Capítulo 04
CENA 01 - MANSÃO LA SELVA - INT/NOITE
A mansão está cheia de convidados. O clima é elegante, com garçons circulando e música ambiente. Irene, de taça na mão, se aproxima de Angelina que está arrumando as bandejas com drinks.
Irene(irritada, sussurrando) Onde está aquela imprestável da Aline? Um jantar de tamanha importância e ela some?
Angelina - Ela não veio, dona Irene. Disse que tinha sido dispensada do turno…
Irene - Dispensada por quem? Essa menina acha que tá trabalhando num boteco de beira de estrada?
Mais convidados chegam, junto deles entram Caio e Aline pela porta. Todos os olhares se voltam a eles. Graça fica estarrecida e Daniel congela.
Um burburinho se espalha pela sala enquanto Caio e Aline permanecem no centro, atraindo todos os olhares.
Irene fecha o rosto na hora e seu queixo treme. Com indignação, ela caminha até Graça e Daniel, que observam paralisados.
Irene - É isso mesmo que eu tô vendo? Aline… a empregada? Ele perdeu o juízo?
Graça - Nunca teve, pelo visto.
Daniel(se controlando) - Ele só tá fazendo isso pra provocar e chamar atenção, logo passa.
De repente, duas figuras desajeitadas surgem com copo na mão: Tadeu e Gladys, os pais de Graça. Eles falam alto sobre o assunto.
Gladys - Tadeu, meu querido. Quem é essa moça do lado do Caio? Cê conhece?
Tadeu - Como eu vou conhecer uma pessoa que eu nunca vi, Gladys? Tenha santa paciência.
Gladys - Ela não me é estranha… Ah, meu pai eterno. É aquela menina que trabalha aqui. Ela mal começou e já tá pegando o filho do dono. Que safada! Olha só a cara da Irene.
Caio segura a mão de Aline com firmeza e a leva até Antônio La Selva, que conversa com alguns empresários. Eles se calam quando os dois se aproximam.
Antônio olha pra ela com curiosidade. A tensão aumenta. Então ele abre um sorriso gentil e a cumprimenta.
Antônio - Aline. Quem diria que vocês iam se apaixonar, hein? Mas que bom que foi com uma moça bonita e boa como você.
Aline - Obrigada, seu Antônio.
Antônio - Chega disso, nada de senhor. Você vai ser minha nora, acho que não precisa dessas formalidades. Bem-vinda à família, Aline.
Caio e Aline se distanciam. Irene estranha e se aproxima de Antônio, tentando entender a situação.
Irene - O que aconteceu, Antônio? Estou te estranhando.
Antônio(sorrindo, sereno) - Depois eu te explico, Irene.
Ela dá um gole na taça e se afasta com tranquilidade.
(Quarto de Petra):
Petra está sentada em sua penteadeira, mexendo distraidamente em sua pulseira. Há algo inquieto em seu olhar.
Batem à porta suavemente. A voz doce e firme de Angelina rompe todo aquele silêncio.
Angelina - Petra, minha flor… Você tá pronta? O jantar já vai começar. O Luigi está te esperando. Também não param de perguntar por você.
Petra - Já vou, só preciso de um minuto.
Angelina - Tá tudo bem? Você está com uma carinha…
Petra - Eu tô bem, é só um… só um mal estar. Eu vou tomar um comprimido daquele.
Ela se levanta, trêmula, abre a gaveta discretamente e tira um frasco de comprimidos. Coloca um na boca e engole seco. O coração de Petra está acelerado e ela está suando frio.
Angelina(assustada) - Quer que eu fale com o Luigi? Digo que você está indisposta, qualquer coisa…
Petra - Não. Não posso fugir de tudo. Já tô acostumada a fingir que tá tudo bem.
Angelina - É a ansiedade?
Petra(cortando) - Com o remédio vai ficar tudo bem. Já podemos ir, Angelina.
Petra desce lentamente as escadas acompanhada de Angelina. Os olhos de Luigi são fixos nela. Ele caminha até o pé da escada, estende a mão pra ela com um sorriso enorme. Petra hesita, relutante, mas segura de leve.
Luigi - Você está linda. Eu sei que você não bebe, então trouxe um copo de suco pra você.
Ele entrega o copo de suco. Petra agradece com um sorriso tímido, mas seus olhos começam a procurar uma rota de fuga.
Luigi - Pessoal, pessoal! Um minuto da atenção de vocês, por favor!
Todos se voltam pra ele. Petra já arregala os olhos, o coração dispara. Luigi se ajoelha diante dela, tira uma caixinha do paletó. Um brilho de aliança salta aos olhos de todos.
Luigi - Petra La Selva… você aceita se casar comigo?
Petra paralisa. As mãos tremem. O copo de suco escorrega de suas mãos e cai no chão, se quebrando. Todos reagem com espanto.
Petra - Desculpa…
Petra corre escada acima, entra no seu quarto e fecha a porta com força. Ela se escora na porta, deslizando até o chão. Coloca as mãos na cabeça, a respiração está pesada, um choro começa a tomar conta dela. Ela tenta puxar o ar, mas a ansiedade sufoca.
Ela se encolhe, abraçada aos joelhos, enquanto do lado de fora batem na porta.
Angelina - Abre, minha filha. Eu tô com você aqui.
O silêncio toma conta do salão. Todos observam perplexos. Luigi permanece ajoelhado, em choque.
Ele se levanta devagar, o rosto pálido, tentando manter a compostura.
Irene - Que vergonha, meu Deus…
Gladys - Essa menina tá maluca, só pode.
Um burburinho toma conta de todo o salão.
Antônio tenta quebrar o clima ruim, chamando todos para jantar.
ABERTURA.
(Quarto de Daniel, momentos depois):
A luz está baixa. Daniel está sentado na poltrona, camisa aberta, olhar perdido no quarto uísque. Graça entra suavemente.
Graça - Você tá aí desde que a festa acabou… não quis nem descer para se despedir dos convidados.
Daniel - Eu não quis estragar o clima dos pombinhos.
Graça - Não precisa mais fingir, não que esteja fazendo muita questão, né? Sei que isso mexeu com você.
Daniel - Não fala o que você não sabe.
Graça - Mexeu sim, pelo contrário não estaria aqui sozinho no quarto se embebedando curtindo sua própria companhia depreciativa.
Daniel - Cala a boca, Graça. Você não sabe o que tá dizendo. Meu pai nem reclamou dele ter escolhido a Aline. Ele sempre preferiu o Caio, sempre!
Graça - Chega, Daniel. Não dá pra conversar com você assim. Amanhã eu venho aqui.
Daniel se levanta cambaleando.
Daniel - Espera, Graça. Meu amor, me desculpa por ter te mandado calar a boca, eu não quis…
Graça - Amanhã a gente conversa.
(Knockin’ On Heaven’s Door - Bob Dylan)
Corta para: O sol nascendo na fazenda; os animais se agitando; as plantações imensas.
CENA 02 - MANSÃO LA SELVA/ESCRITÓRIO - INT/MANHÃ
Antônio está sentado em frente à mesa, analisando documentos. Caio está na poltrona ao lado. Batidas leves na porta interrompem o silêncio.
Irene - Mandou me chamar, Antônio? Acabei de levantar, poderiam ter esperado eu tomar o meu café.
Antônio - Fecha a porta, Irene. Temos um assunto importante pra falar com você, acho melhor se sentar e prestar bastante atenção.
Irene(obedecendo) - O que tá acontecendo?
Antônio - Aquele assunto sobre a empregada, agora ex empregada, né? São as terras dela.
Caio - As terras são extremamente produtivas.
Irene(surpresa) - Mas aquilo é praticamente um matagal agora. Ela não planta nada.
Antônio - Exato. E é aí que entra. Aquelas terras pertenciam ao meu avô, que com um ato de caridade, deixou que a família dela ficasse lá.
Irene - Ele foi burro, né? Com todo respeito. Mas então vocês querem?
Antônio - As terras. O nome dela já está nos documentos. Vamos convencê-la, com jeitinho, a assinar um novo contrato. Um de cessão de posse. Ela nem vai perceber.
Irene - E o que esperam de mim?
Antônio - Que você seja simpática com ela. Fofa, gentil, quase uma mãe. Vai fazer ela ter total confiança na gente.
Irene - Eu não vou fazer isso! Só porque vocês querem um pedaço de terra a mais?
Antônio - Você sabe que, com as terras, vem mais dinheiro e mais produção. Meu amor, é só um favor, somente por uns dias até tudo ficar pronto. Arrancar aquelas terras das mãos dela vai ser mais fácil do que ela imagina.
A câmera percorre lentamente os rostos de Irene e Caio, que esboça um sorriso frio.
ENCERRAMENTO.

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