19/06/2025

Terra Vermelha - Capítulo 25 - Penúltimo Capítulo


Capítulo 25



 CENA 01 - MATA FECHADA - EXT/NOITE


Luigi está de joelhos, todo sujo, tremendo. O seu rosto está sangrando. Ramiro segura firme a sua nuca. Antônio, diante dele, empunha a arma.


Antônio(frio) - Pode começar a rezar.


Luigi solta um soluço e abaixa a cabeça. Ele tenta dizer alguma coisa, mas sua voz falha. 


A câmera fecha no olhar gélido de Antônio, que engatilha a arma.


Ramiro - Tá pronto, patrão.


Antônio - Que Deus tenha pena da tua alma. Porque eu não vou ter.


Antônio mira a arma na testa de Luigi e atira.


O estampido ecoa por toda a mata. Uma revoada de pássaros levanta voo. Luigi cai de lado, sem vida. O sangue escorre pela terra encharcada. 


Antônio - Podem jogar no rio. As piranhas comem o resto.


Os comparsas obedecem. Dois deles arrastam o corpo até o barranco e jogam sem cerimônia o corpo no rio.

Ramiro limpa a arma e entrega a Antônio. Os capangas erguem as armas e começam a atirar para o alto em comemoração.


Os tiros cruzam o céu noturno como fogos de artifício sinistros. 


Antônio(gritando) - É assim que se paga traição! É assim que se limpa o nome de um homem! 


Ramiro - Isso aí, patrão!


Eles começam a rir e a  gritar. A câmera foca no olhar cheio de ódio de Antônio.


CENA 02 - MANSÃO LA SELVA - INT/NOITE 


A câmera passeia pelos objetos de luxo, até focar em Irene, completamente desfigurada pelo ódio e desespero, de pé no meio da sala. Ela joga um vaso contra a parede.


Irene(histérica) - Nada… NADA! Desgraçadas! Tudo o que eu lutei pra conquistar, tudo… 


Ela vira a mesa de centro. Puxa um porta-retratos da família e o atira com força contra a parede.


Graça(nervosa) - Irene, meu Deus, o que você tá fazendo?! Se acalma! 


Irene gira para ela com os olhos em chamas. Do cós da calça, ela puxa uma arma e aponta para Graça.


Irene(tremendo) - Me acalmar? Você realmente está preocupada comigo, sua cobra? Sabe… talvez eu devesse te punir por todos esses anos, fingindo que essa menina era minha neta, sangue do meu sangue! Sua desgraçada! Além de ter me enganado, você deu uma neta pra aquela vadia da Agatha. PIRANHA! 


Caio - Ei… vai com calma, Irene. O que você pensa que tá fazendo? Não tem moral nenhuma pra chamar minha mãe desses nomes.


Irene aponta a arma pra ele.


Irene - Claro… tinha que defender a mamãe… Só que você está muito enganado em relação a ela, meu bem. MUITO ENGANADO! 


Irene dá um tiro, acertando um lustre.


Graça grita e corre para o andar de cima com Júlia, em pânico.

Caio recua.


Angelina(assustada - Dona Irene, por favor… Eu fiz um cházinho pra senhora, é de camomila, é bom pros nervos.


Irene encara Angelina, agarra ela pelo braço e empurra ela com força, fazendo ela se sentar na escada. Irene aponta a arma direto pra cabeça dela.


Angelina começa a chorar e a berrar.


Irene(voraz) - Isso! Chora, meu bem! Chora! Você é uma rata que se esconde nos cantos dessa casa. Uma aproveitadora! Se eu te matasse agora, não ia fazer falta nenhuma nesse mundo. VOCÊ MERECE MORRER, SUA DESGRAÇADA.


Angelina fecha os olhos, tentando conter o choro. 


Petra - Mãe! MÃE, PARA COM ISSO!


Ela tenta afastar a mãe de Angelina, mas Irene agarra o pescoço da empregada com a outra mão e começa a apertar com força.


Clara(desesperada) - Solta ela, dona Irene! A senhora vai acabar matando ela!


Petra e Clara lutam para afastá-la. Caio tenta ajudar também. A briga é intensa. Irene então empurra Petra e aponta a arma pra ela.


Irene(gritando) - Ninguém nessa casa merece os anos de dedicação que eu dei. Vocês são todos iguais. São todos uns vagabundos, traidores.


Ela abaixa a arma. Angelina corre para trás de Caio.


A porta da sala se abre com um estouro.


A câmera vira lentamente até mostrar Antônio entrando. Irene o encara. Eles ficam em silêncio por alguns segundos, até que ele decide caminhar até ela. Os dois sem tirar os olhos um do outro.


Antônio(firme) - Petra, Clara e Caio… levem a Angelina e saiam. Agora.


Irene e Antônio permanecem frente a frente.


Corta para:


CENA 03 - PENSÃO DE LUCINDA - QUARTO DE PÉROLA - INT/NOITE


Pérola está sentada à beira da cama, com o celular nas mãos. Ela respira fundo e decide ligar para uma pessoa.


Corte rápido. O celular de Gregório começa a tocar. Ele atende.



Gregório(desconfiado) - Pérola?


Pérola(voz mansa, frágil) - Oi, Gregório… sou eu. Desculpa te ligar assim… eu só… não estou me sentindo muito bem. Tô me sentindo muito sozinha, sabe? Desde que minha mãe… enfim, se foi…


Gregório - Eu sinto muito, de verdade. Eu não sabia.


Pérola - Eu sinto muito a sua falta. Eu queria muito me desculpar pelo que eu te falei e fiz naquele dia. De verdade. Mas eu estava em um momento muito difícil na minha vida. Na verdade, a minha vida é majoritariamente feita de momentos complicados… enfim. Eu gosto de você.


Gregório - Pérola… eu também pensei muito em você. E eu errei. Fui um idiota, falei o que não devia. Eu estava mesmo pensando em te ligar.


Pérola - Então por que a gente não mata essa saudade? Se você quiser vir aqui na pensão hoje… eu adoraria te ver. Sei que você vai embora amanhã… eu queria me despedir de você de uma maneira melhor do que a do nosso último encontro. 


Gregório - Mas… agora?


Pérola - Por favor… Só pra gente conversar. Ou quem sabe, mais do que isso, se você quiser…


Gregório(malicioso) - Claro… eu estou indo aí. Me espera.


Pérola sorri  levemente. Ela desliga o celular.

Ela se levanta e a câmera acompanha seus movimentos frios e calculados. Ela coloca o pai em um quarto escondido e o tranca. 


Em frente ao espelho, Pérola solta os cabelos. A câmera gira em torno dela enquanto ela veste uma lingerie preta e por cima, um vestido de veludo vinho. Nas mãos, luvas pretas até os cotovelos.


Ela encaixa uma faca com cuidado dentro da bota. Olha para o espelho e sussurra, com um sorriso assustador.


Pérola - Vamos ter um momento inesquecível… bem do jeitinho que você merece.


A câmera foca no olhar dela, bastante sinistro.


Corta para:


CENA 04 - MANSÃO LA SELVA - INT/NOITE


Antônio pega um copo e enche ele de uísque. Sorridente, comemorativo.


Irene observa ele, cheia de ódio.


Irene - Posso saber o que você está comemorando?

Antônio - A caçada… Eu cacei um javali, cê tinha que ver. Um javali grande… forte. Uma coisa extraordinária, uma coisa raríssima.


Irene(se aproximando) - Você matou o Luigi?


Antônio - Matei… e foi um prazer imenso que eu senti que você não faz ideia. Há muito tempo eu não me sentia tão bem quanto agora. Eu lavei a minha alma e a minha honra ao mesmo tempo.


Irene vira as costas para ele e começa a andar pro lado contrário, até que Antônio grita o nome dela e ela se vira.


Antônio - Agora para completar a minha satisfação… eu quero acertar as contas com você.


Os dois se encaram por alguns segundos.


Antônio puxa uma arma.


Antônio - Eu matei o seu amante… nada mais justo do que eu te matar também, não acha? Essa arma é só pra facilitar a nossa conversa. Que vergonha meu  Deus, que vergonha… Você me fez passar de otário pra cidade inteira. Uma mulher que eu tirei da vida pra transformar numa dama… Como pôde? Me responde! Como? Onde eu tava com a cabeça?


Irene - Com qual direito e moral você abre a sua boca pra falar isso? Se acha superior, mas vivia me traindo com não sei quantas mulheres por aí. Você acha que eu gostava de deitar ao seu lado sabendo que você tinha saído do quarto de uma outra mulher?


Antônio - Ah… eu sou homem!


Irene - Um homem ridículo! Que acaba de coroar todos os seus feitos matando o Luigi. E é claro, como você nunca esqueceu a mulher da sua vida e sabe que ela está viva te esperando, vai dar um jeito de correr pros braços dela. Mas você nunca colocou na balança tudo que eu fiz por você. Todos os sacrifícios, todas as armações, TUDO! Eu me entreguei de corpo e alma, mas de que adiantava? O fantasma daquela vagabunda nunca saiu dessa casa, nunca saiu dos seus pensamentos! Você pensa que eu não vi aquela foto que você escondia dela? As vezes que eu te pegava pensando nela? Ou então as noites que você sonhava com ela e falava o nome dela? VOCÊ ACHA QUE ERA FÁCIL? EU ERA TROCADA POR UMA MULHER QUE NEM VIVA ERA! IMAGINA AGORA… Mas você quer saber de uma coisa? Foi bom… muito bom… O Luigi conseguia me satisfazer de verdade…


Antônio(apontando a arma) - Vagabunda!


Irene puxa a arma escondida e aponta para Antônio também.

Ele se surpreende.


Irene - Atira! Atira que eu atiro também!


De repente os dois começam a atirar nos móveis ao redor um do outro. Acertando os vidros e objetos. 


Irene - Seu corno!


Antônio - Sua rampeira!


Irene - Seu idiota! DESGRAÇADO! DESGRAÇADO!


Caio tenta intervir na briga junto de Clara e Petra. Eles tomam as armas dos dois.


Antônio(gritando) - Você vai sair dessa casa! Sua messalina! 


Irene(enlouquecida) - Dessa casa eu não saio! Essa casa também é minha! 


Irene joga um vaso caríssimo, acertando a mesa de vidro.


Caio(gritando) - Parem com isso, pelo amor de Deus!


Irene - Tudo culpa da sua merda de mãe e daquela desgraçada da Aline! As duas voltaram pra acabar com a minha vida, transformar ela num inferno! Mas isso não vai ficar assim. NÃO VAI!


Irene sai da casa. Ela se apoia na pilastra e começa a tossir, ela pega um lenço e acaba expelindo sangue. Irene arregala os olhos, mas decidida, ela entra no carro e parte em disparada.


Petra fica preocupada com a mãe.


Petra - Eu vou atrás dela. Clara, você vem comigo? 


Clara - Claro!


Petra - Caio, cuida do papai… Parece que o mundo está caindo sobre essa casa.


Petra e Clara saem atrás de Irene.


Irene acelera o carro, desviando de outros. Ela finalmente para em frente a casa de Cândida. Petra e Clara param logo atrás.


Petra - A casa da Cândida? Por que aqui? 


Clara - É melhor a gente ficar aqui, Petra.


Petra - De jeito nenhum! Eu vou atrás dela. Se você quiser ficar aqui, tudo bem.


Clara - Espera! Eu não sei se é a melhor hora pra falar isso, mas… Eu te amo!


Petra fixa seus olhos em Clara e se emociona.


Clara - Eu sei que… enfim… Eu precisava te dizer isso e eu também preciso dizer que…


Petra - Shh… não fala mais nada.


Petra beija Clara. As duas se beijam intensamente.


Petra - Eu também precisava demonstrar isso.


Petra sai do carro e vai atrás da mãe.


Irene invade a casa de Cândida. Ela sobe as escadas perguntando por Agatha.

Cândida tenta impedir, mas é empurrada por Irene que invade o quarto de Agatha.


Irene - DESGRAÇADA! Eu quero acertar as minhas contas com você.


Irene vê a foto de Clara e Agatha pendurada no canto da penteadeira de Agatha. Ela arranca e vê escrito “Feliz dia das mães!”.


Petra e Clara entram bem na hora.

Irene arregala os olhos e encara Agatha.

Agatha, por sua vez, encara Petra na porta.


Corta para:


CENA 05 - MANSÃO LA SELVA - INT/NOITE


Graça desce as escadas, preocupada.


Graça(para Caio) - E então? Cadê a Irene?


Caio - Saiu por aí de carro. Graça… a situação tá feia. E a Júlia? 


Graça - Consegui fazer ela dormir. Mas… amanhã a gente vai embora desse lugar. A Irene colocou a vida da minha filha em risco. Ela surtou… e agora que soube que ela é sua filha…


Caio - É verdade isso? A Júlia é mesmo a minha filha?


Graça - É, Caio. Ela é sua filha. Mas por favor, eu peço que me entenda…


Caio(sorrindo) - Minha filha… Meu Deus, que presente melhor você poderia me dar?


Graça - Não está bravo?


Caio - Eu tenho uma filha, Graça. Uma filha! Eu vou lá dar um beijo nela.


Graça sorri, deslumbrada.


Quarto de Júlia:


Vinícius entra no quarto sorrateiramente. Ele observa Júlia dormir com um olhar sinistro.


Caio chega bem na hora, assustando Vinícius. Caio arrasta ele para o lado de fora.


Caio - O que você tá fazendo no quarto da Júlia?


Vinícius - Calma, cara. Eu só vim ver se ela tava bem. Eu fiquei preocupado, nem tive coragem de descer. Minha irmã tava maluca, soltando fogo pelas ventas. Mas e aí? Tá tudo bem? O que aconteceu?


Caio - Nada… só o fim do casamento entre ela e meu pai. Mas agora, pode ir dormir Vinícius. Eu cuido da Júlia.


Vinícius - Vem cá… ela é sua filha mesmo?


Caio - Sim… ela é minha filha.


Vinícius - Caraca… bem que eu achava que o Daniel não seria capaz mesmo… quer dizer. Então a Graça tava mentindo mesmo?


Caio - Tio… por favor. Vai dormir.


Vinícius - Tá bom… tá bom… Vou pegar um copo de água.


Caio entra no quarto com um sorriso de orelha a orelha. Ele se ajoelha perante a cama de Júlia e passa a mão pelo seu cabelo. Ele acaricia seu rosto. 


Caio(orgulhoso) - Minha filha…


Corta para:


CENA 06 - PENSÃO DE LUCINDA - INT/NOITE


A porta da pensão range ao ser aberta. Gregório entra sorrindo, com um olhar malicioso. Pérola aparece do alto da escada, deslumbrante. Ela desce lentamente, cada passo calculado.


Pérola - Eu tava precisando tanto de você.


Assim que ela chega ao pé da escada, pula nos braços dele, que a segura com desejo. Eles se beijam. Pérola fecha a porta com o pé. O clima esquenta.


Gregório(roçando o nariz no pescoço dela) - Você sabe me deixar louco…


Ele a ergue no colo e sobe as escadas com ela. Pérola sorri, mas o olhar é vazio, cruel. Eles chegam no quarto e ele joga ela na cama, já se despindo. Ela o puxa com vontade. Eles se beijam de novo.


A câmera foca no rosto de Pérola. Durante o beijo, ela abre os olhos. Estão tomados de ódio. Sem que ele perceba, Pérola leva uma das mãos até a bota. Delicadamente, desliza a faca pra fora.


Corta para:


CENA 07 - MANSÃO LA SELVA - INT/NOITE


Caio está encostado na janela, com o celular no ouvido. Fala com firmeza, observando as plantações.


Caio - Aline… eu queria te ver amanhã. A gente precisa conversar. Eu… eu não consigo parar de pensar em tudo que aconteceu.


Do outro lado da sala, Graça escuta atrás da porta entreaberta. Ao ouvir o nome de Aline, seus olhos se estreitam. Ela aperta com força um papel que segurava, amassando com raiva.


CENA 08 - CASA DE FERNANDA - QUARTO - INT/NOITE


Fernanda está sentada diante do notebook. Ela conecta o pen drive com as mãos trêmulas. Ela acha uma pasta diferente e clica nela.


Vários vídeos aparecem. Ela clica em um. A imagem mostra Graça apontando a arma contra Daniel e Aline caída desacordada. Ela mostra Graça atirando em Daniel, o matando. 


Fernanda(transtornada) - Não… não… DESGRAÇADA!


Ela bate a mão na mesa. O rosto tomado por lágrimas.

Ela pega a carta escrita por Lúcia na qual dizia que se algo acontecesse com ela, a Graça era a responsável.

A câmera foca no rosto dela cheio de ódio.


Fernanda - Você vai pagar por isso, Graça. Vai pagar!


ENCERRAMENTO.


(Sinônimos - Chitãozinho e Xororó)



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