CENA 01 - FAZENDA DE CÂNDIDA - EXT/MANHÃ
Aline sai da casa vestida com roupas de trabalho, com botas e um pequeno chapéu para se proteger do sol que já brilha fortemente logo pela manhã. Ela avista Jonas ao longe, mexendo em uma plantação.
Aline respira fundo e se aproxima. Jonas percebe a presença dela, mas não levanta os olhos.
Jonas - Não precisa pisar tão devagar assim. A terra é firme.
Aline - Bom dia pra você também.
Ele encara ela.
Jonas - Bom dia.
Aline - Como a Cândida disse ontem, é você que vai me ensinar e mostrar como tudo funciona.
Jonas - Minha tia tem cada uma. O coração dela chega a derreter às vezes de tão mole.
Aline - Desculpa?! A ideia foi minha, eu pedi a ela que me ajudasse.
Jonas - Por isso mesmo. Escuta aqui, a gente nem te conhece, nem sabemos quais são as suas intenções, realmente.
Aline - Mas a sua tia me conhece muito bem. Desde quando eu era criança. E as minhas intenções já estão claras o suficiente para ela, até porque não lhe interessam. Agora, por gentileza, se puder me ajudar mostrando como as coisas acontecem, eu ficarei agradecida.
Jonas encara ela, os dois ficam se olhando por alguns segundos. Ele pega a enxada.
Jonas - Aqui é onde a gente planta os milhos. Tem que saber medir o espaço. Respeitar o tempo da terra. Quer tentar cavar um?
Aline aceita. Ela pega a enxada com firmeza e começa a cavar, um pouco desajeitada.
Jonas(corrige, se aproximando por trás) - Não é força. É jeito. Senão você se cansa antes do meio-dia.
Aline ajusta a posição, com um pouco de marra.
Ele a observa enquanto ela melhora o movimento. Jonas pega uma semente e entrega a ela.
Jonas - Toma, pode plantar. Mas toma cuidado, não pode enterrar demais.
Aline recebe a semente e a coloca na terra com cuidado. Os olhares se cruzam.
Aline - Tem muito tempo que você faz isso?
Jonas segura o olhar, depois desvia, desconcertado.
Jonas - Vamos trabalhar. As plantações não vão crescer com conversa fiada.
Ele sai com a enxada na mão e Aline sorri, logo depois vai atrás dele.
Algumas horas se passam, o sol já está no meio do céu.
Aline se senta na sombra de uma árvore, suada e cansada. Jonas se aproxima com um galão de água e um copo, e entrega a ela.
Aline - Obrigada.
Jonas - Pra quem não tá acostumado fazer esse serviço…
até que cê foi bastante dura na queda hoje. Mais tarde ainda tem mais. Bora comer. Saco vazio…
Aline - Não para em pé, eu sei. Vamos!
Jonas se levanta e estende a mão para ela. Aline segura a mão dele e se levanta também. Os olhos voltam a se cruzar por um segundo.
CENA 02 - MANSÃO LA SELVA - INT/TARDE
Uma funcionária chamada Dita entra com algumas correspondências em mãos.
Dita - Dona Irene, chegou isso aqui pra senhora.
Irene - Pode deixar aí em cima, Dita. Pode ir.
A funcionária sai. Irene se levanta, um pouco entediada, caminha até a mesinha e pega os envelopes. Folheia rapidamente. Um envelope pardo, sem remetente, chama a sua atenção. Ela franze a testa.
Ela abre o envelope devagar. Ao tirar o conteúdo, seus olhos arregalam. É uma fotografia antiga, amarelada.
Na imagem está Irene ainda jovem, sentada ao lado de Paulo, pai de Aline, em um bar da cidade. Os dois estão felizes, sorrindo. Ao fundo está Agatha, meio borrada, mas visível.
Irene solta um suspiro trêmulo, levando a mão à boca. O seu rosto se fecha com raiva.
Ela vira a foto e nela está escrito:
Irene(voz baixa) - 1989…
Ela olha em volta e rasga a foto com brutalidade. Nesse momento, Antônio entra pela lateral, vindo do jardim.
Antônio - Irene? Eu pensei em levar a Julinha hoje pra passear na… O que foi? Tá tudo bem?
Ela se vira rapidamente, pálida.
Irene - Foi só uma barata que entrou voando aqui, e eu me assustei, muito boba… Mas tá tudo bem sim. O que você tava dizendo, meu bem?
Antônio - Tem certeza que está bem?
Irene(estressada) - EU ESTOU BEM! Preciso fumar.
Antônio - Larga esse cigarro, Irene.
Ela anda pelo cômodo procurando sua caixa de cigarro, Antônio vai atrás.
Irene - Me deixa, Antônio. Eu preciso fumar!
Antônio - Tudo bem! Sabe, eu estive pensando, acho que tá na hora do Caio voltar. Ele me ajuda muito na cooperativa, é uma peça fundamental. Acho que eu vou ligar pra ele, tentar convencer ele.
Irene(seco) - NÃO! Deixa o Caio viver a vida dele, Antônio. Você não precisa dele agora, tem o Luigi.
Antônio - Luigi?
Irene - Meu bem… ele se casou com a nossa filha. Ele tem conhecimento sobre contabilidade. Você não demitiu um funcionário recentemente por causa de problemas justamente nessa área? Então… Já está na hora do Luigi ficar por dentro, acho que ele merece por ajudar a nossa filha.
Antônio - Eu vou pensar… Bom, deixa eu voltar pra cooperativa. Fica bem, viu.
Irene(tragando o cigarro) - Eu tô bem.
Eles se beijam e Antônio sai.
CENA 03 - FAZENDA DE CÂNDIDA - EXT/TARDE
Aline e Jonas caminham entre as fileiras de plantas.
Jonas - Até que cê tá pegando o jeito rapidinho.
Aline - Tá vendo! E você duvidou! Eu te disse que eu tinha jeito.
Jonas - Vamos com calma também. Olha a soberba!
Ela sorri.
(Sinônimos - Chitãozinho e Xororó)
Jonas se agacha e pega um punhado de terra para Aline, mostrando a textura pra ela. Ele dirige um trator. Aline entende mais sobre as plantas e de como cuidar de cada tipo. Eles andam a cavalo juntos.
O céu está alaranjado. Patrícia está apoiada na varanda da casa. Ela observa à distância Aline e Jonas, que estão rindo e conversando animadamente.
Seu olhar é duro.
Divina - O que cê tá fazendo aí, menina? Vem me ajudar com o jantar. Para de olhar eles assim, parece que vai fuzilar com o olhar.
Patrícia - Não sei como a dona Cândida permite uma coisa dessas. Ela é uma ex-presidiária, Divina. Deve estar se escondendo da polícia aqui na fazenda.
Divina - Não fala uma coisa dessas. Aline é uma menina boa. Não deve nada a ninguém.
Patrícia - Eu não confio. Ela matou uma pessoa.
Cândida surge de repente.
Cândida - Isso é mentira! Aline é inocente e sofreu uma injustiça. Eu não quero mais ver nenhum de vocês abrindo a boca pra falar um a que seja da Aline.
Patrícia - Me desculpa, dona Cândida.
Cândida - Que isso não se repita. Agora entrem, vamos. Vão deixar a Jussara fazer tudo sozinha? Ela é visita.
Cândida observa Aline e Jonas na plantação.
Alguns anos se passam. Aline vai aprimorando sua técnica com a plantação. Júlia cresce… Aline faz uma sociedade com Cândida e começa a crescer, tendo suas próprias plantações. Ela se torna a “Rainha da Soja” na região.
2025…
CENA 04 - EMPRESA DE ALINE - SALA DE REUNIÃO - INT/DIA
A câmera percorre uma sala de reunião ampla, moderna e luxuosa. Um longo painel de vidro exibe a vista panorâmica dos campos da nova sede agroindustrial. Acionistas, diretores e conselheiros estão sentados ao redor da mesa.
De costas, uma mulher vira lentamente sua cadeira executiva. É Aline, agora mais elegante. Seu cabelo tem um corte diferente, sua maquiagem está impecável, roupas chiques e elegantes. Ela tem um olhar firme, decidido, que domina a sala.
Aline - E é por isso que, a partir do próximo trimestre, a produção será triplicada. A soja sairá direto da cooperativa para a exportação. Eu quero controle absoluto de qualidade.
Ela joga uma pasta sobre a mesa.
Aline - Tudo está detalhado aqui. Agora, se me dão licença…
Ela se levanta. Os executivos se levantam também. Todos se cumprimentam e a reunião se encerra. Todos se retiram da sala.
(Those Eyes - New West)
Jonas entra, de terno e gravata, elegante.
Jonas - Essa reunião pareceu uma guerra. Ainda tem energia pra um almoço?
Aline - Oi, meu amor!
Eles se aproximam, e Jonas a puxa suavemente pela cintura. Eles se beijam com carinho.
Jonas - Então vamos. Tô morrendo de fome.
Aline - Espera, Jonas. Eu queria te dizer uma coisa. É que… tá chegando o dia do meu retorno. Você sabe… eu vou voltar.
Jonas - Não faz isso, Aline. A gente pode ficar aqui. Esquece isso.
Aline - Eu nunca vou me esquecer. Acho bom se acostumar com isso. Eu vou acabar com os La Selva.
ENCERRAMENTO.
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