17/04/2025

O Cravo no Jardim de Rosas - Capítulo 16 (17/04/2025)




Criado e Escrito por LUCAS GARCIA

 

CAPÍTULO 16

 

Cena 01: Rua. Exterior. Noite.

 

 

SULAMITA encara aquela pessoa mascarada que adentra o veículo, estava ofegante, segurava sua bolsa com muita força, a pessoa misteriosa trava a porta.

 

SULAMITA: (assustada) – Quem é você? Foi você que me ligou? Mandou correspondências? Que se intitulava como “I”.

 

A pessoa misteriosa profere algumas gargalhadas, sua voz era abafada pela máscara de nylon, com um pontudo bico, referenciando perfeitamente a feição de um corvo, não era possível identificar se tratava de um homem ou uma mulher, a voz anasalada por conta do apetrecho impedia esse juízo.

 

SULAMITA: (assustada) – Por favor, me responda! Quem é você – tenta abrir o carro – me deixe sair!

 

A pessoa misteriosa, pega uma maleta no banco de trás, coloca em suas coxas, abre e mostra inúmeras notas em bloco de mil-réis, SULAMITA admira, se acalma.

 

O CORVO: - (voz anasalada) – A partir de agora, me chame de “O CORVO”, sou a pessoa que entrou em contato com você! E pegue, o dinheiro é seu – fecha a maleta e entrega a mulher – gostei de sua performance, fez muito bem!

 

O CORVO, aplaude SULAMITA, ela segura firme a maleta, ainda assustada.

 

SULAMITA: - Como sabes o que fiz? – respira fundo – e se eu dizer que não fiz?

 

O CORVO: (voz anasalada) – Não seja tola, eu estava naquela sala, eu sei de cada palavra que saiu de sua boca, JÚLIO e ABNER estão em minhas mãos, haverá muita desconfiança um para com o outro, e é exatamente isso que eu quero!

 

SULAMITA: (assustada) – Fiz isso por dinheiro, pois preciso muito, mas sei que serei perdoada por isso, e o rapaz, coitado, vi nos olhos dele que é inocente – estende a mão – por que disseste isso? Posso ver seu rosto?

 

O CORVO: (voz anasalada) – NÃO! Se um dia isso acontecer, certamente morrerás!

 

SULAMITA retrai, ofegante, O CORVO destrava as portas, mas antes dela sair, segura firme o braço da mulher.

 

O CORVO: - (voz anasalada) – Não ouses a pisar novamente em Vale das Rosas, suma, para sempre! Se um dia voltar, certamente se arrependerá!

 

O CORVO solta o braço de SULAMITA, que se retira do veículo em um movimento súbito e desesperado, ela abraça a maleta e corre pelas ruas, e desaparece em meio a escuridão.

 

O CORVO, liga o carro e sai vagarosamente pelas ruas, em um breu sinistro.

 

Cena 02: Mansão de Hans. Sala de Estar. Interior. Noite.

 

JÚLIO, cabisbaixo e ao mesmo tempo cansado, retira-se do escritório e caminha pela sala, nota-se que havia pouquíssimas pessoas, muitos convidados já tinham se despedido, PADRE ELVIS e os coroinhas se aproximam, também cansados.

 

PADRE ELVIS: Nobre Júlio Hans, agradeço imensamente por essa noite, sei que não ocorreu da forma que gostaríamos, mas o propósito maior conseguimos, que era a doação, outras pessoas durante a festa me procuraram para ajudar, e só isso é motivo de muita alegria.

 

JÚLIO: (cabisbaixo) – Obrigado Padre, foi uma honra poder ajudar, desculpe pela confusão!

 

JÚLIO beija a mão do Padre, que se retira acompanhado de outros rapazes, enquanto, LUÍS MIGUEL, aproxima-se do anfitrião.

 

LUÍS MIGUEL: - Senhor Hans, muito obrigado pelo banquete, seu gesto foi muito bonito, Deus lhe recompense!

 

JÚLIO assente com a cabeça e um sorriso envergonhado, desvia-se do rapaz, mas LUIS MIGUEL não deixa passar a oportunidade.

 

LUÍS MIGUEL: (preocupado) – Senhor Júlio, sua casa esta noite recebeu muitas energias negativas, espíritos invasores, sondam este lugar, tome cuidado! Cuide de vossa alma!

 

JÚLIO estava aquelas palavras com muita atenção, seu corpo arrepia-se, porém, ele não se vira para ver o rapaz, que se retira apressadamente da mansão.

 

CENA 03: Casarão de Herculano. Quarto de Berenice. Interior. Noite.

 

BERENICE, arrumava sua cama, estava se preparando para dormir, JOCASTA adentra de supetão.

 

JOCASTA: (incisiva) – Antes de ir dormir, gostaria de comunicar que trouxe seu véu!

 

BERENICE: (desentendida) - Véu?

 

JOCASTA: (incisiva) – Sim, um véu, amanhã iremos à igreja, será a missa da sexta-feira santa, não podemos ir com a cabeça descoberta, você é nova na cidade, e ainda virgem!

 

BERENICE: - Mas mamãe... há necessidade de tudo isso?

 

JOCASTA: - Sim, espero que vá preparada, e não se atrase, logo após o café da manhã, iremos!

 

JOCASTA joga o véu na cama e se retira, deixando BERENICE enfadonha.

 

CENA 04: Mansão de Hans. Sala de Estar. Interior. Noite.

 

JÚLIO se despedia dos músicos da orquestra, fecha a porta, MARICOTA vai em sua direção.

 

MARICOTA: - “Seu” Júlio, precisas de mim para mais alguma coisa?

 

JÚLIO: - Não, muito obrigado pelos auxílios, está dispensada para descansar – olhando para os lados – onde está Gardênia?

 

MARICOTA: - Olha, já faz quase uma hora que não a vejo, acredito que já foi se deitar.

 

JÚLIO: - Ótimo, deve estar exausta mesmo, pode ir, obrigado!

 

MARICOTA se retira, apressada, JÚLIO senta-se no tablado, olhando ao seu redor, com o chão de certa maneira sujo de panos, plásticos, grãos de empadas, copos, ele respira fundo, coloca mão na cabeça, decide subir ao seu quarto.

 

 



CENA 05: Mansão de Hans. Quarto de Gardênia. Interior. Noite.

 

GARDÊNIA, certifica-se que a porta está trancada, coloca as luvas de couro preto que estava nas mãos dentro de uma caixa, guarda dentro de seu armário, senta-se na cama, reflexiva.

 

GARDÊNIA: (nervosa) – Essa noite acabou com Hans, desmoralizou ele! Isso não pode se repetir, amanhã iremos conversar, descobrir quem era aquela mulher, esse assunto de novo da morte de Olívia, que inferno!

 

GARDÊNIA, tira os sapatos e deixa-se na cama, afunda a cabeça no travesseiro e fica reflexiva, olhando para o teto.

 

CENA 06: Casa de Donato. Sala de Estar. Interior. Noite.

 

DONATO, adentra a casa, deitada apenas de camisola, estava YOLANDA, ele tira os sapatos e deita-se atrás dela, a mulher desperta no mesmo instante.

 

YOLANDA: (espreguiçando) – Nossa que delícia... chegando assim, por que demorou tanto?

 

DONATO: (sarcástico) – Estava conversando com Hans, depois andei por aí, precisava espairecer, essa noite foi bem animada.

 

YOLANDA: - Se depender de mim, continuará sendo!

 

YOLANDA vira-se para DONATO, se beijam ardentemente, ao tirar o paletó, o homem deixa uma sacola cair de dentro, ela pega.

 

YOLANDA: - O que isso?

 

DONATO: - É uma capa, peguei no clube, amanhã é dia de integrar um novo membro, então, preciso ir uniformizado!

 

YOLANDA: - Hum, que delícia, amo quando esses eventos acontecem lá... posso participar?

 

DONATO: (rindo) – Não, naquela área nenhuma mulher entra... só homens.

 

DONATO agarra YOLANDA, que joga a sacola no chão, a capa preta que estava dentro, se estende pelo chão, foco nos dois se despindo e se relacionando.

 

Cena 07: Pensão. Quarto de Salazar. Interior. Noite.

 

NÚBIA estava na janela, entristecida, observava a chuva fina e silenciosa que caia, sua janela já estava embaçada, com a ponta dos dedos, faz um coração e, parte ao meio. Nesse instante, SALAZAR entra no quarto, tira o quepe, joga encima de uma cadeira.

 

SALAZAR: (exausto) – Núbia, cheguei querida – tirando a gravata – a noite foi intensa, lhe contarei a confusão que foi o banquete na casa do doutor Hans!

 

NÚBIA se vira ao marido, com os olhos marejados, cruza os braços.

 

NÚBIA: (entristecida) – Eu sei o que aconteceu lá, inclusive estava na casa, você não me viu?

 

SALAZAR: (fingido) – Sério querida? Não te enxerguei lá – aproximando-se dela – poderia me chamar.

 

SALAZAR tenta beijar a esposa, mas ela se afasta, ignorando o ato.

 

NÚBIA: (entristecida) – Passou algo pela minha cabeça... mas, só passou. Enfim, vou preparar um chazinho para dormirmos, amanhã nos falamos com calma.

 

NÚBIA se retira do quarto, deixando SALAZAR inquieto, o homem tira a chame do carro de JÚLIO do bolso.

 

SALAZAR: - Amanhã lavarei o carro, e entregarei brilhando para doutor Hans, ele não pode desconfiar que passeio com esse carro, não pode!

 

SALAZAR fica apenas de calção e se joga de bruços na cama, exausto.

 

CENA 08: Pensão. Quarto de Abner. Interior. Noite.

 

ABNER estava deitado sobre a cama, olhando para o teto, em lágrimas, apenas as luzes dos relâmpagos que emergiam da janela, iluminavam o quarto, o homem estava desolado.

 

ABNER: (voz embargada) – Não pode ser... novamente essas falsas acusações sobre mim, eu não sou um criminoso, eu jamais faria aquilo com minha irmã, eu vou provar minha inocência!

 

ABNER fecha os olhos e deixa as lágrimas escorrer suavemente sobre sua face.

 

CENA 09: Casarão de Herculano. Quarto de Herculano. Interior. Noite.

 

HERCULANO estava inquieto, virava-se de um lado para outro, ISOLDA ainda estava acordada, fingindo estar dormindo, homem se aproxima e passa a encostar constantemente nela, mas não corresponde.

 

HERCULANO: (sussurrando) – Isolda, acorda... estou te procurando, você está bem?

 

ISOLDA não responde e permanece deitada de lado, sem atender ao pedido do marido. HERCULANO vira-se para o outro lado, irritado.

 

CENA 10: Casa de Augusto. Sala de Estar. Interior. Noite.

 

CLARA estava inquieta, AUGUSTO aproxima-se, retira o chapéu, abraça-a.

 

AUGUSTO: - Meu bem, vamos dormir, amanhã você toma o medicamente, não precisa agora.

 

CLARA: - Augusto, eu quero, pelo menos um comprimido – aperta as mãos dele - as vozes na minha cabeça me perturbam, não consigo ir dormir, preciso dos remédios, me ajude, por favor!

 

AUGUSTO: - Meu bem, chega! Essa noite já fora agitada demais, você surtou na casa de Hans, precisamos estudar uma forma de mudar seus medicamentos, não quero você dependa deles, quero você bem, está me entendendo?

 

CLARA se afasta de AUGUSTO e senta no sofá, balançando as pernas.

 

CLARA: (aos berros) - Augusto, eu quero os comprimidos, se não me der, irei cometer uma loucura!

 

AUGUSTO encara a esposa, assustado, se afasta dela, pois o semblante dela mudara radicalmente.

                                                   

 

Encerramento



 

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