, antes de falecerem, prometi que cuidaria de Hans como se fosse meu filho, e farei isso até o fim da minha vida!

 

MARICOTA: (emocionada) – Que ternura Dona Gardênia, não imaginava que estava tanto tempo enfurnada nesta casa, estou aqui a quase 10 anos, parece que foi ontem que preparei o primeiro café da manhã!

 

GARDÊNIA: (irritada) – Enfurnada não! É prazer viver aqui, servir a Hans, e quanto a você, sua desmiolada, está aqui graças a minha misericórdia, pois pelas patacoadas que já aprontou, deveria estar no olho da rua!

 

MARICOTA: (aos berros) – Deus me livre! – batendo três vezes na escrivaninha que havia ao lado da cama – vire essa boca para lá!

 

GARDÊNIA: (rabugenta) – Agora que sabe, deixe-me em paz – arrumando o álbum e segurando próximo de seu corpo – pegue seu rumo, ande!

 

MARICOTA: (irônica) – Nossa, sua gentileza dura segundos! Nem a lua tem tantas fases!

 

MARICOTA levanta-se apressada do quarto de GARDÊNIA, que por sua vez, permanece pensativa, reabre o álbum e passa a apreciar as imagens.

 

Cena 02: Casarão de Herculano. Cozinha. Interior. Dia.

ISOLDA servia uma em uma xícara inglesa ao marido, ele aparentava estar muito mal-humorado.

 

ISOLDA: (preocupada) – Meu amor, acredito que esteja aflito com a estadia de Jocasta – colocando a xícara na mesa e sentando-se – também fui pega de surpresa, não estava ciente que viria.

 

HERCULANO: (irritado) – Isolda, sua família é uma amálgama na sua vida, tudo que diz respeito a você, eles implicitamente precisam estar incluídos – toma um gole de café – precisa se desvencilhar definitivamente deles, não quero ninguém em minha casa.

 

ISOLDA: (preocupada) – Amor, não seja rude, não podemos fechar nossos olhos para o passado, não se esqueça que antes de nos casarmos você também morou um tempo na casa de meu pai, não podemos... (INTERROMPIDA).

 

HERCULANO: (irritado) – O que não podemos? Isso está enterrado no passado, não sei o que está acontecendo com a sua família, quiçá esteja interessado em saber, no entanto, quero distantes da nossa vida, estamos entendidos?

 

ISOLDA: (voz embargada) – Herculano, eu... (INTERROMPIDA)

 

HERCULANO: (nervoso) – Estamos entendidos, Isolda?

 

HERCULANO, mal termina de tomar o café, se retira da mesa arrastando a cadeira, perfazendo um barulho estridente no local, ISOLDA fica assustada com o comportamento violento do marido.

 

Passados alguns minutos, enquanto ISOLDA lavava algumas xícaras, JOCASTA achega-se, estava faminta.

 

JOCASTA: (irritada) – Levantastes mais cedo e nada preparou a mim? O que andas fazendo pela manhã?

 

ISOLDA: (chateada) – Herculano comprou apenas algumas torradas, fiz o café, ele irá a quitanda mais tarde e fará uma boa compra.

 

JOCASTA: (irritada) – Moram num casarão tão grande, tão colonial como este e só há torradas? Honestamente Isolda, jogaste a única oportunidade da vida na lata do lixo – boceja – enfim, não posso falar muito, eu e o parvo de seu pai os apoiamos, então, resta aceitar.

 

JOCASTA senta-se à mesa, ISOLDA delicadamente serve o café em uma xícara e entrega a JOCASTA.

 

JOCASTA: (sarcástica) – Herculano, já arrumou algum trabalho? Depois que foram embora da capital, não sabemos como progrediram tão rápido, sem a ajuda de seu pai – gargalhadas – então, como compraram este casarão?

 

ISOLDA: (irritada) – Certamente tirou o dia para me importunar, Jocasta, não bastasse meu marido ficar irado comigo, tenho ainda que lhe prestar esclarecimentos?

 

JOCASTA: (sarcástica) – Fora apenas uma indagação, não forçastes a mente para me responder! basta apenas dizer o que fizeram.

 

ISOLDA: (irritada) – Herculano tinha algumas reservas, aliás, boas reservas, enfim, surgiu a oportunidade de comprar e ele adquiriu.

 

JOCASTA: (irônica) – Isolda, você sempre foi uma tapada, é tão fácil enganá-la – despeja o café propositalmente na mesa – se não for isso, talvez, esteja acobertando as falcatruas de seu marido, ficarei de olho, em ambos!

 

ISOLDA: (estressada) – Jocasta, o que fizeste?

 

JOCASTA levanta-se, ISOLDA corre e coloca um pano sobre a mesa, a fim de cessar o escorrimento do café, a madrasta encara-a.

 

JOCASTA: (intimidadora) – Seu marido pode até enganá-la, mas a mim, nem você e tampouco ele, conseguirão, nunca!

 

JOCASTA retira-se da cozinha, seus passos pesavam sobre o assoalho do casarão, era possível ouvi-la mesmo distante.

 

ISOLDA: (irritada) – Não sei o que será de mim, Jocasta nesta casa será um verdadeiro campo minado, meu marido não aguentará!

 

De repente a campainha toca, ISOLDA deixa a louça e corre atender.

 

Aproximando-se da porta, no olho mágico, ISOLDA percebe que há um carteiro aguardando-a no portão, ela abre, desce apressadamente a escadaria e recebe o envelope.

 

ISOLDA: (tímida) – Obrigada! Tenha um bom dia.

 

O carteiro pega sua bicicleta e se dispersa pela rua, enquanto a mulher, passa a revirar o envelope, tratava-se de um telegrama, ISOLDA tira o documento de dentro e insta a ler para si mesma.

 

ISOLDA: (lendo) – “Querida Isolda, venho por meio desta carta informa-la que estamos passando por um período turbulento aqui na capital, descobri a pouco tempo que a tecelagem estava falida, a justiça alienou os nossos bens, para que saldássemos nossas dívidas, foi tudo tão rápido, tão imprevisível, foi como um tiro certeiro no peito. Minha amada filha, peço-te que me dê morada, bem como a sua irmã, Berenice, por um tempo, nessa cidadela que acabaste de mudar-se, converse com seu marido, Herculano, sei que entenderá nossa situaçãopassa a lacrimejarirei recuperar tudo que perdemos, e reconquistarei Jocasta, não sei onde ela está, mas irei procurá-la e pedirei mil perdões, no mais, te amo minha filha, meu coração se aquece em escrever e ter a certeza que estenderá suas bondosas mãos ao nosso favor, um abraço de seu pai”.

 

ISOLDA dobra carinhosamente a carta, enxuga as lágrimas, ao desviar o olhar para a porta, estava JOCASTA olhando friamente para ela, do alto da escadaria a madrasta expressa:

 

JOCASTA: (intimidadora) – Se choras é porque dói, então, deve ser alguma carta de lamúria de seu pai – sorri maquiavelicamente – o parvo também veio pedir moradia? Falará ao seu maridinho?

 

ISOLDA: (voz embargada) – Jocasta, por favor, não quero discussões, deixe-me em paz!

 

ISOLDA sobe a escadaria, passa indiferente por JOCASTA e adentra o casarão, a madrasta fecha a porta com demasiada violência.

 

ISOLDA senta-se no sofá, abatida com aquilo que acabara de ler, JOCASTA, num tom inflamado, aproxima-se da enteada, coloca-se atrás do sofá, a fim de falar no ouvido dela.

 

JOCASTA: (intimidadora) – Herculano sabe que seu pai também virá?

 

HERCULANO: (irado) – Quem virá?

 

HERCULANO aproxima-se de ambas, ele estava com um olhar colérico, o semblante fumegante de raiva, as duas mulheres encaram-no, assustadas.

 

ISOLDA: (voz embargada) – Herculano, é meu pai, enviou um telegrama – levantando-se do sofá – ele pediu nossa ajuda.

 

HERCULANO: (aos berros) – Nossa ajuda? Não terá, assim como a Jocasta fará as malas dela, também não quero seu pai em nossa casa, isso aqui virou abrigo?

 

JOCASTA: (sarcástica) – Nossa casa também serviu de abrigo a vocês, quando ainda não tinham nada, mas parece que todo dinheiro que usurpou lhe fez virar a cabeça!

 

HERCULANO: (nervoso) – Como disse Jocasta? O que está insinuando?

 

JOCASTA: (sarcástica) – Não tenho nada a insinuar, apenas estou dizendo que sua cabeça está mudada, está se esquecendo de tudo que fizemos a você, parece-me um tanto ingrato de sua parte.

 

HERCULANO: (irado) – Cale sua boca, sua falsa puritana – limpando os lábios – estarei fora de casa durante o dia, porém, quando voltar, não quero ver sua fuça, está me ouvindo?

 

JOCASTA vira o rosto para outro lado, demonstrando estar ignorando o que HERCULANO falava, ele apressadamente se retira, deixando ISOLDA preocupada.

 

ISOLDA: (aflita) – Jocasta, pare que arrumar intrigas com meu marido, Herculano é um homem temperamental, fica estressado muito rapidamente, peço-te que não o provoque!

 

JOCASTA: (irônica) – E desde quando eu tenho medo das grosserias de seu marido, ele não passa de um graveto insignificante – gargalhadas – e isso eu vou provar, custe o que custar!

 

ISOLDA: (preocupada) – Não quero saber que tipo de loucura está passando por sua cabeça, mas peço que deixe Herculano em paz, senão ele lhe colocará para fora desta casa!

 

JOCASTA: (sarcástica) – Não irá mesmo!

 

JOCASTA, num movimento articulado, pega a carta das mãos de ISOLDA e passa a rasga-la inadvertidamente, deixando a enteada furiosa.

 

ISOLDA: (aos berros) – JOCASTA! Pare, devolva!

 

JOCASTA: (rindo) – Se essa carta é o motivo da discórdia entre você e seu marido, então, estou fazendo um favor!

 

JOCASTA joga os pedaços de papel ao chão, esfrega com os pés e se retira do local, deixando ISOLDA abismada.

 

 



Cena 03: Mansão de Hans. Suíte Mestre. Interior. Dia.

 

JÚLIO, estava em um sono profundo, algo lhe afligia profundamente, uma vez que se virava de um lado para o outro incessantemente, era mais um pesadelo.

 

CORTA PARA:

 

JÚLIO, estava com o peitoral exposto, seus ombros largos, sua força típica era evidente em sua musculatura, seu semblante valente era notório, ele estava montando em um cavalo, que corria pelas areias da praia. Alguns metros, vindo em sua direção, estava OLÍVIA, com um vestido lilás, esvoaçante, também montada sobre um cavalo, com um olhar de êxtase.

 

JÚLIO: (apaixonado) – Olívia, meu amor, vamos entrar na água!

 

Ambos se encontram, descem dos equinos, se abraçam, se beijam dilaceramento, estavam ferventes de paixão, JÚLIO se afasta, tira a calça, fica apenas de calção e corre em direção ao mar, enquanto, OLÍVIA fica na areia próxima aos cavalos, apenas admirando o companheiro.

 

JÚLIO: (gritando) – Vem meu amor, a água está uma delícia!

 

JÚLIO mergulha, as águas o cobre, ele parecia dominar muito bem a correnteza, a partir da visão dele, na areia, o homem observa uma pessoa, vestida com uma capa, que encobria o rosto, aproximar  pelas costas de OLÍVIA.

 

JÚLIO: (desesperado) – Olívia! CORRA

 

No mesmo instante, JÚLIO, é surpreendido com uma forte correnteza que tira sua concentração, submerso, ele tenta nadar contra a força da maré, por um lapso ele consegue se expelir e ver novamente OLÍVIA, que agora estava jogada na areia, com as mãos ensanguentadas, apoiando a barriga, de repente, uma nova correnteza atinge JÚLIO, o impacto é muito forte, novamente fica submerso, porém, perde a consciência e é levado pelas águas.

 

CORTA PARA:

 

JÚLIO: (desesperado) – NÃOOOOO!

 

JÚLIO se joga para frente, fica sentado na cama, seu corpo estava suado, seu rosto reflete a profunda agonia que vivenciara no terrível pesadelo. O homem se levanta, coloca sua calça e uma camiseta básica, sai apressadamente do quarto.

 

Cena 04: Mansão Hans. Sala de Estar. Interior. Manhã.

 

JÚLIO desce desesperadamente a escada, AUGUSTO que o esperava, fica espantado com o semblante de desolação que o amigo apresentava.

 

AUGUSTO: (assustado) – Hans, o que está acontecendo? Desta sala consegui ouvir seus gritos!

 

GARDÊNIA, rapidamente comparece na sala.

 

GARDÊNIA: - Senhor Hans, precisa de algo, ouvi seus passos apressados pela escada, achei que estava acontecendo alguma coisa.

 

JÚLIO: (ofegante) – Estou com o coração acelerado – limpando o suor do rosto – mas, foi um daqueles pesadelos.

 

GARDÊNIA: (preocupada) – Ligarei ao seu médico, não está normal, ultimamente tem tido muitos pesadelos, isso está afetando sua saúde!

 

AUGUSTO: É verdade Hans, você tem pesadelos quase todos os dias!

 

JÚLIO: (ofegante) – Daqui a pouco passa – sentando-se na poltrona – precisamos tratar de coisas sérias.

 

MARICOTA chega com um copo de água.

 

MARICOTA: - “Seu” Júlio, trouxe uma aguinha para você, todas as vezes que grita lá encima, eu sei que precisa de água.

 

GARDÊNIA: (ríspida) – Mas, que coisa! Deixe de ser inoportuna, sua petulante!

 

JÚLIO: (ofegante) – Obrigado, Maricota!

 

JÚLIO toma a água, entrega o copo à MARICOTA, fica mais relaxado, todos ficam em silêncio observando-o. Neste instante, JÚLIO passa a respirar pausadamente, seu semblante parecia voltar ao normal, ele começa a observar de um lado para o outro, e quando olha para a parede, não encontra o quadro de OLÍVIA, toma um susto.

 

JÚLIO: (assustado) – Oras, onde está o quadro de Olívia? O que fizeram com o quadro?

 

GARDÊNIA encara MARICOTA, a empregada por sua vez, faz cara de espanto, AUGUSTO fica atônito, o clima torna-se extremamente tenso.

 

 

Encerramento




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