LET'S DANCE! - CAPÍTULO 05
CENA 01: CASA DE CECÍLIA/INT./NOITE
INSTRUMENTAL: SUSPENSE SOBRENATURAL - SACHA AMBACK
CECÍLIA: Quem tá aí, Lurdinha? (ao se aproximar, ela se depara com Tércio, que a encara imediatamente) O que é que você tá fazendo na minha casa?
TÉRCIO: Eu vim conversar com você, Cecília.
CECÍLIA (firme): Eu não tenho nada pra conversar com você! Depois de tudo o que você fez, ainda tem coragem de aparecer aqui? Como ficou sabendo onde eu moro?
TÉRCIO: Leandro me disse que o endereço da sua mãe constava na ficha dela, então pedi pra ele me ajudar. Eu vim até aqui pra te pedir desculpas, Cecília. Eu me arrependo amargamente de ter falado tudo aquilo pra você. Me perdoa, por favor.
LURDINHA: Não perdoa, não, Cecília!
CECÍLIA: Se você soubesse o quanto aquelas palavras me ofenderam… Tudo bem, eu não fui nenhuma santa em invadir a sua casa, mas eu não fui lá pra dar o golpe em ninguém, não. Muito pelo contrário, eu fui até lá porque minha mãe pediu! Eu fui atrás da verdade que não deu nem tempo dela ter me contado. E outra, eu pouco me importo se você tem mansão, se tem dinheiro, empresa… que se dane!
TÉRCIO: Eu vim até aqui pra te pedir perdão, mas também vim falar sobre a sua mãe. (T) Cecília… eu a reconheci na foto que você me mostrou.
CECÍLIA (sarcástica): Ah, reconheceu!? (T) Por qual motivo fez tudo aquilo comigo então? Pra se sentir melhor na frente de todo mundo?
TÉRCIO: Foi… mas eu me arrependi. Olha, Cecília, eu realmente tive sim um romance com a sua mãe no passado.
CECÍLIA: E abandonou a gente por que então?
TÉRCIO: Eu nem sabia que ela tava grávida… Ela não me contou nada! Se você é mesmo a minha filha, então porque ela não me procurou durante esse tempo todo?
CECÍLIA: Ela deve ter tido os motivos dela, obviamente.
TÉRCIO: É, cê tem toda a razão… (pausa) Sua mãe era uma pessoa muito boa pelo o que me lembro. Ela trabalhava de costureira numa fábrica, sempre muito humilde… A gente se separou normalmente, sem briga alguma. (T) Agora só me diga uma coisa: quantos anos você tem?
CECÍLIA: Vou fazer vinte e cinco. Por que?
TÉRCIO (paralisa): Foi nessa época aí mesmo que eu namorei com a Margarida… você realmente tem grandes chances de ser a minha filha. (T) Se parece muito comigo… os olhos, o cabelo, a maneira de falar…
CECÍLIA: Isso não muda nada! Você vai continuar achando que eu sou uma golpista.
TÉRCIO: Vamos fazer o seguinte: a gente faz o exame de sangue, se nossos tipos forem compatíveis… bem, isso não prova nada, mas já vai ser um começo. Posso contar com você?
Tércio estende a mão para Cecília, que demora, mas retribui o aperto de mão, firmando um acordo.
TÉRCIO: Amanhã mesmo passo aqui pra te levar até o hospital.
CECÍLIA: Tá certo.
TÉRCIO: Bom, então eu vou nessa. (T) Ah, você não me disse se me perdoou ou não.
CECÍLIA: Vou pensar. Agora se puder ir, eu agradeço.
Tércio se vira, e se retira da casa de Cecília, que se senta no sofá e respira fundo, levando as mãos à cabeça e voltando a chorar. Lurdinha fecha a porta e se senta perto da amiga.
Ao som de “Freak Le Boom Boom - Gretchen”, mostramos várias imagens do Rio de Janeiro amanhecendo.
CENA 02: MANSÃO FIGUEIRA/INT./MANHÃ
Leila, Tércio e Isabel tomam café da manhã à mesa, que está farta. Tércio acabou de contar sobre o exame.
INSTRUMENTAL: TENSION - EDUARDO QUEIROZ, GUILHERME RIOS
ISABEL (indignada, largando os talheres): Como é que é? O senhor vai fazer um exame de sangue pra ver se realmente é pai daquela selvagem?? Então quer dizer que se arrependeu mesmo do que falou pra ela na noite de réveillon?
TÉRCIO: Pois é, minha filha, eu repensei sobre tudo e vi que o certo a se fazer agora é dar um apoio pra garota. Mesmo que ela não seja a minha filha, é melhor tirar essa dúvida logo. O exame, se não eliminar a compatibilidade, não significa nada, mas já vai ser um avanço.
LEILA: Você se arrependeu mesmo ou o Leandro fez a sua cabeça naquele dia no escritório? Vocês demoraram pra caramba, e depois você saiu dizendo que iria procurar a menina.
ISABEL: Não é possível que o Leandro tenha feito isso!
TÉRCIO: Não, Leila. Fui eu quem pedi ajuda pro Leandro para encontrar o endereço da Cecília na ficha da mãe.
ISABEL: Aposto que aquela morta de fome mora no subúrbio.
TÉRCIO: Ela é lá de Madureira.
ISABEL: Mas é impressionante como aquela sem banho começou a acabar com a gente do dia pra noite, hein? Se já não bastasse o escândalo na virada, agora quer a todo custo entrar pra nossa família. E o senhor, meu pai, em vez de ter humilhado ela mais uma vez, foi lá e estendeu a mão? Francamente!
TÉRCIO: Eu acho melhor você começar a aceitar a possibilidade de ter uma irmã, Isabel. Cecília é humana assim como você, e se for realmente minha filha, merece ter também tudo o que você tem e teve um dia. Se o exame não eliminar a compatibilidade de tipo sanguíneo, eu irei trazer a Cecília pra morar aqui na mansão.
ISABEL (arregala os olhos, indignada mais ainda): O quê? Olha, eu acho que o senhor enlouqueceu. Aquela aproveitadora só pode ter feito uma lavagem cerebral em você.
LEILA: Meu bem, nesse caso eu vou ter que concordar com a Isabel. Acho que você já tá se precipitando demais.
TÉRCIO: Já tá decidido, meus amores! Não tem mais nada que me faça mudar de ideia. Tenham um ótimo dia.
Tércio se retira, apressado.
ISABEL: A gente não pode deixar o meu pai trazer aquela doente pra cá, mãe! Você já imaginou o que vai ser dividir o mesmo teto que aquela selvagem?
LEILA: Minha filha, não tem mais nada que a gente possa fazer, Isabel. O que resta é aceitar.
ISABEL: Tomara que esse raio desse exame dê incompatível! E se não der, eu vou fazer da vida dessa mosca morta um verdadeiro inferno. Ninguém mandou ela sair lá de onde Judas perdeu as botas pra vir atormentar a gente.
LEILA: Isabel, não foi assim que eu te eduquei, minha filha. Vai infernizar a vida da coitada a troco de quê? Pra se sentir melhor?
ISABEL: Também. Mas eu não vou suportar a ideia de ter que dividir a minha herança com uma bastarda. Ah mas não vou mesmo!
Horas se passam no Rio de Janeiro e mostramos imagens da cidade ao som de “Chega de Saudade - Tom Jobim”. A música continua a tocar enquanto passa imagens de Cecília e Tércio chegando ao hospital para realizar o exame. Logo depois, o sangue dos dois é colhido. Horas depois, eles aguardam juntos pelo resultado, em silêncio e visivelmente tensos.
CENA 03: HOSPITAL DA UNIÃO/INT./DIA
Leandro se aproxima de Cecília e Tércio no corredor. Em silêncio, ele entrega o envelope nas mãos de Tércio. Cecília observa, nervosa.
TÉRCIO (ao abrir o envelope, lendo): “Não se observam incompatibilidades entre os indivíduos testados”.
CECÍLIA: Então… isso significa que eu realmente posso ser sua filha?
LEANDRO: O exame não afirma com clareza, mas já que não existem incompatibilidades, sim, existe sim grandes chances de você ser filha de seu Tércio.
TÉRCIO: Eu já imaginava que não teria incompatibilidades. A Cecília é a minha cara.
CECÍLIA: Bom, exame feito, já vi o que queria ver, agora vou seguir a minha vida. Já que isso não vai servir de nada pra mim... Bye!
TÉRCIO: Não, espera! Almoça comigo. Vou te levar num restaurante que eu vou sempre. (T) Aceita meu convite, por favor.
CENA 04: RESTAURANTE/INT./MANHÃ
Cecília e Tércio estão sentados em uma mesa próxima a porta. O ambiente é elegante e sofisticado. Enquanto eles estão sentados, o garçom serve os pratos e se afasta.
TÉRCIO: Essa galinhada é a melhor do Rio! Nunca comi outra igual.
CECÍLIA: Não imaginava que o senhor gostasse dessas coisas. Achei que comesse só caviar, lagosta…
TÉRCIO (rindo): Eu nasci em berço de ouro, mas meu pai, não. Ele sempre me ensinou a dar valor às coisas simples e a ser humilde. (T) E aí, você me perdoa pelo o que falei naquela noite?
CECÍLIA: Tá tudo bem… já passou.
TÉRCIO: Cecília… é, eu sei que o exame não prova tudo, mas, pra mim, já foi tudo resolvido. No fundo, eu sinto sim que você é minha filha.
CECÍLIA: Olha, seu Tércio… por mais que eu também sinta, acho melhor eu seguir a minha vida bem longe do senhor e da sua família. Não foi nada comprovado, e eu não quero parecer uma interesseira. É melhor mantermos distância.
TÉRCIO: Distância? De jeito nenhum. Agora, mais do que nunca, eu quero ter você por perto. (T) Que tal vir morar na mansão?
CECÍLIA (quase se engasga): Oi? Morar na mansão?
TÉRCIO: Claro. Vai ser um prazer levar você pra morar comigo. Ainda mais agora que sua mãe faleceu… não quero te deixar sozinha naquele casebre.
CECÍLIA: Eu não tô sozinha. Tô prestes a me mudar pra casa da Lurdinha.
TÉRCIO: Na mansão você vai ter conforto, privacidade…
CECÍLIA: Você fala como se fosse fácil… Aquela sua filha me odeia desde a primeira vez que botou os olhos em mim. Acha mesmo que ela vai aceitar essa ideia de ter uma irmã, assim, do nada? Não quero causar mais escândalos.
TÉRCIO: A Isabel é assim mesmo, mas, logo, logo ela vai se acostumar. Confia em mim.
CECÍLIA: Eu vou pensar, mas não garanto nada. Prefiro seguir a minha vida simples lá em Madureira, como sempre foi.
TÉRCIO: E vai se mudar pra casa da Lurdinha por qual motivo?
CECÍLIA: Eu e minha mãe fomos ameaçadas de despejo um pouco antes dela falecer... Se não sair de casa em uma semana, eles vão me tirar à força de lá. Eu tô desempregada há alguns meses e não tenho um tostão pra pagar o aluguel. Enfim, acho que não é do seu interesse…
Tércio puxa a carteira discretamente e tira um maço de dinheiro, colocando sobre a mesa e empurrando em direção à Cecília.
TÉRCIO: Temos a solução!
CECÍLIA (empurrando o dinheiro em direção a ele novamente): Não, seu Tércio, que isso… eu não posso aceitar essa grana de jeito maneira. Imagina.
TÉRCIO (empurrando o dinheiro em direção a ela de novo): Aceita, por favor. Não vai me fazer falta.
Cecília acaba hesitando por um segundo, mas acaba pegando o dinheiro, emocionada.
CECÍLIA: Já vai dar pra pagar o aluguel desse mês até eu arranjar um emprego. Nem sei como agradecer…
TÉRCIO: Indo morar na mansão! Cecília, por favor… eu exijo que você vá morar lá com a gente. Quem sabe não arrumo um emprego pra você na Idearium também?
CECÍLIA: Seu Tércio, o senhor já tá me enchendo com esse assunto.
TÉRCIO: Eu quero compensar todos esses anos que passei longe de você e da sua mãe. (T) E eu não vou te dar paz até você aceitar! (ele ri).
CENA 05: RUA/DIA
Uma hora depois, Cecília e Tércio se despedem na porta do restaurante e a mocinha sai dali em direção à sua casa, andando em uma calçada movimentada. Ela segue tranquila, até que, ao virar uma esquina vazia…
ASSALTANTE (surgindo de repente): Perdeu, ordinária, perdeu! Passa a bolsa agora! Passa que eu não tenho muito tempo, anda!
O assaltante tenta arrancar a bolsa à força. Cecília fica em choque, mas não solta a bolsa de jeito nenhum.
CECÍLIA (grita): ME SOLTA! SOCORRO!
De repente, um carro freia bruscamente no local. Leandro, que estava indo almoçar em casa, salta do veículo e vai correndo na direção deles.
LEANDRO: SOLTA ELA AGORA, SEU CANALHA!
Assustado, o assaltante solta Cecília e sai correndo. Leandro vai até ela.
LEANDRO: Você tá bem? Se machucou?
CECÍLIA (ofegante): Não… tá tudo certo… graças a Deus você apareceu…
LEANDRO: Vem, eu levo você até sua casa.
CECÍLIA: Não precisa…
LEANDRO (interrompe): Nem ouse recusar a minha carona.
CENA 06: CARRO/INT./DIA
Leandro estaciona o carro em frente a casa de Cecília.
CECÍLIA: Ainda bem que aquele abutre não conseguiu levar a minha bolsa. Muito obrigada, de verdade. Nem sei como te agradecer.
LEANDRO (sorrindo): Pode contar comigo sempre. Tô aqui pra isso. (T) Mas e aí, já se acostumou com a ideia de ser filha do seu Tércio Figueira?
CECÍLIA: Acredita que ele quer me levar pra morar na mansão?! Obviamente não vou aceitar por causa daquela perua mimada da filha dele, que me odeia. Imagina ter que dividir o mesmo teto que ela? (ela coloca a mão na boca, percebendo que falou demais) Ai meu Deus, esqueci que você é noivo dela…
LEANDRO (ri): Eu te entendo. A Isabel foi muito grossa com você naquela noite mesmo. E pra ser sincero, eu não sei se ela vai gostar de ter uma irmã… ela é bem apegada na herança.
CECÍLIA: E eu lá quero herança, menino? Tá doido? Eu quero ganhar dinheiro sim, mas com o meu suor. Nunca dependi do Tércio até hoje, não é agora que eu vou depender.
LEANDRO: Você é engraçada, sabia? Animada, divertida…
CECÍLIA: Que nada… eu até me acho bem sem sal, às vezes.
LEANDRO: Tem namorado?
CECÍLIA: Não… eu tava noiva até ontem, mas descobri que o canalha me traía e coloquei um ponto final em tudo. Ele me humilhou, falou que me odeia… Enfim, se eu for contar toda a minha vida pra você, vai dar um filme dramático onde não existe final feliz. Tô passando por poucas e boas, viu?
Leandro começa a encarar Cecília, enquanto seus olhos brilham. Ela percebe o clima que se formou e fica sem graça. A música “Outra Vez - Roberto Carlos” (versão 2021) dá som à cena.
LEANDRO: Você é bonita, sabia? Como alguém tem coragem de humilhar alguém como você?
CECÍLIA (sem graça): É melhor eu descer, não quero mais te atrapalhar.
LEANDRO (pega na mão dela): Espera…
Os dois começam a se olhar diretamente, enquanto Leandro se aproxima. A câmera captura o momento pelo banco de trás.
CONGELAMENTO EM CECÍLIA E LEANDRO.
A novela encerra seu 5° capítulo ao som de “Outra Vez - Roberto Carlos” (tema de Cecília e Leandro).
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