“TEIA DE SEDUÇÃO”
Novela criada e escrita por
Susu Saint Clair
Capítulo 25
CENA 01: MANSÃO VON BERGMANN – QUARTO DE GISELA – MANHÃ
CLOSE NO CELULAR DE GISELA, A LUZ VERDE PISCANDO DISCRETAMENTE AO LADO DA CÂMERA: A CONVERSA ESTÁ SENDO GRAVADA.
GIOCONDA: Vocês não têm o direito de me ameaçar. Nem de usar o que fizemos como justificativa pra esse absurdo com o papai.
GISELA: (baixa e cortante) Não se faça de sonsa, Gioconda. Você atravessou essa linha muito antes de mim. Quando decidiu empurrar seu marido pro túmulo só pra garantir pensão vitalícia e nome de rica na lápide.
GIOCONDA: (com os olhos marejados) Eu não tive escolha... ele ia...
GISELA: Ia te deserdar. Ia arrancar o futuro dos seus filhinhos bastar... ops, legítimos. (ri, venenosa) E quem encobriu tudo? Quem simulou o acidente, jogou o carro no precipício?
CAETANO: Fomos nós. Todos nós. E agora, se alguém cair, caímos juntos.
GISELA: (diabólica, sussurrando no ouvido da irmã) Você não tem outra saída, minha irmã. Ou ajuda a gente a mandar o papai direto pro túmulo dele… ou eu mesma acabo com a sua reputação. Em público. Com direito a manchete de jornal e plantão na TV.
Gioconda desaba. Respira fundo, o queixo trêmulo, a alma corroída pela culpa.
GIOCONDA: Eu… eu vou ajudar. Mas é pelos meus filhos. Eles não merecem saber o tipo de mãe que têm...
GISELA: (sarcástica, fria como gelo) Ah, querida... relaxa. Os seus filhos? Eles não iam se importar. Carregam o mesmo sangue podre que a gente. A única diferença é que ainda não tiveram a chance de mostrar do que são capazes. Aliás... mostraram. Quando se juntaram a mim pra acabar com o Afonso na cadeia!
CAETANO: E se o velho descobrir o que aconteceu com o seu marido... é adeus herança. Adeus fachada. Adeus tudo.
GISELA: (firme, um sorriso torcido) Então é isso. Ou você mata de novo... ou morre junto com o segredo.
CLOSE NO ROSTO DE GIOCONDA, LACRIMEJANDO, MAS CONCORDANDO COM UM NÓ DE ÓDIO E MEDO NA GARGANTA.
CLOSE NO CELULAR DE GISELA — A GRAVAÇÃO SEGUE.
CENA 02: MANSÃO PASSARELLI – QUARTO DE JAQUELINE – MANHÃ
Jaqueline, tensa, com os fones no ouvido, escuta cada palavra da conversa no quarto de Gisela. Ao perceber a gravidade do que ouviu, arranca os fones, pega o celular e liga imediatamente.
JAQUELINE: (urgente) Zé Carlos? Preciso me encontrar agora você e o Nelson. Descobri uma coisa muito séria!
INTERCORTE COM:
CENA 03: MANSÃO VON BERGMANN – QUARTO DE JOSÉ CARLOS – MANHÃ
JOSÉ CARLOS: Impossível! O Nelson não pode sair, ele tá seguindo com o nosso plano, tá se fazendo de moribundo, tá na cama!
JAQUELINE: (categórica) Essa informação é urgente, Zé Carlos. É sobre o segredo que o Caetano esconde junto com a Gisela.
José Carlos muda a expressão para puro choque.
JOSÉ CARLOS: O que você descobriu?
JAQUELINE: Me diz onde você tá.
JOSÉ CARLOS: No meu quarto. Por quê?
JAQUELINE: Vai AGORA pro quarto do Nelson. E tranca a porta. Eu vou falar com vocês dois.
CORTA PARA:
CENA 04: MANSÃO VON BERGMANN – QUARTO DE NELSON – MANHÃ
José Carlos entra apressado e tranca a porta atrás de si. Nelson, deitado, se ergue na cama, surpreso.
NELSON: Que foi agora? Alguma desgraça nova?
JOSÉ CARLOS: (mostrando o celular) A Jaqueline. Ela tem uma revelação pra fazer.
Ele coloca o celular em videochamada. Jaqueline aparece na tela.
JAQUELINE: Nelson, você precisa saber disso antes que seja tarde demais. A Gioconda matou o próprio marido.
NELSON: (chocado) O quê?
JAQUELINE: É isso mesmo. Ele descobriu que o Marcos e a Sabrine não eram filhos dele. Eram filhos do Caetano. Ela surtou, matou ele… E quem ajudou a esconder o corpo? Adivinha?
JOSÉ CARLOS: Gisela e o mordomo. Era esse o segredo que eles escondiam juntos!
JAQUELINE: Inventaram que ele morreu num acidente. Mas foi assassinato. E agora os três tão tramando matar você.
NELSON: (em fúria contida) Como assim? A Gioconda também?
JAQUELINE: A Gioconda aceitou porque tá se sentindo acuada! Eles coagiram ela a aceitar em troca de continuar guardando esse segredo podre!
JOSÉ CARLOS: (tenso) A única saída é você continuar fingindo que tá morrendo, Nelson. Deixa eles acharem que tão ganhando e depois você pega essa corja no flagra.
NELSON: (respira fundo, se recompõe) Liga pro meu advogado. AGORA!
José Carlos já pega o telefone.
CLOSE NO ROSTO DE NELSON, DURO, DETERMINADO, PRESTES A VIRAR O JOGO.
CENA 05: HOTEL – QUARTO DE OTÁVIO – MANHÃ
Otávio fecha o zíper de uma mala, ajeita a alça. O quarto já está com cara de despedida: armário semi aberto, cabides vazios.
AFONSO: Caramba, seu apê ficou pronto rápido, hein?
OTÁVIO: (sorri, sem parar de arrumar) Na real, já tava quase tudo pronto. Só faltava resolver umas pendências… Aproveitando que você tá aqui, porque não vem logo comigo, Afonso? Se muda hoje. A gente começa logo a nossa vida.
AFONSO: Eu pensei nisso... Mas acho melhor a gente esperar até depois do casamento. (se aproxima dele) A gente faz tudo certinho, do nosso jeito.
Os dois se beijam. Depois ficam se encarando, abraçados.
AFONSO: Tem uma coisa que eu preciso te contar.
OTÁVIO: Ih, lá vem. O que foi?
AFONSO: O Volney ficou mal com a notícia do nosso casamento.
OTÁVIO: (estranha) Mal como?
AFONSO: Foi lá em casa se declarar pra mim, pedindo pra eu não casar. Disse que a gente nunca vai ser feliz juntos! Pra no dia seguinte tá com a Jaqueline. E eu acho que ele tá usando a Jaque pra tentar mexer comigo. Aliás, eu e a Jaque achamos isso. Pro Volney tá descendo o nível desse jeito é porque ele pode fazer mais coisas, até pra te atingir também.
Otávio pisca, absorvendo.
OTÁVIO: (indignado) Você tá dizendo que aquele teatrinho dele… o discurso, o pedido de desculpas na cadeia… foi tudo fingimento?
AFONSO: Não tô dizendo isso. Só quero que, se alguma coisa estranha acontecer, se surgir fofoca, confusão, insinuação... cê saiba de onde pode estar vindo. Fica ligado, só isso.
Otávio caminha até a janela, esfrega o rosto.
OTÁVIO: Que merda. E ainda usando a Jaqueline... A mesma mulher que meu pai vive babando em cima. É muita palhaçada. (vira-se) Por que ele não te esquece de uma vez?
AFONSO: Ei... (se aproxima) Olha pra mim.
Otávio reluta, mas encara Afonso.
AFONSO: Respira. Esquece o Volney. Eu te contei isso pra você ficar esperto, não pra você surtar. A gente tem coisa melhor pra pensar, não tem?
Afonso sorri e o puxa pela cintura.
AFONSO: Vamos focar na sua mudança. E no nosso casamento. Que vai ser lindo. (beija o pescoço dele) Prometo.
Otávio ainda está emburrado, mas o toque do namorado começa a quebrar a muralha. Um sorriso discreto escapa. Ele rende-se ao beijo.
OTÁVIO: (sussurrando entre os lábios dele) Você é demais, sabia?
Eles continuam se beijando, com carinho, como quem encontra refúgio um no outro.
CENA 06: CASA DE VOLNEY – SALA – MANHÃ
Estela está de pé, de braços cruzados e o cenho franzido. Raí está sentado no sofá, observando.
ESTELA: (chocada) Você pediu a Jaqueline em namoro?
VOLNEY: Pedi.
ESTELA: (reage, incrédula) E o Afonso? E aquele amor todo que você dizia ter por ele?
VOLNEY: (cínico) Ué... Mas não foi você mesma que me mandou seguir em frente, mãe? Não tô entendendo essa reação.
ESTELA: Eu disse pra você seguir em frente, sim. Mas com responsabilidade, Volney. E se essa menina se magoar? Você vai fazer o quê? Ficar se culpando como fez das outras vezes?
RAÍ: (se intrometendo) Olha, não querendo me meter, mas já me metendo... vai ser difícil a Jaqueline se magoar com alguma coisa. Aquela ali é cobra criada. Já nasceu vacinada.
ESTELA: Você fala isso porque não viu o jeito que ela saiu daqui, depois que levou um fora do Volney. Tava arrasada.
VOLNEY: (impaciente) Já chega. Eu só tô anunciando que tô namorando, não pedi opinião de ninguém. Nem vou discutir isso.
RAÍ: Eu não falei nada. Só observei.
O celular de Volney começa a tocar. Ele tira do bolso e atende, irritado.
VOLNEY: Alô?
VOZ (OFF): Volney?
VOLNEY: Quem tá falando?
VOZ (OFF): Não tá reconhecendo minha voz, primo?
Volney congela. O sangue parece sumir do rosto dele.
VOLNEY: Rafael?
Estela, sentada, se levanta num pulo.
ESTELA: (em choque) Rafael?
VOLNEY: Onde é que você tá? Por que você sumiu? Tá todo mundo doido de preocupação com você, sua mãe tá desesperada! Onde você se meteu, cara?
ESTELA: (tentando pegar o celular) Deixa eu falar com ele!
Volney se afasta instintivamente, o coração acelerado.
VOLNEY: Rafael, fala comigo! Você tá onde? Precisa de ajuda?
CORTA PARA: INT. PENITENCIÁRIA – SALA DE VISITAS – MANHÃ
RAFAEL (28), abatido, cabelo bagunçado, fala no telefone de dentro do presídio. Ao fundo, o ambiente barulhento e tenso da prisão.
RAFAEL: Tô preso, Volney. Tô numa cadeia em Pedra das Flores. Tô precisando de ajuda. Tô precisando de você.
CORTA PARA: CASA DE VOLNEY – SALA
Volney empalidece.
VOLNEY: Que porra você fez, Rafael?
ESTELA: (já aflita) Me dá esse celular!
Ela toma o aparelho das mãos do filho, quase derrubando o telefone no processo.
ESTELA: Rafael? Me conta o que aconteceu… (vai ouvindo) Sei... Sei… Ai, meu Deus… Fica calmo. Eu vou falar com a sua mãe. A gente vai aí agora. Fica firme.
Ela desliga, tremendo. Volney e Raí a observam, atônitos. Estela respira fundo, pega o celular novamente e disca com as mãos trêmulas. Do outro lado, Susane atende direto da Bergmann Privé, apressada.
SUSANE: (no automático) Oi, Estela. Fala rápido que eu tô no meio do expediente.
ESTELA: (trêmula) É sobre o Rafael...
SUSANE: O que que tem o Rafael?
ESTELA: Ele ligou pro Volney. Ele tá preso, Susane.
SUSANE: (em choque) O quê?!
ESTELA: A gente vai até lá agora. Passamos aí pra te buscar. Se apronta.
Susane fica muda do outro lado.
CENA 07: PENITENCIÁRIA DE PEDRA DAS FLORES – ÁREA DE VISITAS – TARDE
O portão de ferro se abre. Rafael, abatido, mas ainda com charme e altivez, aparece escoltado por um agente. Assim que o vê, Susane corre até ele, os olhos marejados, a voz falhando.
SUSANE: Meu filho...
RAFAEL: Mãe...
Eles se abraçam forte. Susane chora baixinho, trêmula. Volney, Estela e Raí observam à distância, emocionados. Depois, Rafael abraça Volney com força. Estela o segura pela mão com ternura. Por fim, ele estende a mão para Raí.
RAÍ: (apertando a mão dele) Tava com saudade, safado.
RAFAEL: Eu também, cachorro.
Todos se sentam à mesa de concreto. O clima pesa.
SUSANE: Como foi que você veio parar aqui, meu filho? Pelo amor de Deus...
RAFAEL: Eu tava morando num hotel, bancado por um coroa, eu era fixo desse velho. Ricão. Me dava tudo. Mas era traficante.
SUSANE: (desolada) Meu Deus... Rafael... eu te implorei pra sair dessa vida de prostituição...
RAFAEL: Fazer o quê, mãezinha? Eu gosto.
RAÍ: (curioso) Mas me diz aí... tu dava ou comia esse velho?
ESTELA: (chocada) Raí! Que pergunta é essa, pelo amor de Deus?
RAÍ: Ué, tô curioso! Cada um tem sua posição nessa vida!
VOLNEY: Esquece isso, Raí... Rafael, continua.
RAFAEL: Um dia o velho pediu pra eu guardar uns pacotes no quarto. Quatro quilos de cocaína. A polícia bateu lá. Me prenderam. Ele sumiu. E agora tô na merda.
SUSANE: (angustiada) Ele te ameaçou?
RAFAEL: Ele não, os parceiros dele. Tô devendo. Ou eu pago... ou eu morro aqui dentro.
Susane cobre a boca, tentando conter o choro.
SUSANE: (decidida) Você não vai morrer. Eu vou dar um jeito nisso.
ESTELA: Susane... o que você vai fazer?
SUSANE: (olhar firme) Vou procurar a única pessoa que pode me ajudar agora.
CENA 08: MANSÃO VON BERGMANN - SALA DE ESTAR - MANHÃ
Gisela desce as escadas da mansão com elegância e frieza, como sempre. Ao pisar no último degrau, vê Susane sentada no sofá da sala.
GISELA: (surpresa) Susane? O que você tá fazendo aqui?
SUSANE: Eu vim falar com o seu Nelson von Bergmann. Seu pai.
GISELA: (seca) Meu pai tá doente, de cama. Mal consegue levantar a cabeça. O que você quer?
SUSANE: (nervosa, tremendo) Eu tô desesperada, dona Gisela. Jurei que nunca mais tocaria nesse assunto… mas meu filho tá preso! Ele se envolveu com um traficante e agora está sendo ameaçado de morte! Eu não tenho mais pra onde correr!
GISELA: (sarcasmo gélido) E o que isso tem a ver comigo?
SUSANE: Eu vim resolver esse problema diretamente com seu pai, mas já que ele não pode me ajudar, já que ele é incapaz de me ajudar, então… a única pessoa que pode me ajudar é a senhora!
Gisela dá uma risada seca, debochada.
GISELA: Me poupe, Susane. Eu não tenho nada com isso! Nem eu, nem meu pai, nem ninguém aqui temos nada a ver com você e com seu filho trombadinha. O seu filho é problema seu!
SUSANE: (encara, firme) Nosso filho!
O riso morre nos lábios de Gisela. Ela congela. Olhar fixo em Susane.
GISELA: (em choque) O que você disse?
SUSANE: Nosso filho. Muito mais meu… porque eu criei. Porque fui eu que cuidei, dei amor, eduquei, fui mãe e pai. Mas foi da senhora que ele saiu!
GISELA: (trêmula) Você tá delirando...
SUSANE: Não. O filho que você pensa que morreu está vivo. O senhor Nelson me deu muito dinheiro na época. Me deu o emprego na Bergmann Privé que eu tenho até hoje. Tudo em troca de silêncio. Ele comprou o corpo de um natimorto só pra você acreditar que perdeu o seu filho no parto.
Gisela leva a mão à boca, atônita.
SUSANE: Eu criei o Rafael. Sozinha. E agora ele tá correndo risco de vida. Eu vim aqui porque ele precisa de ajuda. (pausa) Porque ele precisa da mãe dele.
GISELA: (quase sussurrando) Rafael?
SUSANE: Sim. Rafael. Seu filho. O meu menino. Nosso menino!
Gisela desaba, trêmula, pálida, o olhar perdido.
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