Criado
e Escrito por LUCAS GARCIA
CAPÍTULO 10
Cena 01: Casarão
de Herculano. Sala de Estar. Interior. Noite.
ISOLDA
segura a cintura de HERCULANO na
tentativa de convencê-lo e fazer ouvi-la, mas o marido estava tomado pelo ódio,
todavia, ela insistia em segurá-lo, quando o homem em estado de nervos, desfere
uma bofetada na cara da mulher que se esparrama pelo chão, todos ficam
chocados.
MARCO PAULO:
(chocado) – Meu Deus, Herculano!
Está enlouquecido?
MARCO PAULO
corre acudir a filha, a levanta, ISOLDA
coloca a mão no rosto, em lágrimas se afasta de todos e sobe apressadamente a
escada.
HERCULANO:
(nervoso) – Isolda, me perdoe! – suspira – eu não sei... me perdoe!
MARCO PAULO:
(nervoso) – Perdoar? Seu canalha!
MARCO PAULO
avança em direção a HERCULANO, mas JOCASTA o segura firme, com um sorriso
maquiavélico.
JOCASTA:
(sarcástica) – Deixe, isso é coisa
de marido e mulher, e você não meteras a colher!
HERCULANO
encara MARCO PAULO, se desvia dele e
vai para outro cômodo, enquanto, BERENICE
sobe a escada aflita.
Cena
02: Casarão de Herculano. Suíte mestre. Interior. Noite.
ISOLDA
entra no quarto em lágrimas, encosta a porta e senta-se na cama, sentindo o
ardor no rosto, estava trêmula, mal conseguia enxergar devido o inchaço que
formara seu olho direito.
Passados
alguns segundos, BERENICE entra cuidadosamente no quarto, observa que a
irmã chorava silenciosamente, como um sussurro, ela se aproxima, senta-se na
cama e entrelaça seus braços pelas costas.
BERENICE:
(emotiva) – Isolda, não chores – limpando as lágrimas da irmã – o
que posso fazer para ajudá-la?
ISOLDA
levanta a cabeça e olha atentamente a irmã, que fica abismada com o inchaço no
olho, estava bem vermelho também.
BERENICE:
(chocada) – Meu Deus! Vou preparar uma tolha de gelo para você!
ISOLDA:
(sussurrando) – Não precisa... vai passar!
BERENICE:
(chocada) – Vosso marido já lhe agrediu outras vezes?
ISOLDA:
(sussurrando) – Não se preocupe, ele estava cansado, estressado, ele fez
sem querer – deitando-se na cama – você poderia me deixar sozinha, por
favor?
BERENICE
atende ao pedido da irmã, passa carinhosamente a mão em seu rosto, se levanta e
retira-se do quarto. ISOLDA olha para o teto, abatida, com dor, com um
sentimento de solidão, vazio.
HERCULANO,
repentinamente adentra o quarto, ISOLDA rapidamente se põe em pé,
olhando aflita o marido. Ele repara o inchaço no rosto dela, fica pálido, como
se um nó travasse sua garganta, caminha lentamente em direção a ela, passa a
lacrimejar.
HERCULANO:
(voz embargada) – Isolda, eu... não sabia o que estava fazendo – enxuga
as lágrimas – acabei perdendo o sentido, fiquei cego, eu... não sei o que
dizer... eu te amo! Nunca iria machucá-la, me perdoe... me perdoe!
HERCULANO
abraça ISOLDA, ela fica coagida e não retribui, se afasta.
ISOLDA:
(cabisbaixa) – Tudo bem, eu me excedi, meu marido – afastando dele
– coisas assim acontecem, não fique preocupado.
HERCULANO:
(voz embargada) – Calma, deite-se, vou cuidar de você – agarrando-a
– precisa descansar um pouco!
ISOLDA:
(cabisbaixa) – Não, quero me banhar, depois nos falamos.
ISOLDA
se desvia do marido, com a mão no rosto, caminha em direção ao banheiro, fecha
a porta, deixando HERCULANO arrasado.
Cena
03: Casarão de Herculano. Sala de Estar. Interior. Noite.
MARCO PAULO
e JOCASTA estavam sentados no sofá
colonial, afastados, um em cada ponta, BERENICE
desce a escada, senta na poltrona inglesa.
JOCASTA:
(sarcástica) – Você é muito mole
Marco Parvo – gargalhadas – deixou o
graveto insignificante tapear a pata-choca da sua filha!
MARCO PAULO:
(entristecido) – Jocasta,
comporte-se, estamos debaixo do teto deles, amanhã conversamos todos, como
pessoas adultas!
JOCASTA:
(irônica) – Debaixo do teto deles? –
passa a mão no sofá feito com pele de
animal silvestre – tudo que está nesta casa, é nosso!
MARCO PAULO:
(suspeito) – Jocasta, por qual
motivos dizes isso?
JOCASTA:
(irônica) – Parvo, pense um pouco,
será mesmo coincidência comprar um casarão, em uma cidade tão remota à capital,
no mesmo período em que você perde todos os bens? Sendo ele um dos seus braços
direitos na tecelagem? Marco, por favor, use o tico e o teco!
MARCO PAULO
olha para os arredores daquela sala aconchegante e encara JOCASTA.
MARCO PAULO: (suspeito)
– Não crie caraminholas, não invente coisas nessa sua cabeça perturbada, deixe
Herculano aproveitar aquilo que ele conquistou, és um homem muito competente,
para o trabalho.
JOCASTA: (nervosa)
– Faça-me o favor Marco, deixe de ser tapado, Herculano é um vigarista da
espécie mais barata!
MARCO PAULO: (irritado)
– Jocasta, me deixe, estou enfadonho com a viagem, estupefato com o que
aconteceu aqui, amanhã precisaremos conversar com calma, sobre tudo isso!
MARCO PAULO
se levanta, pega sua mala e sobe a escada.
JOCASTA:
(aos berros) – Mas, Herculano deixastes
dormir neste recinto? – gargalhadas
– sabes qual é o seu quarto? Pois, comigo nunca mais dormirás!
MARCO PAULO
continua a subir, ignorando completamente a esposa. BERENICE repara no olhar de sua mãe.
BERENICE:
(cabisbaixa) – Apesar de tudo que
aconteceu, gostaria de dizer que senti muito a sua falta mamãe!
JOCASTA:
(forçosa) – Querida, que bom que
estamos juntas novamente, mas foi necessário deixá-la com seu pai, talvez,
criasse um senso de responsabilidade!
BERENICE:
(cabisbaixa) – Eu entendo mamãe,
você sempre esteve dispensando seu tempo para me ajudar, não fico chateada que
tenha nos deixado na capital, o importante é que estamos juntas novamente!
JOCASTA:
(forçosa) – Minha amada, peço que
arrume seu véu, iremos à igreja amanhã, agradecer ao Senhor!
BERENICE:
(surpresa) – Véu? Desde quando vamos
à igreja de véu?
JOCASTA:
(irônica) – Estamos em uma nova
cidade, não conhecemos ninguém neste lugar, não podemos mostrar nosso rosto à
estranhos, principalmente você uma moça casta, virgem, ainda cheirando leite
materno, acabaste de entrar na puberdade!
BERENICE:
(surpresa) – Mamãe, não fale assim!
Estarei completando meus dezoito anos em poucas semanas, não entrei na
puberdade há pouco tempo, já serei uma mulher feita!
JOCASTA
se levanta do sofá, encara friamente a filha.
JOCASTA:
(irritada) – Não penses que criará
asas ao completar dezoito anos, continuará sendo uma mocinha recatada e do lar,
precisas casar com um cavalheiro de alta patente, para isso, precisa ser uma
lady!
BERENICE:
(surpresa) – Eu sei mamãe, não estou
querendo me furtar do meu compromisso com a igreja, com a família, quero ter
uma família e ser feliz, é o meu sonho!
JOCASTA:
(forçosa) – Sei que sonhas, pois, sonho
com isso todos os dias!
JOCASTA
se aproxima da filha, passa a mão de forma indelicada no rosto dela e sobe a
escada.
Após
alguns minutos, HERCULANO desce a
escada, BERENICE fica apreensiva, se
encolhe no sofá, o homem se aproxima e senta-se próximo a ela.
HERCULANO:
(voz embargada) – Isolda, está muito
abatida – encarando a moça – e vossa
pessoa, peço desculpas pela cena que presenciou, não penses que sou um homem
mal, amo sua irmã, convivemos muito bem – respira
fundo – é que essa situação com sua família tem me deixado preocupado, mas
saiba que gosto de sua presença em minha casa, fique o tempo que quiser. Quanto
ao seu pai e a sua mãe, amanhã conversaremos, pode escolher um dos quartos para
se acomodar, tenha um bom descanso!
HERCULANO
retira a gravata, arregaça as mangas da camisa e se retira do local, vai para a
cozinha, deixando BERENICE surpresa
com o desabafo.
Cena 04: Casarão de
Herculano. Cozinha. Interior.
HERCULANO estava com os
braços estendidos na pia, pensativo, olhando para o chão, de repente escuta
alguém respirar no mesmo ambiente, vira-se, era JOCASTA.
JOCASTA: (sarcástica)
– Fizeste muito bem em dar um corretivo em Isolda, ela se aproveita de sua
ausência para perambular pelas ruas dessa cidade, se ela não está com você, com
quem mais estaria?
HERCULANO: (irritado)
– Jocasta, saia de minha presença, estou com pouca, ou nenhuma paciência com
vossa pessoa!
JOCASTA: (sarcástica)
– Só estou comentando o que vejo de sua esposa, e estou de olhos bem abertos ao
seu respeito também!
HERCULANO pega o copo de
água que estava na pia, se retira apressadamente da cozinha, JOCASTA sorri ardilosamente, pega uma
maçã e come. Logo, MARCO PAULO
chega.
MARCO PAULO: Herculano está afoito, nem adianta
conversar com ele agora – olhando Jocasta
comer – estou com um buraco no estômago, preciso comer!
JOCASTA: (irritada)
– Não venhas, a parvo! Essa é a última maçã que há nesta casa e ela é minha!
MARCO PAULO: (surpreso)
– Como assim, não há estoque nesta casa?
JOCASTA: (irônica)
– Mas, desde quando Herculano tem condições de manter este lugar? Está mal-acostumado com a vida que tínhamos na
capital, isso aqui é um miserê!
MARCO PAULO: (surpreso)
– Nossa – olhando para a mesa vazia, o
armário com poucos mantimentos – o que Herculano tem feito?
JOCASTA: (irônica)
– Pareces que tem acordado, mesmo que aos poucos, se ligar os pontos, entenderá
o que estou dizendo.
JOCASTA passa por MARCO PAULO, morde a maçã próximo ao
ouvido dele, e se retira, deixando o marido profundamente pensativo.
CENAS EXTERNAS
Ao
som de “Além do arco-íris” de Luiza
Possi, um novo alvorecer é apresentado em Vale das Rosas, imagens mostram
ruas, pessoas caminhando, a praça principal, a igreja matriz, foco na porta da
igreja.
Cena 05: Igreja Matriz.
Interior. Manhã.
Uma
mulher loura, vestes bem provocativas, um batom gritantemente vermelho, um
decote chamativo, entra no templo, andando como se estivesse em uma passarela,
rebolando os quadris e olhando com certo deboche a outras mulheres que estavam
aglutinadas no local.
SULAMITA
aproxima-se do confessionário, senta na cadeira, tira um batom e passa
novamente, pega o espelhinho que tinha e encara, sentindo-se maravilhosa.
Do
outro lado do estande, estava LUÍS
MIGUEL, que logo declara:
LUÍS MIGUEL:
(voz firme) – (dentro do confessionário) – Bom dia, minha Senhora, que a paz do
nosso Senhor, esteja convosco, quais seriam suas confissões?
SULAMITA:
(rindo) – Padre, confesso que estou
nervoso, já faz muitos anos que não venho a igreja, e Deus me perdoe por isso –
fazendo o sinal na cruz no rosto –
quero dizer algo que tem me incomodado desde ontem!
LUÍS MIGUEL:
(dentro do confessionário) – Pois então
criatura, diga, só assim poderei ajudá-la!
SULAMITA:
(rindo) – Então, recebi uma
proposta, fiquei indecisa, mas aceitei, e acho que estou pecando.
A
feição de SULAMITA muda totalmente,
de sorridente, fica aflita.
SULAMITA:
(assustada) – Não sei se estou fazendo
certo, me pediu segredo, mas não sei se suportarei!
LUÍS MIGUEL:
(voz firme) – (dentro do confessionário) – Ande minha filha, conte, estou atento
ao que diz!
No
mesmo instante, PADRE ELVIS aparece
por de trás de SULAMITA,
desconfiado.
PADRE ELVIS:
(surpreso) – Minha filha, confessas
para quem?
SULAMITA
vira-se para trás, olha para o padre e fica atônita, LUÍS MIGUEL ao ouvir a voz do clérigo, sente seu coração disparar.
Cena 06: Sítio. Cozinha.
Interior. Manhã.
SEBASTIANA
estava coando o café para BALDINO e ABNER.
SEBASTIANA:
(alegre) – Meu menino, gosto tanto
quando dorme aqui, amanhece e come um bolinho, toma um café conosco
ABNER:
- É sempre um prazer minha mãe, este lugar me dá paz!
BALDINO:
- Queremos vê-lo mais aqui, andas muito pela cidade, se esqueceu do campo?
ABNER:
(rindo) – Não pai, não me esqueci!
ABNER
deixa seu semblante alegre de lado e BALDINO
percebe.
BALDINO:
O que está passando por essa cabeça, está acontecendo algo?
ABNER:
(entristecido) – Fiquei chateado
ontem, Hans me convidou para um banquete em sua casa – toma um gole de café – mas, fez isso por conta de Isolda, talvez,
queira conhecê-la!
SEBASTIANA
serve uma xícara de café para cada um.
SEBASTIANA:
(brava) – Aquele... olha, Deus me
perdoe, mas ele é um aproveitador!
ABNER:
(entristecido) – Tudo foi mera coincidência,
a Isolda na floricultura, a empregada da mansão chegando bem no momento, depois
esse convite, infelizmente Hans, não fez esse convite por consideração, mas por
interesse.
BALDINO:
(chateado) – Abner, sua mãe me disse
que conheceu essa moça, que inclusive se parece com nossa amada Olívia,
queremos conhecê-la – passando a mão na
nuca dele – mas, quanto ao convite, vá, fará bem, mesmo que seja por
interesse
SEBASTIANA:
(brava) – Não pise naquele lugar,
meu filho! Não escute o “véio” do seu pai, fique longe de Hans, não passa de um
aproveitador! E não fique triste!
ABNER
se levanta, beija a testa dos dois.
SEBASTIANA:
(preocupada) – Onde você vai?
ABNER:
(cabisbaixo) - Irei para a
biblioteca, tenho que organizar algumas prateleiras, depois vou à floricultura
terminar a encomenda que Hans fez como doação à igreja, preciso me apressar.
ABNER
se retira, ainda cabisbaixo.
SEBASTIANA:
(chateada) – Ele nem comeu meu
bolinho – bate as mãos na mesa –
aquele aproveitador, fica se alimentando do sofrimento de Abner para se
promover!
BALDINO:
Pare Sebastiana, Abner e Hans são amigos, tire isso de sua cabeça!
SEBASTIANA:
(brava) – Não posso deixar o Hans se
aproveitar do meu filho, ele não vai fazer o que fez com Olívia, mas não vai
mesmo!
SEBASTIANA
se retira da mesa, esbravejando, enquanto BALDINO
calmamente termina de tomar o café.
Cena 07: Casarão de
Herculano. Cozinha. Interior. Manhã
JOCASTA
dividia duas bananas em vários pedaços para MARCO PAULO e BERENICE,
logo, HERCULANO chega espreguiçando.
HERCULANO:
(surpreso) – O que vocês estão
fazendo?
JOCASTA:
- (sarcástica) – É o milagre da
multiplicação, já que nesta casa a situação está precária.
MARCO PAULO:
(sério) – Herculano, precisamos
conversar?
HERCULANO:
- Sim, iremos conversar, mas... – olha ao
redor da cozinha – onde está Isolda? Me levantei da cama, ela já não
estava, pensei que estivesse aqui!
BERENICE:
- Eu ouvi alguns passos pela casa, será que ela saiu?
HERCULANO
arregala os olhos, todos ficam surpresos.
Cena 08: Biblioteca.
Exterior. Manhã.
ABNER
vai chegando de bicicleta em frente a biblioteca, ele percebe que há uma mulher
conhecida de costas. Ele estaciona-a na guia, vai andando em direção a mulher,
logo reconhece que era ISOLDA.
ABNER:
(alegre) – Mas, que felicidade!
ABNER,
por instinto toca no ombro de ISOLDA,
ela se vira, quando o homem olha o rosto inchado e avermelhado a mulher, entra
em um estado de espanto.
ABNER:
(chocado) – Isolda, o que aconteceu
com você?
ISOLDA:
(lacrimejando) – Me desculpe procura-lo
tão cedo, podemos conversar?
ISOLDA
não contém as lágrimas, tapa o rosto por tamanha vergonha, ABNER aproxima-se e a abraça carinhosamente.


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