“TEIA DE SEDUÇÃO”
Novela criada e escrita por
Susu Saint Clair
Capítulo 13
CENA 01: APART-HOTEL - SUÍTE PRESIDENCIAL - NOITE
Jaqueline e José Carlos se encaram intensamente. A tensão entre eles vibra no ar.
JOSÉ CARLOS: Filha bastarda do Nelson... E tudo não passou de um jogo, não foi? Você se empregou na Bergmann Privé com um único objetivo: se aproximar da família. E depois que foi chutada pra fora, se aproximou de mim. Se aproximou por interesse.
Jaqueline permanece em silêncio. Fecha os olhos por um segundo, respira fundo. Quando os abre, o olhar está firme, sem rodeios.
JAQUELINE: Sim. Foi por interesse. Eu quis destruir o seu casamento com a Gisela. Quis destruir aquela família inteira. (passa a mão nos cabelos, exaltada) Porque tudo que me foi negado tá lá dentro daquela casa. Dinheiro. Nome. Poder. E agora eu vou tomar o que é meu. Nem que eu tenha que passar por cima de todo mundo.
JOSÉ CARLOS: Meu filho, Otávio não tem culpa disso. Ele tem noção do esgoto que é a nossa família e está cada vez mais distante, ele não tem nada com isso.
JAQUELINE: Claro que não. Ele é inocente. Assim como eu era, quando fui jogada nesse mundo de merda por causa de um velho canalha... e de uma família podre até a alma.
JOSÉ CARLOS: (baixo, pensativo) Sabe o que é curioso, Jaque? De todas as pessoas com quem me envolvi... você foi a única em quem eu me vi. Nós dois viemos do nada. Eu também fiz o que precisava pra subir na vida. Inclusive... vender meu corpo.
Jaqueline arregala os olhos, atônita.
JAQUELINE: Você...?
JOSÉ CARLOS: Foi assim que conheci o Nelson. A mulher dele tava doente na época... e ele me quis. Ficamos juntos por anos. Ele se apaixonou por mim. Mas... nunca teve coragem de me assumir.
Ele se aproxima da janela, encara o nada com um copo de uísque na mão.
JOSÉ CARLOS: Pra manter as aparências, ele bolou o plano de me casar com uma das filhas dele. A Gioconda já era comprometida. Sobrou a Gisela. E foi assim que virei genro... e amante ao mesmo tempo.
Jaqueline senta-se na beira da cama, em choque, tentando digerir a informação.
JAQUELINE: Meu Deus do céu…
JOSÉ CARLOS: E foi por causa disso... pra continuar mantendo essa farsa... que ele colocou a sua mãe, com quem ele tinha um caso, pra fora. A Gisela tava apaixonada pelo Felipe. E o Nelson sabia que, se o casal engrenasse, o plano dele daria errado. Então ele deu um jeito. Fez o que faz de melhor: manipulou. E eu... fui cúmplice.
Silêncio pesado.
JAQUELINE: (voz trêmula, indignada) Então foi por sua causa também... que eu fui apagada da história deles. Que a minha mãe foi humilhada. Que eu cresci sendo nada. Você ajudou esse monstro, José Carlos!
JOSÉ CARLOS: (simples, direto) Ajudar é bondade sua. Eu também ganhei com isso. Muito. Mas quer saber? Nunca amei a Gisela. Nem o Nelson. Aguentei aquela farsa por dinheiro. Por sobrevivência.
Ele a encara com intensidade.
JOSÉ CARLOS: E talvez... seja por ter ajudado a ferrar com a vida da sua mãe... que agora eu queira consertar isso, de algum jeito. É por isso que tô te propondo uma aliança.
Jaqueline o encara, desconfiada.
JAQUELINE: Como assim... uma aliança?
JOSÉ CARLOS: Eu te ajudo. Em tudo. A destruir essa família. A tomar o que é seu. Eu conheço cada esqueleto escondido nos armários da mansão von Bergmann. Você só precisa me dizer se aceita.
Silêncio. Jaqueline permanece imóvel. O olhar dela vacila entre o choque e a ambição. Ela encara José Carlos com intensidade. Um pacto prestes a ser selado. Jaqueline encara José Carlos. O olhar dela, antes em choque, agora brilha com algo novo — determinação, desejo... poder.
JAQUELINE: (séria) Eu aceito.
Ela dá um passo à frente, aproximando-se ainda mais dele. Baixa um pouco o tom da voz.
JAQUELINE: Mas… e quanto a nós dois? Como vai ser agora?
José Carlos hesita por um segundo. Mas logo sorri — não de ironia, mas de sentimento.
JOSÉ CARLOS: Eu quero ficar com você, Jaque. Por completo. Não só como aliada… mas como mulher. Eu me apaixonei por você.
Jaqueline fica sem palavras. Ele se aproxima, a toca com suavidade. Os dois se beijam — um beijo intenso, carregado de desejo e cumplicidade. Ele a envolve pela cintura, a ergue no colo e a leva até a cama com urgência, derrubando a gravata no caminho.
A suíte é banhada por uma luz baixa, âmbar. Jaqueline está deitada, José Carlos sobre ela, a beijando com voracidade. As roupas são retiradas com pressa, mas com cuidado — como se cada peça revelasse ainda mais desejo contido.
Ele percorre o pescoço dela com beijos, mordiscando levemente. Ela arqueia o corpo, prendendo os dedos em seus cabelos. Ele desliza as mãos pelas coxas dela, abrindo espaço com a língua, explorando. Jaqueline geme baixinho, os olhos cerrados, completamente entregue.
José Carlos entra dentro dela com firmeza, o corpo colado, os movimentos intensos e profundos. Eles se olham nos olhos, os rostos suados, as respirações descompassadas. Jaqueline sobe sobre ele, conduzindo, cavalgando com ritmo e domínio. Ela geme o nome dele, sussurrando obscenidades, provocando, excitando.
O som dos corpos se chocando preenche o ambiente, abafado pelo lençol que desliza para o chão. Quando o clímax chega, os dois estremecem juntos, os corpos ainda unidos, como se quisessem se fundir.
Jaqueline está deitada, o lençol sobre os seios, os cabelos espalhados pelo travesseiro. José Carlos fuma um cigarro, ainda nu, relaxado.
JAQUELINE: (séria) A Gisela já viu meu rosto. Já sabe quem eu sou.
JOSÉ CARLOS: Ela não vai fazer nada.
JAQUELINE: Claro que vai. Ela é obsessiva. E essa fixação que ela tem no tio Felipe vai acabar ligando os pontos. Se ela cruzar meu nome com o da minha mãe... tudo vem à tona.
José Carlos a encara, alerta.
JAQUELINE: A gente precisa saber quem mandou aquelas fotos. Porque tem alguém ajudando ela.
José Carlos traga o cigarro, inquieto. Jaqueline se vira de lado, apoiando a cabeça na mão.
JAQUELINE: (seca) Descobre logo quem foi. Antes que essa pessoa destrua tudo que a gente tá construindo.
Ele a olha com seriedade. A câmera fecha no rosto de Jaqueline, impassível, afiada — uma mulher no controle. E no de José Carlos, tenso, dividido entre o desejo e o perigo.
CENA 02: MANSÃO PASSARELLI - SALA DE ESTAR - NOITE
Otávio está sentado no sofá da sala, tenso, pensativo. A luz baixa destaca o silêncio espesso. Ele se levanta ao ouvir passos no corredor. Afonso entra, sorrindo, mas ao notar a expressão séria de Otávio, o sorriso desfaz-se no mesmo instante.
AFONSO: (aliviado ao vê-lo) Ei… que cara é essa? Aconteceu alguma coisa?
OTÁVIO: (frio, direto) Aconteceu sim. Descobri que você ainda não tirou o Volney da cabeça.
Afonso paralisa por um segundo. A tensão no ar se instala.
AFONSO: (seco) Quem te disse isso? A Sabrine?
OTÁVIO: (ignora a pergunta) É verdade? Você quer se vingar dele? Porque se você quer vingança… é porque você ainda sente alguma coisa por ele.
AFONSO: (raivoso, contido) Eu quero me vingar porque ele me fez de idiota. Porque me usou. Porque me trocou por uma mentira.
OTÁVIO: (suspira, decepcionado) Ou seja... você ainda não superou o Volney!
AFONSO: (alto) Isso não tem a ver com a gente!
OTÁVIO: (duro) Claro que tem, Afonso! Porque se o Volney ainda vive na sua cabeça, isso significa que não tem espaço pra mim aí. E se você ainda tá preso ao passado, esse presente aqui — “a gente” — não faz o menor sentido.
Afonso se afasta, passa a mão pela cabeça, tentando controlar a ansiedade. O silêncio pesa por um instante.
OTÁVIO: (continua, firme) Você tem duas escolhas: Ou esquece essa vingança e fica comigo de verdade… Ou eu saio por aquela porta agora e a gente nunca mais se vê.
O coração de Afonso dispara. Ele fecha os olhos, respira fundo. Caminha em silêncio até Otávio, para diante dele, encara seus olhos.
AFONSO: (baixando o tom, com sinceridade) Me dá mais alguns dias… só alguns.
OTÁVIO: (incrédulo) Dias?
AFONSO: (aproxima-se mais, segura o rosto dele com as duas mãos) Eu juro, Otávio... me dá só esse tempo. É tudo que eu preciso pra resolver isso, pra enterrar o passado. Eu prometo… depois disso, Volney deixa de existir pra mim. De verdade. Eu quero estar com você. Só com você.
Eles se encaram por um momento, os olhos nos olhos. Afonso toma a iniciativa e o beija, com desejo e urgência. Otávio hesita por um segundo... mas corresponde. Um beijo cheio de dúvidas, paixão e promessas. Quando se separam, Otávio encosta a testa na de Afonso, respirando fundo.
OTÁVIO: (baixo) Não me faz me arrepender disso.
Afonso apenas o encara, sem palavras, carregando nas pupilas uma mistura de culpa e paixão.
CENA 03: MANSÃO VON BERGMANN - MANHÃ
José Carlos está de pé no quarto, ajeitando a gravata diante de um espelho. Nelson entra, discreto, mas cheio de satisfação. Os dois se encaram brevemente. O tom da conversa é sussurrado, íntimo.
JOSÉ CARLOS: (voz baixa, inquieto) É hoje… o fim oficial do meu casamento com a Gisela.
NELSON: (sereno, seguro) O começo da sua liberdade. Do nosso recomeço.
JOSÉ CARLOS: (irônico) Liberdade? Não sei se é isso que eu tô sentindo.
NELSON: O que quer dizer com isso?
JOSÉ CARLOS: (pretensioso) Será que ainda vou poder viver aqui? Nessa casa?
Nelson o encara, sorri, um sorriso frio e possessivo.
NELSON: Essa casa também é sua. E se alguém tiver que sair… vai ser a Gisela. (baixa o tom, com malícia) Você é meu, José Carlos. Sempre foi! E agora... a gente não precisa mais se esconder.
Nelson toca de leve a mão dele. José Carlos, por um segundo, retribui o toque — mas logo recua, se afastando. Finge um sorriso e ajeita os punhos da camisa.
JOSÉ CARLOS: (sarcástico) Livres… é. Livres para encenar mais um capítulo da nossa farsa.
CORTA PARA: ESCRITÓRIO – ALGUNS MINUTOS DEPOIS
Na mesa, estão sentados Gisela, de vermelho escarlate, fria como uma estátua de mármore, e José Carlos, tentando manter o tom cordial. Dr. Paiva, advogado de Gisela, organiza os papéis com gestos mecânicos.
DR. PAIVA: (frio e profissional) Aqui estão os termos do divórcio, conforme negociado. Separação total de bens. Sem pensão. (estende os documentos) Assinaturas, por favor.
Gisela pega a caneta com elegância. Assina sem olhar para José Carlos. Depois, empurra o papel para ele com a ponta do dedo, como quem empurra lixo para fora da mesa.
GISELA: (frígida) Liberdade assinada.
José Carlos assina. Gisela pega um maço de cigarros, acende calmamente. Silêncio tenso. O advogado confere o documento, em silêncio. Nelson, de pé ao lado, observa tudo como quem assiste a um jogo que já ganhou.
NELSON: (sorrindo, casual) A propósito, Gisela… Quero que fique ciente de uma coisa. O José Carlos vai continuar morando aqui na mansão. Se isso for um problema, você tem total liberdade para ir embora se quiser.
Gisela solta a fumaça com elegância e desprezo.
GISELA: (sorrindo, venenosa) Problema? Nenhum. (fuma, cruza as pernas) Ele pode dormir onde quiser. No quarto de hóspedes, que é onde ele está agora… no sofá da sala… no canil lá nos fundos. Só não vai mais dormir na minha cama. Essa, graças a Deus, tá vazia.
Nelson e José Carlos se entreolham. A tensão cresce. O advogado fecha a pasta e se retira.
DR. PAIVA: Se me dão licença. Entrarei com o registro nos próximos dias. Senhora Gisela…
Ele a cumprimenta com um leve aperto de mão. Ele sai. Gisela permanece sentada, soberana, tragando o cigarro como quem fuma o próprio desprezo. Nelson e José Carlos se retiram em silêncio, desconfortáveis. CLOSE no rosto de Gisela, inabalável.
CORTA PARA: QUARTO DE GISELA – INSTANTES DEPOIS
Gisela entra sozinha. Fecha a porta lentamente. Tira os brincos, o colar. Anda até a penteadeira, encara o próprio reflexo no espelho. Um sorriso começa a surgir. Um sorriso frio, de quem está arquitetando algo muito maior.
GISELA: (para o espelho, sarcástica) Aproveite bem, papai… O seu reinado está com os dias contados.
Ela tira um anel do dedo, deixa cair sobre a penteadeira com um tilintar metálico. Pausa dramática.
GISELA: (baixo, quase um sussurro) Você nem imagina o que te espera...
CLOSE em seu olhar maquiavélico, firme como aço, ela gargalha.
CENA 04: PEDRA DO FORTE – PRAIA – MANHÃ
LEGENDA NA TELA: “Alguns dias depois”
O sol brilha intenso sobre a paisagem deslumbrante da Pedra do Forte. O céu é de um azul profundo e as ondas quebram com força e ritmo sobre a areia dourada. Ao fundo, barracas coloridas, turistas e câmeras de televisão. Surfistas caminham com suas pranchas, vestindo roupas de borracha justas, protetores solares no rosto, pranchas reluzentes sob o braço.
Volney, com um traje preto com detalhes em verde, observa o mar, tenso, respira fundo, tenta se concentrar. Estela se aproxima.
ESTELA: Meu amor… respira. Você já treinou tanto. Vai dar tudo certo.
VOLNEY: (ajustando o leash da prancha) Eu tô com um pressentimento estranho, mãe. Talvez seja só o nervosismo.
ESTELA: É só ansiedade. Você nasceu pra isso. Vai mostrar pra todo mundo quem você é.
Volney esboça um sorriso. Nesse instante, Jaqueline surge entre as pessoas. Ela veste um vestido branco leve, o cabelo solto dançando com o vento. Os olhos dele se iluminam ao vê-la.
VOLNEY: Jaque…
JAQUELINE: (sorri, mas com um fundo de apreensão) Vim torcer por você.
Ela se aproxima e deposita um beijo carinhoso no rosto dele.
JAQUELINE: Boa sorte, campeão.
VOLNEY: (com brilho nos olhos) Só de você estar aqui, já ganhei o dia.
CORTA PARA: QUIOSQUE – SEQUÊNCIA
Sabrine chega, usando óculos escuros e um vestido de grife. O dono do quiosque a reconhece e se ilumina.
DONO: Ora ora… olha quem resolveu dar as caras. Sabrine von Bergmann… Olha, fiquei sabendo do que o seu ex te aprontou. Sacanagem, viu?
SABRINE: (forçando um sorriso) Pois é… a vida dá voltas, né? Mas quer saber? Hoje eu vim pedir um favor.
DONO: Pra mim?
Ela abre a bolsa e mostra discretamente um frasco pequeno, com um líquido transparente.
SABRINE: Quero que coloque isso no smoothie que o Volney sempre pede antes de cair no mar. Vai fazer ele… digamos… relaxar. Ele deve estar muito tenso, sabe?
DONO: (Sério) Isso não é coisa ilegal, é?
SABRINE: (Ri) Relaxa. Não mata ninguém. Só deixa o “macho” meio lento. E te garanto: não tem exame antidoping que detecte. (Mostra um maço de dinheiro) Isso é só pelo transtorno.
Ele hesita. Depois, abaixa a cabeça e aceita o dinheiro. Nesse instante, Volney se aproxima, suado e sorridente.
VOLNEY: Pitanga, manda aquele de sempre, irmão. Capricha que hoje o dia promete.
DONO: (sorri falso) Pode deixar.
Enquanto prepara o smoothie, Sabrine se afasta, andando pelo calçadão. De longe, ela observa quando Pitanga entrega o copo para Volney. Ele bebe, sem suspeitar de nada.
SABRINE: (sussurrando, satisfeita) Bebe tudinho, amorzinho.
Ela vira o rosto e vê Afonso, encostado em um quiosque mais à frente, usando óculos escuros. Os dois trocam olhares. Ela sorri, cúmplice. Mas o sorriso dele se apaga, tenso.
CORTA PARA: PRAIA – ÁREA DE COMPETIÇÃO
O narrador do evento começa a falar ao microfone. O sinal da largada é dado. Os surfistas, incluindo Volney, correm em direção ao mar com as pranchas.
NARRADOR: (voz em off) E começa agora a bateria da categoria masculina! Boa sorte aos competidores!
Estela assiste aflita. Afonso se posiciona para ver melhor. Jaqueline, de braços cruzados, anda de um lado para o outro, inquieta. Ela vira e vê Afonso.
JAQUELINE: (vai até ele) Eu não tô gostando disso. A gente passou dos limites. Se acontecer o pior com o Volney.
AFONSO: (sério, tentando tranquilizá-la) Calma. Não vai acontecer nada demais. É só um susto. Tem salva-vidas pra isso.
Mas ele mesmo não acredita no que diz. Os olhos estão inquietos. A tensão é visível.
CORTA PARA: MAR – ÁREA DE COMPETIÇÃO
Volney rema com força, os músculos dos braços e ombros tensos sob o sol intenso. Seus olhos, antes fixos no horizonte, agora piscam com dificuldade. As ondas, que antes eram suas aliadas, parecem aumentar em tamanho e ameaça, distorcendo-se à medida que a clonidina começa a agir em seu corpo. Uma sensação de tontura o invade, e o mundo começa a girar. Ele esfrega os olhos, tentando desesperadamente focar, mas a visão embaça.
Outro surfista, percebendo algo errado, se aproxima.
SURFISTA: (com a voz um pouco abafada pelo marulho) Tá tudo bem aí?
VOLNEY: (a voz fraca, sem firmeza, quase um sussurro) Tô… tô sim…
Da areia, Estela observa a cena, seu corpo tenso e o olhar fixo no filho. Uma premonição a atinge.
ESTELA: (preocupada, para si mesma) Tem alguma coisa errada acontecendo…
No mar, Volney tenta reagir. Uma onda perfeita se forma à sua frente, a chance de uma manobra decisiva. Ele tenta se levantar na prancha, impulsionar-se para pegar a onda, mas é como se o chão sumisse sob seus pés. O mundo gira vertiginosamente. O sangue parece fugir de sua cabeça, e as pernas falham, tornando-o incapaz de se manter em pé.
Seus olhos se reviram. Ele cambaleia, o corpo caindo em câmera lenta sobre a prancha, até que desmaia por completo e despenca no mar, desaparecendo sob as ondas agitadas.
Na areia, o grito de terror de Estela ecoa, desesperado e agudo.
ESTELA: VOLNEY! MEU DEUS! MEU FILHO!
NARRADOR: (em off, tenso) Temos um incidente! Um dos competidores caiu e parece não ter voltado à superfície!
Jaqueline entra em pânico na areia. O plano de Afonso, que parecia tão distante, agora é uma realidade aterrorizante.
JAQUELINE: (A voz embargada, mal contendo o choque) Meu Deus do céu, Afonso…
Afonso não responde. Ele está paralisado, os olhos arregalados, o rosto pálido. O terror do que acabara de fazer o atinge em cheio. Jaqueline, no entanto, reage rapidamente. O salva-vidas já mergulha no mar em direção a Volney, e Jaqueline se joga atrás dele sem hesitar. Afonso assiste a tudo, imóvel, uma estátua de pavor.
CORTA PARA: AREIA – ALGUNS MINUTOS DEPOIS
Volney é trazido desacordado. Jaqueline e o salva-vidas o colocam na areia. O público começa a se aproximar, formando um círculo tenso. O clima é de desespero. Estela grita, ajoelha-se ao lado do filho, as mãos tremendo.
ESTELA: (Em desespero, voz falha) Faz alguma coisa! Pelo amor de Deus!
SALVA-VIDAS: (Com urgência, iniciando os procedimentos) Massagem cardíaca! Vamos!
Ele começa as compressões no peito de Volney. Jaqueline, com lágrimas escorrendo pelo rosto, faz respiração boca a boca, desesperada, ignorando o público, focada apenas em Volney.
JAQUELINE: (Suplicante) Volney, por favor! Volta pra mim! Me escuta! Volta!
Nada. Volney permanece imóvel. Afonso fecha os olhos, incapaz de encarar a cena, consumido pela culpa. Estela chora, seus gritos rasgando o ar. Jaqueline insiste, as lágrimas se misturando ao suor.
JAQUELINE: Abre os olhos, Volney! Abre os olhos!
Ela olha para Afonso, que agora está completamente desesperado, com o peso de suas ações caindo sobre ele. Num impulso, Afonso rompe sua paralisia. Ele se abaixa, afasta o salva-vidas com um empurrão e toma o lugar, iniciando a massagem cardíaca e a respiração boca a boca em Volney com uma fúria desesperada.
AFONSO: (Entre as compressões e as respirações, a voz rouca de desespero) Bora, Volney! Bora! Acorda! Vai! Acorda, seu desgraçado! Acorda!
Afonso continua alternando entre a massagem cardíaca e a respiração boca a boca, ignorando o cansaço, a dor nos braços, e o olhar da multidão.
AFONSO: (Grita, com toda a força que lhe resta) Vai! Acorda, porra! ACORDA! VAI!
CLOSE NO ROSTO DE VOLNEY – pálido, imóvel. De repente, um espasmo. Ele reage, começa a tossir violentamente, expelindo a água que engoliu. Aos poucos, seus olhos se abrem, pesados, desfocados. Ele foca em Afonso.
VOLNEY: (Com um sorriso fraco, quase inaudível) Afonso…
Afonso, num misto de alívio e culpa, o abraça com força, sorrindo e chorando ao mesmo tempo. Volney, ainda tonto, olha para ele.
VOLNEY: (A voz rouca, mas clara) Você salvou minha vida…
Volney, com a pouca força que tem, puxa o rosto de Afonso e o beija ali, na frente de todo mundo. CLOSE NOS DOIS.
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