Criado
e Escrito por LUCAS GARCIA
CAPÍTULO 06
Cena 01: Mansão de Hans. Quarto
de Gardênia. Interior. Dia.
GARDÊNIA,
deixa uma lágrima cair sobre o álbum, rapidamente seca com a ponta dos dedos.
De repente, a porta se abre, MARICOTA
adentra de supetão.
MARICOTA:
(gritando) – Bom dia Gardênia, posso
preparar o café para “seu” Júlio?
GARDÊNIA,
se assusta com a presença dela, e deixa cair uma foto no chão, MARICOTA rapidamente pega a foto e
encara, fica boquiaberta.
MARICOTA:
(chocada) – Calma aí, hei de saber
quem é esse bebê – arregala
os olhos – é o “seu” Júlio, pois nesta casa tem várias fotos dele
bem bebezinho! E é você nesta foto segurando ele? Mas, desde quando você
trabalha nesta casa?
GARDÊNIA
fica pálida, o questionamento de MARICOTA
a deixa sem respostas.
GARDÊNIA:
(aflita) – Devolva-me este retrato –
levantando-se da cama – é uma
recordação de família!
MARICOTA:
(acuada) – Não se afobe Dona
Gardênia, hei de devolver – estendendo a
mão – tome, pegue!
GARDÊNIA:
(afita) – Petulante! – estendendo a mão e pegando a fotografia
– agora saia do meu quarto e apresse com o café de Hans!
MARICOTA
dispersava-se em direção a porta, quando num ímpeto, GARDÊNIA a chama, deixando-a surpreendida.
GARDÊNIA:
(constrangida) – Fique, sente-se
aqui – sentando novamente na cama e
apalmando o local que a empregada deveria acomodar-se – como vossa pessoa
vive de mexericos, penso que falando da minha própria boca, seria mais
prudente!
MARICOTA:
(irônica) – Como pensastes isso de
minha pessoa? – sentando-se na cama
– sou muito reservada!
GARDÊNIA:
(constrangida) – Conte-me outra,
deixe de lorota! Mas, vamos ao que interessa, respondendo sua indagação,
trabalho nesta casa há mais de quarenta anos, desde a minha mocidade. Servi a
família Hans com muita dedicação, os pais de Júlio foram praticamente meus
pais, me ajudaram em tudo, antes de falecerem, prometi que cuidaria de Hans
como se fosse meu filho, e farei isso até o fim da minha vida!
MARICOTA:
(emocionada) – Que ternura Dona
Gardênia, não imaginava que estava tanto tempo enfurnada nesta casa, estou aqui
a quase 10 anos, parece que foi ontem que preparei o primeiro café da manhã!
GARDÊNIA:
(irritada) – Enfurnada não! É prazer
viver aqui, servir a Hans, e quanto a você, sua desmiolada, está aqui graças a
minha misericórdia, pois pelas patacoadas que já aprontou, deveria estar no
olho da rua!
MARICOTA:
(aos berros) – Deus me livre! – batendo três vezes na escrivaninha que
havia ao lado da cama – vire essa boca para lá!
GARDÊNIA:
(rabugenta) – Agora que sabe, deixe-me
em paz – arrumando o álbum e segurando
próximo de seu corpo – pegue seu rumo, ande!
MARICOTA:
(irônica) – Nossa, sua gentileza
dura segundos! Nem a lua tem tantas fases!
MARICOTA
levanta-se apressada do quarto de GARDÊNIA,
que por sua vez, permanece pensativa, reabre o álbum e passa a apreciar as
imagens.
Cena 02: Casarão de
Herculano. Cozinha. Interior. Dia.
ISOLDA servia uma em uma
xícara inglesa ao marido, ele aparentava estar muito mal-humorado.
ISOLDA:
(preocupada) – Meu amor, acredito
que esteja aflito com a estadia de Jocasta – colocando a xícara na mesa e sentando-se – também fui pega de
surpresa, não estava ciente que viria.
HERCULANO:
(irritado) – Isolda, sua família é
uma amálgama na sua vida, tudo que diz respeito a você, eles implicitamente
precisam estar incluídos – toma um gole
de café – precisa se desvencilhar definitivamente deles, não quero ninguém
em minha casa.
ISOLDA:
(preocupada) – Amor, não seja rude,
não podemos fechar nossos olhos para o passado, não se esqueça que antes de nos
casarmos você também morou um tempo na casa de meu pai, não podemos... (INTERROMPIDA).
HERCULANO:
(irritado) – O que não podemos? Isso
está enterrado no passado, não sei o que está acontecendo com a sua família,
quiçá esteja interessado em saber, no entanto, quero distantes da nossa vida,
estamos entendidos?
ISOLDA:
(voz embargada) – Herculano, eu... (INTERROMPIDA)
HERCULANO:
(nervoso) – Estamos entendidos,
Isolda?
HERCULANO,
mal termina de tomar o café, se retira da mesa arrastando a cadeira, perfazendo
um barulho estridente no local, ISOLDA
fica assustada com o comportamento violento do marido.
Passados
alguns minutos, enquanto ISOLDA
lavava algumas xícaras, JOCASTA
achega-se, estava faminta.
JOCASTA:
(irritada) – Levantastes mais cedo e
nada preparou a mim? O que andas fazendo pela manhã?
ISOLDA:
(chateada) – Herculano comprou
apenas algumas torradas, fiz o café, ele irá a quitanda mais tarde e fará uma
boa compra.
JOCASTA:
(irritada) – Moram num casarão tão
grande, tão colonial como este e só há torradas? Honestamente Isolda, jogaste a
única oportunidade da vida na lata do lixo – boceja – enfim, não posso falar muito, eu e o parvo de seu pai os
apoiamos, então, resta aceitar.
JOCASTA
senta-se à mesa, ISOLDA
delicadamente serve o café em uma xícara e entrega a JOCASTA.
JOCASTA:
(sarcástica) – Herculano, já arrumou
algum trabalho? Depois que foram embora da capital, não sabemos como
progrediram tão rápido, sem a ajuda de seu pai – gargalhadas – então, como compraram este casarão?
ISOLDA:
(irritada) – Certamente tirou o dia
para me importunar, Jocasta, não bastasse meu marido ficar irado comigo, tenho
ainda que lhe prestar esclarecimentos?
JOCASTA:
(sarcástica) – Fora apenas uma
indagação, não forçastes a mente para me responder! basta apenas dizer o que
fizeram.
ISOLDA:
(irritada) – Herculano tinha algumas
reservas, aliás, boas reservas, enfim, surgiu a oportunidade de comprar e ele
adquiriu.
JOCASTA:
(irônica) – Isolda, você sempre foi
uma tapada, é tão fácil enganá-la – despeja
o café propositalmente na mesa – se não for isso, talvez, esteja
acobertando as falcatruas de seu marido, ficarei de olho, em ambos!
ISOLDA:
(estressada) – Jocasta, o que
fizeste?
JOCASTA
levanta-se, ISOLDA corre e coloca um
pano sobre a mesa, a fim de cessar o escorrimento do café, a madrasta encara-a.
JOCASTA:
(intimidadora) – Seu marido pode até
enganá-la, mas a mim, nem você e tampouco ele, conseguirão, nunca!
JOCASTA
retira-se da cozinha, seus passos pesavam sobre o assoalho do casarão, era
possível ouvi-la mesmo distante.
ISOLDA:
(irritada) – Não sei o que será de
mim, Jocasta nesta casa será um verdadeiro campo minado, meu marido não
aguentará!
De
repente a campainha toca, ISOLDA
deixa a louça e corre atender.
Aproximando-se
da porta, no olho mágico, ISOLDA
percebe que há um carteiro aguardando-a no portão, ela abre, desce
apressadamente a escadaria e recebe o envelope.
ISOLDA:
(tímida) – Obrigada! Tenha um bom
dia.
O
carteiro pega sua bicicleta e se dispersa pela rua, enquanto a mulher, passa a
revirar o envelope, tratava-se de um telegrama, ISOLDA tira o documento de dentro e insta a ler para si mesma.
ISOLDA:
(lendo) – “Querida Isolda, venho por meio desta carta informa-la que estamos
passando por um período turbulento aqui na capital, descobri a pouco tempo que
a tecelagem estava falida, a justiça alienou os nossos bens, para que
saldássemos nossas dívidas, foi tudo tão rápido, tão imprevisível, foi como um
tiro certeiro no peito. Minha amada filha, peço-te que me dê morada, bem como a
sua irmã, Berenice, por um tempo, nessa cidadela que acabaste de mudar-se,
converse com seu marido, Herculano, sei que entenderá nossa situação – passa a lacrimejar – irei recuperar tudo que perdemos, e
reconquistarei Jocasta, não sei onde ela está, mas irei procurá-la e pedirei
mil perdões, no mais, te amo minha filha, meu coração se aquece em escrever e
ter a certeza que estenderá suas bondosas mãos ao nosso favor, um abraço de seu
pai”.
ISOLDA
dobra carinhosamente a carta, enxuga as lágrimas, ao desviar o olhar para a
porta, estava JOCASTA olhando
friamente para ela, do alto da escadaria a madrasta expressa:
JOCASTA:
(intimidadora) – Se choras é porque
dói, então, deve ser alguma carta de lamúria de seu pai – sorri maquiavelicamente – o parvo também veio pedir moradia? Falará
ao seu maridinho?
ISOLDA:
(voz embargada) – Jocasta, por
favor, não quero discussões, deixe-me em paz!
ISOLDA
sobe a escadaria, passa indiferente por JOCASTA
e adentra o casarão, a madrasta fecha a porta com demasiada violência.
ISOLDA
senta-se no sofá, abatida com aquilo que acabara de ler, JOCASTA, num tom inflamado, aproxima-se da enteada, coloca-se atrás
do sofá, a fim de falar no ouvido dela.
JOCASTA:
(intimidadora) – Herculano sabe que
seu pai também virá?
HERCULANO:
(irado) – Quem virá?
HERCULANO
aproxima-se de ambas, ele estava com um olhar colérico, o semblante fumegante
de raiva, as duas mulheres encaram-no, assustadas.
ISOLDA:
(voz embargada) – Herculano, é meu
pai, enviou um telegrama – levantando-se
do sofá – ele pediu nossa ajuda.
HERCULANO:
(aos berros) – Nossa ajuda? Não
terá, assim como a Jocasta fará as malas dela, também não quero seu pai em
nossa casa, isso aqui virou abrigo?
JOCASTA:
(sarcástica) – Nossa casa também
serviu de abrigo a vocês, quando ainda não tinham nada, mas parece que todo
dinheiro que usurpou lhe fez virar a cabeça!
HERCULANO:
(nervoso) – Como disse Jocasta? O
que está insinuando?
JOCASTA:
(sarcástica) – Não tenho nada a
insinuar, apenas estou dizendo que sua cabeça está mudada, está se esquecendo
de tudo que fizemos a você, parece-me um tanto ingrato de sua parte.
HERCULANO:
(irado) – Cale sua boca, sua falsa
puritana – limpando os lábios –
estarei fora de casa durante o dia, porém, quando voltar, não quero ver sua
fuça, está me ouvindo?
JOCASTA
vira o rosto para outro lado, demonstrando estar ignorando o que HERCULANO falava, ele apressadamente se
retira, deixando ISOLDA preocupada.
ISOLDA:
(aflita) – Jocasta, pare que arrumar
intrigas com meu marido, Herculano é um homem temperamental, fica estressado
muito rapidamente, peço-te que não o provoque!
JOCASTA:
(irônica) – E desde quando eu tenho
medo das grosserias de seu marido, ele não passa de um graveto insignificante –
gargalhadas – e isso eu vou provar,
custe o que custar!
ISOLDA:
(preocupada) – Não quero saber que tipo
de loucura está passando por sua cabeça, mas peço que deixe Herculano em paz,
senão ele lhe colocará para fora desta casa!
JOCASTA:
(sarcástica) – Não irá mesmo!
JOCASTA, num
movimento articulado, pega a carta das mãos de ISOLDA e passa a rasga-la inadvertidamente, deixando a enteada
furiosa.
ISOLDA:
(aos berros) – JOCASTA! Pare,
devolva!
JOCASTA:
(rindo) – Se essa carta é o motivo
da discórdia entre você e seu marido, então, estou fazendo um favor!
JOCASTA
joga os pedaços de papel ao chão, esfrega com os pés e se retira do local,
deixando ISOLDA abismada.
Cena 03: Mansão de Hans.
Suíte Mestre. Interior. Dia.
JÚLIO,
estava em um sono profundo, algo lhe afligia profundamente, uma vez que se
virava de um lado para o outro incessantemente, era mais um pesadelo.
CORTA PARA:
JÚLIO,
estava com o peitoral exposto, seus ombros largos, sua força típica era
evidente em sua musculatura, seu semblante valente era notório, ele estava
montando em um cavalo, que corria pelas areias da praia. Alguns metros, vindo
em sua direção, estava OLÍVIA, com
um vestido lilás, esvoaçante, também montada sobre um cavalo, com um olhar de
êxtase.
JÚLIO:
(apaixonado) – Olívia, meu amor,
vamos entrar na água!
Ambos
se encontram, descem dos equinos, se abraçam, se beijam dilaceramento, estavam
ferventes de paixão, JÚLIO se
afasta, tira a calça, fica apenas de calção e corre em direção ao mar, enquanto,
OLÍVIA fica na areia próxima aos
cavalos, apenas admirando o companheiro.
JÚLIO:
(gritando) – Vem meu amor, a água
está uma delícia!
JÚLIO
mergulha, as águas o cobre, ele parecia dominar muito bem a correnteza, a
partir da visão dele, na areia, o homem observa uma pessoa, vestida com uma
capa, que encobria o rosto, aproximar pelas costas de OLÍVIA.
JÚLIO:
(desesperado) – Olívia! CORRA
No
mesmo instante, JÚLIO, é
surpreendido com uma forte correnteza que tira sua concentração, submerso, ele
tenta nadar contra a força da maré, por um lapso ele consegue se expelir e ver
novamente OLÍVIA, que agora estava
jogada na areia, com as mãos ensanguentadas, apoiando a barriga, de repente,
uma nova correnteza atinge JÚLIO, o
impacto é muito forte, novamente fica submerso, porém, perde a consciência e é
levado pelas águas.
CORTA PARA:
JÚLIO: (desesperado) – NÃOOOOO!
JÚLIO
se joga para frente, fica sentado na cama, seu corpo estava suado, seu rosto
reflete a profunda agonia que vivenciara no terrível pesadelo. O homem se
levanta, coloca sua calça e uma camiseta básica, sai apressadamente do quarto.
Cena 04: Mansão Hans.
Sala de Estar. Interior. Manhã.
JÚLIO
desce desesperadamente a escada, AUGUSTO
que o esperava, fica espantado com o semblante de desolação que o amigo
apresentava.
AUGUSTO:
(assustado) – Hans, o que está
acontecendo? Desta sala consegui ouvir seus gritos!
GARDÊNIA,
rapidamente comparece na sala.
GARDÊNIA:
- Senhor Hans, precisa de algo, ouvi seus passos apressados pela escada, achei
que estava acontecendo alguma coisa.
JÚLIO:
(ofegante) – Estou com o coração
acelerado – limpando o suor do rosto
– mas, foi um daqueles pesadelos.
GARDÊNIA:
(preocupada) – Ligarei ao seu
médico, não está normal, ultimamente tem tido muitos pesadelos, isso está
afetando sua saúde!
AUGUSTO:
É verdade Hans, você tem pesadelos quase todos os dias!
JÚLIO:
(ofegante) – Daqui a pouco passa –
sentando-se na poltrona – precisamos tratar de coisas sérias.
MARICOTA
chega com um copo de água.
MARICOTA:
- “Seu” Júlio, trouxe uma aguinha para você, todas as vezes que grita lá
encima, eu sei que precisa de água.
GARDÊNIA:
(ríspida) – Mas, que coisa! Deixe de
ser inoportuna, sua petulante!
JÚLIO:
(ofegante) – Obrigado, Maricota!
JÚLIO
toma a água, entrega o copo à MARICOTA,
fica mais relaxado, todos ficam em silêncio observando-o. Neste instante, JÚLIO passa a respirar pausadamente,
seu semblante parecia voltar ao normal, ele começa a observar de um lado para o
outro, e quando olha para a parede, não encontra o quadro de OLÍVIA, toma um susto.
JÚLIO:
(assustado) – Oras, onde está o
quadro de Olívia? O que fizeram com o quadro?
GARDÊNIA
encara MARICOTA, a empregada por sua
vez, faz cara de espanto, AUGUSTO
fica atônito, o clima torna-se extremamente tenso.
Encerramento