10/04/2025

O Cravo no Jardim de Rosas - Capítulo 10 (10/04/2025)

 


Criado e Escrito por LUCAS GARCIA

 

CAPÍTULO 10

 

Cena 01: Casarão de Herculano. Sala de Estar. Interior. Noite.

 

ISOLDA segura a cintura de HERCULANO na tentativa de convencê-lo e fazer ouvi-la, mas o marido estava tomado pelo ódio, todavia, ela insistia em segurá-lo, quando o homem em estado de nervos, desfere uma bofetada na cara da mulher que se esparrama pelo chão, todos ficam chocados.

 

MARCO PAULO: (chocado) – Meu Deus, Herculano! Está enlouquecido?

 

MARCO PAULO corre acudir a filha, a levanta, ISOLDA coloca a mão no rosto, em lágrimas se afasta de todos e sobe apressadamente a escada.

 

HERCULANO: (nervoso) – Isolda, me perdoe! – suspira – eu não sei... me perdoe!

 

MARCO PAULO: (nervoso) – Perdoar? Seu canalha!

 

MARCO PAULO avança em direção a HERCULANO, mas JOCASTA o segura firme, com um sorriso maquiavélico.

 

JOCASTA: (sarcástica) – Deixe, isso é coisa de marido e mulher, e você não meteras a colher!

 

HERCULANO encara MARCO PAULO, se desvia dele e vai para outro cômodo, enquanto, BERENICE sobe a escada aflita.  

 

Cena 02: Casarão de Herculano. Suíte mestre. Interior. Noite.

 

ISOLDA entra no quarto em lágrimas, encosta a porta e senta-se na cama, sentindo o ardor no rosto, estava trêmula, mal conseguia enxergar devido o inchaço que formara seu olho direito.

 

Passados alguns segundos, BERENICE entra cuidadosamente no quarto, observa que a irmã chorava silenciosamente, como um sussurro, ela se aproxima, senta-se na cama e entrelaça seus braços pelas costas.

 

BERENICE: (emotiva) – Isolda, não chores – limpando as lágrimas da irmã – o que posso fazer para ajudá-la?

 

ISOLDA levanta a cabeça e olha atentamente a irmã, que fica abismada com o inchaço no olho, estava bem vermelho também.

 

BERENICE: (chocada) – Meu Deus! Vou preparar uma tolha de gelo para você!

 

ISOLDA: (sussurrando) – Não precisa... vai passar!

 

BERENICE: (chocada) – Vosso marido já lhe agrediu outras vezes?

 

ISOLDA: (sussurrando) – Não se preocupe, ele estava cansado, estressado, ele fez sem querer – deitando-se na cama – você poderia me deixar sozinha, por favor?

 

BERENICE atende ao pedido da irmã, passa carinhosamente a mão em seu rosto, se levanta e retira-se do quarto. ISOLDA olha para o teto, abatida, com dor, com um sentimento de solidão, vazio.

 

HERCULANO, repentinamente adentra o quarto, ISOLDA rapidamente se põe em pé, olhando aflita o marido. Ele repara o inchaço no rosto dela, fica pálido, como se um nó travasse sua garganta, caminha lentamente em direção a ela, passa a lacrimejar.

 

HERCULANO: (voz embargada) – Isolda, eu... não sabia o que estava fazendo – enxuga as lágrimas – acabei perdendo o sentido, fiquei cego, eu... não sei o que dizer... eu te amo! Nunca iria machucá-la, me perdoe... me perdoe!

 

HERCULANO abraça ISOLDA, ela fica coagida e não retribui, se afasta.

 

ISOLDA: (cabisbaixa) – Tudo bem, eu me excedi, meu marido – afastando dele – coisas assim acontecem, não fique preocupado.

 

HERCULANO: (voz embargada) – Calma, deite-se, vou cuidar de você – agarrando-a – precisa descansar um pouco!

 

ISOLDA: (cabisbaixa) – Não, quero me banhar, depois nos falamos.

 

ISOLDA se desvia do marido, com a mão no rosto, caminha em direção ao banheiro, fecha a porta, deixando HERCULANO arrasado.

 

 

Cena 03: Casarão de Herculano. Sala de Estar. Interior. Noite.

 

MARCO PAULO e JOCASTA estavam sentados no sofá colonial, afastados, um em cada ponta, BERENICE desce a escada, senta na poltrona inglesa.

 

JOCASTA: (sarcástica) – Você é muito mole Marco Parvo – gargalhadas – deixou o graveto insignificante tapear a pata-choca da sua filha!

 

MARCO PAULO: (entristecido) – Jocasta, comporte-se, estamos debaixo do teto deles, amanhã conversamos todos, como pessoas adultas!

 

JOCASTA: (irônica) – Debaixo do teto deles? – passa a mão no sofá feito com pele de animal silvestre – tudo que está nesta casa, é nosso!

 

MARCO PAULO: (suspeito) – Jocasta, por qual motivos dizes isso?

 

JOCASTA: (irônica) – Parvo, pense um pouco, será mesmo coincidência comprar um casarão, em uma cidade tão remota à capital, no mesmo período em que você perde todos os bens? Sendo ele um dos seus braços direitos na tecelagem? Marco, por favor, use o tico e o teco!

 

MARCO PAULO olha para os arredores daquela sala aconchegante e encara JOCASTA.

 

MARCO PAULO: (suspeito) – Não crie caraminholas, não invente coisas nessa sua cabeça perturbada, deixe Herculano aproveitar aquilo que ele conquistou, és um homem muito competente, para o trabalho.

 

JOCASTA: (nervosa) – Faça-me o favor Marco, deixe de ser tapado, Herculano é um vigarista da espécie mais barata!

 

MARCO PAULO: (irritado) – Jocasta, me deixe, estou enfadonho com a viagem, estupefato com o que aconteceu aqui, amanhã precisaremos conversar com calma, sobre tudo isso!

 

MARCO PAULO se levanta, pega sua mala e sobe a escada.

 

JOCASTA: (aos berros) – Mas, Herculano deixastes dormir neste recinto? – gargalhadas – sabes qual é o seu quarto? Pois, comigo nunca mais dormirás!

 

MARCO PAULO continua a subir, ignorando completamente a esposa. BERENICE repara no olhar de sua mãe.

 

BERENICE: (cabisbaixa) – Apesar de tudo que aconteceu, gostaria de dizer que senti muito a sua falta mamãe!

 

JOCASTA: (forçosa) – Querida, que bom que estamos juntas novamente, mas foi necessário deixá-la com seu pai, talvez, criasse um senso de responsabilidade!

 

BERENICE: (cabisbaixa) – Eu entendo mamãe, você sempre esteve dispensando seu tempo para me ajudar, não fico chateada que tenha nos deixado na capital, o importante é que estamos juntas novamente!

 

JOCASTA: (forçosa) – Minha amada, peço que arrume seu véu, iremos à igreja amanhã, agradecer ao Senhor!

 

BERENICE: (surpresa) – Véu? Desde quando vamos à igreja de véu?

 

JOCASTA: (irônica) – Estamos em uma nova cidade, não conhecemos ninguém neste lugar, não podemos mostrar nosso rosto à estranhos, principalmente você uma moça casta, virgem, ainda cheirando leite materno, acabaste de entrar na puberdade!

 

BERENICE: (surpresa) – Mamãe, não fale assim! Estarei completando meus dezoito anos em poucas semanas, não entrei na puberdade há pouco tempo, já serei uma mulher feita!

 

JOCASTA se levanta do sofá, encara friamente a filha.

 

JOCASTA: (irritada) – Não penses que criará asas ao completar dezoito anos, continuará sendo uma mocinha recatada e do lar, precisas casar com um cavalheiro de alta patente, para isso, precisa ser uma lady!

 

BERENICE: (surpresa) – Eu sei mamãe, não estou querendo me furtar do meu compromisso com a igreja, com a família, quero ter uma família e ser feliz, é o meu sonho!

 

JOCASTA: (forçosa) – Sei que sonhas, pois, sonho com isso todos os dias!

 

JOCASTA se aproxima da filha, passa a mão de forma indelicada no rosto dela e sobe a escada.

 

Após alguns minutos, HERCULANO desce a escada, BERENICE fica apreensiva, se encolhe no sofá, o homem se aproxima e senta-se próximo a ela.

 

HERCULANO: (voz embargada) – Isolda, está muito abatida – encarando a moça – e vossa pessoa, peço desculpas pela cena que presenciou, não penses que sou um homem mal, amo sua irmã, convivemos muito bem – respira fundo – é que essa situação com sua família tem me deixado preocupado, mas saiba que gosto de sua presença em minha casa, fique o tempo que quiser. Quanto ao seu pai e a sua mãe, amanhã conversaremos, pode escolher um dos quartos para se acomodar, tenha um bom descanso!

 

HERCULANO retira a gravata, arregaça as mangas da camisa e se retira do local, vai para a cozinha, deixando BERENICE surpresa com o desabafo.

 

 

Cena 04: Casarão de Herculano. Cozinha. Interior.

 

HERCULANO estava com os braços estendidos na pia, pensativo, olhando para o chão, de repente escuta alguém respirar no mesmo ambiente, vira-se, era JOCASTA.

 

JOCASTA: (sarcástica) – Fizeste muito bem em dar um corretivo em Isolda, ela se aproveita de sua ausência para perambular pelas ruas dessa cidade, se ela não está com você, com quem mais estaria?

 

HERCULANO: (irritado) – Jocasta, saia de minha presença, estou com pouca, ou nenhuma paciência com vossa pessoa!

 

JOCASTA: (sarcástica) – Só estou comentando o que vejo de sua esposa, e estou de olhos bem abertos ao seu respeito também!

 

HERCULANO pega o copo de água que estava na pia, se retira apressadamente da cozinha, JOCASTA sorri ardilosamente, pega uma maçã e come. Logo, MARCO PAULO chega.

 

MARCO PAULO: Herculano está afoito, nem adianta conversar com ele agora – olhando Jocasta comer – estou com um buraco no estômago, preciso comer!

 

JOCASTA: (irritada) – Não venhas, a parvo! Essa é a última maçã que há nesta casa e ela é minha!

 

MARCO PAULO: (surpreso) – Como assim, não há estoque nesta casa?

 

JOCASTA: (irônica) – Mas, desde quando Herculano tem condições de manter este lugar?  Está mal-acostumado com a vida que tínhamos na capital, isso aqui é um miserê!

 

MARCO PAULO: (surpreso) – Nossa – olhando para a mesa vazia, o armário com poucos mantimentos – o que Herculano tem feito?

 

JOCASTA: (irônica) – Pareces que tem acordado, mesmo que aos poucos, se ligar os pontos, entenderá o que estou dizendo.

 

JOCASTA passa por MARCO PAULO, morde a maçã próximo ao ouvido dele, e se retira, deixando o marido profundamente pensativo.

 

 



CENAS EXTERNAS

 

Ao som de “Além do arco-íris” de Luiza Possi, um novo alvorecer é apresentado em Vale das Rosas, imagens mostram ruas, pessoas caminhando, a praça principal, a igreja matriz, foco na porta da igreja.

 

 

Cena 05: Igreja Matriz. Interior. Manhã.

 

 

Uma mulher loura, vestes bem provocativas, um batom gritantemente vermelho, um decote chamativo, entra no templo, andando como se estivesse em uma passarela, rebolando os quadris e olhando com certo deboche a outras mulheres que estavam aglutinadas no local.

 

SULAMITA aproxima-se do confessionário, senta na cadeira, tira um batom e passa novamente, pega o espelhinho que tinha e encara, sentindo-se maravilhosa.

 

Do outro lado do estande, estava LUÍS MIGUEL, que logo declara:

 

LUÍS MIGUEL: (voz firme) – (dentro do confessionário) – Bom dia, minha Senhora, que a paz do nosso Senhor, esteja convosco, quais seriam suas confissões?

 

SULAMITA: (rindo) – Padre, confesso que estou nervoso, já faz muitos anos que não venho a igreja, e Deus me perdoe por isso – fazendo o sinal na cruz no rosto – quero dizer algo que tem me incomodado desde ontem!

 

LUÍS MIGUEL: (dentro do confessionário) – Pois então criatura, diga, só assim poderei ajudá-la!

 

SULAMITA: (rindo) – Então, recebi uma proposta, fiquei indecisa, mas aceitei, e acho que estou pecando.

 

A feição de SULAMITA muda totalmente, de sorridente, fica aflita.

 

SULAMITA: (assustada) – Não sei se estou fazendo certo, me pediu segredo, mas não sei se suportarei!

 

LUÍS MIGUEL: (voz firme) – (dentro do confessionário) – Ande minha filha, conte, estou atento ao que diz!

 

No mesmo instante, PADRE ELVIS aparece por de trás de SULAMITA, desconfiado.

 

PADRE ELVIS: (surpreso) – Minha filha, confessas para quem?

 

SULAMITA vira-se para trás, olha para o padre e fica atônita, LUÍS MIGUEL ao ouvir a voz do clérigo, sente seu coração disparar.

 

Cena 06: Sítio. Cozinha. Interior. Manhã.

 

SEBASTIANA estava coando o café para BALDINO e ABNER.

 

SEBASTIANA: (alegre) – Meu menino, gosto tanto quando dorme aqui, amanhece e come um bolinho, toma um café conosco

 

ABNER: - É sempre um prazer minha mãe, este lugar me dá paz!

 

BALDINO: - Queremos vê-lo mais aqui, andas muito pela cidade, se esqueceu do campo?

 

ABNER: (rindo) – Não pai, não me esqueci!

 

ABNER deixa seu semblante alegre de lado e BALDINO percebe.

 

BALDINO: O que está passando por essa cabeça, está acontecendo algo?

 

ABNER: (entristecido) – Fiquei chateado ontem, Hans me convidou para um banquete em sua casa – toma um gole de café – mas, fez isso por conta de Isolda, talvez, queira conhecê-la!

 

SEBASTIANA serve uma xícara de café para cada um.

 

SEBASTIANA: (brava) – Aquele... olha, Deus me perdoe, mas ele é um aproveitador!

 

ABNER: (entristecido) – Tudo foi mera coincidência, a Isolda na floricultura, a empregada da mansão chegando bem no momento, depois esse convite, infelizmente Hans, não fez esse convite por consideração, mas por interesse.

 

BALDINO: (chateado) – Abner, sua mãe me disse que conheceu essa moça, que inclusive se parece com nossa amada Olívia, queremos conhecê-la – passando a mão na nuca dele – mas, quanto ao convite, vá, fará bem, mesmo que seja por interesse

 

SEBASTIANA: (brava) – Não pise naquele lugar, meu filho! Não escute o “véio” do seu pai, fique longe de Hans, não passa de um aproveitador! E não fique triste!

 

ABNER se levanta, beija a testa dos dois.

 

SEBASTIANA: (preocupada) – Onde você vai?

 

ABNER: (cabisbaixo) - Irei para a biblioteca, tenho que organizar algumas prateleiras, depois vou à floricultura terminar a encomenda que Hans fez como doação à igreja, preciso me apressar.

 

ABNER se retira, ainda cabisbaixo.

 

SEBASTIANA: (chateada) – Ele nem comeu meu bolinho – bate as mãos na mesa – aquele aproveitador, fica se alimentando do sofrimento de Abner para se promover!

 

BALDINO: Pare Sebastiana, Abner e Hans são amigos, tire isso de sua cabeça!

 

SEBASTIANA: (brava) – Não posso deixar o Hans se aproveitar do meu filho, ele não vai fazer o que fez com Olívia, mas não vai mesmo!

 

SEBASTIANA se retira da mesa, esbravejando, enquanto BALDINO calmamente termina de tomar o café.

 

Cena 07: Casarão de Herculano. Cozinha. Interior. Manhã

 

JOCASTA dividia duas bananas em vários pedaços para MARCO PAULO e BERENICE, logo, HERCULANO chega espreguiçando.

 

HERCULANO: (surpreso) – O que vocês estão fazendo?

 

JOCASTA: - (sarcástica) – É o milagre da multiplicação, já que nesta casa a situação está precária.

 

MARCO PAULO: (sério) – Herculano, precisamos conversar?

 

HERCULANO: - Sim, iremos conversar, mas... – olha ao redor da cozinha – onde está Isolda? Me levantei da cama, ela já não estava, pensei que estivesse aqui!

 

BERENICE: - Eu ouvi alguns passos pela casa, será que ela saiu?

 

HERCULANO arregala os olhos, todos ficam surpresos.

 

Cena 08: Biblioteca. Exterior. Manhã.

 

ABNER vai chegando de bicicleta em frente a biblioteca, ele percebe que há uma mulher conhecida de costas. Ele estaciona-a na guia, vai andando em direção a mulher, logo reconhece que era ISOLDA.

 

ABNER: (alegre) – Mas, que felicidade!

 

ABNER, por instinto toca no ombro de ISOLDA, ela se vira, quando o homem olha o rosto inchado e avermelhado a mulher, entra em um estado de espanto.

 

ABNER: (chocado) – Isolda, o que aconteceu com você?

 

ISOLDA: (lacrimejando) – Me desculpe procura-lo tão cedo, podemos conversar?

 

ISOLDA não contém as lágrimas, tapa o rosto por tamanha vergonha, ABNER aproxima-se e a abraça carinhosamente.

 

 

Encerramento



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