ENTRE A CRUZ E A ESPADA - CAPÍTULO 2
CENA 01 - (CASA DE JORGE/INT./NOITE):
ADELAIDE: Isso foi a gota d'água. Eu vou embora! Acabou.
JORGE: Meu amor, me perdoa!
ADELAIDE: Eu vou dormir com meu filho!
Adelaide bate a porta do quarto, Jorge põe as mãos no rosto e se debruça na cama, em uma crise de choro. Adelaide pega o telefone sem fio e entra no quarto de Felipe, e deita ao dele. Com uma respiração acelerada ela liga pra sua irmã, Marion, que atende.
MARION: Alô?
ADELAIDE (segurando o choro): Marion...
MARION: Adelaide? Você ligando a essa hora? Aconteceu alguma coisa minha irmã?
ADELAIDE: Me ajuda! Eu não aguento mais!
MARION (voz assustada): O que tá acontecendo Adelaide? Você tá me deixando assustada.
ADELAIDE: Eu não posso mais ficar aqui, meu filho não pode passar por isso, eu não vou aguentar! O Jorge tá perdendo a noção da vida, de tudo.
MARION: Noção do que? Eu não tô entendendo nada!
ADELAIDE: Olha! Agora não vai dá pra falar, eu só preciso que você venha pro Rio, depois do Natal.
MARION: Não, eu vou pegar a estrada amanhã mesmo! Você não está bem.
ADELAIDE (fechando os olhos): Tá... Só não deixa de vim por favor.
CENA 02 - (MANSÃO DOS VENTURINI/INT./NOITE):
OTÁVIO: Fala Joyce, era o Ricardo? O que tá acontecendo?
JOYCE (assustada): Parece que a Mariana foi atropelada.
OTÁVIO: O que? A Mariana? Filha da Zélia?
JOYCE: É, pois é, eu não entendi bem o que ele falou, ele estava bem nervoso, parece que ela atravessou sem olhar e ônibus atingiu ela.
OTÁVIO (nervoso): Tá, e onde eles estão? Fala, Joyce!
JOYCE: Eu não sei direito, ele falou um Bar do Recanto lá pela Zona Oeste, perto da Avenida Brasil.
OTÁVIO: Eu vou lá agora!
JOYCE: Me espera aí, você vai assim, e a Zélia? Ela precisa saber!
OTÁVIO: Você acorda a Zélia e explica o que tá acontecendo, tenta acalmar ela.
Corta para:
Otávio chega no lugar do acidente. No local do acidente, há uma roda de gente vendo o corpo da menina coberto por um pano preto. Ricardo corre até o pai, chorando muito.
OTÁVIO: Como aconteceu meu filho?
RICARDO (explicando em desespero): Estavamos no bar, só que a gente brigou e ela saiu daqui rápido eu tentei ir atrás dela só que aí aconteceu isso.
OTÁVIO: E por vocês dois estavam aqui? A essa hora e sem ninguém saber?
RICARDO: A gente tava namorando, pai!
Ricardo abaixa a cabeça, se dando conta da real situação. Na mesma hora ele liga pra Joyce.
OTÁVIO (no celular): Joyce. A Zélia já tá sabendo?
OTÁVIO: Meu Deus... É... A garota infelizmente não resistiu... Olha tenta acalma a Zélia. E chama o Doutor Eduardo, porque ela não aguentar com essa notícia.
A cena mescla com a transição da noite pro dia passando, ao som de um instrumental melancólico.
CENA 03 - (CEMITÉRIO/EXT./DIA):
Em uma manhã cinzenta, o choro das poucas pessoas presentes tomam conta daquele lugar mórbido, um caixão branco é colocado sobre a cova, cercado por flores. Zélia está de luto, com os olhos inchados, Joyce observa de longe, em silêncio. Otávio permanece ao lado de Ricardo, sério, tentando manter a postura, mas visivelmente abalado.
PADRE (oficiando): E agora, entregamos ao solo sagrado o corpo da jovem Mariana, pedindo a Deus que a receba em paz...
Zélia desmaia e algumas pessoas a volta a acodem.
JOYCE (murmurando para si, com olhos marejados): Meu pai do céu, isso só pode ser um pesadelo.
Enquanto o caixão desce, a câmera se afasta lentamente, mostrando o grupo enlutado ao redor da cova, enquanto o instrumental triste continua.
CENA 04 – (CASA DE JORGE/EXT./DIA)
Na garagem da casa, Adelaide vai pondo suas malas no carro de Marion. Jorge vai andando sutilmente.
JORGE: Então acabou mesmo?
ADELAIDE: Pois é, não tem mais condições da gente permanecer juntos.
JORGE: Me perdoa, vai. Você sabe que eu tava bêbado e eu prometo que isso nunca mais vai acontecer!
ADELAIDE: Jorge, eu tô cansada dessas promessas, eu segurei até onde pude porque eu não queria que as coisas terminassem assim, mas você tá irreconhecível! Você se entregou totalmente a essa vida. Chega! Eu não aguento mais!
JORGE (virando para o lado, disfarçando uma frieza): Tudo bem então, se é assim que você quer.
MARION: Vamos, Adelaide?
ADELAIDE (pra Jorge): Eu volto pra pegar o Felipe depois do Réveillon. É o tempo que eu me ajeito, vejo como fica nossa separação.
Jorge não responde e á ignora. Adelaide entra no carro de sua irmã. Na medida que o o carro vai saindo, ela observa a casa, como se estivesse se despedindo de algo. Algumas horas depois, as duas irmãs estão na estrada, a caminho de São Paulo.
MARION: Você tá calada a viagem inteira, minha irmã.
ADELAIDE: É... Eu juro que fiz de tudo pra que as coisas não terminassem desse jeito. Mas o Jorge tava impossível. Ele não supera a demissão desse maldito shopping até hoje, e aquele tapa que ele me deu foi imperdoável.
MARION: Nossa eu nunca imaginei que o Jorge fosse capaz disso.
ADELAIDE: Muito menos eu, pra você ver como as pessoas mudam, no caso dele foi algo surreal.
MARION: Olha, eu não acho que tudo deveria acabar desse jeito, vocês dois tem um filho pequeno... Isso pode ser muito traumatizante pro Felipe-
ADELAIDE (interrompendo): Eu não quero falar sobre isso agora, Marion. Depois eu penso tudo com calma.
MARION: Desculpa! Você tem razão, eu não quero te preocupar com isso.
Um outro carro surge de repente, invadindo a contramão. Marion desvia, mas perde o controle, e o carro sai em direção á uma ribanceira.
Corte rápido para:
O carro das irmãs está virado de lado, fumaça saindo do capô. Marion, com um corte na testa, geme e tenta se mover. Adelaide está inconsciente, com a cabeça caída pro lado e com muito sangue.
MARION (chorando, em pânico): Adelaide?! ADELAIDE, ME RESPONDE! SOCORRO! SOCORRO!!!
A câmera se afasta lentamente, mostrando a cena devastador.
ABERTURA:
CENA 05 - (CASA DE JORGE/INT./NOITE)
A casa mergulhada na escuridão, e o silêncio absoluto é interrompido pelo toque do telefone do quarto, Jorge que a essa altura está dormindo, é acordado pelo barulho.
JORGE (com os olhos fechados de sono e uma voz embaraçada): Quem tá falando?
JORGE: É O QUE?
corta para:
Jorge andando pelos corredores do hospital. A câmera o acompanha de costas até que ele é abordado por um médico
MÉDICO (sério): O senhor é o Jorge Ferreira?
JORGE (tenso): Sou eu... E minha esposa? Como ela tá?
MÉDICO: Receio que não tenho boas notícias...
JORGE (em desespero): O que houve com a minha mulher, doutor? Ela tá viva?! Me diz que ela tá viva, pelo amor de Deus!
MÉDICO (baixo, com pesar): Bom Ela sofreu um traumatismo craniano e teve múltiplas hemorragias internas. E infelizmente, ela não resistiu.
JORGE (dando dois passos pra trás): Não... isso não... isso não pode tá acontecendo...
MÉDICO: Sinto muito. Ela faleceu há cerca de quarenta minutos. A irmã dela, Marion, teve ferimentos leves. Ela está em observação.
Jorge cai sentado numa das cadeiras do corredor, passa as mãos no rosto, totalmente transtornado.
JORGE (numa crise de choro):
Eu deixei ela ir embora... Eu deixei ela ir...
MÉDICO (chamando um enfermeira): Enfermeira, me ajuda aqui!
CENA 06 - (MANSÃO DOS VENTURINI/INT./NOITE):
A sala está silenciosa e mal iluminada. Joyce termina de guardar algumas coisas no armário da copa. Otávio entra, com expressão cansada e tensa.
JOYCE: Você falou com o médico da Zélia?
OTÁVIO (sentando-se): Falei... Ele passou um calmante forte. Disse que vai ser um processo longo. A mente dela ainda não processou direito o que aconteceu.
JOYCE (com voz sutil): É muita dor. A Zélia não merecia isso.
OTÁVIO: E o Ricardo?
JOYCE: Trancado no quarto. Não sai de lá desde cedo. Eu não acredito que ele e a Mariana estavam tendo um namoro e ninguém desconfiou de nada.
OTÁVIO (olhando fixo para a parede):
A gente tenta controlar tudo nessa vida. O que eles comem, com quem se envolvem, pra onde vão e no fim tudo escapa da nossa mão. Ele me disse que quer ir pra Oxford, parece que ele passou em um concurso e foi aprovado.
JOYCE (pensativa): Vai ser bom ele passar um tempo fora. Você não acha que seria melhor o Alex ir com ele?
OTÁVIO: O Alex? Mas ele é uma criança, vai fazer o que em Oxford que o Ricardo?
JOYCE: Ele terá uma educação melhor, e vai ser até bom pro Ricardo, ele é tão apegado ao irmão.
OTÁVIO: Tá, depois eu vejo isso, Joyce. Foi um dia desgastante pra todos nós, eu só por a cabeça no travesseiro. Você vai ficar aí?
JOYCE: Eu subo daqui a pouco, meu bem.
10 DIAS DEPOIS:
CENA 07 - (CASA DE JORGE/INT./TARDE):
Marion vai até a casa de Jorge, ele atende e encara com desprezo.
MARION: Preciso conversar com você.
JORGE: Eu não tenho nada pra falar com você.
MARION: É importante! Por favor, Jorge!
JORGE: Então fala logo.
MARION: A morte da minha irmã foi pesada pra todo mundo, e o Felipe tá muito abalado.
JORGE: Pois é né? Parabéns por tudo isso.
MARION (fechando os olhos): Para com isso, você nem sabe o que tá falando.
JORGE: Sim, Marion, fala logo, olhar pra você tá me dando raiva.
MARION: Me deixa cuidar do Felipe, você não tem condições de criar ele e eu posso dar uma vida melhor pra esse menino.
JORGE: Só seu eu fosse louco de deixar meu filho nas suas mãos, a mulher que matou a própria irmã. Você não passa de uma assassina, você matou a sua própria irmã!
MARION (nervosa com lágrimas descendo sobre o rosto): Eu não matei a Adelaide! Aquilo foi um acidente e você sabe disso!
JORGE: MATOU. Você é culpada pela morte dela e eu jamais você deixar meu filho sobre os cuidados da mulher que matou a própria irmã!
MARION: JORGE!
JORGE: Sai da minha casa! Eu não quero te ver na minha frente!
MARION: Você ainda vai ser arrepender de estar fazendo isso! E mais, quem deveria ter alguma culpa aqui, seria você!
Adelaide abre a porta e vai em direção ao carro bem transtornada, e Jorge vai atrás gritando.
JORGE (gritando): SAI DAQUI! VAI PRO INFERNO SUA MALDITA!
CENA 08 - (MANSÃO DOS VENTURINI/INT./TARDE)
OTÁVIO: Joyce?
JOYCE: Já chegou, Otávio?
OTÁVIO: É já, estranhei você não ter ido comigo para o aeroporto, afinal vamos ficar um bom tempo sem ver nossos dois filhos.
JOYCE: Você sabe que eu detesto despedidas. Acho um melodrama desnecessário.
OTÁVIO: Ah Joyce, vai entender o que se passa nessa sua cabeça.
JOYCE (sentada no sofá enquanto toma uma taça de gin): Sinto que muitas novidades estão por vim.
Claro! Aqui vai a continuação da CENA 08 com a virada de fase, marcando a passagem de 20 anos de forma fluida e cinematográfica:
CENA 08 - (MANSÃO DOS VENTURINI/INT./TARDE)
OTÁVIO: Joyce?
JOYCE: Já chegou, Otávio?
OTÁVIO: É já, estranhei você não ter ido comigo para o aeroporto, afinal vamos ficar um bom tempo sem ver nossos dois filhos.
JOYCE: Você sabe que eu detesto despedidas. Acho um melodrama desnecessário.
OTÁVIO: Ah Joyce, vai entender o que se passa nessa sua cabeça.
JOYCE (sentada no sofá enquanto toma uma taça de gin): Sinto que muitas novidades estão por vir.
CONGELAMENTO EM JOYCE.
A novela encerra seu primeiro capítulo ao som de "Que Pais é Esse" tema de abertura.
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