Criado
e Escrito por LUCAS GARCIA
CAPÍTULO 16
Cena
01: Rua. Exterior. Noite.
SULAMITA
encara aquela pessoa mascarada que adentra o veículo, estava ofegante, segurava
sua bolsa com muita força, a pessoa misteriosa trava a porta.
SULAMITA:
(assustada) – Quem é você? Foi você que me ligou? Mandou
correspondências? Que se intitulava como “I”.
A
pessoa misteriosa profere algumas gargalhadas, sua voz era abafada pela máscara
de nylon, com um pontudo bico, referenciando perfeitamente a feição de um
corvo, não era possível identificar se tratava de um homem ou uma mulher, a voz
anasalada por conta do apetrecho impedia esse juízo.
SULAMITA:
(assustada) – Por favor, me responda! Quem é você – tenta abrir o carro
– me deixe sair!
A
pessoa misteriosa, pega uma maleta no banco de trás, coloca em suas coxas, abre
e mostra inúmeras notas em bloco de mil-réis, SULAMITA admira, se
acalma.
O
CORVO: - (voz
anasalada) – A partir de agora, me chame de “O CORVO”, sou a pessoa que
entrou em contato com você! E pegue, o dinheiro é seu – fecha a maleta e
entrega a mulher – gostei de sua performance, fez muito bem!
O
CORVO, aplaude SULAMITA, ela segura firme a maleta,
ainda assustada.
SULAMITA:
- Como sabes o que fiz? – respira fundo – e se eu dizer que não fiz?
O
CORVO: (voz anasalada) – Não seja tola, eu estava
naquela sala, eu sei de cada palavra que saiu de sua boca, JÚLIO e ABNER estão
em minhas mãos, haverá muita desconfiança um para com o outro, e é exatamente
isso que eu quero!
SULAMITA:
(assustada) – Fiz isso por dinheiro, pois preciso muito, mas sei que
serei perdoada por isso, e o rapaz, coitado, vi nos olhos dele que é inocente –
estende a mão – por que disseste isso? Posso ver seu rosto?
O
CORVO: (voz anasalada) – NÃO! Se um dia isso
acontecer, certamente morrerás!
SULAMITA
retrai, ofegante, O CORVO destrava
as portas, mas antes dela sair, segura firme o braço da mulher.
O
CORVO: - (voz anasalada) – Não ouses a pisar
novamente em Vale das Rosas, suma, para sempre! Se um dia voltar, certamente se
arrependerá!
O
CORVO solta o braço de SULAMITA, que se retira do
veículo em um movimento súbito e desesperado, ela abraça a maleta e corre pelas
ruas, e desaparece em meio a escuridão.
O
CORVO, liga o carro e sai vagarosamente pelas ruas, em um
breu sinistro.
Cena 02: Mansão de Hans.
Sala de Estar. Interior. Noite.
JÚLIO,
cabisbaixo e ao mesmo tempo cansado, retira-se do escritório e caminha pela
sala, nota-se que havia pouquíssimas pessoas, muitos convidados já tinham se
despedido, PADRE ELVIS e os coroinhas se aproximam, também cansados.
PADRE
ELVIS: Nobre Júlio Hans, agradeço imensamente por essa
noite, sei que não ocorreu da forma que gostaríamos, mas o propósito maior
conseguimos, que era a doação, outras pessoas durante a festa me procuraram
para ajudar, e só isso é motivo de muita alegria.
JÚLIO:
(cabisbaixo) – Obrigado Padre, foi uma honra poder ajudar, desculpe pela
confusão!
JÚLIO
beija a mão do Padre, que se retira acompanhado de outros rapazes, enquanto, LUÍS
MIGUEL, aproxima-se do anfitrião.
LUÍS
MIGUEL: - Senhor Hans, muito obrigado pelo banquete, seu
gesto foi muito bonito, Deus lhe recompense!
JÚLIO
assente com a cabeça e um sorriso envergonhado, desvia-se do rapaz, mas LUIS MIGUEL não deixa passar a
oportunidade.
LUÍS
MIGUEL: (preocupado) – Senhor Júlio, sua casa esta
noite recebeu muitas energias negativas, espíritos invasores, sondam este
lugar, tome cuidado! Cuide de vossa alma!
JÚLIO
estava aquelas palavras com muita atenção, seu corpo arrepia-se, porém, ele não
se vira para ver o rapaz, que se retira apressadamente da mansão.
CENA
03: Casarão de Herculano. Quarto de Berenice. Interior. Noite.
BERENICE,
arrumava sua cama, estava se preparando para dormir, JOCASTA adentra de supetão.
JOCASTA:
(incisiva) – Antes de ir dormir,
gostaria de comunicar que trouxe seu véu!
BERENICE:
(desentendida) - Véu?
JOCASTA:
(incisiva) – Sim, um véu, amanhã
iremos à igreja, será a missa da sexta-feira santa, não podemos ir com a cabeça
descoberta, você é nova na cidade, e ainda virgem!
BERENICE:
- Mas mamãe... há necessidade de tudo isso?
JOCASTA:
- Sim, espero que vá preparada, e não se atrase, logo após o café da manhã,
iremos!
JOCASTA
joga o véu na cama e se retira, deixando BERENICE
enfadonha.
CENA 04: Mansão de Hans.
Sala de Estar. Interior. Noite.
JÚLIO
se despedia dos músicos da orquestra, fecha a porta, MARICOTA vai em sua direção.
MARICOTA:
- “Seu” Júlio, precisas de mim para mais alguma coisa?
JÚLIO:
- Não, muito obrigado pelos auxílios, está dispensada para descansar – olhando para os lados – onde está
Gardênia?
MARICOTA:
- Olha, já faz quase uma hora que não a vejo, acredito que já foi se deitar.
JÚLIO:
- Ótimo, deve estar exausta mesmo, pode ir, obrigado!
MARICOTA
se retira, apressada, JÚLIO senta-se
no tablado, olhando ao seu redor, com o chão de certa maneira sujo de panos,
plásticos, grãos de empadas, copos, ele respira fundo, coloca mão na cabeça,
decide subir ao seu quarto.
CENA 05: Mansão de Hans.
Quarto de Gardênia. Interior. Noite.
GARDÊNIA,
certifica-se que a porta está trancada, coloca as luvas de couro preto que
estava nas mãos dentro de uma caixa, guarda dentro de seu armário, senta-se na
cama, reflexiva.
GARDÊNIA:
(nervosa) – Essa noite acabou com
Hans, desmoralizou ele! Isso não pode se repetir, amanhã iremos conversar,
descobrir quem era aquela mulher, esse assunto de novo da morte de Olívia, que
inferno!
GARDÊNIA,
tira os sapatos e deixa-se na cama, afunda a cabeça no travesseiro e fica
reflexiva, olhando para o teto.
CENA 06: Casa de Donato.
Sala de Estar. Interior. Noite.
DONATO,
adentra a casa, deitada apenas de camisola, estava YOLANDA, ele tira os sapatos e deita-se atrás dela, a mulher
desperta no mesmo instante.
YOLANDA:
(espreguiçando) – Nossa que
delícia... chegando assim, por que demorou tanto?
DONATO:
(sarcástico) – Estava conversando
com Hans, depois andei por aí, precisava espairecer, essa noite foi bem
animada.
YOLANDA:
- Se depender de mim, continuará sendo!
YOLANDA vira-se
para DONATO, se beijam ardentemente,
ao tirar o paletó, o homem deixa uma sacola cair de dentro, ela pega.
YOLANDA:
- O que isso?
DONATO:
- É uma capa, peguei no clube, amanhã é dia de integrar um novo membro, então,
preciso ir uniformizado!
YOLANDA:
- Hum, que delícia, amo quando esses eventos acontecem lá... posso participar?
DONATO:
(rindo) – Não, naquela área nenhuma
mulher entra... só homens.
DONATO
agarra YOLANDA, que joga a sacola no
chão, a capa preta que estava dentro, se estende pelo chão, foco nos dois se
despindo e se relacionando.
Cena 07: Pensão. Quarto
de Salazar. Interior. Noite.
NÚBIA
estava na janela, entristecida, observava a chuva fina e silenciosa que caia,
sua janela já estava embaçada, com a ponta dos dedos, faz um coração e, parte
ao meio. Nesse instante, SALAZAR
entra no quarto, tira o quepe, joga encima de uma cadeira.
SALAZAR:
(exausto) – Núbia, cheguei querida –
tirando a gravata – a noite foi
intensa, lhe contarei a confusão que foi o banquete na casa do doutor Hans!
NÚBIA
se vira ao marido, com os olhos marejados, cruza os braços.
NÚBIA:
(entristecida) – Eu sei o que
aconteceu lá, inclusive estava na casa, você não me viu?
SALAZAR:
(fingido) – Sério querida? Não te
enxerguei lá – aproximando-se dela –
poderia me chamar.
SALAZAR tenta
beijar a esposa, mas ela se afasta, ignorando o ato.
NÚBIA:
(entristecida) – Passou algo pela
minha cabeça... mas, só passou. Enfim, vou preparar um chazinho para dormirmos,
amanhã nos falamos com calma.
NÚBIA
se retira do quarto, deixando SALAZAR
inquieto, o homem tira a chame do carro de JÚLIO
do bolso.
SALAZAR:
- Amanhã lavarei o carro, e entregarei brilhando para doutor Hans, ele não pode
desconfiar que passeio com esse carro, não pode!
SALAZAR
fica apenas de calção e se joga de bruços na cama, exausto.
CENA 08: Pensão. Quarto
de Abner. Interior. Noite.
ABNER
estava deitado sobre a cama, olhando para o teto, em lágrimas, apenas as luzes
dos relâmpagos que emergiam da janela, iluminavam o quarto, o homem estava
desolado.
ABNER:
(voz embargada) – Não pode ser...
novamente essas falsas acusações sobre mim, eu não sou um criminoso, eu jamais
faria aquilo com minha irmã, eu vou provar minha inocência!
ABNER
fecha os olhos e deixa as lágrimas escorrer suavemente sobre sua face.
CENA 09: Casarão de
Herculano. Quarto de Herculano. Interior. Noite.
HERCULANO
estava inquieto, virava-se de um lado para outro, ISOLDA ainda estava acordada, fingindo estar dormindo, homem se
aproxima e passa a encostar constantemente nela, mas não corresponde.
HERCULANO:
(sussurrando) – Isolda, acorda...
estou te procurando, você está bem?
ISOLDA
não responde e permanece deitada de lado, sem atender ao pedido do marido. HERCULANO vira-se para o outro lado,
irritado.
CENA 10: Casa de Augusto.
Sala de Estar. Interior. Noite.
CLARA
estava inquieta, AUGUSTO
aproxima-se, retira o chapéu, abraça-a.
AUGUSTO:
- Meu bem, vamos dormir, amanhã você toma o medicamente, não precisa agora.
CLARA:
- Augusto, eu quero, pelo menos um comprimido – aperta as mãos dele - as vozes na minha cabeça me perturbam, não
consigo ir dormir, preciso dos remédios, me ajude, por favor!
AUGUSTO:
- Meu bem, chega! Essa noite já fora agitada demais, você surtou na casa de
Hans, precisamos estudar uma forma de mudar seus medicamentos, não quero você
dependa deles, quero você bem, está me entendendo?
CLARA
se afasta de AUGUSTO e senta no
sofá, balançando as pernas.
CLARA:
(aos berros) - Augusto, eu quero os comprimidos,
se não me der, irei cometer uma loucura!
AUGUSTO
encara a esposa, assustado, se afasta dela, pois o semblante dela mudara
radicalmente.
Encerramento


Nenhum comentário:
Postar um comentário