CENA 01: APARTAMENTO DE LUXO/INT./NOITE
LURDINHA: Pera aí… a porta tá aberta?
Elas entram com cautela e param, chocadas, ao ver Inácio e Ivani no sofá, seminus e se beijando intensamente.
CECÍLIA (em choque): Inácio?!
Ivani e Inácio se levantam imediatamente, assustados. A câmera intercala entre todos os personagens em cena.
INSTRUMENTAL: RELÓGIO - RODOLPHO REBUZZI, RENO DUARTE
CECÍLIA: Eu posso saber que patifaria é essa aqui? Quem é essa vagabunda?
IVANI: Vagabunda, não! Olha o respeito!
INÁCIO (desesperado): Meu amor… Não é nada disso que você tá pensando. Isso foi tudo uma armação dela! (apontando para Ivani)
CECÍLIA (se endurecendo): Cínico… seu cínico! Desgraçado!
Nesse momento, Cecília parte pra cima do noivo e começa a lhe encher de tapas, um seguido o do outro. Não satisfeita, com toda a sua força, ela arremessa Inácio contra o chão e ajoelha, lhe dando várias bofetadas. Lurdinha tenta intervir, mas é impedida por Ivani, que olha a cena com satisfação.
CECÍLIA (com lágrimas nos olhos e o rosto contorcido de ódio): Como eu pude? Como eu pude confiar em você esse tempo todo, seu verme? A minha mãe… a minha mãe acabou de falecer… e você aqui na cama com outra!
INÁCIO (se encosta no sofá, atordoado, olhando fixamente pra Cecília friamente): Quer saber? Eu nunca te amei!
Cecília, tomada pelo ódio, tenta partir pra cima de Inácio mas uma vez, mas é contida por Lurdinha.
INÁCIO (se levanta): Cecília… cê acha mesmo que eu tinha um pingo de sentimento por você? Logo você, uma mulher tão desinteressante, tão bobinha… e outra, eu jamais iria me casar com você! Eu fiz você cair num conto de fadas perfeito. Eu só tava te enrolando esse tempo todo.
CECÍLIA (tentando ataca-lo, mas sendo impedida por Lurdinha): DESGRAÇADO… VOCÊ ME USOU! EU TE ODEIO!!!
INÁCIO: Só me responde uma coisa. Como é que você chegou até aqui?
CECÍLIA: Não te interessa! Você não merece nenhuma explicação!
LURDINHA: Ela recebeu uma carta anônima. No bilhete alguém dizia sobre a mãe da Cecília, com endereço e tudo… Cecília resolveu vir achando que iria encontrar alguma pista sobre o pai.
INÁCIO (olhando pra Ivani, indignado): Não é possível… como você teve coragem?
IVANI: Eu fiz isso tudo, sim. Fiz e não me arrependo! Eu tava cansada de você, Inácio. Tava cansada das suas promessas infundadas e sem sentido. Você, Cecília, apesar de não te conhecer, eu não tava aguentando mais ver o que Inácio fazia com você.
CECÍLIA: Não me vem com esse papinho agora!
IVANI: É de coração o que eu tô te dizendo. Pode parecer que não, mas eu também tenho sentimentos. Se ele tem uma amante, provavelmente deve ter mais duas, três… Esse canalha não vale nada!
INÁCIO: Olha quem fala!
CECÍLIA: Quanto tempo, hein? Quanto tempo faz que vocês estão juntos?
IVANI: Bem antes do Inácio conhecer você.
CECÍLIA (tirando o anel do dedo): Acabou tudo, Inácio! Eu não quero nunca mais olhar pra essa sua cara.
Arrasada, ela coloca o anel de noivado sobre a mesa de centro e lança o último olhar para Inácio, uma mistura de ódio e decepção. Ela e Lurdinha se retiram do apartamento e, imediatamente, Inácio pega Ivani pelos braços e segura com força.
INÁCIO: O que foi isso aqui? Por qual motivo você fez isso, sua desgraçada?
IVANI (provocando): Vai me bater, é? Então bate! (T) Não tem coragem, né? Tá aí o motivo de eu ter feito tudo isso! Você é um frouxo, Inácio. Um babaca que se acha o esperto da história, mas não passa de um banana! Eu cansei de te esperar… cansei de aguardar que você tomasse alguma atitude. Então eu mesma tomei.
INÁCIO (soltando o braço dela, com tom de ameaça): Isso não vai ficar assim. Vai ter volta, Ivani. Vai ter volta.
Furioso, Inácio se retira do apartamento.
Ivani permanece imóvel por alguns segundos, respirando fundo. Em seguida, caminha até a porta e fecha. Ao voltar, sente um mal-estar repentino. Ela corre para o banheiro e vomita.
Apoiada na pia, ofegante, limpa a boca com um lenço. Então se encara no espelho, desconfiada de algo.
CENA 02: MANSÃO FIGUEIRA/INT./NOITE
Isabel e Leila estão sentadas à mesa, enquanto a empregada serve o jantar.
ISABEL: Pensando até agora no escândalo de ontem. Quem aquela selvagem acha que é, pra chegar aqui como se fosse a dona da casa?
LEILA: Foi de uma descompostura sem tamanho… mas, confesso que achei necessário você e seu pai darem aquele corretivo nela. Falou o que quis, ouviu o que não quis.
ISABEL: Pena que agora ele tá todo arrependido.
LEILA: Eu ainda preciso ter uma conversa seríssima com seu pai. Essa história de que ela é filha dele não me desce.
ISABEL: A senhora então nunca ouviu meu pai falar da falecida? Ele nunca mencionou o nome da mãe da Cecília?
LEILA: Não… claro que, quando estávamos separados, provavelmente ele deve ter se envolvido com alguém, e esse alguém deve ter sido ela.
ISABEL: Como assim, “separados”? Vocês não se conhecem a vida toda? Se essa menina for realmente filha dele, ela deve ter quase a minha idade. A conta não bate, mãe! Será que papai pulou a cerca?
LEILA: Isabel, por favor, não me faça perguntas difíceis!
Nesse momento, a porta se abre. Tércio entra apressado, já tirando o paletó.
LEILA: Que bom que chegou, meu amor!
TÉRCIO: Cheguei, mas já tô de saída.
ISABEL: Como assim? Vai pra onde?
TÉRCIO: Leandro conseguiu o endereço da Cecília pela ficha da mãe dela no hospital. Eu me arrependi de ter falado tudo aquilo pra ela. Resumindo, tô indo lá agora reparar o meu erro.
ISABEL (indignada): Como é que é? Você tá indo atrás daquela morta de fome? E pior, o Leandro tá mancomunado com você nessa? Meu Deus… isso só pode ser um pesadelo.
TÉRCIO: Você deveria ir também, Isabel. Você também falou coisas horríveis pra moça.
ISABEL: Sinceramente… acabei de perder todo o meu apetite. Uma boa noite pra vocês!
Irritada, Isabel se retira da mesa e sobe para seu quarto.
LEILA: Antes de você ir, eu preciso ter uma conversa séria com você, Tércio.
CENA 03: QUARTO DE LEILA E TÉRCIO/INT./NOITE
Leila entra no quarto, seguida por Tércio. Ela fecha a porta em silêncio e volta o olhar para ele.
TÉRCIO: Quer falar sobre o que comigo, meu bem? Fala logo que eu já estou de saída.
LEILA: Até agora a gente não conversou sobre essa história, Tércio. Quem foi essa tal Margarida, a mãe da menina abusada?
TÉRCIO: Leila, eu já disse que me envolvi com a Margarida enquanto estávamos separados. Você não se lembra que brigamos e ficamos mais ou menos um ano afastados? Então, foi nesse período que eu me envolvi com a Margarida e, provavelmente, a abandonei grávida sem saber.
LEILA: Então quer dizer que, se você soubesse da gravidez, não iria se separar?
TÉRCIO: Meu amor, você sabe que a pessoa que eu mais amo em toda a minha vida é você, não sabe? Eu me lembro perfeitamente quando você chegou aqui com Isabel nos braços, ela ainda era uma recém-nascida. Aquilo tudo me tocou de uma maneira tão forte…
LEILA: Foi graças a ela que nos casamos e estamos juntos até hoje. E eu tive a coragem que a Margarida não teve, vim atrás de você assim que Isabel nasceu. (T) E é bom a Isabel não ficar sabendo dessa história, hein. Pra ela, eu me casei com você bem antes dela nascer.
TÉRCIO: Bom, agora só me resta saber se Cecília realmente tá falando a verdade. Eu quero saber tudo sobre ela. Idade, onde nasceu, quando nasceu…
LEILA: Não acha que tá colocando o carro na frente dos bois?
TÉRCIO: Só quero saber da verdade, meu bem. Só isso. (T) Bom, vou indo. Jajá estou de volta.
Tércio sai, apressado, deixando Leila sozinha no quarto, pensativa.
CENA 04: CASA DE CECÍLIA/INT./NOITE
INSTRUMENTAL: FAULT - RENO DUARTE
Cecília está sentada na beira da cama, com os olhos inchados de tanto chorar. As lágrimas ainda escorrem pelo seu rosto. Lurdinha se aproxima com cuidado e se senta ao lado da amiga.
CECÍLIA (chorando, inconformada):
O que foi que eu fiz, hein? O que foi que eu fiz de tão errado para merecer tudo isso? Primeiro, perco meu emprego... depois, recebo uma ordem de despejo. Em seguida, perdi a pessoa que mais amava neste mundo. Fui tratada como um cão sarnento naquela mansão... e agora, descubro que a pessoa com quem eu ia me casar, na verdade, me odeia e me trai com outra!
Lurdinha respira fundo e aperta a mão de Cecília.
LURDINHA (emocionada): Eu também não sei, Cecília. Você é uma pessoa tão boa, tem o coração gigante. Eu sinceramente nem sei o que te dizer... A vida não é fácil, não foi e nunca vai ser, mas lá no fim do túnel, sempre tem uma luz. Uma luz que chega no momento em que a gente menos espera. Coloca uma coisa na sua cabeça. O mundo gira! Num dia, quem tá em cima pode tá embaixo, no outro, quem tá embaixo pode tá no topo!
CECÍLIA (chora): Não sei mais o que eu faço. Eu já rodei essa cidade inteira atrás de um emprego e sempre levo um não. Como eu vou fazer pra pagar o aluguel dessa casa? Mais uns três dias e o dono me coloca pra fora.
LURDINHA: Você não vai pagar aluguel nenhum. Amanhã mesmo, cedinho, vamos levar as suas coisas pra minha casa e é lá que você vai morar a partir de agora.
CECÍLIA (enxugando as lágrimas, mas elas continuam a escorrer): De que adianta ter uma moradia se não tenho mais a minha mãe?
LURDINHA: Tudo na vida tem um propósito, Cecília. Eu tenho certeza de que a dona Margarida tá num lugar maravilhoso olhando por você.
Neste instante, alguém bate na porta.
LURDINHA: Quem será? Pode deixar que eu atendo.
Lurdinha sai do quarto com pressa, vai até a porta da frente e a abre assim que chega. Quem está ali é Tércio.
INSTRUMENTAL: SUSPENSE SOBRENATURAL - SACHA AMBACK
LURDINHA (surpresa): Você aqui?
TÉRCIO: Desculpe a invasão, é que o portão tava aberto e eu não resisti.
LURDINHA: Pois pode ir dando meia volta e ir voltando imediatamente pro buraco de onde você saiu!
TÉRCIO: Eu vim falar com a Cecília, se puder cham…
LURDINHA (interrompe, firme): A Cecília não está!
Nesse momento, Cecília surge, curiosa, ao fundo.
CECÍLIA: Quem tá aí, Lurdinha? (ao se aproximar, ela se depara com Tércio, que a encara imediatamente) O que você tá fazendo na minha casa?
Close em Tércio, intercalando com Cecília.
CONGELAMENTO EM CECÍLIA.
A novela encerra seu 4° capítulo ao som do refrão de “Hot Stuff - Donna Summer” (tema de Isabel).
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