04/06/2025

Teia de Sedução - Capítulo 03


 


“TEIA DE SEDUÇÃO”

Novela criada e escrita por

Susu Saint Clair

Capítulo 03


CENA 01: MANSÃO VON BERGMANN - SALA DE ESTAR - MADRUGADA

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR. José Carlos suspira, assustado. Gisela vai até ele.


JOSÉ CARLOS: Porra, Gisela, que susto…


GISELA: Anda. Fala. Onde você tava pra chegar essa hora em casa?


José Carlos tenta disfarçar, mas a tensão no ar é palpável. Ele engole em seco, procurando palavras.


JOSÉ CARLOS: Eu estava na reuni...


GISELA: Não adianta, não vou acreditar que você estava em uma reunião, pode parar com essa história. Eu acabei de sair da Bergmann Privé e você já tinha ido embora muito antes de mim.


Ele engole em seco. Gisela sente o ar pesado ao redor dele.


GISELA: (olha fixamente para ele) Que perfume vagabundo é esse na sua roupa?


José Carlos não consegue esconder a preocupação nos olhos, mas tenta manter a calma.


JOSÉ CARLOS: Da Sheila. Ela passou mal. Eu tive que levá-la ao hospital. Foi um susto enorme. Mas ela tá bem agora. (pausa) Achei que a Susane tivesse te contado.


GISELA: A Susane saiu no horário de sempre. Eu fiquei sozinha na empresa. 


JOSÉ CARLOS: Você tá desconfiada de mim, né? (sem jeito, tentando se justificar, pegando seu celular) Se quiser pode ligar pra Sheila e perguntar. 


Ela olha para ele com uma serenidade que é ainda mais aterrorizante.


GISELA: (olha-o nos olhos, com frieza) Não será necessário. Eu confio no meu marido.


Ela se aproxima e o beija levemente nos lábios, mas sem nenhum vestígio de afeto verdadeiro. Em seguida, ela se afasta e começa a subir as escadas.


José Carlos suspira profundamente, claramente aliviado, mas com uma expressão distante. Ele fica parado por um momento, os olhos fixos no vazio, pensativo. 


CENA 02: AMANHECE - CASA DE JAQUELINE – COZINHA / QUARTO

CLÁUDIA (60) arruma a mesa do café com cuidado. O som da televisão ligada no jornal preenche o ambiente. A porta da frente se abre. Jaqueline entra, exausta. 


CLÁUDIA: (sorri, aliviada) Graças a Deus, filha. Eu já estava ficando preocupada. Como foi no trabalho?


JAQUELINE: (faz-se animada) Foi ótimo, mãe. Tô amando trabalhar lá. Tá sendo melhor do que eu imaginava.


CLÁUDIA: (se aproxima, emocionada) Ai, filha, eu ergo as mãos pro céu todos os dias. O Raí ter te dado esse emprego foi um milagre! Você sabe... com a sua demissão lá da Savana Fashion, esse aluguel atrasado, conta batendo na porta... você sabe o sufoco que a gente tá.


JAQUELINE: Não precisa se preocupar, mãe. Agora as coisas vão mudar. Eu prometo.


Ela beija a mãe no rosto, disfarça o cansaço e segue para o quarto.


CORTE PARA:


BANHEIRO – SEQUÊNCIA

Jaqueline liga o chuveiro. A água quente cai sobre o corpo dela. Seus olhos fecham, mas não em paz: há uma tensão ali. Ela apoia as mãos na parede e respira fundo.


CORTE PARA:


QUARTO DE JAQUELINE – ALGUNS MINUTOS DEPOIS

Jaqueline entra no quarto enrolada na toalha, os cabelos ainda molhados. Para no mesmo instante. Cláudia está de pé, parada no centro do quarto, segurando o colar de jóias em uma das mãos, como se fosse uma arma.


CLÁUDIA: De onde saiu isso aqui, Jaqueline?


Jaqueline congela. O coração dispara. Por um segundo, o silêncio fala mais alto.


JAQUELINE: (tenta rir, nervosa) Mãe, que susto! Achei que você já tava tomando café...


CLÁUDIA: (corta, sem paciência) Não enrola! Tô perguntando de onde veio esse colar. Que joia é essa?


CLOSE em Jaqueline, sem saída. 


Abertura


CENA 03: CASA DE JAQUELINE - QUARTO - MANHÃ

Cláudia está de pé, parada no centro do quarto, segurando o colar de jóias.


JAQUELINE: (engole seco) Esse colar aí é falso, mãe. Comprei no camelô, dez conto, bonitinho né?


CLÁUDIA: (encara, séria) Camelô? Esse fecho aqui é banhado a ouro. E essas pedras? Você acha que eu sou idiota?


JAQUELINE: Tá bom, eu admito, foi um presente de um cliente lá do bar. Eu atendi ele super bem, e ele quis agradecer. Foi só isso. Coisa de gente rica que não sabe o que fazer com dinheiro.


CLÁUDIA: E você acha isso normal, Jaqueline?


JAQUELINE: (desvia o olhar, seca o cabelo com a toalha) Normal ou não, é o que tem pra hoje. A gente precisa pagar as contas, né? Eu vou vender esse colar pra quitar logo os aluguéis atrasados dessa casa. A gente ainda vai comprar nossa casa própria e subir na vida, mãe. Pode apostar!


Cláudia continua olhando para o colar. Silêncio entre elas. Jaqueline sai do quarto como se nada tivesse acontecido. Cláudia fica ali, com o colar nas mãos e o rosto fechado.


CENA 04: MANSÃO VON BERGMANN – SALA DE JANTAR – MANHÃ

Gisela toma seu café acompanhada de Gioconda.


GISELA: Aquele desgraçado chegou cheirando a perfume barato de novo, daquele tipo que gruda na pele igual encosto. 


GIOCONDA: Gisela, vamos ser sinceras, mon cherie. O seu marido tá comendo alguma puta aí na rua. 


GISELA: Óbvio que o José Carlos tá comendo uma puta na rua. Deve comer várias. Do jeito que ele é. E sabe o que me dá mais ódio? É ele achar que consegue me fazer de otária. Ele teve a cara de pau de olhar na minha cara e falar que chegou tarde porque a Sheila passou mal.


GIOCONDA: Talvez seja com ela que ele anda se divertindo.


GISELA: Ai, me poupe, né, Gioconda?! O José Carlos trepar logo com aquela cara de planilha mal formatada? Só se ele for louco ou cego, porque pra comer uma mulher feia daquelas, nem botando um saco de pão na cara. 


Ela larga os talheres de forma brusca no prato. 


GISELA: Inferno de vida. Com tanto homem, eu tinha que me casar logo com ele?! 


GIOCONDA: Você não teve escolha, né, minha irmã? Imagina só. Você, grávida do filho do motorista... e se casando com ele. O que as pessoas iam pensar da gente? 


GISELA: Tava era pouco me importando com isso. A sua filha tá namorando um pobre coitado que se chama Volney e ninguém aqui tá falando nada.


GIOCONDA: Os tempos são outros, minha querida. 


GISELA: Que se dane. O culpado de tudo é aquela múmia do nosso pai. Da minha vida, do meu casamento, de tudo ter virado essa desgraça. Mas se ele acha que isso vai ficar assim, tá muito enganado. 


Ela se levanta abruptamente, pega a bolsa com raiva e segue em passos firmes até a porta. 


GISELA: Eu vou trabalhar. Que pelo menos isso ainda me distrai.


Gisela sai. Nesse instante, Otávio entra, cruzando com ela no corredor. Eles trocam apenas um olhar seco. Otávio segue até a mesa e se senta diante de Gioconda.


OTÁVIO: Bom dia.


GIOCONDA: Sua mãe tá revoltada porque seu pai chegou tarde. De novo.


OTÁVIO: (suspira) Eu não sei como eles ainda sustentam essa farsa. Esse casamento já morreu. Já deu o que tinha que dar. 


GIOCONDA: Ah, meu anjo. Tudo pela imagem. Você conhece sua mãe. Obcecada em manter o controle de tudo. Pela aparência. Pela família perfeita. 


Otávio permanece em silêncio, olhando para a xícara de café.


CENA 05: MANSÃO DOS PASSARELLI – SALA DE ESTAR – MANHÃ

Felipe e Raí discutem.


FELIPE: O Afonso contou sobre a Jaqueline, você enlouqueceu de vez, Raí?


RAÍ: Eu ofereci trabalho e ela aceitou, o que você queria que eu fizesse? 


FELIPE: Se a mãe dela fica sabendo de uma merda dessas, eu nem sei o que pode acontecer. 


RAÍ: Isso aí é com a Jaqueline e com a mãe dela. Eu, Railton, não tenho nada com isso. A Jaqueline é adulta, tem quase 30 anos na cara, ela que se entenda lá com aquela chata do caralho que é a mãe dela. 


FELIPE: Você lava essa boca bem lavada pra falar da Cláudia. Respeita a minha irmã.


RAÍ: (indo até a porta) Nem acredito que você me chamou até aqui por causa disso. E eu achando que era uma coisa séria. 


FELIPE: (indo atrás) Mas isso é sério, Raí/ (se interrompe, farto) Ah, quer saber? A Nadine que tá certa. Não dá pra botar juízo na sua cabeça. Eu desisto. Lavo minhas mãos. Chega! 


Celina vem da cozinha.


CELINA: Mas que gritaria é essa aqui?


RAÍ: (irritado) É o Felipe que me chamou aqui pra nada. (vai até ela, dando um beijo) Olha, vózinha, eu vou indo, tá? 


CELINA: (inconformada) Mas já? (para Felipe) Por quê que você é tão desagradável, Felipe? 


FELIPE: Ah, dona Celina, vá pro inferno a senhora também. 


RAÍ: Não fala assim com a minha avó!


CELINA: Deixa, querido, deixa ele. Ah, meu amor, fica. Eu mandei a Neide fazer aquele bolo de milho que você adora. 


RAÍ: Olha, realmente não vai dar, eu tenho que ir agora, mas eu volto mais tarde. 


Raí vai até a porta e abre. Ele fica surpreso ao ver Cláudia parada ali. 


CLÁUDIA: Ainda bem que você tá aqui. É com você mesmo que eu quero falar. 


Os dois se encaram. Tensão no ar.


CENA 06: PRIME FITNESS – ÁREA DA OBRA – MANHÃ

O ambiente ainda está em construção. Pedreiros circulam com ferramentas e materiais. O som de marteladas e serras elétricas preenche o ar. Entre o pó e o concreto, Otávio caminha com a prancheta na mão, analisando cada detalhe da obra junto com um funcionário. Ao lado dele, Marcos o acompanha com atenção.


OTÁVIO: (apontando para uma parede) Essa parte aqui vai ser toda envidraçada. A gente precisa que fique pronta antes da entrega dos equipamentos.


FUNCIONÁRIO: Pode deixar, seu Otávio. Até sexta isso aqui já tá no jeito.


OTÁVIO: Ótimo. Se precisar de qualquer coisa, fale direto comigo.


O funcionário se afasta, deixando os dois sozinhos. Marcos observa Otávio com um leve sorriso no canto da boca.


MARCOS: Com esse ar todo de empresário, você tá ficando cada vez mais gostoso, sabia disso?


OTÁVIO: (ri) Deixa de ser descarado, Marcos.


MARCOS: Só tô elogiando meu primo favorito.


OTÁVIO: (desconversando) Vamos, eu tenho uma reunião mais tarde, mas antes vou parar pra almoçar.


MARCOS: Espera. 


Marcos se aproxima devagar, os olhos brilhando de malícia. Passa uma das mãos discretamente pelo abdômen de Otávio, descendo até o meio das pernas dele.


MARCOS: E se ao invés de almoçar, você comesse outra coisa?


OTÁVIO: (segura o pulso dele, firme) Aqui não. Não é hora nem lugar.


MARCOS: (sussurrando, provocante) Mas vai ter hora?


Otávio o encara. Sorri, de canto.


OTÁVIO: Talvez à noite, quem sabe. 


Otávio dá um tapa leve no ombro de Marcos e volta a andar, disfarçando o sorriso. Marcos o observa, mordendo os lábios, como quem já se sente vitorioso.


CENA 07: SHOPPING - LOJA DE ROUPAS - MANHÃ

Afonso caminha entre as peças de roupas enquanto fala ao celular com Jaque. 


JAQUELINE: Você acha que isso vai dar certo, Afonso? Eu acho um pouco arriscado. É muita exposição e eu nem tô falando do Volney, eu tô falando de você. 


AFONSO: Jaqueline, eu não tô nem aí. Eu não tenho motivo pra me esconder de ninguém. O Volney é que tem. Aquela família mequetrefe vai mais me agradecer por eu animar o jantarzinho deles. 


JAQUELINE: Bom… se é assim…


AFONSO: E isso precisa acontecer de qualquer maneira. Aquela farsa do Volney precisa acabar pra você poder entrar em ação. Não tem como você dar o bote com aquela patricinha nojenta grudada no pescoço dele. 


Uma vendedora se aproxima dele. 


AFONSO: Vou desligar. Depois a gente se fala. 


Ele desliga.


AFONSO: Vem cá, meu anjo, você não tem um tamanho menor não? 


CENA 08: MANSÃO DOS PASSARELLI – SALA DE ESTAR – MANHÃ

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA CENA 5. 


Felipe sorri, vai até Cláudia. 


FELIPE: Minha irmã, que surpresa boa. 


CLÁUDIA: (séria) Não tão boa assim, Felipe. A Jaqueline chegou em casa com um colar de brilhantes. Primeiro mentiu dizendo que tinha comprado no camelô, depois voltou atrás e admitiu que ganhou de um cliente. 


Felipe olha para Raí.


CLÁUDIA: (indignada) Que tipo de emprego é esse onde cliente dá joia cara pra funcionária, posso saber?


RAÍ: Eu posso até dizer, mas você tá preparada pra ouvir a verdade?


CLÁUDIA: Eu tenho o direito de saber o que você anda fazendo com a minha filha. 


RAÍ: Tá. Vou ser direto. A sua filha é sim o que você tá pensando… Ela é prostituta. Prostituta de luxo, tá? De alto escalão. Top de linha. Que eu não trabalho com pouca merda. 


CELINA: (animada) E fui eu quem dei a ideia dele abrir o bar.


CLÁUDIA: Ai, meu Deus. Eu acho que eu tô passando mal. Eu acho que vou morrer. 


Ela desaba no sofá, sem chão. O ar parece sumir da sala. Felipe corre até ela. A empregada observa tudo.


FELIPE: Neide, pega água, rápido!


CLÁUDIA: (entre lágrimas) Não… minha filha, não... Isso não pode ser verdade… Não pode ser verdade. Você desgraçou a vida da minha filha!


RAÍ: Epa, vamo baixar o tom, tá? Que eu não desgracei a vida de ninguém. A sua filha foi trabalhar pra mim porque quis. A Jaqueline tem vocação pra ser puta, fazer o quê. 


Cláudia se levanta num rompante e dá um tapa na cara dele. Felipe a contém.


CLÁUDIA: (grita) Desgraçado! Você destruiu a minha família!


RAÍ: Ah, cala essa boca. Oh, Felipe, tampa a boca dessa chata aí. 


Nadine entra da área externa, alarmada.


NADINE: O que é que tá acontecendo aqui?


RAÍ: Ela tá louca porque a filha dela resolveu dar a buceta em troca de dinheiro. A buceta é dela. Ela vende pra quem quiser.


CLÁUDIA: CALA A BOCA! (se desvencilha de Felipe) Me solta! (para Nadine) Esse seu filho é um miserável. Ele acabou com a vida da minha filha. 


NADINE: (grita) Você não vai falar assim do meu filho dentro da minha casa!


CELINA: É isso mesmo, você fica pagando de santa, mas não se esqueça que eu sei de todos os seus podres. Meu neto é um bom menino. E a sua filha, é puuuuuuta sim!


CLÁUDIA: Sua velha acabada… olha aqui…


CELINA: Que velha acabada o quê? Sua múmia. 


CLÁUDIA: Sua velh- ME LARGA FELIPE.


As duas começam a discutir, uma falando por cima da outra. Raí senta no sofá revirando os olhos e respirando fundo. Felipe tenta segurar Cláudia, que quer partir para cima de Celina, que por sua vez, é segurada por Nadine.


CENA 09: CASA DE JAQUELINE – QUARTO – TARDE

Jaqueline se maquia diante da penteadeira quando a porta se abre com força. Cláudia surge, furiosa, com o rosto transtornado. 


CLÁUDIA: Você vai sair dessa casa agora, Jaqueline!


JAQUELINE: (assustada) Quê?


CLÁUDIA: Não se faça de desentendida que eu fui procurar o Raí pra saber dessa história do colar e ele me contou tudo! Mas eu queria ouvir da sua boca… Você é puta?


JAQUELINE: (crava os olhos na mãe) Olha, eu não queria que a senhora soubesse. Mas é verdade. Eu sou puta. E daí? É melhor do que passar fome, né? Melhor do que viver de esmola, como a senhora viveu a vida inteira!


CLÁUDIA: (grita) Cala essa boca! Você não tem o direito de falar comigo desse jeito!


JAQUELINE: Eu passei a minha vida inteira me matando pra dar orgulho pra senhora. Aguentei humilhação de patroa nojenta, de gente rica e metida a besta, tudo isso porque achei que merecia mais. E se você quer saber, mãe, eu mereço sim. Muito mais do que você pensa! 


CLÁUDIA: (com lágrimas nos olhos) Mas a que preço, Jaqueline? Dormindo com homens casados? Vendendo o corpo como se fosse um produto? Você é minha filha! Eu não te criei pra isso!


JAQUELINE: Você me criou pra ser submissa! Pra viver de salário mínimo! Pra abaixar a cabeça! Você sente orgulho de ser pobre, eu não. Eu tenho ódio de ser pobre! Eu quero mais! Muito mais do que isso! E se ser prostituta é um caminho fácil pra eu conseguir o que eu quero, então é assim que vai ser. 


CLÁUDIA: Você tá envergonhando nossa família. Tá envergonhando a memória do seu pai!


JAQUELINE: Que porra de pai é esse que eu nunca conheci? Hein? Aquele que a senhora nunca teve coragem de me dizer o nome? Eu cresci sem referência nessa bosta de lugar, nesse buraco que a gente vive, com a senhora escondendo a verdade de mim o tempo todo.


CLÁUDIA: Você cruzou todos os limites, Jaqueline! Do respeito, da moral, do bom senso...


JAQUELINE: E eu faria tudo de novo!


CLÁUDIA: Então vai embora da minha casa agora! Eu não vou dividir o mesmo teto com prostituta, com mulher que se deita e se vende por dinheiro. 


JAQUELINE: Eu vou porque eu odeio hipocrisia!


Ela vira-se para começar a fazer as malas.


CORTA PARA Jaqueline já de malas prontas. Ela encara a mãe.


JAQUELINE: Um dia a senhora ainda vai ter muito orgulho da vagabunda, da prostituta que você criou.


CLÁUDIA: SAI DAQUI! FORA! 


Jaqueline sai do quarto de cabeça erguida. Cláudia fica sozinha. Trêmula, cai sentada na beirada da cama. O silêncio é cortado apenas pela respiração pesada dela... e pelas lágrimas que enfim escorrem.


CENA 10: CARRO DE AFONSO – TARDE

O carro de Afonso atravessa a cidade em alta velocidade. Ele fala ao celular, nervoso, com uma mão no volante e a outra tremendo levemente.


AFONSO: Como assim a sua mãe te botou pra fora? Onde é que você tá?


JAQUELINE: No meio da rua, né, Afonso? Me ajuda, por favor! 


AFONSO: Fica calma. Vá pra minha casa que eu já tô chegando! 


Afonso tira os olhos da rua por um segundo para mexer no celular. O semáforo fecha. Ele não percebe.


SOM ALTO DE FREIOS.


O carro de Afonso bate violentamente em outro veículo. O airbag explode. Tudo acontece num segundo.


CÂMERA CLOSE: Afonso tonto, afundado contra o airbag, a cabeça latejando. Ele pisca, tentando se situar. O sangue escorre discretamente da sobrancelha.


Do outro carro, descem Otávio e Marcos, em choque com a colisão.


MARCOS: (irritado) Mas que idiota! Só podia estar no celular mesmo!


OTÁVIO: (seco) Cala a boca, Marcos! Ajuda com o outro carro!


Otávio corre até o carro de Afonso, abre a porta com rapidez.


OTÁVIO: Ei, tá me ouvindo? Você tá bem?


AFONSO: (ofegante, tentando disfarçar) Tô... tô sim. Foi só um susto.


Afonso faz menção de sair do carro, se empurrando para fora. Cambaleia.


OTÁVIO: (o segura pelo ombro) Ei, vai devagar! Você tá sangrando.


AFONSO: (levanta) Não é nada, eu tô bem...


Afonso tropeça. A visão escurece. Ele desmaia, caindo nos braços de Otávio, que o segura com firmeza.


OTÁVIO: (assustado) Ei! Ei! Marcos, chama a ambulância, rápido!


Marcos corre até o celular. Otávio segura Afonso contra o peito, aflito, observando o rosto desacordado do rapaz.


CLOSE no rosto de Otávio. Um olhar confuso, impactado. Sem saber o porquê, mas sentindo — aquele momento o tocou mais do que devia.


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